Quando todos ouviram o barulho, não teve jeito: a atenção geral se voltou para Rosana, inclusive a de Florence, que lançou um olhar de soslaio.Pelo que lembrava, aquilo era mesmo o tipo de coisa que Rosana faria. Não importava a situação, Rosana sempre dava um jeito de se mostrar vulnerável, esperando conquistar a simpatia dos outros.Na época da escola, os colegas eram ingênuos e, sabendo das dificuldades financeiras de Rosana, acabavam sentindo pena dela.Mas ali, cada olhar era afiado — ninguém caía tão fácil no jogo dela.Valentina franziu a testa:— Deixa pra lá, Rosana. Pode sair.— Sim, diretora Valentina.Rosana saiu com os olhos marejados, quase mordendo os próprios lábios, encenando perfeitamente o papel de vítima indefesa.Marcos, tentando amenizar, segurou Rosana pelo braço e sorriu:— Não foi nada grave, não precisa ficar assim.Rosana ergueu os olhos, cheios de lágrimas:— Obrigada, Sr. Marcos.Ela saiu da sala, parando várias vezes para olhar para trás, como quem espera
— Por que naquele dia você acabou derrubando a xícara de café? — Valentina perguntou, já perdendo a paciência. — Directora Valentina, eu juro que foi sem querer! Eu só me distraí olhando para a safira, achei tão bonita... Acabei me atrapalhando e derrubei a xícara. — Rosana se justificou, chorosa. Assim que terminou de falar, Florence percebeu o olhar malicioso de Daphne. Daphne se aproximou com passos firmes, encarando Valentina com curiosidade. — Directora Valentina, será que aconteceu alguma coisa com a safira? — Disse ela, desconfiada. Valentina permaneceu em silêncio, o que bastou para confirmar as suspeitas de Daphne. — Se a senhora tem alguma dúvida, que tal revisar as gravações da câmera? — Daphne sugeriu, com um tom decidido. — Rosana é tão medrosa. Acha mesmo que ela teria coragem de fazer algo com uma peça que vale milhões? Rosana começou a soluçar mais alto. — Isso mesmo, Directora Valentina! Por favor, reveja as câmeras para provar minha inocência! Antes
As palavras de Florence despertaram Valentina. As duas se entreolharam, já entendendo o que se passava, mas Valentina ainda tinha suas próprias preocupações.— Florence, o que você disse faz sentido, mas sem provas isso não tem valor nenhum. Estamos falando de uma pedra que vale milhões que desapareceu bem debaixo dos nossos narizes. Se essa história se espalhar, quem vai confiar em mim para desenhar joias no futuro? Além disso, mesmo que eu queira te proteger, os outros não vão aceitar. Afinal, foi você quem assinou o laudo de qualidade da safira. Isso significa que você garantiu a autenticidade da pedra. Você entende o que eu quero dizer? — Valentina explicou, com um olhar pesado fixo em Florence.Florence assentiu com seriedade, sentindo o peso das palavras. Ela sabia que Valentina estava preparando o terreno para o pior: se não encontrassem provas, Florence seria a culpada e teria que arcar com todas as consequências.Ela respirou fundo antes de responder: — Eu entendo. Logo em
— Flor, eu sempre fui bom para você. Por que você não pode retribuir um pouco do cuidado que eu tive com você? Estou arriscando milhões nessa joia por sua causa. — Marcos disse, levantando-se bruscamente e avançando em direção a Florence. Ele agarrou o casaco dela com força. Florence, para escapar, rapidamente deslizou para fora do casaco, deixando-o para trás. Marcos, furioso, jogou o casaco no chão e começou a persegui-la pelo reservado. Apesar de tentar desviar, Florence acabou sendo pega e envolvida em um abraço forte. Na luta, Marcos puxou a manga da camisa de Florence, rasgando-a. Ele olhou para a pele clara dela, respirando fundo. — Flor, você tem um cheiro tão bom... Deixa eu te dar um beijo. — Me solta! Eu não vim aqui para isso! — Florence gritou, enquanto lutava para se libertar. Ela ergueu o joelho e acertou um golpe certeiro na virilha de Marcos. Diferente de Lucian, que era mais resistente, Marcos não teve tempo de reagir. Ele caiu para trás, segurando a regiã
De acordo com as regras, ninguém da família podia assistir à cremação no crematório. Florence Winters, no entanto, pagou o que foi necessário. Com passos lentos, ela empurrou a maca de ferro gelada para dentro da sala de cremação. O ar tinha um cheiro metálico de queimado, e no feixe de luz que atravessava a janela, partículas de cinza flutuavam no ar. Talvez fossem restos de ossos. Em breve, sua querida filha também se tornaria isso. Vestida com um longo vestido preto, Florence parecia ainda menor do que era. Nem mesmo o menor tamanho escondia sua silhueta magra e abatida. Seus olhos, inchados e vermelhos de tanto chorar, estavam agora estranhamente serenos. Ela passou a mão pelo lençol branco que cobria o corpo imóvel e pálido da filha e, cuidadosamente, colocou na palma da mão fria da menina duas estrelas de papel cor-de-rosa. — Estela, espera a mamãe. Quando o tempo acabou, um funcionário aproximou-se e puxou Florence gentilmente para o lado. Ele ergueu o lençol, re
Ela tinha voltado à vida! Florence havia ressuscitado!Ignorando os olhares incrédulos ao seu redor, ela cravou as unhas em seu braço, apertando com força. A dor aguda percorreu-lhe o corpo, e seus olhos logo se encheram de lágrimas.— Chorando por quê? — Uma voz grave e autoritária ecoou pelo salão. — Quem deveria pedir desculpas aqui é você, não a nossa família Avery!Florence voltou a si e ergueu o olhar, encontrando os olhos frios e impacientes de Theo Avery, o patriarca da família.Imediatamente, ela baixou a cabeça, assumindo a postura submissa de sempre. Mas, por dentro, seu corpo tremia, não de medo, mas de excitação.Ao redor, ouviam-se risinhos abafados e cochichos venenosos.— Jovem desse jeito e já com coragem de drogar o próprio tio para seduzi-lo? Fez a maior confusão na cidade só para tentar obrigar o Lucian a assumir responsabilidade. E agora finge que nada aconteceu! Quem educou essa garota?— Isso não é coisa de gente da nossa família. A família Avery nunca criaria al
Daphne Gonçalves era filha de uma família tradicional, mas em decadência.Três anos atrás, Lucian surpreendeu a todos ao anunciar publicamente seu relacionamento com ela. Mesmo sob forte oposição de Theo, ele organizou um luxuoso jantar de noivado.Daphne, de um dia para o outro, tornou-se a mulher mais invejada de Cidade do Sol. Todos a admiravam: uma mulher linda, bondosa e elegante.Mas Florence sabia a verdade. Daphne não era nada disso. Se não fosse designer, certamente seria uma atriz de primeira linha. Ela era a melhor quando o assunto era fingir.E Daphne, com toda a sua esperteza, sabia exatamente o que Florence queria dizer ao apontar o dedo para ela. O casamento com Lucian já havia sido adiado por três anos, e Daphne não podia mais esperar para oficializar a união.Como esperado, Daphne deu um passo à frente. Sem hesitar, ajoelhou-se na mesma posição em que Florence estava antes e curvou a cabeça em uma demonstração teatral de humildade.— Vovô, fui eu! — Disse Daphne, com a
Sob o olhar gélido de Lucian, Florence apertou os lábios com força, tentando se manter calma. Mas, ao lembrar-se dos oito anos de sofrimento em sua vida passada, seus dedos começaram a tremer involuntariamente, e ela virou o rosto com esforço, tentando esconder sua fragilidade.Lucian desviou o olhar, a voz carregada de desdém:— Está planejando engravidar às escondidas?Florence franziu a testa profundamente, lançando um olhar rápido para Lyra. O remédio havia sido comprado por sua mãe. Será que ela ainda não desistira da ideia de casá-la com Lucian? Mas Lyra, diante do olhar frio de Lucian, tremia como uma folha ao vento. Comparada a Theo, Lyra tinha ainda mais medo de Lucian. Ela jamais teria coragem de agir sob os olhos dele.Então, o que estava acontecendo?Florence ergueu os olhos, sentindo-se cercada por olhares de todos os lados. Entre eles, havia um especialmente afiado: Daphne. Seus lábios esboçavam um sorriso ambíguo, que imediatamente trouxe à tona memórias desagradáveis