Eu não prestei atenção na expressão de espanto que Matteo esboçou ao ver Sheila indo na sua direção, totalmente despida. — Vamos embora daqui, Antonieta!— eu decidi, puxando a mão da criada. Antonieta se deixou levar, mas foi se queixando pelo caminho, falando o tempo todo . — Mas Silla, eu não entendo como você pode ser tão fria? O seu noivo está com outra lá, se dando ao desfrute! Por que você não foi lá e acabou com a festa deles? Por que não fez um escândalo? Pelo amor de Deus, estou passando mal! Se fosse comigo, a essa hora ela não tinha um só fio de cabelo para pentear! — E estragar tudo, Antonieta? Eu vou me casar com ele, vou embora deste lugar e ela vai ficar aí! Você acha que eu não sei que o Giglio está armando para mim? — Sim, Silla, eu sei disso, mas você tem os seus direitos! Eu não deixava barato! Eu parei de andar impaciente. — Antonieta, pensa! Ele não vai deixar de se casar comigo, mas não precisa saber que eu sei que não me respeita!
— Mandou a moça embora!— Fiquei incrédula. — É verdade, Silla, ela fez as malas e foi embora logo cedo!— Antonieta não disfarçou sua satisfação. Olhei para Matteo e percebi que ele estava incomodado com alguma coisa. Depois do desjejum, se levantou e foi para o escritório, sem perguntar se eu queria ir junto, sei lá, para a sala, para o quarto. Ele nunca me deixou na mesa assim. Fiquei tão chocada, que olhei pasma para Antonieta, enquanto a mesma retirava a mesa. — Você entendeu alguma coisa? Eu o vi com aquela lá, fingi que nada aconteceu e ainda mereço o desprezo dele! — Ele não a está desprezando, mas a evitando! Vai ver tem medo que você descubra a traição dele! Deixei Antonieta seguir para a cozinha com a bandeja que recolhia as porcelanas, e fiquei matutando, até que Giglio chegou, todo sem jeito. — Senhora, o seu vestido chegou. Apertei os olhos, o encarando. — Deu tudo errado, não é? Giglio baixou a cabeça e pôs as mãos na frente do corpo. — Não sei do
Eu suspirei longamente, esperando a pobre Antonieta chegar correndo assustada. — Pois não, senhor! Posso ajudar? Antonieta já sabia quando o patrão estava fora de si. — Entre!— ele segurava a porta. A coitada me olhou curiosa e surpresa. Ela virou-se para o patrão morrendo de medo. — Eu fiz alguma coisa que o desagradou, senhor? — Isso é o que eu gostaria de saber. Houve um suspense. Foi Matteo quem quebrou o silêncio. — Acontece que aquela moça, a Sheila, me disse que vocês duas estão me fazendo de idiota. Ela disse que a Silla é casada, fingi estar sem memória e você é sua cúmplice! Antonieta ficou indecisa por um instante, o que deixou Matteo mais alterado. — Então é verdade? Mentiram pra mim? O Giglio tinha razão! O que vocês são, mafiosas? Antonieta arregalou os olhos e me olhou pedindo socorro. — Quer saber, Matteo? Eu não vou mais casar com você!— Avancei, cheguei alterada. Claro que ele se assustou. — O quê! Não tinha outro jeito, comecei o me
Marchei até a porta do escritório, ciente de que era seguida por Matteo. — Entre!— ele ordenou com voz grave. A porta já estava aberta, apenas respirei fundo antes de entrar. — Sente-se!— A voz grave precedeu a batida da porta. Matteo deu a volta e foi se sentar na cadeira giratória, atrás da mesa. Ele juntou as mãos, a frente do corpo, mais exatamente sobre a mesa, e inclinou a cabeça procurando meus olhos. Eu estava tão chocada que não tinha coragem de olhá-lo. — Acha mesmo que pode sair assim? Temos um trato, esqueceu? — Eu… eu pensei que… — Não tem que pensar, coisa nenhuma! Como a voz dele já estava alterada, resolvi não o contrariar. — Aqui só eu penso! Era ridículo o que ele falava mas eu preferi segurar o riso. — Acha isso engraçado? — Não, claro que não!— ergui os olhos assustada. Ele meneou a cabeça, desconfiado. Era a minha deixa. — Ver você com a Sheila na praia de madrugada não foi nem um pouco engraçado! Matteo congelou, ele não gost
Depois daquela noite, para desespero de Giglio, eu e Matteo ficamos muito mais próximos. Nos fins de tarde íamos para a nossa prainha, era assim que eu chamava aquele pedaço de mar que desaguava para dentro daquela propriedade. Até que chegou o grande dia da minha libertação. Tudo estava arrumado para o casamento de Silla. Eu teria finalmente uma nova vida, um recomeço. — O senhor Spinelli vai se casar! Mas ele não ia embora do Brasil? — Diogo comentou surpreso. Alencar estava agitado, arrumando a gravata. — Sim, ele vai embora levando essa estranha como sua esposa! Isso vai dar uma confusão, lá com os pais dele! Eles estavam arranjando um casado para o filho por lá, e ele simplesmente resolve fazer uma surpresa perigosa dessa! Diogo, puxa-saco, foi ajudar Alencar com a gravata, esticando o assunto. — Está casando-se escondido dos pais, é isso? — Exatamente! Completamente sem juízo! — E qual será a reação dos pais dele quando chegar lá na Itáli
“Eu pulei do penhasco e me joguei ao mar, deixando a dor da decepção apagar todo o meu passado. Eu só queria esquecer aquela traição, mesmo que isso custasse a minha vida, os meus sonhos e por fim, a minha identidade. “ Foi assim que tudo começou… Eu dirigia feliz, havia fechado um grande negócio! Com a venda daquela mansão milionária, finalmente poderia trocar o carro do meu marido. Diogo se queixava sempre que, enquanto não chegasse a tão sonhada promoção na exportadora em que trabalhava, teria que se conformar com o seu carro, que não trocava há três anos. De repente, por ironia do destino, o surpreendo dirigindo quase do meu lado. O farol fechou e ele estava tão ansioso, impaciente, olhando para frente que não me viu. Meu coração disparou de felicidade e eu o segui, ele dirigia rápido e eu desviava dos carros para alcançá-lo, cheguei a gritar o seu nome, mas ele não me ouviu. Para mim, era muita sorte não precisar chegar em casa para lhe contar do meu grande feito, me se
Enquanto as águas me arrastavam, eu refletia sobre tudo o que estava me acontecendo. Cath ainda ia fazer dezenove anos, enquanto eu já tinha quase vinte e seis. Desde criança, ela estava sempre entre nós. Já nesse tempo, Diogo não a suportava! Queria pegar na minha mão, mas ela dizia que iria contar para os meus pais. Quando eu tinha só treze aninhos ele me beijou, escondido no jardim, e ela fez um escândalo! Saiu correndo e contou aos gritos. — Que criança insuportável!— Diogo exclamou e saiu correndo para a sua casa, que ficava no mesmo quarteirão. Eu até achei graça da situação, pois Cath tinha só seis anos e eu achava que se tratava de ciúmes da irmã, apesar que me deu muito trabalho aquela atitude infantil. Meus pais me achavam nova demais para namorar e eu quase levei uma surra! Demorou mais de três anos para os meus pais aceitarem o nosso namoro! Eles davam ordens para que Cath ficasse sempre por perto. Ela não desgrudava de mim, parecia não suportar o Diogo. A
Comecei a afogar de repente. As águas me abraçaram e o mar começou a me puxar, sem que eu estivesse mais no controle. Foi um desespero muito grande, eu comecei a gritar por socorro, quando avistei uma enorme propriedade sobre um penhasco, era uma mansão gigantesca! Minha experiência como corretora de imóveis, me dizia que a casa era habitada por alguém muito poderoso, e eu comecei a gritar por socorro, me debatendo nas águas. De repente, consegui chamar atenção, muitos homens pularam para o mar e vieram na minha direção. Eu não conseguia ver, nem ouvir, em meio ao meu desespero, mas havia uma figura que me observava ao longe, gritando para os seus homens. — Tragam-na, depressa homens! Andem logo com isso! O relógio do seu pulso se chocava contra a parede de pedra que cercava a casa. — Tem que salvá-la!— ele continuou a gritar. De repente, eu fui puxada por braços fortes e pensei que já estava perdendo os sentidos. “ Meu Deus, eu preciso viver!” — dizia em pensame