Race in Heels - Corrida em Saltos
Race in Heels - Corrida em Saltos
Por: kellycristinavs_
Prólogo

Avenida Paulista

São Paulo – Brasil.

Os finos respingos de água caindo do céu eram mais do que condizentes para um começo de manhã na “Terra da Garoa”. Antes mesmo dos tímidos raios de sol iluminarem o céu a movimentação no aglomerado de prédios empresariais era constante. Carros, ônibus, motos, mesmo bicicletas, patinetes motorizados e skates são usados como modo de transporte por aqueles que transitam de uma ponta da avenida à outra.

A quantidade de pedestres era absurda. Transitavam sozinhos, em trios, duplas e até mesmo quintetos pelas calçadas. Atravessavam faixas, compravam revistas nas bancas, tomavam cafés, desciam e subiam nas vias dos metrôs subterrâneos e até mesmo faziam malabarismo com o celular em mãos enquanto seguravam mochilas, bolsas e pastas.

Cada qual seguindo a própria direção para um objetivo em comum: chegar à tempo ao seu compromisso.

Eliza Santos Benedetti era uma pequena formiga no meio daquele formigueiro de pessoas distintas. Ela já foi de se encantar pela beleza que aquele mundo moderno e repleto de pessoas importantes e interessantes causava e chegou a se sentir honrada em fazer parte daquele grupo de pessoas que teve a oportunidade ilustre de poder chamar um daqueles prédios de aparência luxuosa de local de trabalho.

Hoje não mais.

Depois de um ano trabalhando no escritório comercial de uma empresa multinacional de exportação de couros ela foi conhecendo os bastidores de um mundo ganancioso que se refugia por trás de pessoas simpáticas, bonitas e experientes.

Após a sua formação em Administração muito sonhava em ocupar uma cadeira de um cargo importante, onde tivesse uma sala de móveis chiques com uma vista maravilhosa do topo do prédio mais alto da Paulista, e ficou mais do que emocionada quando conseguiu um emprego onde pudesse dar os seus primeiros passos rumo ao objetivo.

Contudo a sua personalidade impulsiva pedia mais e ficar atrás de um computador digitando e corrigindo documentos de exportação de produtos para países estrangeiros, presa em um escritório com uma equipe inteiramente masculina não supria o seu potencial.

No entanto, como já era maior de idade e já não mais legalmente dependente dos pais, ela tinha que se contentar com a sua função, pois era a qual pagava as suas contas, o aluguel do apartamento que dividia com a amiga Priscilla e a parcela do seu carro.

Ela entra no saguão do grande prédio de vidraças reluzentes e piso ilustrado e brilhoso, e faz um cumprimento silencioso à Diego, o segurança. Insere o dedo no leitor das catracas e a atravessa quando a luz verde sinaliza sua liberação.

Sob os saltos, os quais a sua posição social exigia que usasse, ela caminha pelo corredor até chegar aos elevadores e sinaliza à Bete, colega que trabalhava em uma das empresas de marketing no prédio, para que ela segurasse as portas à tempo dela alcança-los.

- Bom dia. – Eliza diz à colega e aos demais presentes no elevador, recebendo alguns acenos distraídos em resposta, e se posiciona na lateral da caixa de ferro. As portas se fecham.

- Bom dia, Liza. – Bete responde com um sorriso, apesar do semblante de preocupação.

- A segunda-feira já começou difícil? – a jovem pergunta, dando espaço para dois senhores descerem no primeiro andar.

- Mais que difícil. – ela bufa aflita e se aproxima da colega para pronunciar em tom mais baixo: – Agora pouco a Cris, recepcionista, falou sobre um rumor de que uma das empresas do prédio vai fazer cortes no orçamento hoje.

- Demissões em massa? – Liza pergunta e Bete assente freneticamente. – E como ela sabe disso?

- Ela é a recepcionista do prédio, ela ouve de tudo. , Liza? – diz com as sobrancelhas caídas. – Aquela vaca só não quis dizer qual empresa era. Ela gosta de ver o sofrimento alheio.

Eliza solta um riso fraco.

- Não seria a primeira vez que ela inventa esse tipo de rumor só pra deixar a gente afoito.

- Eu sei, mas da última vez que ela disse que alguém da diretoria da GOLDEN G tinha um caso com a secretária, a Ana foi demitida na semana seguinte. – ela diz, dando espaço para que mais duas pessoas saíssem no sexto andar. – Algumas coisas são verídicas. E eu não posso ser demitida agora, logo quando o Jorge está trocando de empresa e estamos incertos de como vai ser o futuro dele na nova companhia. A mensalidade da escolinha do Enzo é uma fortuna e eu não quero tirá-lo de lá agora que ele finalmente se acostumou com os coleguinhas.

- Você precisa se acalmar, amiga. – Liza diz com a voz inabalável. – Você pensa que as coisas deram errado antes mesmo de acontecer. Nem sabe se é a sua empresa quem está fazendo os cortes ou se vai ter cortes realmente.

- Eu preciso pensar antes de acontecer para me planejar. – Bete explica. – Sou mãe, preciso pensar na faculdade do meu filho.

- Bete, o Enzo tem quatro anos. – Liza ri contida.

- E me faltam só quatorze até os dezoito. – ela grunhi aflita. – Daqui pra lá é um piscar de olhos.

Eliza balança a cabeça, desistindo de argumentar com a colega que tinha ansiedade comprovada em laudo. Quando chega no oitavo andar a jovem se despede de Bete, garantindo: - Você ficará bem. – e se encaminha ao saguão da própria empresa.

Chegando lá ela se depara com um inusitado salão cheio de pessoas com expressões iguais as de Bete, algumas até mesmo transpiravam e outras andavam de um lado ao outro inquietas. A atendente no balcão principal, Sarah, estava em uma conversa baixa ao telefone e quando Eliza se aproximou notou que ela chorava baixinho.

Liza olha ao seu redor e encontra o colega de setor, Mário, em um canto. Se aproxima o cumprimentando e logo indaga: - O que está acontecendo aqui?

O senhor já de idade, e os cabelos grisalhos evidenciavam isso, a encara com a testa vincada e os óculos quadrados de grau na ponta do fino nariz.

- Cortes no orçamento.

Eliza engole em seco.

(...)

Claro que ela não seria uma das prioridades para permanência na empresa com apenas um ano de casa quando havia funcionários de mais de oito ou dez, mas não pôde deixar de se sentir injustiçada devido ao quanto havia se dedicado para aquela empresa.

Ela havia ouvido rumores de que aqueles eram tempos difíceis para a companhia, com o valor do gado nas alturas e a falta de matéria prima que fazia o produto ficar mais caro e por consequência não ser vendido. No entanto, ela nunca imaginaria que estavam a ponto de declarar falência.

Contudo, não contestou. Juntou os seus pertences em uma caixa de papelão e fez a caminhada da vergonha de volta à casa. Se permitiu chamar um táxi para não passar pelo constrangimento de carregar uma caixa com toda a sua carreira dentro metrô afora.

Chegando ao condomínio onde ficava o seu prédio ela passa pela portaria dando um sorriso singelo ao porteiro, muito diferente daquele simpático que tinha no rosto na manhã, e caminhou até o último prédio.

Ela pega o elevador vazio e tem a oportunidade de se olhar no espelho.

O cabelo castanho longo preso em um rabo de cavalo tinha alguns fios soltos, sua camisa branca tinha uma marca de resquícios de sujeira da caixa que carregou durante a viagem, a barra da calça azul escuro arrastava no chão porque ela havia se livrado dos sapatos de salto ainda no carro e a pouca maquiagem que havia passado no rosto não disfarçou em momento algum a insatisfação que estava sentindo de si mesma, fora as bolsas fundas debaixo de seus olhos avelã evidenciando o cansaço.

Ela esperou chegar ao seu andar, caminhou até a sua porta, equilibrando a caixa em mãos procurou pela chave dentro de sua bolsa, para então conseguir respirar aliviada no conforto do lar.

O apartamento não tinha mais que 56m², mas era o suficiente para duas jovens solteiras recém-formadas. Cada qual com seu quarto individual não se importavam em compartilhar os demais ambientes, pois tinham uma convivência harmônica.

As duas haviam se conhecido no primeiro ano de faculdade e se tornaram inseparáveis desde então. Tinham personalidades parecidas e um grande companheirismo, por isso sabiam que estavam destinadas à estarem na vida da outra o resto de suas vidas.

Liza deixa a caixa sob a pequena mesa de jantar e caminha até a sua minúscula cozinha. O relógio digital da geladeira marcava quatro e trinta da tarde, realmente todo o desembaraço das papeladas para a demissão havia tomado boa parte do seu dia e toda a sua paciência. Assim ela não hesita em abrir uma garrafa de vinho da adega desprovida de opções e despeja o líquido na taça até enchê-la.

Com garrafa e copo em mãos ela transita até a sala e senta-se no sofá macio.

Dizer que muitos pensamentos passavam por sua cabeça seria mentira, seus olhos estavam focados em algum ponto do raque enquanto toda a sua concentração estava focada na sua respiração leve.

Ao lado de fora, através das portas de vidros que davam à varanda do apartamento, era possível ver uma chuva torrencial se formando. As nuvens ficavam cada vez mais escuras e o dia mais cinzento.

Não saberia dizer quanto tempo havia ficado ali, só observando aquela pequena bola de poeira parada ao lado do aparelho da internet, mas respirou fundo e chacoalhou a cabeça quando pingos grossos começaram a cair ferozmente e o barulho de trovões a despertou.

Ela tinha que começar a distribuir currículos com certa urgência, o valor do seguro desemprego somado ao das férias que não havia tirado não poderia cobrir as suas despesas por mais de três meses, e ela sabia o quanto estava difícil a luta no mercado de trabalho ultimamente. Portanto quanto antes começasse melhor.

Liza apoia a garrafa e taça no braço do sofá e escorrega de lá para o chão, engatinhando para se aproximar do móvel que passara tanto tempo mirando. Lá ela abre o gavetão e procura por seu notebook, que não é muito difícil de ser encontrado devida a arrumação compulsiva da colega de apartamento.

Ela então atualiza os dados do seu currículo, fazendo uma careta ao colocar a data de término do contrato com a sua ex-empresa, e começa a procurar por vagas na sua área online. Algumas taças de vinho depois, ao ler a descrição das vagas para se candidatar, ela recorda-se que é necessário apresentação do diploma em certas entrevistas.

- Merda. – pragueja baixo olhando ao redor. Onde será que ela tinha guardado isso?

Liza coloca o computador de lado e volta a procurar no gavetão do raque. Lá ela encontra algumas contas pagas, papéis aleatórios, revistas e uma caixa com seu nome. Provavelmente com alguns de seus pertences.

Ela puxa a caixa para o próprio colo e a abre sem hesitação, mas para por um instante ao constatar que ali havia nada mais que fotos. Dúzias delas.

A mulher já ia deixar a caixa de lado, mas uma foto em específico chama a sua atenção.

Era dela mais jovem. Devia ter cerca de dezesseis anos, podia-se notar pelo rosto jovial e brilho nos olhos que só um jovem isento de responsabilidades pode ter.

Na foto Liza vestia um macacão amarelo de mangas longas repleto de logotipos de várias empresas automobilísticas e um boné preto na cabeça. Seus cabelos que sempre foram longos caíam como cascatas sobre os ombros, desordenados nas pontas. Luvas grossas pretas cobriam suas mãos e uma delas segurava um troféu de sessenta centímetros fundado na prata.

O sorriso grandioso em seu rosto evidenciava o quão feliz ela estava.

Ao seu lado, apontando para o troféu, estava um homem mais velho também com um sorriso no rosto – este mais formal – enquanto a outra mão estava pousada de forma descontraída sob o ombro da garota em um singelo abraço. Atrás deles uma parede vermelha também repleta de marcas automobilísticas fechava o cenário.

Liza não pôde deixar de sorrir com aquela imagem que à muito custo tentou tirar de sua cabeça. Foram anos tentando a muito custo esquecer os dias de glória que eram impossíveis de serem retomados.

Ela deixa a foto de lado e olha as demais mais atentamente.

Enquanto está perdida em memórias a porta do apartamento se abre e o furacão loiro passa por ela metralhando dizeres: - Que inferno de chuva! Eu não aguento mais molhar as minhas roupas. No final da semana não vai sobrar uma calça decente para ir trabalhar.

Priscilla fecha a porta com o pé e despeja suas bolsas em cima da mesa.

- Aliás, o seu boy me mandou mensagens a tarde inteira perguntando por que você não respondia as mensagens dele. – ela continua dizendo enquanto arrancava jaqueta e botas ensopadas. – Eu poderia até falar que você é uma pessoa ocupada que, ao contrário dele, não fica á toa no trabalho, mas eu não estava afim. Além de que meu chefe estava com a macaca hoje e... – Priscilla se interrompe ao notar Liza no chão da sala, tão concentrada na caixa em seu colo que não prestava a mínima atenção nos seus dizeres. – Liz, tá me ouvindo?

- Oi? – a morena vira a cabeça na direção da amiga que enruga a testa enquanto analisava o ambiente.

- Uma garrafa de vinho pela metade em plena segunda-feira ás... – Priscilla olha no seu relógio de pulso – seis e vinte da tarde, não respondeu mensagens o dia inteiro, bagunça espalhada pelo chão e esse olhar de cachorro que caiu da mudança. – a loira se aproxima da amiga e se senta ao seu lado, afastando algumas das fotos para sentar no chão. – O que aconteceu?

Liza ri, Priscilla a conhecia tão bem.

- Não tenho notícias boas. – revela fazendo uma leve careta.

- Claro que não são, caso contrário estaríamos tomando cerveja. – a loira diz pegando a taça ao lado da amiga e tomando um gole do líquido.

Eliza respira fundo e mira os grandes olhos amêndoa da amiga.

- Fui demitida.

- O que? – ela esbraveja com as sobrancelhas erguidas.

- Eles estão fazendo cortes no orçamento. – a jovem fala sem rodeios. – A empresa tá indo pro buraco.

Priscilla prensa os lábios e seu olhar fica momentaneamente vago.

- Azar o deles. – fala por fim.

Liza ri fraco.

- Não sei por que pensei que você ficaria aflita com isso. Mas, de qualquer forma, não têm com o que se preocupar. – a morena trata de explicar – Consigo cobrir as despesas por um tempo, pelo menos até encontrar outro emprego.

- Realmente não estou preocupada. – Priscilla sorri – Eu sei que você não me deixaria na mão. Eu fico é realmente aliviada em saber que agora você vai poder procurar fazer alguma coisa que realmente goste. Era o ponta pé que você estava precisando, já vinha reclamando desse trampo à meses.

- Não. – Liza nega com movimentos vagarosos com a cabeça – Eu vou procurar algo na mesma área, que mexa com exportação. Tenho um ano de experiência com isso, fora os cursos que eu fiz. É mais fácil de conseguir um emprego.

- É, um de merda igual ao outro. – a loira diz direta – Desculpa, Liz. Mas é a verdade. Tem pessoas que sonham em viver em um escritório trabalhando nove horas por dia todos os dias na semana porque o salário é mais que satisfatório, mas você não é assim. – ela sorri gentil – Esse vazio que você fala que tem dentro de si não vai ser preenchido por dinheiro. Então você tem duas opções, continuar numa carreira que não gosta e morrer insatisfeita ou pode tomar uma atitude para mudar isso agora e viver plenamente.

- Não tenho direito ao benefício da dúvida agora, temos contas para pagar, aluguel, tenho a parcela do carro...

- Não dramatiza tanto. – a interrompe virando os olhos dramaticamente. – Você disse que consegue segurar as coisas por um tempo e, se durante esse tempo você não conseguir se encontrar, eu cubro a sua parte até você se estabilizar.

- Não, Pri. – nega veemente – Não quero montar nas suas costas.

- Não vai montar. – ela sorri bondosa. – Eu estou em uma fase ótima no serviço, você sabe. E quantas vezes você já não apoiou as minhas decisões e continuou comigo até o final? Tanto financeira quanto emocionalmente? – a loira continua na sequência. – Somos mais que amigas, somos irmãs. E é para isso que as irmãs servem.

Eliza mira a companheira de apê, a vaidosa e deslumbrante Priscilla Kauana.

Dona de longas madeixas loiras com cachos grossos, ela se destacava não só pelos olhos grandes e doces ou pelo corpo deslumbrante de uma brasileira nata. Sua inteligência e personalidade arrojada falavam por si só, ocasionando diversas amizades de diversos grupos sociais.

A honestidade e simpatia eclodiam um grande coração que era repleto de empatia, companheirismo e fidelidade. Além do bom humor, o otimismo constante e a personalidade marcante. Ela não poderia ter conhecido pessoa melhor.

- Obrigada. – Eliza abraça a amiga, que retribui com um sorriso no rosto.

- Fico muito orgulhosa por ter tomado essa decisão, mesmo que foi sob pressão. – a loira diz ao se separarem e ambas riem. – Agora é só sucesso.

Eliza suspira.

- Nem sei por onde começar. – a morena admite.

- Você não faz ideia de algo que queira fazer para o resto da vida? – a loira questiona em incentivo.

Liza olha para as fotos espalhadas no chão, mas sorri tristonha. Aquele era um sonho distante, e sua oportunidade já havia passado.

Priscilla segue o seu olhar e mira uma foto em específico. Ela a pega para aproximar dos olhos e analisá-la melhor.

Na captura tinha um carro de corrida, parecidos com aqueles que passavam no canal de esporte aos domingos de manhã. Ele era preto e tinha vários desenhos em sua lataria.

Dentro havia um piloto, o capacete amarelo fechado a impedia de reconhecer suas feições, e ao seu redor várias pessoas com as roupas nas mesmas cores. Eles pareciam agitados e realmente deveriam estar, pois estavam nas margens de uma pista de corrida, Priscilla supôs.

Enquanto Eliza está perdida em pensamentos Priscilla corre os olhos sobre as demais fotos. Fotos de Liza ao lado de carros, em cima de palcos, segurando troféus e vestindo os típicos macacões de pilotos.

- O que diabos é isso e como eu nunca tinha visto essas fotos antes? – ela indaga, não conseguindo impedir o seu impulso curioso.

Liza nota as fotos nas mãos da amiga e sente como se tivesse sido pega no flagra.

- Bom... – ela suspira para ganhar tempo. – é uma longa história.

- Não tenho nenhum compromisso marcado para esta noite. – Priscilla sorri marota e cruza as pernas.

Eliza coça a cabeça em aflição, mas sabe que a amiga não a deixaria sair dali sem contar todo e cada detalhe sobre a sua vida no mundo das corridas. Por isso ela dá de ombros e diz: - Vou precisar de mais uma garrafa de vinho.

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