QUANDO O AMOR CONECTA
QUANDO O AMOR CONECTA
Por: Marco Serafim Escreve
CAPÍTULO 1 - BEST LOOK

Fortaleza é aquele tipo de cidade em que o sol não pede licença para entrar. A capital está sempre ardente. Suas praias enfeitam o cotidiano dos moradores e a sombra das palmeiras abriga vendedores de quitutes e outras delícias. O mar, sempre acolhedor, refresca os banhistas e recebe as barcas dos pescadores, que vem e vão em busca do alimento. Mas a capital formosa não ferve somente na orla das praias, com os pescadores e banhistas. Ela também pulsa vibrante no meio dos papéis e computadores do centro financeiro e empresarial. As avenidas modernas, ladeadas de prédios vultuosos e pessoas bem vestidas fazem esquecer que, há alguns quarteirões dali, a vida traja calção de banho e passa o dia inteiro a vadiar. Os empreendimentos e os impérios tem pressa e fome de poder. As finanças são sua chave e os clãs das famílias rivais, que se estabeleceram ali durante séculos, é quem dita as regras e os caminhos a serem rumados por todos. Em um dos prédios mais poderosos desse universo está o Grupo Souza, liderado com mãos de ferro pelo seu patriarca, senhor Souza. O império da Família Souza, passado de geração em geração, é um dos maiores do Nordeste e o mais influente em todo estado do Ceará. Dois andares abaixo da sala do senhor Souza está a sala de Suellen Souza, gerente departamental, filha única e promissora herdeira do tradicional grupo empresarial. O interfone da secretária toca e Suellen transmite a mensagem:

— Bia, estou saindo e não retornarei. Direcione para o Jorge se houver algum problema.

— Sim senhora.

O elevador privativo da diretoria se abre no segundo subsolo do estacionamento. O estalo do salto alto de Suellen Souza ecoa entre os carros importados e os sensores de presença da garagem vão iluminado seu caminho. A chancela automática se levanta e o imponente veículo dirigido por ela deixa o centro empresarial, cruza pela Avenida, e segue o trajeto rumo aonde poucos podem adentrar. O Range Rover amarelo de Suellen Souza estaciona na vaga VIP do Shopping Rio Mar. Ela tem pressa, está atrasada para a sessão de pelling de pedras preciosas, última moda entre as mulheres da elite fortalezense. O HD Diamond and Ruby Peel, criado pelo esteticista Scott Vicent Borba, finalmente chegou para atender a reserva feita com antecedência. Como de costume, Suellen entra pelo salão “Best Look”, o mais baladeiro da cidade, marcando presença:

— Bom dia, mulheres maravilhosas desta cidade!

Rose, a gerente proprietária do badalado centro estético, recepciona sua amiga executiva com os braços abertos:

— Oi amor! não tão maravilhosas como você, mas deslumbrantes. Venha, seu lugar está reservado.

Suellen Souza segue, coloca a bolsa e os óculos escuros sobre o balcão, e se senta ao lado de Edilene Fortuna, que levanta o algodão dos olhos e sorri:

— Olha quem está aqui! Se não é a herdeira do império Souza. A mulher mais jovem, linda e poderosa de Fortaleza.

Suellen simboliza um coração com as mãos, e completa sorrindo:

— Esqueceu de dizer “Primeira aluna de turma da faculdade de administração e MBA feminina mais respeitada do mercado”. Linda e inteligente! O que mais você pode querer de uma amiga?

— Amiga, quero esses seus um metro e setenta e seis de altura, você está deslumbrante.

Rose ajeita a poltrona de Suellen e comenta com picardia:

— A coisa que mais adoro ver nas fotos das revistas é esse seu um metro e setenta e seis ao lado do nanico do Jorge. Aquele arrogante perde a pose quando você está de salto alto do lado dele.

As três caem na gargalhada e Suellen completa o comentário:

— As vezes faço questão de mostrar ao Jorge quem manda na empresa. Em algumas ocasiões ele se comporta achando, que por ser meu noivo e assessor direto do papai, pode ter mais voz ativa do que eu.

Rose confessa:

— Sabe amiga, eu respeito muito o fato dele ser seu noivo, mas não me peça para gostar dele. Destesto gente que esnoba os outros, olhando de cima para baixo.

Suellen sorri e comenta, também com picardia:

— Coitado, do jeito que o Jorge é baixinho, tirando você, ele não vai ter muitas pessoas para ficar esnobando.

Rose e Suellen dão várias gargalhadas. Rose se defende:

— Querida, sou baixinha mas sou feroz. Seu noivo que não se meta comigo.

As risadas continuam, quando Edilene muda o assunto:

— Suellen, meu amor, precisava mesmo te encontrar. Preciso começar a sua matéria. Meu editor está cobrando esse Top Trend: Suellen Souza: A herdeira do império Souza abre as portas da empresa e da sua nova cobertura.

Suellen rebate:

— Amiga, isso está formal demais. Coloca alguma coisa mais provocante como: Suellen Souza: A mulher que ao abrir suas portas, vê Fortaleza a seus pés!

 — Maravilhoso, ou pode ser também: Alta, morena, cabelos cor de mel, olhos esverdeados, pele perfeita, rica, inteligente e poderosa: Suellen Sousa, um resumo da sedução e poder da mulher cearense.

— Minha nossa! — Diz Rose, empolgada, que segue: — Quantos adjetivos cabem nessa garota estrutural!

As amigas dão risadas animadas e a conversa tumultuada do salão vai ficando centralizada em Suellen Souza, centro das atenções onde quer que vá.

Enquanto aplica o peeling, Rose continua:

— E então querida, falando nesse assunto, quando será seu casamento com o chato do Jorge Mascarenhas?

Suellen sorri e é enfática na resposta:

— Amiga, isso ainda vai demorar muito. Você acha que vou largar minha vida noturna e a badalação a troco de casa, filhos e marido? Acho que só depois dos cinquenta é que vou pensar nisso.

As amigas caem de novo na gargalhada.

— Não se mexa muito querida. — Rose adverte, e continua: — Eu só pergunto porque você sabe como é o fuxico. Tenho ouvido nas “rodinhas” aqui do salão o comentário "Já fez vinte e sete anos, vai ficar solteirona. Rica e solteirona.” Principalmente quando a Sra. Souza vem aqui. As amigas conservadoras da sua mãe não dão sossego.

— Rose, você sabe que minha prioridade são as empresas do papai. Eu posso até pensar nisso, mas vagamente. Eu nem sei lhe dizer se amo mesmo o Jorge. Você se lembra como a gente começou. Namoro de adolescente com o assessor braço direito do papai. Papai pensa que me domina, mas eu tenho discernimento sobre isso faz tempo. Jorge é mais velho e experiente. Se aproximou de mim mais como uma segurança, para satisfazer a vontade de papai, do que necessariamente por amor.

Suellen respira, reflete um pouco e continua:

— Mas isso não importa, pois não acredito nessa coisa de paixão, nem nessa coisa de “ai, é o amor da minha vida!” Isso é coisa de novela. — Suellen dá risada e continua: — Na vida tudo tem sua conveniência. Conheço a conveniência e os interesses do Jorge. As pessoas precisam estar com alguém e eu concordo! E para mim está ótimo. O Jorge não reclama. Faz tudo que peço. Me trata como rainha e me leva para onde quiser. O que mais esperar de um marido?

As amigas em volta de Suellen apóiam.

Edilene Fortuna olha com ar de advertência e comenta:

— Amiga, você está corretíssima, mas o grande problema é aquele maldito bichinho da paixão. Quando dá sua picada, as coisas mudam.

Suellen faz cara de enjoô e convoca sua amiga:

— Nossa, Edilene! Que coisa mais brega. Você tá precisando é levar uma picadinha no cangote, para parar de ser tão romântica.

As amigas todas caem na gargalhada e Suellen agita:

— Amigas, querem saber de uma coisa? Não tem lugar melhor para levar picadinha no cangote do que a pista do Pub de Elite. E hoje é quarta-feira, então, quem for empoderada que me siga!

Edilene confirma:

— Huhúú! Balada de quarta feira à noite é a melhor opção.

Rose sorri e adverte Suellen:

— Não se mexa muito, querida. Vai trincar o peeling.

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