Wolf - Capítulo dois.

POV LUNA SWAN

Parei de correr ao chegar em uma clareira conhecida por mim, onde antes existia uma pequena aldeia de Longhairs, mas que agora não restava nada além de cinzas e corpos destroçados. O cheiro do sangue se expandiu quando chegamos mais perto.

Minha loba rosnou dentro de mim de forma animalesca.

"Eu preciso sair. Me liberte!"

—O que aconteceu aqui?—Perguntei pra mim mesma olhando o lugar com o coração palpitando fortemente, uma angústia invadiu meu peito.

Os chalés e as tendas foram destruídas, e o que sobrou delas estavam no chão. Não havia sinal de vida naquele lugar, até os animais de criação e domésticos estavam mortos, torci o nariz diante daquela cena.

Longhairs são criaturas capazes de se transformarem em raposas e eram assustadoramente poderosas, mas capazes de serem mortas. Assim como nossa espécie, sentiam—se mais confortáveis em meio a natureza. As raposas e lobos sempre viveram em guerra, mas nos últimos anos conseguimos alcançar a paz entre nossas aldeias com muito custo.

"Isso é terrível, quem seria capaz de tal ato repugnante?"

Lucca e eu começamos a andar pela aldeia destruída. O cheiro metálico estava forte, o que atrairia predadores em breve.

"Sinto muitas emoções aqui. Está tudo tão confuso, tantos sentimentos diferentes...estou me sentindo sufocada."

—Ocorreu uma briga aqui. —Lucca chamou minha atenção. Virei minha cabeça em sua direção e o vi cheirando o ar, usando suas habilidades de Alfa. —Sinto cheiro de medo, ódio e..o amargo odor da vingança. —Declarou ele se aproximando com um vinco de confusão formado na testa.

"Esse massacre não é um bom sinal. Os caçadores não teriam chance contra toda essa aldeia de Longhairs, quem as matou? E por qual motivo?"

Minha atenção se voltou quando ouvi um gemido de dor baixo soar em meio aquela destruição, olhei ao redor ouvindo de novo o chiado. Segui o som e em um canto vi mechas loiras no chão.

Rapidamente andei até lá junto com Lucca, encontrando uma mulher encolhida perto de uma fogueira apagada.

Ela estava nua e coberta de sangue.

Tinha cortes profundos espalhados por seu corpo. Seu rosto se contorcia em dor, conseguia sentir seu tremor físico, apenas não sabia se era de frio ou dor.

—M—me ajude. —Ouvi ela implorar num sussurro rouco. Me agachei ao seu lado e toquei sua cabeça, ela delirava em febre.

—Shh, tenha calma—pedi baixinho para não assustá—la. Ela se mexeu e abriu os olhos devagar, seus olhos eram azuis como o céu em nossas cabeças.

—Lobos, não—balbuciou, sem força, pavor lhe dominando.

Segurei sua mão trêmula.

—Não somos uma ameaça, você está segura.

Meu irmão se tornou uma rocha tensa ao meu lado.

—A raposa precisa um curandeiro, suas feridas são profundas demais para serem curadas sozinhas.

Lucca pensou por um segundo, sempre atento, sempre desconfiado e nunca arriscando a segurança de nossa família.

—Se pensa em deixá—la morrer aqui, juro que quebro seu nariz—grunhi entre dentes.

O rosto duro do lobo não mudou.

—Não sou um miserável. Vamos levá—la para o vilarejo para Becky cuidar desses ferimentos.

Concordei num aceno rápido. Lucca tirou seu casaco e o jogou sobre a Longhair, cobrindo sua nudez. Meu irmão foi cuidadoso ao pegar a raposa em seus braços com calma para não abrir suas feridas. Ela sussurrou algo sem sentido e quando viu o rosto do macho, engoliu em seco, tentando fugir dele, com desespero. 

Meu irmão sibilou ao ser atingido pelo cotovelo da Longhair.

—Não somos inimigos, raposa e não vamos te machucar. Mas se continuar se contorcendo, talvez eu mude de ideia.

—Lucca!

A Longhair tentou abrir a boca para dizer algo, mas simplesmente desmaiou nos braços de Lucca, gotículas de sangue escorrendo do nariz arrebitado.

Uma sensação ruim tomou conta do meu estômago e tive vontade de vomitar quando meus olhos avistaram um cadáver morto de uma pequena criatura inocente.

Diante de meus olhos, sobre o chão sujo, repousava o corpo de uma garota morta, ela não tinha mais que doze anos e aquilo partiu meu coração.

Me abaixei ao seu lado e virei seu corpo cheio de cortes, sua garganta foi cortada e as roupas rasgadas.

"Que repugnante! Qual o motivo de tudo isso?"

—Que monstro faria isso com uma criança?—Sussurrei segurando sua mão fria, os olhos pretos sem vida fixos no céu aberto. Meus dedos tremeram quando fechei as pálpebras gélidas da garotinha, contendo as náuseas.

—Termine com isso logo, Luna, precisamos partir.

Espremi os lábios.

—Que a Lua te acolha e a faça repousar em sua eternidade, os vales verdejantes sob o luar te aguardam, uma terra imortal a espera. Descanse em paz, valente guerreira, pois sua luta chegou ao fim e é chegada a hora da recompensa.

Recitei a prece de despedida do nosso povo, uma oração a Lua. Me inclinei sobre a garotinha e beijei sua testa lentamente, uma lágrima escorreu pelo meu rosto e pingou na bochecha pálida dela.

A Longhair nos braços de Lucca permanecia inconsciente, sangrava silenciosamente, mas seu coração ainda batia, fracamente, mas pulsava e aquilo acendeu a esperança em meu peito.

Ela sobreviveria, precisava sobreviver.

Fitei a pequena raposinha morta sobre o chão.

—Não posso deixar o corpo dela exposto, os animais vão devorá—la.

Lucca piscou em minha direção.

—Siga a tradição do nosso povo, deixe o fogo levá—la.

Com um aperto insuportável na garganta, me abaixei próximo as cinzas da fogueira e peguei duas pedras, as esfregando rapidamente até criar uma faísca, uma pequena brasa. Acendi a fogueira antes fria e peguei um galho em chamas, andando novamente até a garota morta. Joguei o galho em chamas sobre ela, vendo o fogo consumir seu corpo sem vida. Era o mínimo de dignidade que podia conceder a ela, que seu corpo não fosse devorado pelos animais.

—Encontre a verdadeira paz nas terras imortais.

(...)

Durante todo o percurso e a caminhada até minha casa, aquele aperto no peito me perseguiu sem descanso. Fiquei relembrando o cenário de destruição da aldeia das Longhairs e o assassinato de todo o clã. O que aconteceu não fazia sentido. Estávamos em paz e os caçadores não nos incomodavam há meses.

Assim que pisei em meu território, tudo mudou.

Meu irmão e eu morávamos em um vilarejo entre uma floresta densa, criado para lobos. Era mais seguro para todos, inclusive aos humanos, já que em todas as Luas Cheias não tínhamos controle sobre nossos instintos selvagens. Em nosso vilarejo tínhamos tudo que precisávamos e éramos felizes ali, na simplicidade e afastados de toda humanidade, preservados. Lucca e eu fomos acolhidos por um casal de lobos e atualmente, vivíamos nas montanhas em uma pequena cidade em Washington.

Minha descendência Ballard é uma linhagem real de lobisomens que foi referido como tendo existido desde o início das espécies sobrenaturais, o primeiro clã de lobos a existirem, mais fortes, poderosos e invencíveis. Os famosos Lobisomens Sangue Puro.

A linhagem é identificada por uma marca de nascimento em formato de uma Lua Crescente, num tom avermelhado, simbolizando a Lua de Sangue para os Puros, que aparece na nuca daqueles que compartilham sua linhagem. A linhagem foi considerada realeza entre os lobisomens devido a esse direito de primogenitura, e também levou os Ballards a ter muitos inimigos, mesmo entre lobisomens.

No entanto, a discórdia começou a crescer entre os Ballards e as outras linhagens dos clãs, levando a conflitos internos entre lobisomens. Nossa espécie estava dividida, grande parte de nosso povo se tornou insatisfeito e revoltado com nossa liderança e movidos por esses sentimentos, causaram uma grande revolta e nossa união foi se quebrando. O elo que unia toda uma raça de criaturas livres da natureza se rompeu.

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