Capítulo – 04

O silêncio entre eles seguiu desde o instante em que Alexander adentrou o carro de Michael, até o momento em que saíram dele na Quinta Avenida e adentrassem num café, que naquela hora do dia, estava sem grande movimento. Foram recepcionados por uma garota loira de roupa padrão preta, e que conduzira-os pelo salão até uma mesa vazia mais ao fundo, próximo de uma janela a vidro, e com cântaros de flores ao longo da sua extensão. 

Aquilo hipnotizava os olhos de Alexander, que apesar de no passado, segundo a história, ser Grande, ali, perante aquela estrutura de mental e concreto, tornara-se pequeno; um grão de poeira em meio ao furacão chamado Michael Jones Efron. Por quê não se perguntara da onde vinha aquele sobrenome? Discursara com Dan, na noite de sábado, os reais motivos pelos quais o irmão passou, e até mesmo mencionara com o amigo sobre Woodrow Efron. Mais naquele instante, a raiva era muito maior que a capacidade de pensar, e por conta disso, não juntara os fatos. Apesar do “equívoco” ter se resolvido e ficado encoberto mais uma vez, tanto pela direção da escola, quanto pela junção dos responsáveis, temia que no futuro próximo, mais caos se instalasse em sua família.

— Então, o quê você faz da vida, Sr. Red? — perguntou Michael, com às mãos apoiadas no queixo, e seguindo com os olhos azuis profundos em direção aos verdes quase cinzentos do rapaz em sua frente.

Alexander tomou um gole do café antes que respondesse. Parecia um pouco preso ao lugar, e por mais que houvesse estado em ambientes como aquele antes, era um tanto... diferente agora.

— Estou cursando às últimas semanas de Direito. Daqui a alguns dias eu me formarei! — era perceptível a euforia do rapaz.

— Uau! Tão novo e já se formando?

— Sim! Há algumas batidas na porta que devemos ao máximo atender e deixar entrar e, posteriormente, convidá-la para um café — sorriram calmo. — Estou há quase cinco anos entre o Brooklyn e Manhattan, é um percurso muito difícil, porém, sacrifícios são necessários para um dia, se tiver um sonho, realizá-lo.

— E qual seu sonho?

— Tirar minha tia e meu irmão do Brooklyn e trazê-los para morar fixamente aqui, em Manhattan. 

— Entendo. Mas e seu pais? — questionou Michael.

Alexander o estudou por um momento, mas logo lhe respondeu.

— Foram mortos em uma tentativa de assalto na ponte The Brooklyn Bridge, quando eu tinha dez anos e meu irmão mais novo, apenas sete. Fomos levados para um orfanato, e alguns dias depois, nossa tia que morava na Califórnia, tivera que vender sua casa para pagar a passagem em direção a Nova Iorque, para ficar com nossa guarda — ele não teve como conter as lágrimas que desciam levemente pelas bochechas rosadas. — Então ela nos criou. Deu seu amor, comida e roupa! 

Michael seguiu com sua mão pela mesa e a colocou por cima das de Alexander, que ergueu o olhar e por um momento, solidarizou-se com o ocorrido.

— Eu sinto muito... não queria te fazer chorar — ruminou, e em seguida, continuou: — Meu pai não foi tão presente em minha vida e na de Woodrow. Fomos criado sem amor por parte de nossa mãe, enquanto ela lamentava a decepção que sofrera. Só acho que se meu pai não tivesse saído de casa logo, ele também teria enlouquecido mais depressa. Quem vê Catherine Jones na tevê, pensa que ela é tudo aquilo... mais não é! Dentro de casa não passa de alguém sem preceitos e que não se comove com as emoções vindas de seus filhos. 

Alexander não sabia o que dizer. Apenas livrou suas mãos das de Michael, e voltou a tranquilizar seus nervos. Sabia que estava ficando um pouco tarde e que precisava voltar à sua casa na esperança de logo retornar a Manhattan para seus últimos dias na faculdade. 

— Eu também sinto muito — dissera após algum tempo — eu preciso chegar a estação de metrô. 

Michael voltou a colocar sua mão encima da dele, e ficaram por um tempo na esperança de conseguir falar mais alguma coisa, porém, naquele momento, não fazia à mínima ideia de para onde suas palavras se foram. Estava sem voz; sem ação. Havia algo naquele rapaz que o deixava assim, mais não sabia ao certo o que era. Nesse pensamento, ele largou a mão do mais novo, e voltou a tomar seu café. 

— Não quer que eu o leve até lá? 

— Não; não! 

— Mesmo? — perguntou na esperança dele ceder. 

— Mesmo! Eu vou de metrô. 

— Ah, e me desculpe pelo caos que houve entre nossos irmãos. Woodrow nunca faria aquilo, ele só está... passando por uma fase muito difícil de sua vida, e dê meus sinceros perdões ao Matthew por ele — Alexander concordou com à cabeça. — E... foi muito bom te ver novamente. 

— Igualmente! — dissera Alexander, e logo após, anotou algo no papel toalha e entregou ao loiro. — Estou indo! 

E saíra da mesa despedindo-se de Michael, e logo após, caminhou até à saída. 

Michael sorriu de leve ao abri o papel. Ali estava o número do contato de Alexander. Logo retirou o aparelho celular do bolso e salvou.

Chamou o garçom e pagou sua conta, saindo em seguida em direção à sua casa. Pegou seu carro no estacionamento e seguiu viagem para o bairro do Inwood, que não ficava tão distante da Quinta Avenida. 

Enquanto dirigia pelas ruas movimentadas de Nova York, sentia uma pressão atmosférica diferente pulsar em seu coração. Ele sorriu brevemente ao lembrar de sua mão acariciando o dorso fino e suave das de Alexander, fechou os olhos por um momento e aumentou a velocidade. 

Assim que chegou até sua casa, deixou que um dos seguranças guardasse o automóvel na garagem, e foi para a sala. Ao entrar, deparou-se com uma convidada não tão desejável: Mia. 

Ele olhou para sua mãe que estava sentada em uma poltrona e conversava com a garota que sorria discretamente com os assuntos que com toda certeza, envolvia moda e dinheiro. 

— E aí está ele! — Catherine disse assim que olhou para o filho. — Olha quem voltou, meu amor? 

Mia correu para os braços de Michael, que no momento, ficou sem reação alguma. Olhou por cima do ombro da garota, e sua mãe, como sempre, demonstrava felicidade quando na verdade o ódio disseminava aos poucos pelo ambiente.

— Estava com saudades de você, meu amor! — Mia o beijou levemente, e Michael não compreendeu os motivos óbvios pelos quais tivera que voltar do intercâmbio na europa.

Ainda tentando discernir ou acordar daquele pesadelo repentino, fechou os olhos e logo após os abriu. E para seu azar, não tivera sonhando, era real! Mia estava em seus braços, e fazia questão de não se afastar dele. Sua mãe, ao contrário, continuava imóvel próximo de um sofá branco. 

— Vou deixar os pombinhos à sóis — Mick não entendeu o que a mão queria lhe dizer, mais no fundo de seu coração, sentia-se traído por ela.  

Ele se afastou de Mia somente depois que sua mãe subiu para o quarto, e olhou para todos os cantos na esperança infame de não encontrar ninguém por ali. Agradeceu mentalmente quem estivesse governando o mundo no momento, pois virou-se odioso para encarar a bela garota no mais profundo de sua alma. Não negava que sentia-se imundo por um dia amá-la, e era livre para falar a quem que fosse sobre o ocorrido com sigo no passado.

— Como você ousa à vim aqui, na minha casa? — resmungou entre dentes. — Não acha que o inferno que causou na minha vida, já não foi o bastante? Quer o quê: me enlouquecer? 

— Até que não seria uma má ideia, Michael Jones Efron! — disse Mia, dando algumas voltas entorno do loiro. — Sabe? Tem alguns dias que minha conta bancária está precária e como eu e você temos umas dívidas pendentes no passado — ela fizera uma breve pausa antes que concluir — seria uma boa você contribuir nesse momento tão fatídico de minha vida!

Michael sorriu soslaio. Ele odiava ela. Odiava tanto que era capaz de enlouquecer ouvindo suas paranóias.

— Não! 

— O quê você disse? 

— Não! Eu não estou lhe devendo mais nada. Tudo que tínhamos de pendente foi perdoado, minha querida. 

— Se eu fosse você, Michael, não pensaria desta forma. Olha? Eu sei que ficou bastante chocado quando eu, involuntariamente, tivera que desmanchar o casamento contigo. Eu te amava — ela parou à quase meio metro dele, e suspirou tensa. — Quando tivemos juntos, nós éramos feito um para o outro. Eu te amava e você me amava. E isso era recíproco.

— Que pena que essa química se dissolveu e a fórmula tivera que ser cobiçada — anunciou em meio ao sorriso manso. — Procure outro para extorquir. Isso não vai mais acontecer comigo. Não sou uma peça de marionete; e não vou permitir que você me controle como se eu fosse um brinquedo seu!

— Se eu fosse você; eu pensaria bastante. Te recorda da última vez que estivemos juntos. Se lembra do que eu disse para você? Daquela morte? De um acidente do qual, injustamente, meu irmão fora preso em seu lugar? — antes que Michael a contradissesse, a mesma relutou. — Pensa no quanto o teu inferno aumentaria em chamas, Mick?!

Ela jogou sua última ficha de uma só vez. Quisera ela, Mia Thompson Stanford, feito um gol olímpico. Mas que pena, que assim como ela, Michael também tivesse outra jogada mais certeira.

— Antes que me ameace com suas chantagens, Mia Stanford; sugiro que retorne há quase dois anos e revele algumas pistas sobre o assassinato de Garret Wilson, seu... ex-namorado.

Fora um choque tremendo. Mia Stanford não pensara duas vezes ao deixar o local um pouco alterada pela forma como ele agira com sigo. Michael respirou profundamente antes que fosse para o quarto relaxar. Por mais que os dias se conturbassem, precisava de uma lavagem na alma, para somente então, fisgar Alexander.

Mia não era apenas o único fantasma que assombrava seu passado; ele tinha outros, cada um com um rosto a ser identificado, com uma história por detrás de sua vida, e pior, prontos para atacá-lo. 

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