PROMESSA DO ALFA PARA LUNA CEGA
PROMESSA DO ALFA PARA LUNA CEGA
Por: Bianca C. Lis
PRÓLOGO

Minha pata batia contra a poça de água fria da floresta, os sons de caça estavam cada vez mais altos e próximos. Com o coração disparado, o medo se instalava em meu âmago, o desespero tomava conta. Parei, no absoluto escuro, minha vida era assim, sem poder enxergar, precisei desenvolver meus outros sentidos para sobreviver aos ataques dos lobos de minha própria alcateia.

Farejei o ambiente. Já fui solta naquela fauna por meu pai, que me usava como presa viva para treinar seus guerreiros, aparentemente era a única forma que eu servia para contribuir com a alcateia.

Devido a minha condição de cega, era considerada um fardo para os lobos, ainda mais no momento delicado em que estávamos vivendo com a falta de recursos. Algo do qual foi atribuído a mim, como a renegada da Deusa Lua, minha alcateia julgava-me culpada pela falta de alimento e fome que sofríamos.

Mas eu sabia que isto era apenas uma desculpa do meu Rei e pai que por diversão, às vezes, se juntava à caçada apenas para me acuar e machucar.

— Deusa Lua, eu te imploro, seja meus olhos e minha proteção! — Clamei, erguendo o focinho para o céu em uma súplica — Ou acabe de vez com o meu sofrimento, eu não suporto mais tanta dor...

Um rosnado estrondoso ecoou, sinalizando que haviam localizado meu cheiro. Concentrei-me nos sons que ouvia: o barulho de patas raspando as garras ao chão. Farejando, pude identificar a quantidade de lobos que me caçavam. Eram cinco, um número menor do que da última vez.

A brisa singela acariciou meus pelos, acompanhada de um cheiro adocicado. Instintivamente, segui o aroma, com o focinho colado ao chão e, em tempo em volta, evitando que fosse machucada em alguma queda. Senti, entre as patas, algo pegajoso. Inalando e lambendo, notei ser lama.

— Lua, você não me abandonou... — Sussurrei, rolando sobre a lama fria, camuflando meu cheiro.

— Loba, vamos achá-la. — Rugia um lobo ameaçador.

— Sua vida não vale de nada, presa cega. Pare de jogos e apareça logo! — Brandou outra criatura em um assovio sombrio. — Estamos loucos para brincar com a sua carne.

Rindo, ouvi a voz fina da loba fêmea que os acompanhava:

— Que saco, achei que teríamos um desafio à altura... Por que temos que perder tempo com esta carcaça morta? — Desdenhou Esmeralda, filha do beta.

— Por que ela ainda não está morta? — Gargalhou Vicent, irmão gêmeo de Esmeralda. — Vamos parar de reclamar, precisamos achá-la e arrastá-la de volta para o nosso rei.

— Deveríamos fazer o favor e eliminá-la de uma vez, é só mais uma boca para alimentar! — Rosnou Esmeralda, impaciente.

— A regra da caçada é clara, temos até o anoitecer para localizar a presa cega, levá-la viva ao nosso Alfa. — Dante reforçou. — Além disso, não deixarei que matem minha futura noiva... Ela precisa estar viva, mas não inteira!

— Aí, Dante, por que se importa com isso? Sou uma candidata muito mais digna de seu tempo do que essa loba inútil. — Falou manhosa Esmeralda.

— Ah, minha linda loba, com toda certeza, preciso dela somente para fidelizar o título e ser o sucessor do Alfa, depois disso... — Ouvi o estralar da língua de Dante acompanhado da frieza de suas palavras. — Ela não terá nenhuma serventia. Vou matá-la lentamente e entregar seus restos mortais aos lobos que gostam de roer ossos.

Seu riso era demoníaco. Estremeci e voltei a correr. Eles não podiam me achar. Minhas pernas vacilaram, tremulas, me fazendo tropeçar em algo e cair de focinho no chão, grunhindo de dor.

— Mas nem para se esconder você presta! — Ouvi Esmeralda atrás de mim.

Senti a presença sombria de Dante, seu hálito repulsivo sobre meu focinho.

— Como conseguiu irritar tanto a Deusa a ponto dela te punir como uma aberração? — Ele disse, abocanhando em cima do meu pescoço e rasgando minha carne com suas presas. — Nem mesmo o seu gosto é bom!

Cuspindo, Dante me lançou contra uma árvore. Arfei com dificuldade para respirar, sentindo os pulmões encherem de sangue e as costelas se quebrarem.

— Por favor... — Choraminguei, mas implorar os excitava mais.

— Além de cega, é muda? Fale mais alto, lixo! — Esmeralda fincou as garras em minhas costas quando tentei me levantar, rugi em desespero com a dor dilacerante. — Isto, é assim que se faz.

— Por favor... — Voltei a falar com dificuldade, ofegante com a boca carregada com o gosto de sangue e o cheiro de ferrugem me nauseando.

— O que foi, criatura repulsiva? Irá implorar por sua vida? — Zombou Zeek, um dos lobos que me caçava.

— Não... — Rosnei firme entre soluços, deixando as lágrimas lavarem meus pelos. — Por favor, me matem!

Os lobos ficaram em silêncio, talvez em choque com o meu pedido. Seus passos pesados ecoavam pelo ambiente, sua aura poderosa e maligna era sentida à distância. Rugindo estrondoso, farejei os caçadores se curvando. Mesmo diante da dor e sofrimento, me forcei a fazer o mesmo... As punições do rei Lycan eram piores do que a morte, tão cruéis quanto suas caças. Meu pai era um verdadeiro sádico!

— Optando pela saída mais fácil, Callie? — Ele brandou em desgosto. — Ao menos tentou se esconder ou lutar?

Agarrando meu pescoço, notei que o Alfa vinha em sua forma de lobisomem, sufocando-me com suas enormes garras.

— Me perdoe, pai... — Sussurrei, tentando respirar.

Deferindo um soco em meu focinho, fui lançada com força ao chão, suas patas pressionando minha cabeça contra a fauna fria, esmagando meu crânio.

— Nunca mais me chame de pai, eu não tenho prole amaldiçoada, loba desagradável! — Hunter rugiu em minha orelha, mordendo a ponta e arrancando um pedaço.

Gritei em desespero.

— Me mate, eu suplico! — Funguei, sentindo o sangue escorrer por entre minhas presas, perdendo os sentidos.

Arrancando-me do chão, pelos do meu corpo começaram a ser arrancados, as garras brincando por minha pele lupina, causando cortes profundos.

— Vou te punir até não sobrar mais nada de seu couro, por ter feito a Deusa amaldiçoar nossa família dessa forma, loba cega! — A promessa carregada de ódio de Hunter fez um último tremor percorrer minha espinha até que, enfim, perdi a consciência.

Acordava de tempos em tempos, sendo arrastada pela floresta adentro, batendo em cada pedra e raiz, desejando que a cada caçada fosse meu último dia de vida. Em minha mente, clamei à Deidade Lua:

— Vossa Deusa, não sei que mal fiz para merecer tamanho castigo. Imploro por seu perdão, mesmo que não seja merecedora de sua benevolência. Eu suplico, me liberte deste destino cruel, leve minha vida e prometo que minha alma a servirá por toda a eternidade!

Uma corrente forte de vento rodopiou nossos corpos, acariciando meus pelos ensanguentados.

— Não tema, minha criança, em breve o prometido ressurgirá... — A voz Divina dizia.

— O prometido? Não, eu não desejo mais viver neste mundo com estas condições.

Cedi à dor e ao cansaço, apagando de vez.

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