Mundo de ficçãoIniciar sessãoPOV: AARON
Um sussurro ao longe chamou minha atenção para um ponto da sala durante a reunião com meus lacaios, onde elaborávamos um plano de ataque às outras alcateias. Sentia os olhos pousados sobre mim, o medo palpável, as incertezas e a necessidade de proteção. Meu lobo rugia em meu peito, rasgando-me por dentro com um instinto impulsivo de correr em direção à loba cega e ficar ao seu lado.
— Rei Lycan? — Chamou o Beta, olhando para o ponto onde eu fixei meu olhar. — Está tudo bem?
Rosnei, fazendo a mesa estremecer e todos os lobos se encolherem, abaixando suas cabeças.
— Tracem um bom plano, apresentem-me seus motivos para atacar a alcateia; não estou certo sobre este. — Apontei no mapa, sentindo um alarde do meu lobo.
— Para onde o senhor vai? — Indagou Jaxon.
Rugir, fazendo-o ceder alguns passos, agachando-se em sua forma humana em reverência.
— Perdoe-me, meu rei... — Ele sussurrou entre as presas.
Saí do local a passos largos, Kemilly vinha em minha direção com um largo sorriso. A loba em sua forma humana era atraente e desejada por todos os lobos da alcateia. Olhos claros, pele clara, seios e bunda avantajadas, cabelos longos, quadris largos que indicavam que suportaria carregar a cria de um alfa. Mas algo nela me enjoava, talvez fosse sua voz fina e necessidade de atenção constante!
— Meu rei, que prazer vê-lo. — Ela disse, enrolando as mãos pelos meus braços em carícia. — Já tomou o seu desjejum?
Sorri com o duplo sentido de suas palavras, tirando suas mãos de cima de mim, a encarei ferozmente.
— Kemilly, eu não ordenei que você avaliasse as fêmeas reféns e averiguasse se tinham serventia para nossa alcateia? — Arqueei as sobrancelhas.
— Sim, meu Alfa, mas eu pensei que... — Kemilly se engasgou quando grudei seu pescoço, apertando, sufocando-a. — Meu rei... Eu não consigo respir...
Puxei-a bem perto, sussurrando em seu ouvido:
— Você não pensa, obedece, entendeu, loba? — Rosnei, ameaçador.
— Si, sim, meu Lycan.... — A joguei com força ao chão; Kemilly me olhava com fúria, abaixou a cabeça em submissão e reverência, saindo sutilmente.
Voltei a caminhar; todos os lobos da alcateia tremiam com minha presença, reverenciando-se ao me ver. Adentrei ao hospital; o médico humano que me servia veio em minha direção.
— Bom dia, Rei Lycan... — Ele reverenciou, em respeito. — Em que posso servi-lo?
— A loba cega, que ordenei que priorizasse seu estado, qual suas condições? — Falei diretamente, o fazendo estremecer.
— Não são boas; ela está inconsciente, mas seus ferimentos são severos e profundos. — Ryan explicou.
— Invalida ou não, é uma loba; já deveria estar curada com os seus cuidados. — Rosnei, ameaçador, puxando-o pelo jaleco. — É tão incompetente assim?
— Não, não... De forma alguma, meu rei... — Engolindo em seco, o médico gaguejava — As extensões dos ferimentos da loba vão além de seu físico; sem a conexão profunda de sua loba com sua humana, a cura se torna mais lenta. Avaliando suas fraturas, receio que esta pobre criatura era torturada diariamente; é uma surpresa ainda estar viva!
— Quanto tempo até a totalidade de sua cura? — Brandei, e as janelas do hospital trincaram. O médico olhou em volta, avaliando os estragos, antes de voltar a me olhar com os olhos saltados.
— Há uma fonte nos arredores, li em um livro que encontrei nas gavetas trancadas da sala médica. Aparentemente, é abençoada pela Deusa Lua e auxilia na recuperação mais rápida dos lobos desta alcateia. — Ryan se apressou em falar. — Posso pegar o mapa que mostra o caminho; levaremos a loba até lá.
— Pegue o mapa e traga para mim imediatamente! — Rosnei, soltando-o. — Isto explica como Hunter sobreviverá a tantas guerras, com uma recuperação formidável. Maldito sujo, cheio de truques, enquanto seu povo morria de fome e enfermidades, sendo abandonados.
Cerrei os punhos, caminhando para o quarto da loba. Adentrei e parei para analisá-la: um acesso em sua pata, tomando soro na veia; seu corpo lupino magro, com as costelas à mostra; as patas enfaixadas, posicionadas no lugar certo; o maxilar recuperado, não mais deslocado. Desde a altura de sua cabeça até próximo aos olhos, havia cortes profundos, marcas de mordida por todo o corpo, e uma parte da ponta da orelha faltando, se refazendo aos poucos.
Sentei-me em minha cadeira, em frente à maca, inalando seu cheiro. Apesar do odor de urina do maldito Hunter, aquela loba ainda mantinha a essência adocicada de seu cheiro. Levei as mãos instintivamente em seus pelos, um pulsar intenso em meus olhos me fez erguer a cabeça em sua direção. Ela apoiou-se nas patas frontais com dificuldade, gemendo por entre as presas; uma fisgada atingiu minhas costelas, e notei que a dor não vinha de mim, e sim dela.
— Você é o Alfa supremo? — Perguntou a loba, seus olhos lindos e verdes, em uma intensidade única, com um sutil véu transparente sobre as pupilas. Era difícil acreditar que de fato ela não enxergava.
A cada movimento dela, seu desconforto reverberava em mim, como uma adaga fincada em cada parte do meu corpo. Rosnei, repreendendo a loba agitada. Por que a Deusa me guiaria a algo tão frágil?
Precisava ver a mulher através da loba, ordenando que ela se transformasse. Fiquei surpreso ao descobrir que o básico não lhe foi ensinado... Avaliar suas condições indicava que seria uma tarefa difícil ensiná-la a mudar; aprendíamos observando, sentindo e aplicando!
Ponderei por um momento, meu lobo rosnava, ecoando em minha mente em nossa ligação única.
— Ensinar... — Rosnou em meu ouvido.
— Hunf, inferno! — Brandei, fazendo-a estremecer. Logo, o médico bateu à porta para entregar o mapa. Analisei o local, que não ficava muito longe dali.
Encarei novamente a loba, que tremia sobre as patas frontais, tentando manter o corpo erguido. Claramente, suas dores aumentavam a cada movimento, e as fisgadas em minha própria carne enfureciam ainda mais meu lobo.







