Continuação do capítulo 2

Os primeiros versos de “Desenho de giz”, de João Bosco, ecoam pelo som da galeria e como em uma mágica, uma bolha se estende sobre nós, não há mais ninguém ao nosso redor, só eu, ele e a beleza desse momento.

“...Quem quer viver um amor

Mas não quer suas marcas, qualquer cicatriz

A ilusão do amor

Não é risco na areia, é desenho de giz

Eu sei que você quis dizer.

A questão não é querer, desejar, decidir.

Aí, diz o meu coração.

Que prazer tem bater se ela não vai ouvir.

Aí minha boca me diz que prazer tem sorrir

Se ela não me sorrir também.

Quem pode querer ser feliz

Se não for por um grande amor?”

Ele se aproxima mais, o corpo quase grudado ao meu e fala em um tom baixo, colando a boca em meu ouvido.

— Seu namorado é um sujeito muito corajoso, estou certo?

— Hum, não entendi.

— É um ato de coragem deixar você sair de casa com essa arma de destruição em massa. Você está linda, mas é bem provável que acabe pegando um resfriado com essas costas nuas.

De modo displicente e como se fosse o seu direito me tocar do jeito que quisesse, ele leva a mão às minhas costas e percorre lentamente com o dedo indicador todo o decote do meu vestido, do meu pescoço até abaixo da cintura, os seus olhos verdes como duas poças de fogo, cravam-se nos meus.

Um arrepio me sobe dos pés à cabeça, eu rebato o seu jogo, tentando demonstrar uma falsa indignação, reprovando a sua ousadia.

— Eu não tenho namorado e se tivesse, não há homem nesse mundo pra me dizer o que posso ou não vestir, eu sei me cuidar sozinha, com licença.

Eu levanto o queixo e saio de perto dele, recolhendo o último fio de controle que ainda me resta, as pernas bambas como espaguetes moles, tento me equilibrar em meus saltos, ainda sentindo o choque e o calor de seu toque em minhas costas.

Definitivamente, ele sabe como fazer uma mulher contorcer-se na calcinha.

Como hoje em meu calendário é o dia de “enfiar os pés na jaca de salto agulha”, sem remorsos ou restrições, eu aproveito a noite e tomo mais duas caipirinhas.

Depois desse confronto sexual, os dois drinks descem por minha garganta me aquecendo até os ossos. É disso que eu estou precisando, alguma coisa forte pra me fazer relaxar e desmaiar em um sono profundo.

Decido ir embora pra casa, todo mundo sabe que fim de coquetel é sempre um chute na bunda.

No final do evento sempre sobram umas figurinhas chatas que já beberam além da conta e mulheres desesperadas pra ver se arrumam uma companhia masculina de fim de noite.

A minha cota de atividades sociais já foi cumprida por hoje e o que eu quero mesmo é agradecer a Deus por suportar mais um dia, dar um beijo em Kaled, mesmo ele dormindo e deitar na minha cama bem quentinha.

Despeço-me dos amigos e vou em direção ao ponto de táxi, quando sinto uma mão repousar em minhas costas, viro-me assustada e estou sendo amparada por Hafiq.

 O que é isso? Eu demoro em entender, ele está com o nariz enterrado atrás da minha orelha, descaradamente me cheirando.

Ele está me cheirando? Eu não posso acreditar nisso!

Sinto os seus lábios resvalarem em meu pescoço, ele é um maldito de um jogador no sexo, intimidante, ele sabe jogar sujo.

— Eu te deixo em casa.

— Obrigada, eu vou pegar um taxi, posso ir sozinha.

Preciso manter uma boa distância dele.

— Eu sei que você pode ir sozinha, mas já é muito tarde, uma mulher linda como você andando por esses becos não é nada seguro. Seria um prazer te fazer companhia até a sua casa, então, por favor, aceite.

Uma carona não é nada demais, não vai me arrancar um pedaço.

Aceito a gentileza e sou conduzida até seu carro, uma BMW preta e ridiculamente cara. Espera aí, no outro dia não era um Jeep? Ele coleciona carros ou é dono de uma concessionária?  Pelo visto ele gosta de ostentar a sua riqueza e eu não sei se me sinto bem com isso.

Para quem andava no lombo de um jegue, esse tipo de luxo exacerbado é quase um afronta à pobreza extrema em que vivi por anos a fio.

Não consigo disfarçar, sigo em silêncio durante quase todo o percurso, não sei o que dizer, eu mexo as mãos sem parar para fingir que estou à vontade com a sua presença intimidante.

Ele olha para minhas mãos e me pergunta pacientemente.

— Perdeu alguma coisa ou está nervosa?

— Não, nada, só apreciando a paisagem.

Ele sorri de forma doce e me provoca.

— Se continuar mexendo nas mãos dessa forma é bem provável que acabe arrancando um dedo fora.

Eu tento não rir, mas não consigo, começo a rir sem querer. Ele até que tem senso de humor!

— Você devia sorrir mais Antônia, fica linda assim.

Paro de rir no mesmo instante em que ele termina de falar, graças a Deus chegamos à porta da minha casa.

Retiro meu cinto de segurança e coloco as duas mãos no colo.

Cheguei ao meu destino, nosso tempo juntos acabou, não tenho mais o que falar.

Ele não abre a porta do carro, eu olho pra ele tentando entender.

Mais por que diabos ele não abre a bendita da porta do carro?

— Hafiq, muito obrigada pela carona e boa noite.

— Não flor, você não vai se despedir tão fácil assim.

Ele traz o meu rosto de encontro ao seu, a sua mão grande e forte me segurando pela nuca com firmeza, me impedindo de fugir. Os seus lábios no início roçam nos meus em uma promessa suave, os dedos acariciam minhas bochechas, em toques suaves como plumas.

Eu abro os lábios e o beijo se torna mais urgente.

Ele enfia a língua em minha boca tomando tudo o que quer, as línguas duelam sem que haja vencedores, ele mordisca a minha boca e eu em uma resposta atrevida, mordo o seu lábio inferior, provando a maciez de sua boca, seu cheiro é diferente de tudo que eu conheço, amadeirado, picante e exótico.

A sua língua macia e possessiva invade a minha boca sem muita gentileza e eu gosto disso.

Não tenho tempo pra pensar se é certo, sou tomada em um arroubo, a boca deliciosamente preenchendo as lacunas do meu corpo, não restando mais nada, somente a necessidade das bocas se buscarem, arrancando do outro todo o desejo, todas as sensações, só com o tocar dos lábios.

Só os nossos lábios e nada mais.

Eu preciso conter esse desejo que me toma, sinto arrepios percorrerem todo o meu corpo e um desconforto entre as minhas coxas, que está me deixando completamente desarmada. Eu o quero e não sei onde tudo isso vai terminar, na realidade nós dois bem sabemos, se continuarmos nos beijando assim, eu terminarei enroscada e perdida em seus braços, ele todo enterrado dentro de mim, e é aqui que eu realmente o quero, dentro do meu corpo, me tomando de forma tão intensa e tão gostosa, até me fazer esquecer o próprio nome.

Consigo abrir a porta do carro com muito custo e vou em direção à porta da minha casa em passos rápidos.

Sinto os braços dele em um rompante me suspendendo, ele me pega no colo e me coloca no chão, grudando em meu corpo, de encontro à lateral do carro.

Ele encaixa o corpo entre as minhas pernas e eu sinto a rigidez de sua excitação roçando a minha barriga.

Hafiq enterra o rosto no meu pescoço e me cheira profundamente, raspando os dentes na minha pele, mordiscando e lambendo o lóbulo da minha orelha.

— Você está me deixando louco.

As mãos dele se perdem em minha nuca, apertando-me pela cintura, me puxando para me beijar mais fundo e mais forte.

Sua língua úmida sonda a curva dos meus seios, provocando-me através do tecido.

Meus mamilos se enrijecem e ele mordisca, quase me fazendo gozar, deixando-me com o sexo latejando e úmido, até que eu acordo para a realidade.

Eu estou parada na porta da minha casa, me roçando como uma adolescente, grudada em um carro, à beira de foder com um homem que eu não conheço nada além do nome.

— Por favor, pare com isso.

Lançando mão de uma resistência tibetana, enfim consigo me afastar.

Ele fica frustrado e tenta me puxar pela mão.

— Não faz isso com a gente, Antônia, me diga, você vai conseguir dormir?

Hafiq enrosca as mãos na minha cintura e me traz pra junto de si roçando o membro duro naquele ponto perfeito que me enlouquece a cada minuto.

— Eu te fiz uma pergunta, responda Antônia.

Cada palavra ele pontua com um beijo molhado em meu pescoço.

— Você. Vai. Conseguir. Dormir?

Eu só tenho forças para afirmar com a cabeça.

Ele dá uma enorme e lenta lambida na minha boca.

— Pois eu não, eu não vou conseguir dormir.

Nós ainda estamos ofegantes, mas consigo me desvencilhar de seu toque e sigo andando trêmula até a porta de minha casa.

Hafiq tenta me seguir, frustrado com a interrupção de nossas carícias, eu levanto a mão em um sinal de que é para ele manter a distância, o meu olhar é firme, o meu desejo, vacilante.

— Você mente muito mal, durma bem, Antônia.

Ele caminha de volta para o carro e antes de ir embora, coloca a cabeça do lado de fora do carro, me chamando a atenção.

— Antônia!

Eu viro em direção a ele, segurando a bolsa, quase a esmagando contra o peito, tentando achar o último resquício de autocontrole dentro de mim.

— Eu vou voltar, pode contar com isso.

“Pode contar com isso”, de jeito nenhum.

Nem fodendo eu quero ver esse cara de novo.

Hafiq é o tipo de homem que vem com uma contraindicação, escrita bem no meio da testa: “Este homem é um animal sexual, totalmente contraindicado em caso de mulheres carentes, causa sérios danos para a saúde mental”.

Nunca mais vou vê-lo, eu tenho muita coisa para me preocupar, já estou farta de problemas

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