Depois de uma rápida inspeção, Tess descobriu exatamente em qual quarto estava: no de Lady Pearl Valentine, filha de um conde. Ela era famosa por se recusar a usar vestidos em dias comuns. Ela sorriu, pensando em como a sorte estava sorrindo para ela.
Tess foi em direção ao quarto de vestir e pegou uma túnica roxa escura, uma calça justa e preta e, para sua felicidade, havia também um manto cinza escuro com capuz.
Ela vestiu tudo e pegou também uma bota parecida com a que tinha–mas que não estava em um estado deplorável como a dela–que ia até o joelho. Colocou as adagas no cinto e vestiu a máscara do baile.
Antes de sair do quarto, ela viu uma espada longa e prendeu a bainha dela ao seu cinto.
Como Pearl era gentil em dar-lhe estas coisas. Provavelmente podia pagar por milhares de peças iguais às que Tess pegou e mais um arsenal de espadas idênticas àquela. Por isso, Tess não se sentiu nem um pouco culpada.
Ela saiu no corredor iluminado com velas e foi apagando uma por uma. Por sorte, o andar do quarto tinha como piso um carpete esmeralda, o que facilitava a locomoção silenciosa da garota.
Como já havia dezenas de vezes naquela tarde a planta do castelo, sabia exatamente onde a jóia estaria.
Ela se esgueirou com seu metro e sessenta e cinco de altura, e passava despercebida por entre as sombras quando algum criado ou guarda passava. Então, mais rápido do que ela percebeu, estava quase virando o corredor onde, no final, estava a porta trancada que guardava a jóia.
Com muito cuidado, ela olhou para onde a porta estava. Três guardas e um deles segurava uma besta. Ela precisava ser esperta.
Tirou as adagas do cinto e contou até cinco, o metal esfriando sua pele morna.
Então num movimento tão preciso quanto podia, ela lançou uma das adagas na direção dos guardas.
Ela havia mirado na testa do guarda com a besta, mas acertara a base da garganta. Os dois guardas gritaram alarmes, mas a música no andar de baixo estava alta demais para que qualquer um ouvisse.
Ela jogou a segunda adaga naquele que parecia mais experiente, deixando apenas o novato apavorado para enfrentar com a espada.
Com um dos guardas morto e o outro desacordado, o garoto pálido, que mal devia ter vinte anos, entrou em pânico.
" Por favor, não me mate. Eu imploro. " O guarda pediu.
Uma gargalhada sombria ecoou no corredor enquanto Tess ficava de frente para o garoto. O menino ficou ainda mais pálido e de olhos arregalados. Ela sabia que parecia a personificação da morte.
"Me dê as chaves da porta." Ela pediu. A voz saiu como o ronronar de um gato.
O garoto, com os dedos trêmulos e desajeitados, se agachou ao lado do guarda morto e tirou um molho de chaves. Ele destacou uma chave dourada e simples e jogou para a garota.
" Não me mate." Ele pediu de novo.
O riso sombrio dela ecoou novamente enquanto, num único movimento, ela tirava a espada da bainha e jogava o punho contra a têmpora do rapaz, que caiu com um baque no chão.
Ela andou calmamente entre os corpos e girou a chave. Garoto tolo. Com um clique, a porta estava destrancada e aberta.
No centro da sala pequena, um cubo de vidro mantinha a enorme esmeralda. Ela ofegou ao pensar em quanto aquilo valeria.
Ela agarrou o colar e o enfiou num dos bolsos. Só então notou a enorme variedade de jóias no quarto. Ela encheu os bolsos com colares, broches e brincos de pedras preciosas.
Ela mal conteve a gargalhada trêmula que saiu de seus lábios.
Ela voltou ao corredor e recuperou as adagas. Ela se sentia pesada com as jóias e as armas que levava. Mas valia a pena.
Entrou em um quarto qualquer que, por sorte, estava vazio, e pulou a janela. Foi uma queda relativamente longa, amortecida por um arbusto.
Ela correu em direção ao muro de cerca viva que cercava a propriedade naquela área. Cortou alguns galhos e fez um pequeno buraco na planta.
Estava livre e fora fácil demais. Correu e correu em direção à loja onde seu irmão esperava.
O relógio de um templo bateu meia-noite e a corrida da garota aumentou. Havia percorrido metade do caminho quando ouviu galopes atrás dela.
Eles a haviam achado, pensou.
Ela pegou fôlego e disparou pelas ruas, quase sendo atropelada por uma carruagem. Os galopes jamais deixavam seus ouvidos e os segundos só a deixavam mais amargurada.
Por fim, se escondeu num beco para recuperar o fôlego. Viu os cavalos e seus cavaleiros passarem pela rua em disparada, nem olhando para o beco.
Ela sorriu para a noite. Tinha nos bolsos uma pequena fortuna.
Andou pelo beco na direção oposta à que tinha vindo. Ela fazia milhões de planos para quando chegassem em Joraele.
Ela parou subitamente, um tremor percorrendo sua espinha. Alguém a observava pelas costas. Com cuidado, ela se virou e viu dois homens parados na entrada do beco. Ambos vestiam os mesmos uniformes dos guardas do castelo.
Ela se virou para correr mas não conseguiu se mexer. À sua frente, mais três guardas a encaravam.
" Devolva as jóias, garota." Um deles disse. " Ou vamos tomá-las à força. "
Ela encostou as costas na parede úmida do beco. Pequenos flocos de neve começavam a cair, tornando a noite ainda mais gelada.
" Eu não sei do que vocês estão falando." Ela disse em voz alta.
Um dos guardas riu com escárnio. " Bem, então vamos fazer isto do modo divertido. Peguem ela."
Então os cinco homens começaram a avançar na direção dela.