Capítulo 2

Acordo assustada e sem fôlego. Minhas mãos tremem e quando olho para cima, vejo Hannah.

— Você está bem? — pergunta, apavorada.

— Não sei — respondo, confusa. Meu coração está batendo muito rápido. — O que aconteceu?

Hannah solta um suspiro e relaxa seus ombros.

— Foi um pesadelo. Acordei com seus gritos, entrei aqui e vi você se debatendo.

— Me desculpe, Hannah. Nem lembro o que estava sonhando — minto, deito de lado e tento acalmar a minha respiração irregular.

— Como está se sentindo? — pergunta ela.

— Entorpecida — respondo e fecho os olhos. Não consigo sentir nada agora. Quando abro meus olhos, Hannah está olhando fixamente para mim, com preocupação estampada em seu rosto.

Eu realmente gostaria que ela não olhasse para mim desse jeito; isso me faz sentir estranha, como se eu fosse diferente agora. Eu sei que estou, mas podemos apenas fingir que eu não estou?

— Que horas são? — pergunto.

— Quase três da manhã — Hannah responde, e se senta na cama.

— Eu acordei as meninas?      

— Não se preocupe com isso.

— Desculpe, Hannah. Não quero estressar você, sei que não é bom para o bebê.

— Não pense assim — Hannah acaricia meus cabelos. — Estou aqui para você.

Deito minha cabeça em seu colo e me permito envolver meus braços em torno dela. Ela beija o topo da minha cabeça antes de perguntar:

— Você quer falar sobre isso?

Eu não falei uma palavra para Hannah sobre o que aconteceu naquele lugar. As coisas que eu vi. Das surras que levei e das cicatrizes que ainda são visíveis. Eu não tenho certeza se consigo falar. Mas sei que eu não quero. Engulo o caroço na minha garganta e simplesmente balanço a cabeça negativamente. Como é que eu vou falar sobre isso? O que eu vou dizer?

Lágrimas começam a encher os meus olhos; lágrimas que eu pensei que não tinha mais. É difícil combatê-las contra o aperto na minha garganta. Hannah deve sentir meu corpo tremer quando beija o topo da minha cabeça mais uma vez e sussurra:

— Grace, não se prenda assim... chore, deixe sair. Estou aqui para você.

Abraço suas pernas com força, em uma tentativa desesperada de me esconder. Esconder-me da nuvem que está subitamente pairando sobre mim. Ela aperta seus braços em torno de mim e eu apenas choro. Choro como um bebê impotente. Hannah não diz uma palavra. Ela simplesmente acaricia meus cabelos e me segura até eu cair no sono.

Harry

Londres, Inglaterra

Quinta-feira, 13 de setembro de 2018

Estou parado na frente da casa onde Grace mora aqui em Londres. Estou nervoso. Não sei como proceder, não sei nem o que fazer. Isso é diferente. Grace é diferente.

Passo uma mão através dos meus cabelos, começo a andar casualmente até a porta e toco a campainha. Aguardo uns segundos até que Grace abre a porta. Ela arregala os olhos e solta um suspiro de surpresa. Eu não havia dito quando viria.

Grace j**a os braços ao redor do meu pescoço, quase me fazendo perder o equilíbrio. Sorrio e passo meus braços ao redor de sua cintura e a puxo para mais perto, levantando-a ligeiramente.

— Meu Deus, como eu senti sua falta — inspiro o cheiro dela, o seu perfume doce e suave, e enterro minha cabeça em seu pescoço.

— Eu senti sua falta mais — Grace suspira, seus braços me apertando, enquanto enche meu rosto de beijos. Rio com a sensação. Beijo seu rosto antes de colocar meus lábios nos dela.

Embora tenha sido apenas alguns dias, eu ansiava por seus beijos. No momento em que seus lábios tocam os meus, sinto como se um peso fosse tirado dos meus ombros. Beijo seus olhos, seu rosto e sua testa.

— Senti – sua – falta – tanto – tanto... — falo, entre beijos.

— Vocês são nojentos e é quase adorável. — Uma voz de mulher nos assusta, fazendo Grace se soltar de mim. Hannah, eu suponho, caminha até a porta da entrada, onde estamos.

— Você deve ser Harry. É tão bom finalmente conhecê-lo. — Ela me puxa em seus braços e envolve-me em um meio abraço, que é o que a barriga permite. Surpreso, abraço-a de volta.

— É bom conhecê-la também — respondo, sem jeito. Ela me solta e olha para Grace, que está explodindo de vergonha. Hannah pisca para ela e nos deixa, me dizendo para ficar à vontade e que precisa descansar.

Quando ela sai, olho para Grace, pego suas mãos e, fechando o espaço entre nós, com seus lábios nos meus novamente, me sinto abençoado. Eu tinha sonhado com ela por tanto tempo, e agora ela está de volta, em meus braços. Uma realidade muito mais agradável do que um sonho poderia ser. 

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