Meu coração despencou.
Por um instante, achei que tinha escutado errado.
— Você... Concordou?
Leo fez uma expressão de quem estava em uma situação difícil, como se a escolha tivesse sido muito pesada.
— Viya... Eu sei que a Jane não é sua irmã de sangue, mas vocês cresceram juntas desde que ela foi adotada. Você também quer que ela melhore logo, que tenha uma vida saudável, certo? — Ele argumentava, a voz suave, quase como se estivesse me fazendo um favor. — Vai ser só a cerimônia de marcação. A sacerdotisa disse que a sensação de felicidade causada por esse ritual vai acelerar a recuperação dela. Esse ritual... Não muda nada entre nós. Eu continuo sendo seu companheiro. Continuo sendo o pai do Mark.
Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, Mark também se manifestou:
— Mamãe... A madrinha tá muito triste. O médico falou que isso não faz bem pra saúde dela. Então, diz que sim pro papai... Por favor?
Olhei para os dois, meu companheiro, o homem a quem entreguei tantos anos da minha vida.
E meu filho, que cresceu no meu colo, ouvindo as histórias que eu contava antes de dormir.
Eu tinha me doado por completo. Como mãe. Como companheira. Como mulher.
Mas, no fim... Por que eles estavam me fazendo isso?
Por que, por causa da Jane, estavam dispostos a trair tudo o que vivemos?
Fiquei em silêncio por muito tempo.
“Mas... Quer saber? Eu já ia morrer mesmo.
Se a Jane quer tudo o que é meu, então pode ficar.
Pode ficar com tudo.”
Com os olhos marejados, limpei discretamente uma lágrima no canto do rosto.
Levantei a cabeça e encarei Leo.
— Tá bem. Eu concordo.
Leo ficou surpreso e animado.
Rapidamente pegou os papéis que estavam sobre a mesinha de centro.
— Ótimo. Aqui está o contrato de rompimento do laço de companheiros. Assim que você assinar, rejeitamos um ao outro oficialmente.
Meu coração se despedaçou.
Então era isso.
Ele já tinha deixado tudo preparado.
“Leo, você queria tanto assim se livrar de mim?
Queria tanto assim... Ficar com a Jane?”
— Mamãe, assina logo. — Mark me entregou a caneta.
Baixei os olhos e assinei rapidamente.
Assim que Leo e eu rejeitamos oficialmente o laço de companheiros, aquela conversa absurda chegou ao fim.
Subi para o quarto para descansar.
— Viya. — Ouvi a voz de Leo atrás de mim, solene. — Assim que a Jane estiver completamente recuperada, vou terminar com ela. Você pode ficar tranquila... Quem eu amo de verdade sempre foi você. Isso é só... Uma formalidade.
Forcei um sorriso.
Por dentro, a resposta era clara: não existe mais um depois entre nós.
Ele suspirou logo em seguida.
— Viya, você mudou. Tá bem mais sensata agora. Não é mais aquela mulher impulsiva e teimosa de antes. Nas nossas brigas... Eu também errei, tá? Eu te peço desculpas. Quando tudo isso passar, vou cuidar melhor de você. Prometo não te magoar mais.
— Mamãe, eu também prometo! — Disse Mark com os olhos brilhando. — Você foi tão generosa com a madrinha... Estou tão orgulhoso de ter uma mãe assim!
Engraçado.
O carinho, o reconhecimento deles... Só apareceram depois que rompi o laço de companheiros.
Quanta ironia.
Antes de voltar pra casa, eu ainda tinha esperança.
Ainda queria acreditar em algum afeto vindo deles.
Mas agora... Algo dentro de mim morreu.
Completamente.
Mas tudo bem. Logo, tudo isso ia acabar.
Acelerei o passo escada acima. Mas, no instante seguinte, tudo escureceu.
Acordei com um choque frio, o corpo inteiro tremendo.
Alguém havia jogado água sobre mim.
Abri os olhos devagar e vi o teto.
Leo e Mark estavam ao meu lado, as testas franzidas.
Ao me ver acordar, pareciam... Decepcionados.
— Mamãe, de novo isso? — Mark cruzou os braços, visivelmente irritado. — Você vive fingindo desmaiar. Já usou esse truque tantas vezes... Da próxima vez, tenta algo diferente, né? A gente tá atrasado pra levar a sopa de cogumelo pra madrinha. Se demorar mais, vai esfriar!
Ele se levantou, aborrecido.
Leo parecia frustrado, ainda segurando um copo de água gelada na mão.
— Viya, para com isso. — Ele suspirou. — A gente rompeu o laço de companheiros, sim, mas eu ainda te amo. Não precisa ficar fingindo desmaio só pra testar o que eu sinto.
Enquanto minha consciência voltava aos poucos, percebi o quão absurdo tudo aquilo era.
Eu havia desmaiado e, em vez de me levarem ao hospital ou tentarem me socorrer de verdade, eles optaram por jogar um copo de água gelada no meu rosto.
Que maneira... Cuidadosa de me salvar.
Se ao menos eles tivessem reativado a ligção mental entre nós, saberiam.
Saberiam que eu realmente estava à beira da morte. Que não era fingimento.
Mas não. Todos haviam rompido qualquer conexão comigo.
Ninguém queria mais sentir o que eu sentia.
— Mamãe, você tá até com as bochechas coradas! — Disse Mark com sarcasmo. — Parece até mais saudável do que a gente. Da próxima vez que for fingir alguma coisa... Tenta ser mais criativa, né?
As palavras dele me atravessaram como uma faca.
Doeu.
Mas, com esforço, me levantei.
Pelo visto, o analgésico potente que o médico me deu estava funcionando.
Fazia com que eu parecesse até mais viva do que realmente estava.
Mas eu sabia a verdade, meu corpo já estava em colapso por dentro.
— Eu não estava fingindo. — Falei baixo, quase como um sussurro. — Só acho que foi por falta de comida. Estou fraca. Vocês vão ao hospital, certo? Vou com vocês. Ainda faltam cláusulas no contrato de transferência da empresa pra assinar.
Leo pareceu querer protestar... Mas, ao me ouvir mencionar o contrato, apenas assentiu, em silêncio.
Então ele já sabia.
Sabia dos detalhes.
Já estava tudo combinado.