Capítulo 48 – Feras e Cicatrizes
O amanhecer chegou tingido de vermelho, como se o próprio céu sangrasse em presságio. Ana prendeu os cabelos, vestiu as roupas escuras que Lysandra havia deixado para ela — couro ajustado, sem proteção, apenas mobilidade. Aquilo não era roupa de treino. Era uma provocação. Ou uma sentença.
No pátio da fortaleza, cercado por colunas cobertas de musgo e runas antigas, já estavam reunidos mais de uma dúzia de lobos — todos transformados, imensos, de pelagem escura e olhos ferozes. Eles a encaravam como se ela fosse uma presa solta no território errado.
Lysandra estava no centro, em forma humana, de braços cruzados.
— Você está atrasada.
— Dois minutos.
— Dois minutos em batalha é o tempo entre respirar e morrer. — A loba sorriu sem humor.
— Vamos ver se seu sangue milagroso cura ossos quebrados também.
Ana não respondeu. Estava tensa, os músculos alertas. Kael estava ao lado, braços cruzados, olhar de aço. Ele odiava aquilo. Odiava vê-la ali, vulnerável.