LAVINIA«Meu mundo girava sem parar, talvez fosse uma ilusão, mas eu sentia tudo na pele, como se fosse real.Caí numa floresta selvagem, ao lado de Drusilla, e perto estava aquele lycan. Eles observavam, lá do alto da colina, o continente selvagem e atrasado, onde os lobisomens mal começavam a despertar sua consciência. Não eram como a civilização que tinham deixado pra trás, eles pareciam mais primitivos, mais próximos dos lobos, ignorantes, como crianças inocentes — e os dois forasteiros se aproveitaram disso. Drusilla e Eryon ensinaram seus conhecimentos, foram idolatrados, se cobriram com um manto de mistério e poder, tomando o controle sobre esse continente. Vi Eryon construir seu palácio e se proclamar Rei Lobo; sua forma lycan intimidava os habitantes desse reino, que ainda nem tinham evoluído pra essa transformação.Só existia a forma básica de mudança de forma. Drusilla se tornou a primeira sacerdotisa, reverenciada por seus conhecimentos, que pareciam milagres para eles
LAVINIAFiquei tão chocada quanto a Drusilla, mas claro... se a gente conseguia atravessar pra outros espaços e mundos, também dava pra eles entrarem nesse continente.Conheci o príncipe Alfa através dessas memórias perdidas.Ele era um cara muito estranho. Mesmo sendo um lobisomem, conseguia usar magia de gelo e até materializá-la na forma daquele lobo que vivia seguindo ele.A companheira dele veio junto, com um grupo de criaturas bizarras e perigosas demais.Eram quatro: um macho com sua fêmea e dois filhotes gigantes, cobertos de escamas negras como uma armadura impenetrável.Davam um medo do caralho, mas Aidan Walker controlava eles como se fossem filhotes de verdade.Drusilla os convidou pro palácio como visitantes de honra.Tenho certeza que ela viu aí a chance de puxar o saco pra fugir com eles pro reino dos lobisomens e feiticeiros.Mas ela nunca imaginou que tava trazendo a desgraça pra dentro de casa.Quando o Rei Lobo conheceu a Isabella, a feiticeira e companheira do prín
LAVINIA«Os vestígios da luta brutal estavam por todo o lugar.Trovões e relâmpagos caíam, soltando faíscas chamuscadas na grama.Atingiam o corpo de Eryon, mas ele era forte demais em sua forma lycan.Já tinha absorvido quase todo o poder do Coração da Fera.Esse continente tinha perdido o brilho, e a magia que antes vibrava no ar agora era rara.—Não, não, você não pode morrer! Beba do meu sangue… Para de resistir à sua companheira!Ela se jogou para segurar a loira que arfava contra uma árvore, apertando o ventre de onde jorrava sangue sem parar.As feridas de garra eram tão profundas que quase dava pra ver por dentro.Me ajoelhei ao lado dela, até estendi as mãos.Deusa santa, eu estava desesperada, angustiada com tamanha injustiça.Mas ela só olhava pra Eryon cheia de ódio, e de perto pude ver o brilho vingativo em seus olhos… esperava sua chance.Quando o Rei Lobo se aproximou para forçá-la a beber, Isabella tirou umas luvas que usava e o agarrou pelas têmporas, gritando como um
LAVINIAO lobo de gelo gemia, lambendo o rosto dela, andando em círculos, ansioso.Toquei minha bochecha, que de repente estava molhada. Eu estava chorando, como as lágrimas que caíam dos olhos de Aidan Walker.O desespero dele me atingia mesmo nesse passado tão trágico.—Você não pode morrer, Bella, você prometeu ficar sempre comigo! VOCÊ PROMETEU! —rugiu apertando ela contra o peito, pegando do próprio sangue e tentando dar a ela de boca a boca.Um beijo cheio de dor e agonia.A nuvem de poder se expandia cobrindo o sol, matando toda esperança.— Me… desculpa… — ela mal conseguia falar, lágrimas carmesins escorriam dos olhos que já estavam se fechando.— Eu… te amo… Aidan… te amo, meu… príncipe…Os soluços do macho inundaram a clareira, os sons da carne morta do Rei Lobo sendo devorada continuavam, mas nada podia consertar aquela tragédia.Os rugidos de dor do príncipe Alfa ecoaram até os confins, ele agarrado ao corpo da companheira, e uma tempestade de neve começou a cair do céu,
LAVINIA«Ela passou seus últimos dias esfarrapada e delirando, falando sozinha com Electra, gritando com ela, brigando com uma sombra.Mandou construir aquela porta em silêncio, selou os segredos do coração moribundo sob o castelo e ergueu sua própria tumba.Me vi caminhando por aquele mesmo caminho de pedras polidas, dentro daquela caverna, observando-a sentada no trono com a adaga na mão.—Então resolveu parar de se esconder como uma rata… —me surpreendi ao dar um passo pra trás quando ela ergueu a cabeça e fixou os olhos em mim.Será que ela podia me ver agora? Mas não…—Electra —disse, e no mesmo instante, uma sombra espectral me atravessou por trás, causando um arrepio horrível.Vi a sombra avançando em direção a Drusilla.Não parecia com os espectros de Silas ou Laziel, cujas formas humanoides mal podiam ser distinguidas; não, esse espectro tinha evoluído ainda mais.Feita de névoa escura, apareceu a bela mulher de cabelo curto e olhos cheios de ódio e rancor.Não dizia uma pala
NARRADORA—Aqui está o sacerdote, pra verem que eu não tô mentindo! —Wallace, o filho do Alfa, apontou pra trás, onde um Memento exausto aparecia.Bem protegido por guerreiros fiéis a Wallace, ele subia as escadas com muito esforço.Seus olhos cansados e sem esperança procuraram logo por William na multidão.Se o filho estava bem, então pelo menos tinha valido a pena resistir.—Pai! —William ignorou os protocolos e já subia as escadas de madeira em direção ao palco.—Parem ele! —ordenou Wallace—. O sacerdote tá fazendo um feitiço perigoso pra recuperar a saúde do Alfa, ninguém pode encostar nele! Fale, sacerdote!Ele virou a cabeça e lançou um olhar cheio de ameaças escondidas.Alguns guardas começaram a cercar William.Memento estava num beco sem saída.Ele sabia muito bem que, quando desse o poder a Wallace e morresse, o cara ia se livrar de William como Beta.Mas agora, mesmo com seus guerreiros leais, a matilha toda ainda estava do lado do filho do Alfa e acreditando nas mentiras
NARRADORALogo, o rosto de Wallace começou a ficar vermelho… depois roxo.Seus pés se balançavam no ar, e nem conseguiu se transformar em lobo.Foi girado à força para finalmente encarar a criatura que agora era seu carrasco… e soube que não tinha mais salvação.Com os olhos arregalados, se engasgando e com espasmos involuntários pelo corpo, o futuro Alfa foi enforcado sem piedade.Memento ainda não saía do choque.—William… é verdade… o Rei… o Rei está aqui… —balbuciava nos braços do filho.—Sim, pai. Mas ele diz que não é o Rei… tem coisas complicadas que eu não entendo —William dizia enquanto ajeitava a saia que um dos seus homens lhe entregou.De repente, toda a matilha começou a se ajoelhar.Quem mais, se não o Rei, podia ter uma presença tão impressionante?Khalum sentia dor de cabeça.Largou o corpo inútil daquele idiota e olhou pra ter certeza de que Lyra estava bem.Rei ou seja lá o que fosse… ele não se importava.Caminhou até sua loba e a pegou nos braços. Olhares curiosos
NARRADORA«O próprio companheiro Alfa a cheirou com nojo. Todos deram um passo pra trás, olhando pra ela como se já não fizesse mais parte da matilha.Expulsa, a loba se escondeu em outra parte da selva impenetrável pra dar à luz seus filhotes.Lyra a escutava gemer, com uma dor extrema. Sangue escorria das patas traseiras, manchando o pelo branco.Não nasceu uma ninhada. Todo aquele esforço foi pra dar vida a apenas um filhote.E foi incrível: assim que o lobinho saiu do corpo da mãe, começou a se transformar… virou um bebê humano.Chorando desesperado, até que as lambidas quentes da mãe limparam seu corpinho.Aquela pobre loba não sobreviveu ao parto e deixou, no meio do nada e do perigo… um filhote de lobisomem.Como podia ser, se ela era uma loba selvagem?… Será que o poder que ela absorveu transformou o filhote em lobisomem?Lyra não teve dúvidas: aquele bebê, que nenhum predador devorou e que foi encontrado pelo curandeiro do Vale Fértil, era seu companheiro. Drakkar.»*****—Ly