LADY SHOPIA DURÁN
Estava apavorada, esperando pelo pior, todas as historias de piratas que ouvir terminaram em morte e destruição, eles são ladrões ordinários que não respeitam nada nem ninguém, não sei dizer ao certo quantas horas passaram, mas foram muitas, até a porta da cabine que estou ser aberta, a pessoa que entrou segurava uma lamparina iluminando uma boa parte do ambiente, estava com as mãos e os pés presos, por esse motivo não podia me mover, apenas olhei para porta, me espantei ao ver uma mulher, ela vertia uma saia apertada na cintura e bastante folgada no cumprimento dava para ver que era um tecido barato, na cor marro bastante surrado também, vestia também uma camisa de mangas longa, se aproximou de mim a ponto de ficarmos cara a cara, pude ver suas orelhas com bastante brincos, seus cabelos eram negros e compridos, ela me olha de um jeito como se eu fosse um inseto a ser morto.
- quem é você?
Pergunto a encarando.
- você não está em condições de fazer pergunta, então era por você que ele fez tudo isso!
Não entendi o que a mulher quis dizer, sinto seu olhar astuto sobre mim e ela conclui:
- você parece ser de vidro!
Num ato de desespero peço ajuda da mulher que continua a me olhar com inferioridade.
- por favor me ajude a fugir, eu garanto que será muito bem recompensada, sou de familia nobre.
- era o que eu mais queria, que você fosse embora, mas não quero ter a garganta cortada pelo capitão!
- Capitão? quem é o seu capitão?
- o homem que te trouxe até aqui, mas logo vai conhece-lo, lhe asseguro que o que tem de bonito tem de perverso!
Ela fala e acho impossivel um pirata ser bonito, com certeza deve ser horrível por todas as maldades que pratica.
- quando seu capitão virá me ver?
Pergunto e tenho a esperança de negociar minha liberdade, meu pai não se negara a pagar um bom resgate por mim.
- o capitão não tem horário, virá quando tiver que vim.
- pode me desamarrar?
- apenas ele pode.
- como ele se chama? Seu capitão!
- alguém já te falou que perguntas demais? em boca fechada não entra formiga!
A mulher diz parecendo irritada e me lança um último olhar antes de sair, batendo a porta da cabine.
Passei a noite acordada e amarrada, as cordas estavam começando a me incomodar de uma forma insuperável, sentia o sangue pulsar preso, quando a cabine clareou sabia que era dia, nesse segundo a porta da cabine se abriu, e ele entrou trazendo consigo seu cheiro, cheiro de maresia, seu tamanho era algo que não dava para esquecer facilmente, ele tinha uma bandeja que a colocou em cima de um móvel de madeira, com a luz do sol e sem o pano cobrindo seu rosto eu o pude ver com clareza.
Seu rosto era quadrado e muito marcado, um nariz grande e harmonioso, sua barba estava por fazer, ele tinha um furinho no queixo, seus olhos era de um azul único, seus cabelos brancos e longos, pela idade seu cabelo deveria ser pintado ou herança de familia, algum ritual pirata? não sei ao certo, esse homem é o homem mais impactante que já vi em toda minha vida.
- perdão tê-la deixado presa a noite inteira minha dama, me permite?
O pirata se aproxima, a cada passo que o dá, sinto ondas saindo do seu corpo indo direto ao meu, com uma pratica assustadora ele desfaz o nó da corda que prendia minhas mãos e pés, o alivio é imediato e chego a gemer de satisfação ao sentir o sangue corre por minhas veias.
- sua pele é muito delicada!
O ouço falar e me viro para olha-lo, o homem me olha com a intensidade de uma águia, seus olhos estão na pele do meu pulso inteira vermelha e marcada pelas cordas.
Fico sem compreender, esse não parece o mesmo homem que invadi-o meu navio, apontou um revólver para cabeça de minha babá e me obrigou a vim com ele como sua prisioneira.
- onde está minha babá? Você a deixou livre?
Pergunto, mas ele se mantem calado, insisto repleta de dúvidas:
- Como se chama? para onde está me levando? O que pretende fazer comigo?
O homem continua calado a me olhar com seus olhos azuis hipnotizantes, o seu furinho no queixo puxa meu olhar para ele como imã.
- não vai responder as minhas perguntas?
Pergunto me sentindo frustrada.
- não.
Ele responde tranquilamente e diz em seguida:
- responderei quando for a hora, agora aconselho que coma algo, você me parece muito delicada, precisa de energias para...
- para o que?
Pergunto abrindo bem meus olhos, não gostando do tom de voz usando pelo pirata.
- para me aguentar mi carinõ!
O pirata diz com uma intimidade que não temos, uma intimidade assustadora, ouvir sua voz grossa a me chamar de mi carinõ me faz revirar por dentro sentindo meus pelos do corpo arrepiarem.
- lhe aguentar? não compreendo.
A caso ele quer que eu o carregue? Nunca poderei com um homem tão corpulento.
- a princípio, meu nome é Ícaro, capitão Ícaro!
O pirata me dá as costas saindo da cabine, consigo escutar o barulho da chave trancando a porta, ao menos ele me respondeu uma pergunta das tantas que fiz, mas eu não falei o que queria, ele não deve saber quem sou, que sou filha de um príncipe, nem deve saber que minha familia é poderosa, preciso negociar minha liberdade.
Desço da cama e me aproximo da bandeja de comida, estou faminta, não como nada a horas, a bandeja tem uma maça, uma banana e um cacho de uva, um suco duvidoso com um cor nunca vista, dou um gole e o sabor é indecifrável, mas tomarei afinal sinto fome, como as frutas e tomo o suco, então começo a olhar a cabine, um ambiente masculino todo em madeira rustica, tem o criado mudo onde ele colocou a bandeja, a cama é grande, tem uma poltrona marrom, objetos bem amarrados nas prateleiras na parede, um baú próximo a cama, me aproximo e não resisto o abrindo, encontro roupas masculinas muito grandes, com certeza é as roupas do pirata, fecho o baú me sentando em cima, olho e vejo uma mesa pequena com dois bancos, estou na sua cabine, então reparo numa porta estreita e vou até lá, trata-se de um pequeno banheiro, volto ao quarto e me sento na cama, sinto meu peito apertar me sufocando, estou sendo feita prisioneira de um pirata de aparência arrebatadora, com um temperamento que não sei definir, minha vida corre risco e meu futuro é incerto, tudo que peço é que Deus tenha misericórdia de mim, me permitindo que saia daqui ilesa, que eu consiga chegar a Inglaterra onde conhecerei meu prometido, o Marquês Dionizio.
As horas passavam se arrastando e eu já não suportava ficar trancada nessa cabine, o sol estava muito alto e o calor beirando ao insuportável, em algum momento ele teria que retornar para me alimentar, já deveria está na hora do almoço, estava inquieta andando de um lado ao outro quando a porta enfim se abriu.