Capítulo 4 
Depois de deixar a mansão dos Callahan, Thea ainda chorava muito, se desculpando:

― James, sinto muito. Eu nem mesmo tenho controle sobre meu casamento. ―

James pegou a mão dela, sorriu gentilmente e falou, com a voz suave:

― Fique tranquila, está tudo bem. O seu avô fez sua proposta e sei que estou à altura. Se eu conseguir um contrato com o Grupo Celestial, ele não terá escolha a não ser nos reconhecer como marido e mulher. ―

― Mas, é do Grupo Celestial que estamos falando ― Thea estava realmente preocupada. Nascida e criada em Cansington, ela sabia tudo sobre o grupo. Era uma empresa internacional que tinha invadido o mercado de Cansington recentemente e, aproveitando de sua influência, os Quatro Grandes tinham monopolizado todos os contratos.

James apenas sorriu:

― Nunca saberemos se não tentarmos. ―

Thea pensou em algo, de repente, dizendo:

― Ah sim, eu me lembro agora. Uma colega minha trabalha para o Grupo Celestial e, na verdade, ela é chefe de um dos departamentos. Deixe-me entrar em contato com ela. Ela pode ser capaz de nos conectar com a alta administração. ―

― Ótimo ― James respondeu.

De mãos dadas, os dois voltaram para a casa de Thea.

A casa de Thea e a mansão dos Callahan ficavam no mesmo bairro. Entretanto, enquanto um se tratava de uma grande mansão, o outro era um apartamento em um prédio.

A região era agradável e Thea e James tinham percorrido o caminho mais longo, apreciando a paisagem e a sombra das árvores. Quando chegaram, Gladys já tinha retornado da mansão e se recusou a deixar James entrar.

James deu de ombros. Não havia nada que pudesse fazer:

― Vou para casa então, Thea. ―

Thea sabia que também não tinha escolha, a não ser ficar com a mãe, então assentiu. A prioridade agora era garantir o contrato. Dessa forma, os Callahan não teriam escolha a não ser aceitar James como parte da família.

Depois de se estabelecer em casa, Thea telefonou para a mulher que tinha sido sua amiga no colegial, mas com quem não falava desde o evento fatídico que a tinha desfigurado.

Enquanto isso, James tinha voltado para a Casa da Realeza, uma grande propriedade na área mais nobre de Cansington. Assim que chegou, o homem se sentou no sofá e acendeu um cigarro. Depois de saborear o fumo e soltar uma densa fumaça branca, pegou o celular. Assim que foi atendido, disse:

― Peça para o Yates vir à Casa da Realeza, por favor. ―

James dificilmente usava seu prestígio como General Dragão, mas em alguns momentos, isso se tornava necessário. Afinal, era a maneira mais rápida de conseguir o contrato com o Grupo Celestial.

Menos de uma hora depois, um homem de meia-idade, com cerca de 50 anos, chegou à casa. Ele era corpulento e estava começando a ficar careca, entretanto, usava um terno refinado e andava com elegância.

― General! Vim o mais rápido que pude. ―

O homem disse, assim que entrou na Casa da Realeza. Originalmente, da capital, Alex Yates tinha sido transferido para Cansington, de onde comandava todas as operações do Grupo Celestial na região.

Antes de chegar à mansão, Alex tinha perguntado quem era o homem com quem se encontraria e ficou muito surpreso ao saber que se tratava do Lendário Dragão General das Planícies do Sul. James era conhecido por não mostrar misericórdia, dentro e fora do campo de batalha, e seus inimigos se encolhiam de medo, apenas por ouvir o nome do Dragão Negro.

James não era um homem comum. Ele era mais do que importante e, portanto, impunha o mais alto nível de respeito. Por isso, Alex, parado, em frente ao homem, sentia um frio na espinha, em expectativa.

― Senhor Yates? ― James largou a pilha de documentos que segurava e olhou para o homem de meia-idade, dizendo suavemente:

― Pode ficar à vontade. Sente-se. ―

Alex se aproximou de uma poltrona e se sentou. Entretanto, sem saber o motivo pelo qual tinha sido convidado a ir até a mansão, não conseguia relaxar e sentia o suor empapando as costas de sua camisa, enquanto buscava, na memória, se tinha, de alguma forma, ofendido um homem tão poderoso.

Com a voz firme, James instruiu, com clareza:

― Amanhã, minha esposa Thea Callahan irá até o Grupo Celestial para negociar um contrato para a família Callahan. Você deve lidar com isso, pessoalmente, e conceder o melhor contrato que o Grupo Callahan puder atender. Eu conto com você para que aja com discrição. Não estrague tudo. ―

Alex suspirou de alívio e abriu um sorriso:

―Claro, general. Mesmo que eles não pudessem cumprir com o contrato, ele seria seu se você exigisse. ―

― Lembre-se, o nome da minha esposa é Thea. Thea Callahan. ―

― Sim, senhor. ―

― Isso é tudo. Você já pode ir. ―

― Obrigado, senhor. ―

Alex sentiu como se tivesse recebido uma anistia e saiu em alta velocidade, sentindo o tecido molhado de suor roçar em suas costas, enquanto se mexia.

Como parte da família Yates, muito poderosa na Capital, até mesmo os Quatro Grandes de Cansington tinham cuidado para não o desagradar, entretanto, na frente de alguém como James Caden, até mesmo Alex tinha de ser cauteloso.

Depois que Alex saiu, James se levantou do sofá e murmurou para si mesmo:

― Faz quase duas semanas que voltei e ainda não fui prestar meus respeitos. ―

Planejando pegar um táxi, para as ruínas da casa de Caden nos subúrbios, o homem saiu da Casa da Realeza e começou a andar em passos calmos até os limites da propriedade, no entanto, havia um veículo blindado e sem placa, esperando do lado de fora. Um homem negro, de boné e regata preta aguardava, ao lado do carro.

James se aproximou e deu uma olhada em Henry:

― Eu não disse para você pegar os homens e voltar para a fronteira? ―

― General, todos os outros homens voltaram para as Planícies do Sul. Mas, eu pedi dispensa. Você não vai me deixar ficar? ―

James deu um sorriso discreto e disse:

― Mas, me chame de James. O general não está mais em Cansington. ―

― Entendido. ―

― Leve-me às ruínas da propriedade dos Caden. ―

― Certo, James. ―

A outrora luxuosa propriedade da família Caden tinha sido reduzida a cinzas, e os jardins tinham sido substituídos por sepulturas. A família mais tradicional de Cansington agora era comida de vermes e sua casa eram ruínas.

O céu escureceu, prenunciando uma tempestade e, sem rodeios, o temporal desabou em uma torrente constante.

Em frente às sepulturas, James estava parado, com um casaco marrom e, atrás dele, Henry segurava um guarda-chuvas.

Durante anos James tinha imaginado como seria voltar e acreditava estar preparado para aquele momento, entretanto, assim que finalmente viu o que havia restado de sua família, seus joelhos cederam.

James tinha dezoito anos quando seu pai, viúvo, se casou com Rowena Xavier, pertencente a uma das famílias mais prestigiadas da cidade. Entretanto, sua madrasta tinha um plano. Ela seduziu o avô de James e o levou para cama, acusando-o de tê-la drogado e abusado dela, o que deixou a reputação da família em frangalhos.

Nesse mesmo ano, Rowena apresentou um relatório contra seu pai, Nicholas Caden, acusando-o de corrupção e suborno. O homem sentiu tanta raiva que teve um ataque cardíaco. Rowena não apenas não o salvou, mas também o empurrou do terceiro andar. Ela disse a todos que Nicholas tinha cometido suicídio porque se sentia culpado.

Após a morte de seu pai, os Xavier, que lideravam os Quatro Grandes, atacaram a casa dos Caden e mataram seu avô. Eles mantiveram toda a família Caden como refém, e roubaram o tesouro da sua família, uma obra-de-arte chamada Moonlit Flowers on Cliffside's Edge.

Não satisfeitos, os Quatro Grandes queimaram a casa, com os Caden ainda dentro, e partilharam os bens.

― Pai, você é um pecador. Você é a razão pela qual os Caden se foram. Você nunca deveria ter se casado com Rowena Xavier. Você nunca deveria ter trazido aquela mulher perversa para casa. ―

James chorava em profusão, competindo com a tempestade.

Ele odiava o pai. Nicholas se apaixonou pela mulher errada e isso resultou na morte dos Caden. Ele odiava Rowena Xavier e odiava os Quatro Grandes, ainda mais.

Os Xavier, Frasier, Zimmerman e Wilson eram os assassinos dos Caden.

― Vovô, não vou deixar que sua morte tenha sido em vão. Juro que vou te vingar. Os Quatro Grandes não viverão em paz. Trarei as cabeças de seus líderes, como prova. ―

― Minhas condolências, General ― Henry disse, ainda parado atrás de James, segurando o guarda-chuva.

Henry nunca tinha visto James tão perturbado e, na verdade, nem mesmo achava que o todo-poderoso Dragão Negro tivesse um lado emocional.

Ele não demonstrou nenhum sinal de medo contra os exércitos inimigos, mas na frente das sepulturas, James era uma poça de lágrimas.

De volta à mansão, James saiu do banho, vestiu uma roupa leve, porém elegante, e desceu para a sala. Henry o aguardava, com um olhar brilhante, quando disse:

― General, o Grupo Megatron, pertencente aos Xavier, fará um banquete comemorativo, esta noite. A Megatron e a Celestial assinaram um acordo permanente. A partir de agora, eles terão acesso antecipado aos contratos da Celestial. O chefe dos Xavier também está completando oitenta anos. Então, é uma dupla celebração. ―

― Megatron... ―

James cerrou os punhos. Aquele era o nome do grupo da família Caden e depois do incêndio, havia caído nas mãos dos Xavier.

Ele se levantou lentamente, com um brilho assassino em seus olhos.

― Traga-me um caixão e vamos ao banquete. É hora de cobrar uma dívida. ―
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