Capítulo 5

P.O.V Isabella

Até que o encontro com aquele bêbado serviu para alguma coisa. Ele me deu uma boa quantia de dinheiro e com ela, pude comer alguma coisa e pegar carona até a delegacia da cidade, onde falei com meu pai. Eu vim parar justamente em Astoria, na cidade onde o meu pai é o chefe de polícia. Descobri por acaso, enquanto almoçava na lanchonete na tarde seguinte. 

Fiquei receosa em procura-lo porque não temos contato há algum tempo, mas já percebi que viver sozinha em uma cidade estranha pode ser perigoso. Não contei para ele tudo o que me aconteceu, apenas me limitei a dizer que saí de casa por vontade própria e que me perdi no meio do caminho. 

Meu pai, Charlie, não fez mais nenhuma pergunta e pareceu acreditar. As vezes, o acho relapso comigo. Não que ele não goste de mim, até acho que gosta, mas talvez não saiba como demonstrar e por isso nossa relação tem sido distante. Quando ele era casado com minha mãe, tudo era bem melhor.  

Charlie me levou para a casa dele e apresentou meu quarto. Ele disse que na casa onde morava há mais de quinze anos, sempre teve um quarto reservado para mim. Disse também que minha mãe que o impedia de me trazer para passar alguns dias com ele. A primeira coisa que fiz depois de entrar no quarto foi trancar a porta e tomar um bom banho, pois estava suja. Assim que terminei, ainda enrolada na toalha, ouvi batidas na porta do meu quarto. 

Era meu pai, perguntando do meu celular pois minha mãe disse à ele que me ligou esses dias todos e eu não atendi. Me vesti e depois expliquei para ele sobre o roubo, sem muitos detalhes. Meu pai ficou possesso de raiva e disse que em breve, me daria um novo celular mas enquanto isso, eu poderia usar o dele. Aceitei e agradeci, peguei o celular e me tranquei novamente no quarto para ligar para minha mãe, Rachel. 

— Bella, você enlouqueceu? Quero que volte para casa imediatamente! — falou gritando do outro lado da linha, quase me deixando surda. 

— Eu não vou voltar, mãe. — avisei. — A partir de agora, decidi morar aqui com meu pai. 

— Por quê Bella? Você não gosta de mim? — ela começou a fazer chantagem emocional e revirei os olhos. 

— Eu te amo mãe, mas preciso de um tempo para mim. — expliquei, me deitando de barriga para cima na cama. 

— E o Danny? Seu noivado? O casamento? 

— Nós terminamos. Não existe mais noivado, muito menos casamento. — revelei.

— Ah, então agora está explicado essa sua fuga repentina de casa!

— Como assim? — perguntei franzindo o cenho e me sentando na cama. 

— Seu padrasto brigou com o Danny. Quer dizer, o Daniel bateu nele. Está todo machucado, tadinho. Ele disse que seu noivo, quer dizer, ex-noivo... — corrigiu-se. — Apareceu aqui procurando por você e estava fora de si. Caio disse que você não estava, então ele surtou e bateu no meu marido. 

— Foi isso que ele disse? — perguntei boquiaberta. É claro que aquele desgraçado não contaria a verdade. 

— Sim. Filha, ainda bem que você terminou com o Danny porque depois do que ele fez com meu marido, proibirei a entrada dele aqui em casa. 

— Mãe, er... A ligação está ruim e estou exausta. Amanhã nos falamos. Adeus! — e desliguei. 

Eu já imaginava que meu padrasto iria se fazer de vítima. Até parece que iria revelar o que aconteceu de verdade para minha mãe. Me sinto um pouco culpada por não ter contado a verdade paea ela, mas sinceramente dúvido que iria acreditar em mim. Rachel está muito apaixonada pelo Caio e o amor costuma cegar as pessoas. Digo isto por experiência própria. 

Suspirei e deitei na cama novamente. Fiquei um tempo ali parada, olhando para o teto. Até que me lembrei de Allison. Ela deve estar preocupada comigo. Peguei o celular de novo e disquei para ela. Assim que minha amiga atendeu, contei tudo o que aconteceu nesses dias, sem esconder absolutamente nada. Entre Allison e eu nunca ouve segredos, nem nunca haverá. 

— Que loucura Bella... Não sei nem o que dizer. — ela disse do outro lado da linha, completamente chocada com tudo o que me aconteceu. 

— Pois é. Foi difícil, nem sei se algum dia vou conseguir superar tudo isso. 

— Claro que vai. Você é forte, vai conseguir. Eu tenho certeza. Mas e aí? O que pretende fazer da sua vida agora?

— Sinceramente? Não sei. Como você sabe, terminei o colegial, mas não cheguei a fazer uma universidade. Como me arrependo disso. O único plano que eu tinha na vida era me casar com o Danny. E agora que não vai ter mais casamento, me sinto perdida. — desabafei, limpando algumas lágrimas que insistiam em cair de meus olhos. 

— Você precisa ocupar sua mente amiga. Fazer algo que te dê prazer, que te distraia por um tempo. 

— Mas o quê? Nesse fim de mundo não tem muita coisa para se fazer. Mas acho que um emprego seria ótimo para me ocupar. Amanhã mesmo vou começar a procurar. Mas e você? Como está? — indaguei tentando levar a conversa para um rumo mais leve. 

— Hoje foi um dia difícil, Bella. Meu irmão bebeu novamente, discutiu com o papai e minha sobrinha viu a cena toda. Ela teve uma pequena crise, foi difícil acalma-la. 

— Eu tenho tanta pena da sua sobrinha. Deve ser muito difícil ser orfã de mãe e ainda ter um pai bêbado. Ainda mais pra ela que é especial e tão novinha. E de bêbado eu entendo. — falei, me lembrando daquele bêbado que me deu aquele dinheiro. 

— Pois é, o clima aqui está pesadão, mas vai melhorar. Amiga, vou jantar, nos falamos depois. 

— Está bem! Até mais. — desliguei, coloquei o celular na mesinha ao lado da cama e me levantei. Saí do quarto e desci as escadas até a cozinha onde meu pai estava cozinhando. 

— Estou tentando fazer nosso jantar. — ele disse mostrando a panela para mim. — Uma omelete. Vamos ver se me saio bem. Não costumo comer em casa, mas agora que não moro mais sozinho isso vai mudar. 

— Deixa que eu faço, pai. Sou expert em omeletes. — disse tirando o avental dele e colocando em mim. Continuei fritando os ovos e ele se sentou na cadeira. 

— Bella... — o olhei de relance. — Por quê você foi embora de casa? Aconteceu alguma coisa, não? E não me venha com essa de que queria mudar de ares porque você estava quase de casamento marcado com aquele garoto! Sua mãe me contou. Não faz o menor sentido ter ido embora assim, de repente. — argumentou. 

— Danny e eu terminamos. — me limitei a dizer, enquanto apagava o fogo. 

— Terminaram? — não respondi. — Não me diga que esse filho da mãe tentou forçar a barra com você? Foi isso? Eu mato aquele garoto! — começou a ficar nervoso e bateu a mão na mesa. 

— Para com isso, Charlie! — coloquei a omelete nos pratos. — Não foi nada disso. — tirei o avental. — Apenas percebemos que estamos novos demais para casar. Então terminamos e eu decidi mudar de ares. Só isso. — menti ao me sentar. 

— Só isso mesmo? — arqueou uma sobrancelha, desconfiado. — Tem certeza?

— Sim! Agora coma logo, antes que esfrie. — ele concordou e começamos a comer. 

(...)

Após o jantar, lavei a louça, me despedi do meu pai e voltei para o quarto. Tranquei a porta, escovei os dentes, coloquei meu pijama e me deitei na cama. Alguns minutos depois, Allison me ligou novamente. 

— Bella, tenho uma notícia boa para você! — exclamou animada. 

— Qual? — perguntei curiosa. 

— Consegui um emprego para você! E o melhor de tudo, vai ser aqui em casa! Você vai ser preceptora da minha sobrinha, a Mel. É um trabalho provisório, apenas enquanto minha mãe não encontra uma profissional com experiência em crianças com autismo, mas já é alguma coisa, não acha? E aí? Você topa? 

— Que maravilha, Allison! É claro que topo! Você sabe o quanto amo crianças. — sorri. — Quando começo?

— Esteja aqui amanhã bem cedo. Antes deu ir para a faculdade, te explico melhor sobre como as coisas funcionam aqui. Vou te mandar o endereço por torpedo, depois você pega um táxi até aqui. 

— Certo. 

— Agora preciso desligar porque tenho que dormir! Boa noite, Bella. 

— Boa noite.

Desliguei o telefone e me cobri com o cobertor. Estou feliz por ter arrumado um emprego tão rápido, mesmo que seja apenas temporário. O importante é que poderei me distrair e parar de ficar pensando no meu padrasto e no Danny. Mas um dia, de um jeito ou de outro, ambos ainda me pagam! 

Continue lendo este livro gratuitamente
Digitalize o código para baixar o App
Explore e leia boas novelas gratuitamente
Acesso gratuito a um vasto número de boas novelas no aplicativo BueNovela. Baixe os livros que você gosta e leia em qualquer lugar e a qualquer hora.
Leia livros gratuitamente no aplicativo
Digitalize o código para ler no App