Isabela, com o tom melódico, completou:— Praticamente tudo pronto! Os convites já estão encomendados, o vestido ajustado, a cerimônia "marcada"… Eu vou ser a noiva mais feliz do mundo. E agora, grávida, então… É como se o destino estivesse sorrindo para mim.Celina se encolheu levemente na cadeira. Por fora, ela mantinha a compostura, mas por dentro sentia os ossos trincando de dor. A humilhação estava escorrendo pelas bordas da sua alma. Ela tentava respirar normalmente, mas o ar parecia insuficiente. Queria desaparecer. Queria que aquilo tudo fosse apenas um pesadelo e que, ao abrir os olhos, estivesse longe, muito longe dali.Thor largou os talheres com força na mesa, fazendo um leve barulho metálico. Todos olharam para ele. Seu rosto estava impassível, mas os olhos… os olhos estavam sombrios.— Isabela… você deveria ter me consultado antes de expor isso tudo. — disse com firmeza. — Esse jantar era uma recepção, não um anúncio.— Amor… — disse Isabela, fingindo inocência — eu ache
A sobremesa chegou — uma torta de frutas vermelhas fina, servida com sorvete artesanal. Mas Celina sequer tocou no prato. O aroma doce nauseava. Estava com fome, mas a tristeza a alimentava com sua acidez amarga.Thor também não comeu. O prato ficou intocado à sua frente. Angélica apenas beliscou, mais preocupada em observar os rostos do que aproveitar o sabor. Ela olhava de Celina para Thor, e de Thor para Isabela, como quem montava um quebra-cabeça sombrio que se revelava peça por peça.Quando os talheres cessaram e a sobremesa foi retirada, Thor levantou-se.Ele estendeu a mão e segurou o braço de Isabela com firmeza. Seu rosto estava impassível, mas a tensão em seu maxilar denunciava o esforço de se manter calmo.— Você vem comigo — disse, num tom que não dava margem a questionamentos.Isabela o olhou com surpresa, mas não teve coragem de recusar. Levantou-se com uma expressão confusa e, antes de sair, lançou um último olhar enviesado para Celina.Thor conduziu Isabela para o inte
Celina desviou o olhar, sentindo o peito se apertar. Tentou conter as lágrimas, mas elas transbordaram, silenciosas.— Eu não queria que fosse assim. Eu não queria causar confusão. Eu juro. Só… só — a voz falhou. —Eu preciso ir.Angélica a abraçou, com um carinho silencioso, respeitando a dor que ela não conseguia verbalizar.— Espera ele voltar, filha. Vocês precisam conversar.— Eu não consigo — murmurou Celina, a voz embargada. — Não dá mais. Eu não tenho forças. Obrigada pela recepção, pela gentileza... de verdade, mas eu prefiro ir sozinha.Angélica ainda ofereceu carona, mas Celina recusou com um sorriso triste. Pegou sua pequena mala de mão e entrou no elevador sem olhar para trás, o coração em pedaços.Lá fora, a noite estava fria. Mas nada comparado à frieza que ela havia sentido lá dentro.Minutos depois, Thor voltou para sala com expressão sombria. Ao ver apenas a mãe na sala, franziu a testa.— Mãe, cadê a Celina?Angélica, sentada no sofá com um semblante carregado de pre
Capítulo 76 - VOCÊ VAI SER MEU ELO COM ELEO carro seguia silencioso pelas ruas quase desertas. A cidade dormia, indiferente à dor que transbordava no banco do passageiro. Celina olhava pela janela, mas não via nada. Seus olhos estavam turvos, não apenas pelas lágrimas, mas por tudo que lhe haviam tirado.Enquanto Gabriel dirigia, mantinha uma mão sobre a dela, firme, presente.Ela apertava os punhos sobre o colo, tentando conter o tremor que insistia em dominar seu corpo. Cada lembrança vinha como uma faca. Tudo girava, tudo desabava. Era como se não houvesse mais chão, mais direção, mais ela.— Eu devia ter ficado sozinha… — sussurrou, quase sem som, os olhos ainda fixos no vidro.Gabriel apertou com mais firmeza a mão dela, desviando o olhar rapidamente para encará-la.— Não diz isso, Cê. Por favor, não fala isso…— Eu tô cansada, Gabriel… — sua voz quebrou no meio — Cansada de amar demais e… e sempre acabar sozinha. Sempre. Por quê?Ele engoliu em seco. Ouvia cada palavra como um
Tatiana leva a mão à boca, chocada.— Meu Deus...— Estava decidido a terminar com a Isabela assim que voltasse de Dubai. Por causa da Celina. Porque é com ela que eu quero ficar. Mas no meio de tudo isso, fui tentar conversar com a Isabela no quarto e, quando voltei, a Celina tinha ido embora. Sem dizer uma palavra. Ela não atende o celular, não responde mensagens… Eu tô desesperado.Tatiana arregala os olhos, atônita com a revelação— Meu Deus, Thor… E agora?— Eu não sei. Ela saiu desesperada, não me atende. Eu estou enlouquecendo — ele diz, a voz embargada.— Ela deve estar devastada, Thor...— Eu sei. E é por isso que vim aqui. Com a esperança de que ela tivesse voltado pra cá.— Infelizmente, ela não apareceu.— Tatiana, me dá o seu número. E por favor, se ela aparecer, me avisa. Não importa a hora. Pode ser de madrugada, qualquer momento. Me promete isso.— É claro que eu prometo. Me dá o seu celular. — Ela digitou o número e confirmou. — Pronto. Se ela me ligar ou chegar, você
Angélica sentou na poltrona, absorvendo cada palavra.— Eu tentei, mãe. De verdade. Tentei evitar. Quis me afastar dela em todos os sentidos. Mas não deu. — Os olhos de Thor estavam úmidos. — O que eu sinto por ela… é diferente. É mais forte. Eu nem sei explicar. É mais do que eu senti pela Karina. E isso me assusta. Porque com a Karina eu achava que era tudo. Mas com a Celina... — ele balançou a cabeça, como se não coubesse em palavras. — É como se eu tivesse acordado pra algo que nunca vivi antes.Angélica se manteve em silêncio por um instante. Seus olhos marejaram, mas sua expressão era serena. Ela entendia. Via verdade no olhar do filho. Mas ainda assim…— E agora, Thor… agora tem um bebê sendo gerado. — Ela levou a mão ao peito. — A Isabela está esperando um filho seu. Isso muda tudo. A Celina vai precisar de mais do que promessas. Você vai precisar escolher com maturidade, com responsabilidade.Thor fechou os olhos. A culpa, o amor, o medo e a angústia se misturavam num nó em s
Thor pegou o celular e tentou ligar para ela. Uma vez. Duas. Três.Chamava, chamava até cair na caixa postal.Insistiu mais algumas vezes, o desespero crescendo a cada chamada ignorada. Por fim, abriu a tela de mensagens e digitou:“Celina, por favor, me atende. A gente precisa conversar. Me liga quando puder. Amor, estou muito preocupado.”Pausou. Olhou para a tela. Respirou fundo.“Onde você está? Me responde, por favor. Eu só quero saber se está bem.”Apertou “enviar” e encostou o celular na mesa, mas não desgrudou os olhos da tela. A esperança tola de ver os dois risquinhos azuis aparecendo se tornou quase um vício. A cada minuto, ele desbloqueava o aparelho, apenas para ver o mesmo silêncio estampado na tela.Nada.Celina havia desaparecido.Thor se afundou na cadeira, levou as mãos ao rosto e tentou conter a angústia que se espalhava como veneno. Aquela noite havia mudado tudo. Ele sabia que tinha cometido um erro. Sabia que falhou ao não colocar um ponto final no que já estava
Gabriel voltou para o quarto já vestido, com os cabelos ainda um pouco úmidos, mas com o sorriso calmo de sempre no rosto.— Ei, que tal ir pra cozinha comigo? Vou preparar nosso café — disse ele, com a voz suave.Celina se sentou na cama e balançou a cabeça com um sorriso sem graça.— Não precisa, Gabriel... Eu já dei trabalho demais. Na verdade, eu acho que já está mais do que na hora de eu ir pra casa.— De jeito nenhum. Não aceito você sair daqui sem tomar café comigo. É o mínimo que posso fazer, depois de ontem — respondeu ele com aquele jeito encantador que a fazia se sentir acolhida.Celina cedeu com um suspiro leve e o acompanhou até a cozinha. Enquanto ele pegava as xícaras e ligava a cafeteira, virou-se para ela.— Como você está se sentindo hoje?Ela apoiou os cotovelos sobre a mesa e cruzou os dedos, respirando fundo.— Melhor que ontem, sem dúvidas... — fez uma pausa e o encarou com ternura — Obrigada, Gabriel. Por tudo. Por ter me acolhido aqui, por ter ido atrás de mim.