Celina encarou Thor, surpresa com a atitude, tentando entender o que acabara de acontecer. O silêncio entre eles era espesso, denso, quase sufocante. Thor ainda a olhava com uma expressão indecifrável, o maxilar trincado e os olhos faiscando de ciúmes mal contido. — Thor… você enlouqueceu? — disse, ainda tentando absorver o choque. — Quem é esse cara? — repetiu, com a voz mais grave, controlada, mas visivelmente irritado. Celina respirou fundo, tentando manter a compostura, mas seu peito já arfava com a pressão daquele momento. — É o Gabriel — disse, pausadamente. — Eu o conheci no restaurante em que almoço quase todos os dias. A gente se viu algumas vezes por acaso, depois começamos a conversar… e saímos uma vez. Thor deu um passo à frente, os olhos cravados nela. — Saíram? — Sim, saímos. E sabe por quê? — Ela ergueu o queixo, sentindo a dor entalada na garganta se transformar em força. — Porque ele foi gentil comigo. Porque ele me ouviu. Porque ele me tratou como alguém
Fernando fechou a porta devagar, olhando para Thor com as sobrancelhas franzidas. — Cara… o que aconteceu? Thor soltou um longo suspiro, passou a mão pelo rosto e se jogou na cadeira. — Nada. — Nada, é? Você está branco, com o maxilar travado e o olhar de um leão enjaulado. Eu te conheço, Thor. Nunca vi você assim por mulher nenhuma. — Ciúmes. Meu. E ela não aceita. — E você tá estranhando? — Fernando sorriu de lado. — Você, o cara mais fechado que eu conheço, agora surtando por causa de uma mulher? — Ela mexe comigo — Thor admitiu, olhando para a porta por onde ela saíra. — De um jeito que ninguém nunca mexeu. Nem Karina. Com a Celina tudo é intenso, real... E ao mesmo tempo, parece que pode escorrer pelos dedos a qualquer momento. Fernando cruzou os braços, sério agora. — Olha, eu vou ser direto. Você tem que tomar cuidado com esse seu temperamento. Você sempre foi possessivo. Mas Celina não é o tipo de mulher que se dobra a isso. Você vai perdê-la se não aprender a
Celina chorava, as mãos trêmulas sobre o ventre. — Eu tô cansada, Tati. Tô tão cansada. Eu só queria paz, sabe? Tatiana tentou manter a voz serena, acolhedora. — Você tem duas opções, Cê… segue com ele, com paciência, ou segue sozinha. Como você queria no início. Não existe certo ou errado. Existe o que você precisa agora. E o que seus bebês precisam. Celina fungou. — É que eu… eu gosto dele, Tati. Você, mais do que ninguém, sabe o quanto lutei contra este sentimento. Mas tá tudo tão confuso. — Eu sei, amiga. Eu entendo. Eu e o Roberto também tivemos um começo difícil. Muito. Você lembra… e olha a gente hoje. Estamos bem. Felizes. Tentando engravidar há meses, e mesmo sem conseguir ainda, a gente tá firme. Tem amor. Tem respeito. Se você acredita que vale a pena tentar com o Thor… então tenta. Mas se for pra sofrer, pra viver insegura, se escolhe. Se protege. Celina assentiu, mesmo que Tatiana não pudesse ver. Na parte de baixo da suíte, Thor estava em outro mundo. Depo
Depois daquele momento de entrega entre os dois na jacuzzi, Thor foi até a sala para receber o serviço de quarto com o jantar. A mesa estava posta com capricho. Velas acesas, uma garrafa de vinho tinto aberta, pratos cuidadosamente arrumados. A comida exalava um aroma delicioso, mas era o clima entre eles que realmente aquecia o ambiente. Celina apareceu com os cabelos ainda úmidos, presa no robe branco que envolvia seu corpo com leveza. Thor já estava sentado, também de robe, e sorriu ao vê-la entrar. — Vem, senta aqui comigo. Ela se aproximou, e ele puxou a cadeira para ela com um carinho quase tímido. Assim que ela se acomodou, ele pegou sua mão sobre a mesa e beijou devagar o dorso dela. — Você tá linda — murmurou, olhando nos olhos dela. Celina apenas sorriu de leve, desviando o olhar com certa timidez. Thor se serviu de um pouco de vinho e fez o mesmo para ela, mantendo sua mão entrelaçada à dela o tempo todo. Eles comeram devagar, sem pressa, saboreando o momento de
A madrugada estava silenciosa, envolta apenas pelo som sutil do ar-condicionado e da respiração compassada de Thor. Celina, aninhada em seus braços, sentia o calor do corpo dele aquecê-la como um cobertor. Dormiam de conchinha, e ela se sentia protegida ali, encaixada perfeitamente em seus braços. Mas algo inesperado começou a incomodá-la. Um desejo incontrolável, insistente, fez seus olhos se abrirem de repente. “Preciso de algo doce.” O pensamento veio como uma urgência. Com cuidado, ela tirou as mãos de Thor da cintura, movendo-se com delicadeza para não despertá-lo. Ele resmungou baixinho, mas não acordou. Celina se levantou, calçando os chinelos e pegando o celular da mesinha de cabeceira: 03:00 da madrugada. Ela caminhou até a pequena cozinha da suite. Abriu os armários um por um, mas nada ali parecia atrativo. Foi até a geladeira e, ao abrir a porta, seus olhos brilharam: duas embalagens com fatias de bolo red velvet, perfeitamente embaladas. Ela sorriu como uma criança que
Quando Celina sentiu-se preparada para encarar Thor de frente, ela girou a maçaneta e abriu a porta devagar. Ele estava parado no mesmo lugar, de braços cruzados, olhando diretamente para ela com um olhar indecifrável. Um misto de preocupação, desconfiança e carinho. — Tá tudo bem? — Thor perguntou com a voz baixa, porém firme. — Sim... — Celina forçou um sorriso e saiu do banheiro. — Eu tenho alergia alimentar... e ainda assim insisto em comer o que não posso. Amo aquele bolo, mas comi rápido demais, no meio da madrugada... acabou não caindo bem. — Ela falava rápido, tensa, mexendo nas mãos, evitando encará-lo. Thor continuou parado, os olhos cravados nela. — Tem certeza que é só isso? — questionou, dando um passo à frente. Celina assentiu rapidamente, desviando o olhar. — Tenho sim. Além da alergia, tenho gastrite também... acho que a combinação não ajudou. Ele ficou em silêncio por alguns segundos, observando cada gesto dela, cada desvio de olhar. Mas decidiu respeitar o tem
Ela abriu os olhos devagar, sentindo o corpo pesado, os olhos um pouco inchados. A primeira coisa que viu foi o espaço vazio na cama. Depois, ouviu o som da água correndo no banheiro. Por instinto, pensou em levantar, ir até lá e entrar no banho com ele. Sentir a água quente sobre os dois, os corpos se encontrando de novo. Mas a lembrança da madrugada... da dor, da fragilidade que expôs sem querer... aquilo ainda estava nela. Não conseguia fingir que nada havia acontecido. Não dava para simplesmente ignorar o que sentiu. O medo ainda estava ali. Então desistiu. Continuou deitada por alguns minutos, até ouvir o som da água cessando. Thor saiu do banheiro envolto em uma toalha, os cabelos ainda pingando. Ao vê-la acordada, parou por um instante na porta. Os olhares se encontraram. Celina puxou o lençol até o peito, meio sem jeito, mas tentou sorrir. — Bom dia... — Bom dia — ele respondeu, com um tom calmo, mas um olhar mergulhado em pensamentos que ela não conseguia decifra
Thor olhou a tela e bufou, impaciente. Atendeu. — Oi. A voz do outro lado era doce, mas carregada de um tom forçado de carinho. — Amor... você não me liga mais. Não quer saber como estou? Thor franziu o cenho, revirou os olhos e respondeu, seco: — Isabela, agora? — Poxa, amor... — insistiu ela. — Sinto sua falta. Estou com saudade... Thor fechou os olhos com força, tentando manter a calma. — Estou muito ocupado. Conversamos depois. — Precisamos conversar. — ela insistiu, a voz mais baixa, quase melosa. — Assim que eu voltar, te procuro. — E sem dar espaço para mais nada, desligou. Assim que Thor desligou a ligação abruptamente, Isabela ficou olhando para o celular em sua mão, os olhos brilhando de raiva. — Maldito... — sussurrou entre dentes, apertando o aparelho com força. Ela jogou o telefone em cima da cama com violência e começou a andar de um lado para o outro, furiosa. — Tem alguma coisa errada... — murmurou para si mesma. — Ele nunca foi de me tratar