Parei e me virei, com o rosto impassível como uma máscara de gelo.
— O que é agora?
— É sobre o Rito da Fonte da Lua. — Ele abriu os olhos, e aqueles poços profundos de azul carregavam um comando inegável. — Preciso adiá-lo.
— Por quê? — Não foi uma pergunta.
— A gravidez da Seraphina está instável. A curandeira disse que a energia pura da Fonte da Lua faria bem pra ela. Então...
Ele parou, como se estivesse escolhendo as palavras certas.
— Decidi que é melhor que ela o receba.
Deixá-la receber.
Ele disse aquilo com tanta casualidade, como se estivesse apenas remarcando uma reunião qualquer.
Aquele era o maior das honras, o ápice da consagração de uma Luna; receber a bênção da alcateia.
Era o momento sagrado com o qual nós dois havíamos sonhado juntos.
Meu coração estava entorpecido.
Nem dor eu sentia mais.
Respondi com a voz mais serena que consegui reunir:
— Tudo bem.
Minha tranquilidade pareceu deixá-lo desconcertado.
— Você... não tem mais nada a dizer?
— Não.
— ...Ótimo. — Um lampejo de alívio passou por seu rosto, como se tivesse esperado uma briga muito maior.
Ele então continuou, em um tom puramente prático:
— Vou levar a Seraphina para um retiro privado nas Montanhas Rochosas. Cuide dos preparativos da cerimônia. Não me incomode com os detalhes, a menos que o mundo esteja acabando.
Ele cortou o elo mental.
Fui até a varanda.
Antes, ela era meu jardim de ervas, cheio de plantas raras que eu havia cultivado pensando no futuro da nossa alcateia.
Tinha imaginado usar aquelas ervas para curar o nosso povo, proteger o nosso lar.
Damien nunca tinha pisado ali.
Dizia que não se interessava por "essas flores e matos."
Agora, aquilo também tinha perdido o sentido.
Comecei a trabalhar, uma por uma, arrancando as plantas que havia cultivado com tanto cuidado, o estalo seco das raízes e o cheiro úmido da terra preenchendo o ar.
Era um funeral.
Um enterro para o futuro que morreu antes de nascer.
Cada planta representava uma esperança traída.
Quando a última Flor de Pó de Estrela estava dentro da caixa, peguei o celular e abri o calendário.
Na data que eu havia marcado incontáveis vezes para o Rito da Fonte da Lua, desenhei um grande X vermelho.
A contagem regressiva: doze dias.