Sete Anos Antes
Winnipeg, Canadá.— Parabéns, Hanna! – Isaac grita, pulando em cima de mim, e nós dois caímos no chão, atraindo olhares curiosos no parque. Me levanto entre risadas; ele era o melhor de todos, o melhor amigo que poderia ter.— Já sabe como vai comemorar sua aceitação em Oxford? – Ele sorri malicioso, estragando seus cabelos. – Você e o Liam vão fazer um bacanal? Safada!Dou um tapa em seu braço, e Isaac gargalha ao perceber minhas bochechas corarem. Seus olhos me encaram brincalhões.— Este é um belo presente de aniversário, não acha? Logo um dia antes do meu aniversário, recebo o e-mail de aceitação! – Sorrio emocionada, ele bagunça meu cabelo. – Sinceramente, não estou acreditando nisso tudo.Seus olhos negros me encaram com emoção; Isaac me conhecia a vida inteira, éramos inseparáveis. Tê-lo torcendo por mim era um dos motivos para não desistir, ainda mais agora que as coisas entre Liam e eu andavam estranhas.— Pode se orgulhar, você é muito inteligente, e agora estará estudando em uma das melhores faculdades! Nosso sonho de infância está prestes a começar. – Isaac beija minha testa. – Agora, trate de ir para casa curtir sua aprovação e comemorar com aquele gringo insuportável!Rindo, pego minha mochila e me despeço com um beijo em sua testa, correndo em seguida em direção ao ponto de ônibus.(...)Ao me deparar com a porta completamente aberta, uma sensação estranha percorre meu corpo. Adentro na casa e sou recebida pelo ambiente escuro, as cortinas fechadas contrastando com a televisão ligada em volume máximo. Suspiro ao avistar o controle remoto caído no chão e o pego, desligando o aparelho com um gesto automático.— Liam? Cheguei! – Minha voz ressoa pela sala.O silêncio na casa era apenas quebrado por uma música suave vinda do final do corredor.Percebo uma caixa de bombons vazia no sofá, isso me faz arquear uma sobrancelha. Liam sempre desprezou doces, então aquilo definitivamente não era dele.Deixo a caixa na mesa de centro ao notar a luz do corredor acesa. Meu coração b**e mais rápido enquanto percorro o corredor, a melodia distante ecoando em meus ouvidos, criando uma aura de suspense que me envolve a cada passo em direção ao nosso quarto.— Liam, acho que alguém entrou na casa. – A voz feminina soa preocupada.— Deixe de paranóias, gatinha. – A voz ofegante de Liam responde. – Vamos nos divertir.O som das molas da cama ressoa pelo corredor, mesclado aos gemidos e risadas que cortam o silêncio.Uma lágrima solitária desce pelo meu rosto. Como ele pode fazer isso comigo? Conhecia aquela voz feminina, mas recusava-me a acreditar que minhas paranóias estivessem corretas.A porta do nosso quarto está fechada, mas os sons escapam. Abro-a lentamente e sinto meu peito apertar ao ver um corpo feminino sobre Liam, que a encara com desejo. Suas mãos passeiam pelo quadril dela, enquanto ela se apoia em seu peito.Os cachos loiros balançam no ritmo dos movimentos, e eu recuo assustada, cobrindo minha boca, tremendo. Um nó se forma em minha garganta, e as lágrimas deslizam por meus olhos.— Vamos, Samantha. Goze para mim. – Liam diz, puxando-a para um beijo.O nojo invade meu corpo com a revolta. Samantha? Sua prima, que foi criada como sua irmã? Ele sempre negou que havia algo entre eles, Liam sempre me disse que ambos eram como irmãos. Agora estavam transando na minha cama na véspera do meu aniversário!Empurro a porta e o ódio cresce em mim ao ver Liam me olhando sem se surpreender. Samantha pula para seu lado na cama, escondendo sua nudez com os lençóis.— Hanna... Não é isso que você... – A voz trêmula de Samantha é interrompida pelo meu grito de dor.— Como é dramática! – Liam se levanta, ainda nu.Ele anda em minha direção, a única coisa que consigo fazer é estapear seu rosto, mas suas mãos são mais rápidas ao segurarem meus pulsos.Mordo sua mão forte, fazendo-a sangrar. Liam solta minha mão e eu soco seu rosto com toda a minha força, fazendo seu nariz esguichar sangue.— Desgraçada! – Ele grita e me dá um tapa forte no rosto, me deixando atordoada.Liam me j**a contra a parede, com o impacto, minha cabeça b**e rachando o gesso.— Eu nunca te suportei, Hanna. Você é apenas uma vadia escandalosa. – Sua voz é fria, sem nenhum sentimento.— Vamos embora, Liam. – Samantha diz surgindo na porta do quarto, agora vestida.Seus olhos me encaram com nojo, a única coisa que consigo fazer é permitir as lágrimas rolarem pelo meu rosto.— Se você nunca me amou, por que ficamos juntos todos esses anos? – Minha pergunta é um sussurro fraco. – Deve existir pelo menos um pingo de sentimentos no seu coração.Sua risada ecoa pelo quarto, como se rasgasse meu coração com uma navalha.— A única coisa que quis de você foi me aproximar da sua família. – Liam agacha em frente ao meu corpo e segura meu rosto, me forçando a olhar em seus olhos. – Acha mesmo que eu ficaria com alguém como você? Meu único objetivo era conseguir arrancar o máximo de dinheiro que conseguisse de você. E bem... Eu consegui.— Já chega, Liam. Vamos embora da casa da Hanna! – Samantha diz impaciente. – Vamos sair logo daqui.— Agora vem a melhor parte, Sam. Esta é a minha casa. Hanna passou tudo para o meu nome ao assinar papéis sem ler. – Ele sorri sarcástico, fazendo meu estômago embrulhar.— Você... Você não pode estar falando sério. – Meus olhos se arregalam, meu coração se aperta. – Você não faria isso comigo.Samantha observava a cena em silêncio, seus olhos estavam marejados, como se ainda tivesse compaixão por mim.— Samantha, vocês não podem fazer isso comigo! Eu sempre fui legal com você, não deixe seu primo fazer isso! Por favor, esta casa é tudo que eu tenho! – Imploro, olhando para seus olhos verdes, mas a loira vira o rosto, cortando o contato visual.Estou em choque, não há uma reação que possa demonstrar o quão destruída estou por dentro. Então é isso? Ele me usou, destruiu tudo pelo qual lutei e agora iria me descartar como um brinquedo quebrado?Liam se levanta e caminha em direção à porta, abaixando e pegando suas roupas.— Vamos sair para buscar as coisas da Sam. Quando eu voltar, não quero vê-la aqui. – Ele diz sem me olhar, suas palavras são como facadas em meu coração.— Mas... Mas... Eu não tenho para onde ir! – Digo entre soluços.— Isso não é problema meu. – Liam diz antes de sair.— Eu sinto muito. – Samantha sussurra enquanto me olha com pena. – Se você quiser, eu... Eu posso falar com seus pais adotivos e pedir para que você fique na casa deles.Ótimo! Agora estava tendo a piedade da amante do meu namorado. A olho em silêncio, sentindo o ódio e a sensação de injustiça percorrerem meu corpo.— Vá para o inferno, não preciso da sua piedade. – Minha voz rouca ecoa no quarto, seus olhos me analisam com pena.Samantha sussurra "desculpa" e sai do quarto, me deixando sozinha.Abraço meu corpo, sentindo o medo me consumir. Agora estou sozinha no mundo, tudo pelo qual lutei está arruinado, tudo que acreditei era falso.Não posso voltar para a casa dos meus pais adotivos; eles não me suportam, me expulsaram de lá. Não existe a remota possibilidade de ser aceita por eles.Suspiro, secando as lágrimas. Preciso ser rápida, nem meu carro tenho mais à minha disposição. Minha única saída seria pedir ajuda a Isaac.Assim que ligo, ele atende no primeiro toque. Não consigo dizer uma palavra, apenas soluçar.— Hanna? Você está bem? – Sua voz é preocupada.— Só me tira daqui. – Digo entre soluços. – Só me ajude a sair dessa casa.— Hanna, não estou entendendo. Você está na sua casa? Estou próximo, estou na casa da Kendall. Vamos aí te ajudar. – Sua voz é nervosa, antes da ligação ser encerrada por mim.Levo as mãos ao rosto, abafando meus soluços, as lágrimas descem pelos meus braços, molhando as mangas da minha blusa.Minutos depois, escuto passos ecoando pelo corredor. Meus músculos se contraem instintivamente, temendo que fosse Liam e Samantha retornando. No entanto, um suspiro de alívio escapa de meus lábios ao ver a porta se abrir e Isaac entrar, seguido por Kendall, sua noiva.— Meu Deus, o que aconteceu aqui? – Kendall pergunta, visivelmente chocada. – Foi um assalto? Sua casa está completamente revirada, e a porta estava escancarada.Os olhares meu e de Isaac se cruzam, e parece que ele já compreendeu quem foi o responsável por toda a bagunça. Seu maxilar se contrai, e ele caminha determinado em direção ao meu closet.— Eu sabia que aquele desgraçado uma hora ou outra te machucaria! – Ele grita de dentro do closet. – Não quero ouvir desculpas, vamos te levar para a casa da Kendall e depois iremos à polícia!Os olhos de Kendall se arregalam, e ela se aproxima rapidamente de mim, seus braços envolvendo-me com proteção.— Ele nunca mais vai encostar um dedo em você! – Sua voz soa chorosa, seus braços tremendo. – Vamos, vou te ajudar a chegar até o carro e depois iremos direto para a delegacia.— Vocês estão loucos? Esqueceram quem é o Liam e a família dele? – Deixo escapar uma risada amarga, afastando-me do abraço de Kendall. – Vocês só podem estar malucos se acham que vou enfrentar um membro dos Fisher legalmente!— Você não pode estar falando sério. Expulse esse monstro da sua casa e... – A voz de Kendall é interrompida pelo som do meu soluço.— Ele tem tudo agora. A casa está em seu nome, todos os meus bens e a herança da minha família biológica. – Soluço ao levantar-me. – Não tenho mais nada, acabou!Os olhos de Kendall ficam marejados, e o silêncio pesado preenche o quarto. Até mesmo Isaac parece atordoado.— Vamos dar um jeito nisso. – Isaac sai do closet com duas grandes malas em mãos. – Você não está sozinha, somos sua família.Sete Anos AntesWinnipeg, Canadá.— Achei você! – Kendall diz encostando sua mão em meu ombro.— Mais uma dose de whisky, por favor. – Digo ao barman que assente com a cabeça.Kendall se senta ao meu lado suspirando cansada, seus olhos verdes me observavam com preocupação. Suas mãos tocam meu rosto me fazendo olha-la.— Te procurei o dia inteiro pela cidade. Estou preocupada com você. – Ela acaricia minha bochecha suavemente.Volto a olhar para frente, meus olhos se fixam no relógio da parede que marcava meia noite, minha risada amarga a causa confusão. O garçom me entrega a bebida, agradeço com um sorriso cansado.— Já é meia noite. Sabe que dia é hoje? – A olhei sem expressão facial.— Parabéns, Hanna. – Sua voz é tímida, envergonhada. Kendall levanta um braço chamando o barman, a encaro sem entender.— Você não costuma beber. – Digo confusa.— Bem, já que você não vai embora, irei te acompanhar. – Seu sorriso é tímido. – Ninguém merece ficar bêbedo e solitário em seu próprio aniver
AtualmenteWinnipeg, Canadá.— Uau, aqui é tão frio. – Simon esfrega suas mãos, protegidas por luvas.Seus olhos azuis escuros brilham enquanto ele observa a paisagem pela janela do carro, segurando firmemente seu ursinho de pelúcia.— Mamãe, mamãe! – Sebastian puxa meu casaco, tentando chamar minha atenção. – Vamos parar ali, é uma lanchonete! Estou com fome!Olho para ele pelo retrovisor, lançando-lhe um olhar severo. Sebastian volta ao seu lugar, ao lado do irmão.— Você sabe das regras, mano. Não pode fazer isso com a mamãe dirigindo! – Scott fala, entregando a Sebastian seu pacote de cookies. – Toma, sabia que você ia continuar com fome e por isso não comi.Sebastian sorri para o irmão, seus olhos cor de mel brilham animados com os cookies.— Obrigado, Scott! – Sebastian diz com a boca cheia de biscoitos. Tenho que me controlar para não rir.— Não fale de boca cheia, você vai se engasgar! – Scott diz em um tom de desaprovação.Às vezes, me surpreendia com sua personalidade adulta
— Chega de videogame, crianças! — Minha voz soa suave, enquanto bagunço o cabelo de Sebastian com carinho. — Vamos lá, os três, escovar os dentes e para a cama!— Mas mamãe, eu acabei de passar de fase! — Sebastian resmunga, seus olhos adoravelmente brilhantes de contrariedade.— Amanhã têm aula cedo, não quero que acordem tarde. — Minha expressão torna-se séria, e os pequenos suspiram frustrados.Havia se passado um mês desde nossa mudança, e as crianças finalmente estavam se adaptando à diferença de horário e clima. Pela primeira vez em muito tempo, eu começava a me sentir estável, como se as coisas estivessem finalmente se encaixando.Observo os pequenos subirem a escada resmungando, seus pezinhos fofos calçados com pantufas arrancando um sorriso de ternura de meus lábios.Suspiro ao ouvir o alerta da câmera de segurança na entrada. Ao abrir o aplicativo, uma mensagem me informa que detectou alguém parado em minha porta. Um arrepio percorre minha espinha ao verificar as imagens e n
O terror me envolve quando seus olhos mudam drasticamente, abandonando sua humanidade para revelar algo sombrio, algo que não pertence a este mundo.— O que... o que é você? – Minha voz sai em um sussurro trêmulo, recuando um passo instintivamente.O homem sorri de forma sinistra, avançando lentamente na minha direção. Seus olhos continuam a se transformar, acompanhados por mudanças grotescas em seu rosto. Um arrepio percorre minha espinha ao ver longas presas surgirem em sua boca.— Você... Você não é humano, não é? – Tento manter minha voz firme, embora minhas pernas tremam. – Diga-me, criatura. O que você é?Retrocedo, entrando na sala. Minha perna esbarra na poltrona, obrigando-me a dobrá-la para frente. Antes que eu caia no chão, o homem avança rapidamente e segura meu corpo.— Oh, minha querida, eu sou uma criatura antiga. Um ser que habita estas terras a mais tempo que se possa contar, muito antes do seu nascimento. – Sua voz é dis
— Devolva meus filhos agora, ou eu chamo a polícia! – Minha voz tremia, mas eu tentava manter a determinação em minhas palavras.— Nada do que você fizer irá me deter. Você já cumpriu seu papel, os filhotes são meus. – Ele ri, dando de ombros com desdém.— Eles não são filhotes, são meus filhos! Eu não vou deixar você levá-los embora! – Grito, as lágrimas começando a escorrer pelo meu rosto.— Você deveria se orgulhar. Entre todas as fêmeas, eu a escolhi para carregar a continuação da minha linhagem poderosa. – O homem suspira impaciente, olhando-me com pena.Fico confusa, sem entender suas palavras e por que ele insiste em dizer que me escolheu.— Do que você está falando? Nós mal nos conhecemos! Aquela noite foi a primeira vez que você me viu. – Questiono, perplexa.Ele sorri, virando-se para mim.— Eu a observei por meses, Hanna. Nada foi coincidência. Eu a escolhi. – Sua voz é sarcástica, seus olhos brilham com a luz
Ele ri suavemente, como se minha incredulidade fosse apenas um detalhe sem importância.— Não, Hanna, não sou louco. Sou apenas um ser que segue as regras ancestrais do nosso mundo. E você, minha querida, foi a escolhida para desempenhar um papel crucial em minha linhagem. – Ele se aproxima lentamente, seu olhar penetrante perfurando o meu. – Agora que cumpriu sua parte, é hora de assumir seu destino. Aceitar que seu papel foi cumprido, que os filhotes agora devem ficar comigo.Eu recuo mais um passo, meu coração martelando em meu peito, clamando por uma fuga que eu sabia ser impossível.— Eu não entendo... Deixe-me ficar com os meus meninos. – Murmuro, lutando para processar tudo o que ele está dizendo. – O que você quer de mim? De nós?Ele sorri de maneira sombria, como se soubesse que sua revelação tinha abalado minha compreensão do mundo.— O que eu quero? – Ele repete, saboreando minhas palavras. – Eu quero meus herdeiros, Hanna. E
Sinto uma dor excruciante, como se cada parte do meu corpo estivesse sendo rasgada e remodelada. Cada osso, cada músculo, parece se desintegrar e se reconstruir em uma dor lancinante. A respiração se torna difícil, meu coração bate freneticamente, quase sufocando-me com sua intensidade. Tudo ao meu redor se torna turvo, distante, enquanto a dor domina meus sentidos.Meus gritos ecoavam pelo ambiente, abro os olhos percebendo que já não estava mais em minha casa. Tento falar, questionar onde estou, mas meus pulmões ardem como se houvesse fogo neles, queimando minhas narinas e garganta.— Ela não irá resistir à transformação. – Uma voz feminina desconhecida diz, próxima a mim. Tento encontrar a pessoa que disse isso, mas meus olhos doem.— Hanna é forte, irá sobreviver. – Os olhos bicolores do Alfa surgem no meu limitado campo de visão.— Nenhuma humana sobreviveu à transformação por um híbrido, ainda mais feita por um tão poderoso. – Outra voz femi
Quando finalmente acordo, me encontro em um quarto totalmente diferente do anterior. A decoração é elegante, mas moderna, com tons de cinza, branco e azul Royal. As paredes são pintadas em um cinza suave, contrastando com o branco brilhante dos móveis. Grossas cortinas cinzas bloqueiam a luz que tenta entrar pela janela, criando uma atmosfera de tranquilidade e serenidade. Ao lado da cama king size, há abajures que emitem uma luz quente e suave, iluminando o quarto com uma aura reconfortante.Sento-me na cama, olhando ao redor com confusão e curiosidade. Onde estou? Como cheguei aqui? Minha mente está turva, as lembranças da transformação ainda ecoando em minha mente como um sonho distante. Minha cabeça lateja levemente, minha respiração ainda está pesada, como se tivesse acabado de correr uma maratona. As sensações estranhas e desconhecidas fluem por meu corpo, como se eu fosse uma pessoa completamente diferente da que eu era antes.Tento lembr