Reencontro

— Chega de videogame, crianças! — Minha voz soa suave, enquanto bagunço o cabelo de Sebastian com carinho. — Vamos lá, os três, escovar os dentes e para a cama!

— Mas mamãe, eu acabei de passar de fase! — Sebastian resmunga, seus olhos adoravelmente brilhantes de contrariedade.

— Amanhã têm aula cedo, não quero que acordem tarde. — Minha expressão torna-se séria, e os pequenos suspiram frustrados.

Havia se passado um mês desde nossa mudança, e as crianças finalmente estavam se adaptando à diferença de horário e clima. Pela primeira vez em muito tempo, eu começava a me sentir estável, como se as coisas estivessem finalmente se encaixando.

Observo os pequenos subirem a escada resmungando, seus pezinhos fofos calçados com pantufas arrancando um sorriso de ternura de meus lábios.

Suspiro ao ouvir o alerta da câmera de segurança na entrada. Ao abrir o aplicativo, uma mensagem me informa que detectou alguém parado em minha porta. Um arrepio percorre minha espinha ao verificar as imagens e não encontrar ninguém nelas.

Durante todo o mês, tenho sentido como se alguém estivesse me vigiando, me acompanhando durante o dia. Por isso, instalei câmeras de segurança ao redor da casa. Esta é a primeira vez que recebo um alerta da câmera da porta de entrada... Já havia recebido alertas das câmeras da garagem e das que monitoram o início da propriedade, mas nunca desta. Parece que seja lá quem estiver me seguindo, agora estava mais próximo.

Guardo o celular no bolso, respirando fundo enquanto me dirijo à cozinha em busca de um copo d'água para acalmar meus nervos. A sensação de que estou sendo observada continua a me atormentar, tornando cada passo um desafio.

Ao alcançar a cozinha, sinto meu coração acelerar subitamente ouço o som de uma notificação, indicando que há alguém na porta da cozinha. Meu corpo tenso, olho ao redor, percebendo uma sombra grande pelo vidro da porta. Instintivamente, dou um passo para trás, meu coração batendo tão forte que parece querer escapar do peito.

Com mãos trêmulas, alcanço uma faca na bancada, preparada para me defender. Mas ao abrir o aplicativo no celular, uma onda de alívio e confusão me invade ao constatar que não há ninguém registrado na gravação. No entanto, ao voltar meu olhar para a porta, a sombra ainda está lá, imponente e ameaçadora. O vidro embaçado dificulta a visão clara, impossibilitando-me de distinguir com certeza que criatura está do outro lado.

Meus pensamentos correm desordenadamente, uma mistura de medo, confusão e determinação. Como algo tão grande pode passar despercebido pelas câmeras? Quem, ou o que, está me observando? Minhas mãos apertam com firmeza a faca.

Meu corpo inteiro parece gelar ao ouvir a notificação do aplicativo, indicando a presença de alguém na propriedade. Com as mãos trêmulas, abro o aplicativo e me deparo com uma imagem perturbadora: um lobo gigantesco encarando a câmera, os mesmos olhos bicolores que me assombraram no dia em que chegamos.

Um calafrio percorre minha espinha ao ver o lobo se movendo em direção à casa nas imagens, e então, desaparecendo abruptamente da vista das câmeras, como se tivesse se desintegrado diante dos meus olhos. Minha mente luta para compreender o que acabei de testemunhar, mas não encontra uma explicação lógica. Como algo tão imenso pode simplesmente desaparecer?

O som repentino da campainha me faz pular, meu coração martelando no peito com uma intensidade assustadora. Caminho até a porta da frente, meu corpo tenso e alerta, enquanto meus olhos varrem o monitor da câmera de segurança. Não vejo ninguém nas imagens, apenas o vazio silencioso do lado de fora.

Com a faca em mãos, avanço pelo corredor em direção ao hall de entrada, meu coração batendo descompassado. O medo e a incerteza se misturam dentro de mim, enquanto me preparo para enfrentar o desconhecido que está do outro lado da porta.

Por alguns segundos, permaneço imóvel diante da porta, reunindo toda a coragem que consigo. Então, com um suspiro, giro a maçaneta e abro a porta lentamente. O ar parece ser sugado de meus pulmões quando me deparo com a figura imponente do homem misterioso do bar, aquele que não via há sete anos, aquele que mudou minha vida para sempre.

Ele está ali, de pé do lado de fora, vestindo um terno preto elegante, exatamente como o vi pela última vez. Surpreendentemente, ele parece não ter envelhecido um dia sequer, como se o tempo tivesse passado sem tocá-lo. Seus olhos bicolores me fitam intensamente, enviando calafrios pela minha espinha, lembrando-me da criatura que rondava minha casa.

Fico em silêncio, observando-o com uma mistura de choque e incredulidade. Como ele conseguiu chegar até aqui? Como as câmeras de segurança não o detectaram? Onde está o lobo que vi nas imagens? Seria ele a sombra na cozinha? E, a pergunta mais angustiante de todas, como ele sabia onde eu morava?

Minha mente é inundada por uma enxurrada de dúvidas e incertezas, mas permaneço em silêncio, aguardando por alguma explicação daquele homem que, mesmo após todos esses anos, continua a ser um enigma para mim.

— Não vai me convidar para entrar, Hanna? — Sua voz rouca ecoa pelo corredor, carregada de sarcasmo, enquanto ele arqueia uma sobrancelha.

— Como... Como sabe o meu nome? — Minha voz sai em um sussurro nervoso, mal conseguindo pronunciar as palavras.

Seus olhos brilham, ainda exercendo o mesmo poder sobre mim, mesmo depois de todos esses anos. Sua presença, seus olhos bicolores e sua personalidade afiada parecem me hipnotizar.

— Você me disse quando estávamos no bar, não se lembra? — Ele responde, mantendo o contato visual intenso. — Não irá me convidar, Hanna?

Desconcertada, dou um passo para o lado, permitindo que ele entre. Ao adentrar o hall da casa, seus olhos percorrem o ambiente com rapidez, detendo-se nos pequenos sapatos próximos ao armário.

— Onde você os deixou? — Ele pergunta, sua expressão intrigada. Sua voz ressoa de forma vaga, como um rosnado distante.

Um instinto primal se agita dentro de mim, alertando-me de que algo está terrivelmente errado.

— Não sei do que está falando. — Encaro-o com seriedade, minha voz firme. — Eu não o conheço. Como soube onde me encontrar?

Seus olhos voltam-se para mim, e por um breve instante, percebo uma mudança em suas feições, algo selvagem, como o de uma fera.

— Senti seu cheiro assim que pisou em Winnipeg, Hanna. — Sua voz é rouca, e ele se aproxima lentamente. — Soube que você estava com os filhotes e vim buscá-los.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo