Nossa Forma de Amar
Nossa Forma de Amar
Por: Nayla Quill
Prólogo

Aline e Pablo estacionaram na Escola Gamboa, já tensos. Não era incomum serem chamados para reuniões da escola, mas sempre em período letivo..., Mas sempre em período letivo.

Encontraram Mariano e Marcela descendo do carro também, os dois com o semblante preocupado.

“Já não basta sermos chamados uma vez por semana durante o período letivo, agora temos que vir resolver problemas nas férias também?” Resmungou o Ashe, enquanto entravam.

Em frente à sala da diretora Hagata, quase todos os amigos já se encontravam. Junior, Darlan e Dom conversavam em um lado, enquanto Marlene, Carola e Valéria viam algo no celular.

“Hey.” Saudou o Gandia.

“Alguma ideia do que aconteceu dessa vez?” Perguntou o Zendaya.

“Nenhuma.” Aline cumprimentou as amigas, sentando ao lado delas. “Eu, realmente, não sei mais o que fazer.”

“Nos chamavam de santos diabinhos... Nossos filhos são o quê? A invocação do Satanás?” Questionou Valéria.

“Eu fiz a mesma pergunta para o Caique, alguns minutos atrás.” Megan Felicia apareceu com o marido, os dois com a mesma expressão dos amigos. “Como eles conseguem que sejamos chamados pela diretora, nas férias?”

“Eu não sei, amiga, eu juro que não sei.” Carola negou com a cabeça, vendo a porta sendo aberta e a antiga professora do grupo aparecendo.

“Olá, meus queridos. Como estão?”

“Cogitando ir para Aparecida do Norte fazer promessa.” Brincou Mariano, enquanto o grupo entrava na sala.

Ocuparam os lugares de sempre, já habituados aquelas visitas. “O que eles explodiram agora?”

“Bom, eu vou ser franca com vocês: eu não sei mais o que fazer.” Hagata riu baixinho. “Eu achei que tinha tido um desafio com vocês, mas comparado ao que as crianças de vocês têm feito... Digamos que vocês eram comportados.”

“Eu nunca imaginei que escutaria uma professora nossa dizer que éramos comportados.” Confessou Marcela, desacreditada.

“O que aconteceu dessa vez?” Perguntou Caique, suspirando.

“Não existe professor que queira dar aula para eles.”

“Eu já vi esse quadro.”

“Sim, Pablo, mas a diferença é que a diretora Olívia me contratou sem avisar da fama que precedia vocês. No caso dos filhos de vocês, a fama deles já correu a cidade.” Contou a mulher, vendo os queixos irem para o chão. “Eu já tentei separar eles de classe, já tentei conversar, dar castigo, suspensão e advertência... Nada resolve.”

“Ótimo, nós parimos o anticristo.” Lamentou Valéria, escondendo o rosto nas mãos.

“Eles não são más pessoas, Valéria, você sabe disso. Eu nunca conheci jovens tão bondosos, prestativos e altruístas quanto eles nove, e falo isso após ter dado aula para vocês por anos. Mas... É como se fosse mais forte do que eles. Eles não conseguem ficar longe de confusão, de bagunça, de encrenca. As notas deles são perfeitas, não deixam de entregar um único trabalho, sempre vão bem nas provas... Mas uma professora cogitou a ideia de jogar um crucifixo na testa do Eric e do Luan, após eles começarem a falar em uma língua desconhecida, para assustar uma colega.”

“Coloca elas duas na lista de pessoas para quem precisamos m****r cartões de desculpa.” Suspirou Junior, massageando as têmporas.

“Eu estou fazendo o que posso, juro. Mas, em algum momento, eu estarei de mãos atadas e não vai dar mais para manter eles aqui.” Hagata sorriu de forma compreensiva. “Eu não tenho o que dizer dos caçulas de vocês, não me dão trabalho nenhum..., Mas tinha alguma coisa no ar na noite em que eles nasceram. E é incontrolável.”

Após prometerem (novamente) que iriam conversar com os filhos, o grupo de amigos deixou a sala da diretora, acompanhados da mesma. Conversavam de forma mais leve, sobre assuntos mais cotidianos, até que perceberam uma movimentação no pátio da escola.

“Me diz que não é o que eu estou pensando.” Implorou Mariano, enquanto rumavam para lá. “ERIC ASHE, O QUE VOCÊ PENSA QUE ESTÁ FAZENDO?”

“Ai, caramba, ferrou.” Gemeu o garoto, desgostoso.

“Achei a tinta.” Elis apareceu correndo, gelando ao ver os pais. “Er... Oi?”

“Elis, o que você faz com esse monte de guache na mão?” Perguntou Megan Felicia, os dentes trincados.

“Hã... Bomba de tinta para jogar nas professoras novas?” Ela disse, um sorriso amarelo no rosto.

“Em nossa defesa, não estamos fazendo nada do que vocês não fizeram.” Disse Luna, depressa. “Nós vimos tudo no livro de advertências da escola.”

“Como assim vocês viram no livro de advertência da escola?” Questionou Hagata.

“Qual é, diretora? A gente assina aquele livro umas duas vezes por mês, você acha mesmo que nunca demos uma olhada?” Luan revirou os olhos.

“O tio Pablo, o tio Mariano e o tio Koki nos dão várias ideias... Mesmo sem saber.” Garantiu Susi. “Minha mãe também, mas ela era mais de gritar e engolir papel.”

“Basicamente, falhamos como pais.” Lamentou Pablo, enquanto os amigos fuzilavam ele e Mariano.

“Cuidado aí embaixo!” Ouviram um grito do telhado, pulando para o lado depressa enquanto o chão e o ar se enchiam de farinha e ovo. “Droga, Maju, era para você ter segurado o bexigão.”

“LEON ROLLAND, O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO NO TELHADO DA ESCOLA?” Dom gritou com o filho, desesperado.

“E VOCÊ TAMBÉM, MAJU? NITA?” Darlan esgoelou, possesso.

“A gente ia amarrar o balão em cima do palanque de orador, para quando o mala do Henrique Zara fosse fazer o discurso de início do ano.” Elis revirou os olhos, entediada.

“Sabe, encher ele de ovo e farinha.” Luan deu de ombros. “Nós até pensamos em tinta vermelha, mas ia ficar clichê demais.”

“Vocês vão é na lavanderia, buscar as coisas para limpar tudo isso. E depois nós vamos embora, e teremos uma conversa muito séria em casa, Luna Gandia.” Mandou Aline, o maxilar trincado.

“Eu digo o mesmo, Eric Ashe.” Marcela fez eco a cunhada, em igual estado.

“Idem, Luan Cavalieri.” Rosnou Marlene.

“Você está bem ferrada, Elis Rivera.” Ameaçou Megan Felicia.

“Vocês vão preferir ficar aí em cima para sempre, Maju e Nita Zendaya.” Avisou Carola.

“Nossa conversa vai ser bem longa, Susi, Leon e Rudá... Espera, cadê o Rudá?” Valéria deu pela falta do terceiro filho.

“Droga, nós estávamos usando-o de sobrepeso da carteira flutuante.” Gritou Leon, saindo correndo no telhado.

“Leon, eu falei para não usar mais o Rudá como sobrepeso nas coisas.” Susi gritou com o irmão, saindo correndo também.

“Eu vou ficar careca ou com cabelo branco antes do 50.” Resmungou Dom, saindo atrás da filha.

“Os demais, começando a limpeza, agora!” Mandou Junior, sério.

O grupinho saiu em direção à área de serviço, para buscar os produtos necessários. Hagata foi atrás, para supervisionar, e Valéria foi atrás do marido e dos filhos.

“Eu não acredito nisso...” Suspirou Pablo.

“Eu sei, amor, eu também estou desapontada.” Aline abraçou o marido.

“Não, eu não acredito que fui passado para trás pela nossa filha e os amigos dela! Eu sempre fui o rei das pegadinhas nessa escola, e nunca pensei em carteira flutuante ou balão de ovo e farinha nos malas engomadinhos. Já pensou o quanto eu podia ter ferrado a vida do Junior quando ele era um pé no saco?” Gritou o Gandia, irritado.

“Vocês fizeram isso comigo, com um balde de tinta vermelha, no quinto ano.” Lembrou o loiro.

“E eles nos chamaram de clichê. Quase disseram que era ultrapassado.” Se lamentou Mariano. “Eu vou deixar o Eric de castigo só por isso.”

“Me diz com que moral eu brigo com o meu filho, tendo um pai assim?” Perguntou Marcela, nervosa.

“OLHA A BOMBA!” Ouviram o grito e se afastaram depressa, antes de uma carteira se espatifar no pátio, jogando lascas de madeira para todo o lado. Leon apareceu no fim do corredor, comemorando. “DEU CERTO!”

“Eu desisto da humanidade.” Gritou Megan Felicia, caindo sentada em um banco.

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