01

Na casa da família Rivera, o clima era de tranquilidade. Joana, que seguia trabalhando para sua menina Megan Felicia, servia o lanche para o pequeno grupo que via desenho na sala. Seu xodozinho era o garotinho moreno, de olhos verdes e cabelos escuros.

“Joana, você traz mais um pouco de suco, por favor?” Pediu Ryan, um sorriso fofo no rosto.

“Claro, querido. Mais alguém quer?” Perguntou, vendo cinco pares de mãozinhas se erguendo. “Foi o que eu pensei.”

O caçula dos Rivera acabou sendo o mais velho do grupo. Diferente de seus irmãos, apesar de dessa vez as mães terem o mesmo tempo de gestação, tiveram quase dois meses de diferença entre si.

Ryan Rivera nasceu quando Megan Felicia estava com 35 semanas de gestação, após uma baixa preocupante no líquido amniótico. Nasceu saudável, esperto e bastante grande, a cara do pai e o grande amor da irmã mais velha.

Lily Cavalieri nasceu menos de uma semana depois, após Marlene ter tirado a cerclagem. Era uma cópia perfeita da mãe, tendo apenas os cabelos loiros do pai.

Duas semanas mais tarde, chegou Nico Zendaya, uma miniatura de Darlan, diferente das irmãs mais velhas, que eram idênticas a mãe. Dias depois, nasceu Luna Gandia, que assim como Luna, era uma cópia perfeita de Aline.

Bina Ashe e Kaio Rolland foram os caçulas, nascendo com um dia de diferença, duas semanas mais tarde.

Enquanto Bina parecia a miniatura de Marcela, Kaio era a cara de Dom, sem tirar e nem por.

Tinham completado nove anos recentemente, mas eram bem diferentes do que os irmãos mais velhos, mesmo nessa idade. Apesar de adorarem bagunça, eram crianças tranquilas e obedientes, bons alunos, quase nunca arranjavam problemas.

A porta se abriu quando Joana vinha com a bandeja de sucos, e entraram dois grupos distintos por ela: um de adultos irritados, e outros de jovens amedrontados.

“Joana, leve as crianças lá para cima, por favor.” Pediu Caique, encarando a filha mais velha com um olhar severo.

“Elis vai se ferrar de novo.” Ryan disse baixinho para os amigos.

“A Luna também. Será que ela não cansa de ficar de castigo?” Perguntou Luna, enquanto pegavam seus lanches e ajudavam Joana a levar tudo para o andar de cima.

“Sentados no sofá. Agora.” Mandou Darlan para os jovens, sério.

“Jura que vai ser bronca coletiva?” Reclamou Susi, se jogando no acolchoado da casa dos tios.

“Agradeça, mocinha... Porque se fosse em casa, eu esquentava a bunda de vocês três.” Garantiu Valéria, irritada.

“Uou, calma aí! Minha mãe sempre disse que violência não é solução para nada.” Eric arregalou os olhos, tenso.

“Seu avô me batia muito, Eric, assim como pai do Jaime batia nele. Por esse motivo, nenhum de nós, nunca, encostamos um dedo em nenhum de vocês.” Contou Pablo, chateado. “Mas talvez seja o que falta... Umas chineladas para ver se vocês tomam jeito.”

“Nós aprontamos muito, demais mesmo. Dentro e fora da escola.” Mariano completou o amigo. “Mas nunca de chegar ao ponto de a diretora dizer que não sabe mais o que fazer.”

“Vocês sabiam que nenhum professor, na cidade inteira, quer dar aula para vocês?” Marlene perguntou, vendo os jovens negarem. “Quantos professores vocês imaginam que existam nessa cidade?”

“Centenas.” Resmungou Nita, emburrada.

“Será que nós vamos ter que m****r vocês para um internato?” Ao ouvirem isso de Marcela, os mais novos pularam do sofá, começando a protestar.

“Isso é coisa de filme americano do século passado, podem parar.” Gritou Maju, irritada.

“Maneire a sua voz para falar conosco, Maju.” Mandou Carola. “Vocês mal têm 15 anos, e já tem mais advertências, cada um, do que se somar as de todos nós juntos ao longo de todos os anos.”

“Vocês não eram santos que a gente está sabendo.” Lembrou Leon.

“Não, não éramos. Mas tínhamos noção e respeito, algo que está faltando em vocês.” Dom ergueu a voz, fazendo o filho se encolher. “Leon, você tem noção que quase derrubou uma carteira sobre os seus tios hoje?”

“Em minha defesa, ela não deveria cair. Você tirou o Rudá do sobrepeso e ela caiu.”

“É contrapeso que se diz, Rudá. Sobrepeso é gordura.” Corrigiu Darlan, suspirando.

“Você merecia um castigo a mais por usar seu irmão de contrapeso.” Garantiu Valéria.

“Foi ele que pediu.” Luan defendeu o amigo.

“É a única coisa que eu consigo fazer para ajudar.” O garoto disse, de forma arrastada.

Os pais apenas suspiraram, andando pela sala e pensando no que mais falar. Os nove amigos ficaram sentados no sofá, esperando a sentença do castigo.

“Vocês vão mudar, por bem ou por mal.” Disse Caique por fim. “Do contrário, nós vamos cancelar a festa de 15 anos de vocês.”

“É o quê?” Luna, Elis, Susi, Nita e Maju pularam do sofá, indignadas.

“É isso mesmo.” Aline concordou com o amigo. “Ou vocês começam a se comportar, ou acabou essa história de debutante.”

“Por mim, está de boa.” Eric deu de ombros.

“Eu tiro você do basquete.” Avisou Marcela, vendo o filho escancarar a boca.

“E o Luan vai sair do futebol.” Marlene endossou.

“E o Leon da natação.” Finalizou Valéria. “E o Rudá...”

“É um inútil que não faz nada, e não tem com o que ameaçar.” Gaguejou o Rolland com a voz arrastada, fazendo os pais suspirarem chateados.

“É golpe baixo vocês nos ameaçarem dessa forma.” Reclamou Luan. “Eu sou capitão do time de futebol.”

“E eu de basquete.”

“Nós estamos planejando nossa festa de 15 anos há muito tempo.” Elis lembrou.

“Ótimo, e se quiserem manter esses privilégios, vão ter que fazer por merecer. Porque tudo isso o que vocês citaram são privilégios que vocês conquistaram, mas não estão tentando manter. Sua obrigação, a única, é estudar e se comportar na escola. Façam isso, e mantenham seus privilégios.” Sentenciou Darlan, exausto.

“Bom, então estamos entendidos?” Perguntou Aline, vendo os mais novos assentirem. “Ótimo, então vamos... O Gabe está com os meus sogros faz tempo.”

“Não sei porque você não o deixou aqui com a Luna, amiga. O Gabe é um anjinho.” Suspirou Megan Felicia.

“Dá até vontade de ter outro pequeno.”

“Reza para isso não acontecer, amiga.” Luna sussurrou para Elis, que riu baixinho.

“Ele só tem dois anos, amiga, ainda é muito pequeno para a Joana ter que cuidar dele e dos mais velhos, de uma vez.” Lembrou a Gandia.

“Não acredito, até hoje, que vocês tiveram coragem de ter mais um.” Confessou Mariano. “Nós pensamos umas dez vezes antes de decidir ter a Bina.”

“Era para ter parado na Luna, mas seu querido cunhado não aprendeu a colocar camisinha em quarenta anos de vida.” Aline fuzilou o marido, que sorriu sem graça. “Aí só o que restou foi aceitar, né?”

“Por isso que eu já cortei tudo.” Avisou Darlan.

“Dois.” Concordou Junior.

“Três.” Mariano ergueu a mão.

“Eu tive que cortar enquanto ela ainda estava grávida, ou não poderia nem dormir na mesma cama que ela.”

Pablo revirou os olhos.

“Fiz laqueadura no parto do Ryan, poupei o Caique dessa.” Megan Felicia deu de ombros.

“Ouvir essa conversa é parte do nosso castigo? Porque, na boa, eu to prestes a vomitar.” Reclamou Susi, enojada.

“Vocês acham que vieram do além?”

“Eu, o Leon e o Rudá viemos de um laboratório, no caso, mas conhecemos o processo, mãe... Posso viver sem ouvir tantos detalhes da vida de todos, obrigada.”

“É, a gente tem que ouvir e nem pode praticar. Isso não é legal.” Reclamou Eric.

“Como assim praticar, Eric Ashe?” Espumou Marcela.

“Ok, hora de ir embora.” Mariano interveio, indo até a escada. “Bina, estamos indo.”

“Desce todo mundo, hora de ir embora.” Gritou Darlan.

Logo a pequena trupe descia as escadas depressa, rindo animados. Correram até seus pais, os abraçando.

“Se divertiu, pequena?” Pablo pegou Luna no colo, beijando seu rosto.

“Muito, muito, papai. Nós comemos o lanchinho que a Joana fez, e assistimos desenho.” Disse com a voz meiga, fazendo o pai sorrir como um bobo.

“Mas é muito melosinha.” Resmungou Luna.

“E você é muito ciumenta.” Aline acabou rindo. “Vamos logo, temos que buscar seu irmão.”

“Por que eu não continuei filha única?” A Gandia se levantou, brava.

“Você que vivia pedindo irmãos.”

“Eu também pedi um pônei, mamãe, e você disse que era uma péssima ideia. Agora irmãos... Ah, isso é uma ideia excelente.” Luna revirou os olhos, fazendo os tios rirem.

“Ah, esses aborrecentes que só mudam de nome e endereço.” Comentou Junior, com Lily no colo. “Vamos, Luan... Ainda temos que discutir seu castigo quando chegarmos em casa.”

“Não podemos ficar só com a ameaça?” Perguntou o garoto.

“Mas é claro... Que não. Andando, mocinho.” Mandou a mãe, o empurrando para a saída de casa.

“Nós podíamos jantar aqui.” Propôs Leon.

“Ou ir para casa, e acertar os castigos de vocês também.” Corrigiu Dom, vendo os filhos murcharem. “Andando, vamos.”

“Tchau, gente, foi bom conhecer vocês.” Acenou Elis, vendo os amigos saírem de casa. O irmão sentou ao seu lado, enquanto os pais fechavam a porta da frente. “Foi bom te conhecer, pirralho.”

“Posso ficar com o seu computador?”

“Eu volto do além e te assombro se você fizer isso.” A mais velha revirou os olhos, encarando os pais, que estavam cabreiros. “Oh, merda.”

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