05

“Não acredito que a Maju bateu no Nico.” Garantiu Leon, sentando na beira da piscina com Nita.

“Depois ela trancou a porta do nosso quarto, e nem com os meus pais gritando ela abriu. Eu dormi no quarto do Nico com ele, e hoje quando nós acordamos, a Maju não estava em casa. Meus pais estão cabreiros com ela, de verdade.” Continuou a Zendaya, chateada. “Eu fico tão triste com isso, Leon.”

“Eu sei... Já é difícil quando um irmão está passando por um momento delicado, mas parece que é ainda pior quando se é seu gêmeo.” O garoto sorriu para ela, enternecido. Nita geralmente era quem o aconselhava em seus problemas e angústias com Rudá, e o mínimo que podia fazer era retribuir.

“Não é só ela, Leon. É só que... Eu também sei a verdade. Nossos pais acham que nós não sabemos, mas nós descobrimos o que aconteceu quando a minha mãe engravidou de nós duas.” Ela desabafou, o surpreendendo.

“E o que aconteceu, Nita? Digo, aconteceu alguma coisa?” Perguntou o garoto, curioso.

“Eles meio que tentaram nos tirar.” Confessou, vendo-o arregalar os olhos.

“O tio Dan e a tia Carola? Tirar você e a Maju?” A menina confirmou, com os olhos marejados. “Impossível, Nita, eles são loucos por vocês! Meus pais sempre disseram que eles são dois bobos e babões, que fazem tudo por vocês.”

“Eu não estou dizendo que não são, Leon, eu sei que eles são. Eles sempre fizeram de tudo pela gente, nunca deixaram nos faltar nada, especialmente amor e carinho... Mas é, é verdade. Meus pais não queriam ter filhos, por coisas que aconteceram entre eles e os próprios pais. Minha mãe tinha um DIU, e quando engravidou, ela ficou louca e meu pai mais ainda. Eles tiraram o DIU, porque era a possibilidade mais segura de o embrião sair naturalmente. Mas, além de não sairmos, eu e a Maju nos dividimos em duas.”

“Ah, Nita.” Leon a abraçou com força, deixando que ela chorasse baixinho em seus braços. “Eu sinto muito.”

“Eles ficaram tão bravos quando descobriram que nós éramos duas, nos destratavam dentro da barriga da mamãe... Até o dia em que alguma coisa mudou, o dia em que eles passaram a nos amar. Foi no dia em que eles nos deram os nossos nomes: Nita, como a boneca favorita da minha mãe quando criança, e Maju, a mãe biológica do meu pai que morreu quando ele era pequeno.”

“E como vocês descobriram tudo isso?”

“Uns dois ou três anos atrás, nós achamos um caderno escondido na gaveta da minha mãe... Lembra daqueles desafios que nós tínhamos que cumprir, que o Eric desafiou todo mundo a ver se tinha camisinhas no quarto dos pais depois que a tia Aline engravidou do Gabe?” Ela perguntou, vendo-o assentir. “Então... Na hora, nós achamos esse caderno, e tinha vários ultras nossos, fotos dela grávida e coisas assim. Era tipo um diário de gravidez, que ela começou por conselho do psicólogo. Eu não quis ler tudo, mas a Maju sim e foi me contando.”

“E seus pais não sabem disso?”

“Nem imaginam. Eles nunca entenderam o porquê de a Maju ter ficado tão rebelde de repente, mas eu sei que foi por isso. E eu não quero que eles descubram, Leon, não quero mesmo. Por mais horrível que isso seja, eu sei que eles se arrependeram, eu sei que eles nos amam muito, tanto quanto amam o Nico. E vai doer muito neles saber que nós descobrimos.” Desabafou Nita, derrotada. “Por isso eu fico cedendo as vontades da Maju, para ela não explodir com eles.”

“Nita, você não pode abrir mão da sua vida pela rebeldia da sua irmã. É a mesma coisa que eu abrir mão de viver a minha vida só porque o Rudá não pode me acompanhar! Nós somos gêmeos, mas não vivemos em função dos nossos gêmeos. Eu sofro muito pelo o que aconteceu com o Rudá, pelas limitações que agora ele tem... E eu tento ajudar ele, tento apoiar, mas não deixo a mim mesmo de lado! E você também não pode fazer isso.”

“Mas e se a Maju contar?”

“Aí você vai abraçar seus pais e dizer que sabe que eles te amam, que você os perdoa... Porque você perdoou, não é?”

“Claro que sim, Leon, eu sei que eles nos amam demais.” Ela disse com um sorriso saudoso. “O papai sempre fala isso, em cada um dos nossos aniversários. Mesmo que a gente divida o resto do dia com vocês, na hora em que acordamos, ele faz uma festa enorme só para nós duas, e diz que nós somos maravilhosas, incríveis, a melhor coisa que aconteceu na vida deles, e que eles nos amam demais. E eu acredito nisso.”

“Então pronto, já sabe o que fazer. Se a Maju contar a verdade dela para os seus pais, você conta a sua.” Leon secou as lágrimas dela, sorrindo.

“Rolland, Zendaya, se já terminaram o desabafo, precisamos treinar.” Heloísa, uma mulher de 45 anos e treinadora da equipe de natação dos dois. “A Araújo e o Cabral já estão aí.”

“Certo, obrigado, treinadora.” Os dois entraram totalmente na água, nadando até os colegas de natação. “Hey.”

“Oi, amor.” Luíza Araújo se atirou sobre Leon, lhe tascando um beijo de desentupir privada, enquanto Nita e Felipe Cabral reviravam os olhos.

“Araújo, o que eu já falei sobre se agarrar durante os treinos?”

“Desculpe, treinadora... É que eu estava com saudade do meu namorado.” Explicou a moça loira, ainda agarrada no rapaz.

“Nós somos só ficantes, Lu, menos.” Riu Leon, se soltando dela. “Vamos começar pelo o quê hoje, treinadora?”

“Crawl, Rolland... Depois passaremos para os treinos individuais. Nossa primeira competição é em um mês, e quero vocês afiados!”

“Nós conseguimos ouro no livre, e prata no medley.” Lembrou Nita.

“Quero ouro nos dois, Zendaya.” Heloísa sorriu. “Vocês são a primeira equipe mista de revezamento que eu treino, e nesses últimos dois anos, me deram muito motivo para orgulho. Vamos continuar assim, ok?”

“Sim, treinadora.” O grupo concordou, indo cada um para sua raia.

~*~

“Então você quer aprender a jogar futebol?” Perguntou Luan, rolando a bola embaixo dos pés.

“Qual é, vai se fazer de lerdo?” Reclamou Luna, emburrada.

“Não, só fazer você implorar mesmo.” Riu o Cavalieri. “Achei que você odiava esportes de uma forma geral.”

“Não sou fã, mas... Meus pais gostam muito de futebol, sempre gostaram. E mesmo que a Luna não seja muito fã, ela joga com eles às vezes, e o Gabe também vai jogar. Eu quero participar disso.” Explicou a Gandia, sem graça.

“Não virar uma Marta da vida, mas pelo menos conseguir chutar a bola e fazer um touchdown.”

“Isso é no futebol americano, aqui nós fazemos gol.” Luan lembrou, começando a fazer embaixadinhas. “Bom, eu posso tentar te ajudar... O que eu ganho em troca?”

“Qual é, Luan, sua mesada é maior do que a minha.” Luna revirou os olhos.

“Não quero dinheiro.”

“E o que você quer?”

“Um beijo.” A resposta do rapaz a pegou de surpresa.

“C-como?”

“É... Você sabe que eu nunca beijei ninguém, Luna, ainda sou BV. E acho que você também é. E eu sempre quis perder meu BV com alguém que eu gostasse, que eu conhecesse... Quem melhor do que a minha melhor amiga?”

Explicou o rapaz, sem graça.

“Mas, Luan, nós somos amigos!” Lembrou Luna, corada. “Eu te amo, mas não desse jeito.”

“Eu sei, Luna, eu também. Mas... É tipo a Sam e o Freddie, sabe? Eles se beijaram como amigos.”

“Mas depois eles viraram um casal.” Os dois estavam sem graça.

“Certo, desculpe.” Luan disse, chateado. “Bom, vamos treinar...”

“Não, espera.” A Gandia o impediu de se afastar, o segurando pelo braço. Suspirou profundamente, levando as duas mãos ao pescoço de Luan, antes de aproximar seus rostos.

“O que você está fazendo?”

“Te dando o meu primeiro beijo. Agora fica quieto.” Pediu Luna, tomando coragem e acabando com a distância entre seus lábios.

Como todo o primeiro beijo, o deles foi desajeitado. Os dois estavam envergonhados por estarem beijando seu melhor amigo de uma vida inteira, mas esse fato também os deixava mais tranquilos e seguros.

Uma hora o ar começou a ser necessário, e eles se separaram. Corados ao extremo, sem conseguir encarar nada que não fosse o chão. Luna tirou as mãos do pescoço de Luan, mas ele ainda manteve as suas na cintura da garota.

“Foi... Interessante.” Disse o garoto, sorrindo de lado.

“É, foi interessante. E bom.” Luna deu de ombros, se afastando mais dele. “Obrigada e... Parabéns.”

“Valeu, para você também.” Luan afinal se afastou, pegando a bola de novo. “Pronta?”

“Deus queira que os genes dos meus pais me ajudem.” Suspirou Luna, alongando as costas. “Vamos lá.”

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