Ela levantou o copo e esvaziou-o de um só gole.
Por todos esses anos, nunca lhe passou pela cabeça que Yago pudesse traí-la.
A sensação de vê-lo com outra mulher era, para dizer o mínimo, como ser atingida por mil flechas.
Fernanda comentou:
- Eu acho que ele te ama muito, não parece o tipo de pessoa que trairia. Pode ser algum mal-entendido?
Solange riu sarcasticamente e respondeu:
- Eu vi com meus próprios olhos, como isso pode ser um mal-entendido?
O silêncio se instalou no camarote enquanto Solange bebia um copo após o outro, como se não quisesse mais viver.
Fernanda não pôde se conter e tomou o copo de sua mão dizendo:
- Mesmo que ele tenha te traído, você não deveria se punir se embriagando. O que você vai fazer agora?
- A única coisa a fazer é me divorciar. Só de pensar na cena deles, sinto nojo.
Vendo seus olhos vermelhos e a indignação que carregavam, Fernanda se encheu de compaixão, ela falou:
- Não pense nisso agora. Você precisa descansar. Quando se sentir melhor, poderemos pensar no que fazer. Eu te levo para casa.
Solange balançou a cabeça:
- Não... Eu não quero voltar.
Assim que voltasse àquela casa, certamente se lembraria novamente da traição de Yago, e cada lembrança traria uma nova onda de náusea em seu corpo.
Vendo sua resistência, Fernanda não insistiu:
- Então vou reservar um hotel para você. - Depois de fazer a reserva, Fernanda levou Solange até a entrada do hotel, preocupada. - Tem certeza de que não quer que eu te acompanhe até lá em cima?
Solange sacudiu a cabeça:
- Não precisa, vá descansar.
Ela acenou para Fernanda com o cartão do quarto e desceu do carro em direção ao hotel. Vendo que ela caminhava com passos firmes, Fernanda finalmente respirou aliviada.
Mas o que ela não sabia era que Solange, embora embriagada, parecia tão sóbria quanto normalmente, parecia alerta, mas sua mente estava incrivelmente confusa.
Segurando o cartão do quarto, ela entrou no elevador e passou o cartão, as portas se fecharam e o elevador começou a subir.
Logo após um sinal sonoro, as portas se abriram.
Ao pisar no tapete fora do elevador, as pernas de Solange fraquejaram e ela quase caiu.
Se apoiando na parede ao lado, ela massageou as têmporas doloridas enquanto caminhava em direção ao seu quarto.
Porém, sob o efeito do álcool, tudo que ela via estava duplicado. Ao ver o número 8919, ela simplesmente encostou o cartão na porta.
Ela não ouviu o som da porta do quarto se abrindo, franziu a testa e estava prestes a empurrar a porta quando, de repente, ela se abriu.
Solange ficou atordoada por um momento, ainda sem reação, quando uma mão grande a puxou para dentro da escuridão.
De repente, um som de porta se fechando ecoou, e com a porta do quarto fechada, até o mínimo raio de luz foi obstruído.
Ela foi pressionada contra a porta, e a respiração agressiva do homem ecoou em seu ouvido, fazendo ela tremer involuntariamente.
Um aroma suave a envolveu, algo familiar para Solange, mas antes que pudesse reagir, sentiu o toque quente em seus lábios.
Percebendo o que estava acontecendo, Solange começou a lutar desesperadamente.
No entanto, a força do homem era grande, e como ela havia bebido bastante naquela noite, suas mãos pressionadas contra o peito dele pareciam fracas e sem poder, mais como um convite do que resistência.
As mãos quentes do homem exploravam seu corpo, deixando um rastro de calor onde que tocassem, fazendo com que o corpo de Solange amolecesse ainda mais.
Ela tentou empurrar o homem que estava sobre ela, mas ele facilmente percebeu seu movimento e levantou seus braços acima da cabeça.
Solange disse:
- Me solte... Me solte...
O homem soltou seus lábios e riu baixinho dizendo:
- Não precisa fingir que não quer.
Seus dedos tocaram o colarinho de Solange, trazendo um arrepio de frio que a fez estremecer.
O calor do corpo do homem parecia querer derretê-la, e suas pernas gradualmente fraquejaram.
Na escuridão, o sentido do tato foi amplificado, e Solange podia sentir os dedos do homem desabotoando os botões de sua roupa, deixando ela com a boca seca e a última ponta de racionalidade dizendo a ela que, se continuasse assim, seria violada.
- Me solte! - Ela usou toda a sua força para repelir o homem, mas ele a pegou e a jogou na cama.
A cama era macia, e Solange não sentiu dor, mas a queda a deixou ainda mais atordoada.
Ela lutou para se levantar, mas uma figura alta a pressionou para baixo.
Rapidamente, suas roupas foram retiradas, e ambos ficaram quase completamente nus.
O homem a pressionava firmemente, pronto para agir.
A respiração agressiva do homem fez com que ela tremesse incontrolavelmente, ela colocou as mãos em seu peito e mordeu o lábio inferior com força, se forçando a ficar alerta e calma:
- Senhor, acho que entrei no quarto errado, por favor, me solte...
Devido ao nervosismo extremo, sua voz tremia levemente.
A voz do homem soava impaciente e com um toque de frieza:
- Você está viciada nesse jogo de resistência, não é?
Walter Lima estava prestes a se levantar e mandar aquela pessoa embora quando as luzes do quarto subitamente se acenderam.
Acontece que, durante a luta, Solange acidentalmente bateu na chave de luz com o dorso da mão.
A luz repentina fez Walter piscar involuntariamente, e ao ver claramente o rosto aterrorizado da mulher sob ele, sua expressão mudou instantaneamente.
Nesse momento, Solange também viu claramente Walter, e seu rosto já pálido de medo ficou completamente branco.
A confusão em sua mente desapareceu com o choque, e a bebida pareceu se dissipar.
Ela não podia acreditar... A pessoa que quase a violou era o tio Walter de Yago:
- Tio Walter...
Solange sempre teve receio de Walter.
Walter era o filho mais novo da família Lima. Yago, seu avô Paulo e sua avó Nina tiveram-no em uma idade avançada e o mimaram excessivamente.
Com uma personalidade distorcida e fria, não só a família Lima, mas também estranhos evitavam provocá-lo.
Quando ela se casou com Yago e foi visitar os mais velhos da família Lima, Yago a aconselhou a não ter muito contato com Walter.
- Se cale! - Walter, com uma expressão terrível, fixou seu olhar frio como gelo em Solange, parecendo ponderar a possibilidade de silenciá-la permanentemente.
No entanto, ao seu olhar pousar brevemente sobre o peito branco dela, ele desviou o olhar rapidamente e se levantou da cama com frieza, dizendo:
- Se vista e saia!
Quando ele se levantou, Solange inadvertidamente olhou onde não devia.
Ela hesitou por um momento, depois desviou o olhar de forma não natural, e suas orelhas ficaram vermelhas.
Vendo seu rosto enrubescer, a expressão de Walter se tornou ainda mais sombria:
- Ainda não foi embora?
Solange, sem se importar com o constrangimento, apressadamente pegou suas roupas e as vestiu de qualquer jeito, deixando o quarto sem olhar para trás.
Só quando saiu do quarto ela se atreveu a olhar para o número na porta, percebendo no mesmo instante por que Walter disse que ela estava fingindo resistir.
Não era o quarto 8919, mas sim o 8916, ela tinha entrado no quarto errado e quase teve um encontro íntimo com o tio de seu marido...
Pensando nisso, Solange sentiu que a ressaca estava tornando sua cabeça ainda mais dolorida.
Se ao menos ela tivesse deixado Fernanda acompanhá-la até o quarto, nada disso teria acontecido, mas agora era tarde demais para arrependimentos...
No quarto, depois que Solange saiu, Walter, com uma expressão sombria, discou um número no telefone:
- Apague todas as gravações do Hotel Pôr do Sol desta noite!
Após dar as ordens, Walter olhou para os lençóis e cobertores bagunçados, acendeu um cigarro, com uma expressão ainda mais irritada em seus olhos.
Ele quase teve um relacionamento com a esposa de seu sobrinho, que situação absurda!