10. Ele Não Gosta de Mim

Shimin deu um pulo de dois metros depois de derramar o chá quente em sua próprioa perna, e eu peguei um pano para ajudá-lo a limpar e minimizar as dores.

— Soobin está aqui? — Shimin murmurou, ignorando a dor da queimadura, enquanto eu pressionava o pano de prato insistentemente contra sua perna.

— Sim. Eles discutiram no vestiário, eu soube. — Claro que eu não diria que ouvi tudo de fofoqueira que sou.

— Sabe, ele é um primo de Tae. Eles eram muito próximos quando eram mais novos, mas... Por algum motivo se estranharam depois de adultos.

Como assim por algum motivo? Esclareça melhor isso aí.

— Sinto muito. — Falei, sem querer parecer curiosa demais, mas demonstrando empatia.

— Então, ele veio para o Brasil. — Shimin falava consigo mesmo. — Então, quer a receita dos biscoitos?

Senti que ele queria mudar de assunto e não insisti.

O mistério só aumentou. Soobin era um primo de Tae e por algum motivo eles não se davam bem. Eles eram tão discretos! Será que Soobin veio para o Brasil tentar fazer as pazes com o primo?

Claro que não.

Apesar de serem do mesmo time oficialmente, quando eles tinham que treinar alternando com os reservas, sempre se estranhavam. Já era a terceira vez, só na parte da manhã de segunda-feira. Eles se esbarravam o tempo todo, mas dessa vez ficaram se olhando de queixo erguido como dois cangurus e logo os colegas de equipe ou as monitoras os dispersaram. Eu achei ridículo.

— Soobin é ciumento. — Comentaram as assistentes. Soobin era lindo, alto e habilidoso, mas o fã clube do time parecia notar apenas Tae. Deve ser pelo jeito que ele mordia os lábios ou talvez pelo jeito que olhava, concentrado. Ele tinha um sex appeal incontrolável que emanava com seus hormônios. As mulheres, em geral, gritavam muito mais quando este Tae pegava uma bola ou fazia uma cesta, ainda que as plateias estivessem proibidas nos treinos, pois elas gritavam das grades. E Soobin ficava completamente irritado com isso, era visível.

Momentos depois, Tae e eu estávamos tomando sorvete antes de irmos para a aula. Ele saiu meio rancoroso do treino e eu já sabia o porquê, não ia ficar cutucando. Já entendi que ele tinha uma questão com o primo. Tae pediu um sorvete de baunilha com Coca-Cola que eu, sinceramente, não queria imaginar o sabor. Tae ficou bem quietinho na dele, olhando somente para o seu sorvete, quando a intrometida aqui resolveu falar:

— Curioso outro coreano no time, não acha?

— Não. — Ele respondeu, absorto. Tae usava uma bandana nos cabelos, que ele tirava ao sair do ginásio, mas naquele dia ele continuou usando depois da ducha. Eu achava bonito, deixava exposto seu rosto quadrado.

— Ele joga bem. — Falei, me referindo a Soobin, e Tae me olhou de canto de olho.

— Pode mudar de assunto? — Ele pediu, com um semblante pesaroso. Foi mais um pedido do que uma ordem.

— Claro. — Suspirei e coloquei uma mecha atrás da orelha.

Quando terminei de tomar meu sorvete, vi que Tae estava quase cochilando em sua cadeira, até que uma sombra se projetou em nossa mesa. Era Soobin.

— Agora entendi por que não me chamou para almoçar. — Disse o recém-chegado. — Está muito bem acompanhado pela monitora.

— Estou tomando sorvete com minha namorada, mais respeito. — Disse Tae, mudando para uma expressão de raiva.

— Ah, claro. Não vai nos apresentar?

— Não. — Tae falou, se levantando e pegando minha mochila para irmos embora. Ele me puxou pela mão, por sorte eu já tinha terminado meu sorvete.

— O que sua namorada vai pensar vendo você tratar sua família desse jeito? — Indagou Soobin, vendo que estava sendo deixado para trás.

A voz de Soobin se perdeu entre os prédios, conforme Tae avançava e me puxava pela mão. 

Respondendo a pergunta dele: eu não vou pensar nada. Tae me trata muito pior.

— Veja bem... — Comecei a falar, sendo puxada ainda, quando Tae me interrompeu e parou de andar rápido.

— Eu não vou... Explicar nada. — Tae olhava para baixo. — Não fique perto dele.

Aquilo era quase um convite para que eu marcasse uma reunião com Soobin imediatamente para perguntar qual o grande mistério. Eu ia fazer isso, mas depois.

O dedo de Tae tocou meu rosto e tirou um resquício de sorvete de morango. Depois, ele lambeu o dedo. Fiquei meio vermelha, é claro, pois quem não ficaria? Além disso, ele não tinha nojo de muitas coisas.

E fomos para casa. Tae me deixou direto em casa nos dias seguintes. Sem tarefas após o expediente e nem nada do gênero. Ele estava muito perdido e indisposto ultimamente. Em relação à parte dele no acordo, ele supria a falta de carinhos e demonstrações de afeto com sorvetes, doces e bombons. Eu aceitaria aquilo.

Por um tempo.

A quem eu quero enganar? Eu estava morrendo de saudades, mas estava deixando ele fazer da forma como queria.

Agora que eu era do time de basquete, não podia correr o risco de perder aquilo. Será que Tae me tiraria da equipe se quebrássemos o acordo? Porque, sinceramente, ele era o único que me queria ali.

Dias depois, eu comecei a achar que Tae tinha perdido o interesse em mim. Não me chamava mais para sua casa e não falava nada durante as aulas. Não me pediu para fazer seu café (ele adorava meu café). Ele era muito complexado com algumas coisas. Estaria chateado por causa de Soobin?

A rotina dele era infalível, e ele a cumpria à risca, mesmo que não conversasse muito.

Durante o treino da quarta-feira, eu estava limpando as taças carinhosamente, pensando no quanto meu irmão estaria orgulhoso de mim se me visse ali, quando ouvi uns gritos de umas líderes de torcida e um burburinho na quadra. Saí correndo, apesar de não ser minha vez de apitar os treinos.

Quando cheguei lá, vi que Tae estava no chão, com um corte na bochecha. Ele estava bem, até, mas o preparador físico usava uma lanterna para ver os olhos dele. Parece que por muito pouco ele não tinha perdido a consciência.

— Tae! — Eu me ajoelhei ao lado dele, preocupada. Segurei sua mão, instintivamente.

— Eu estou bem. — Ele respondeu, nitidamente zonzo. Sua pupila havia ficado minúscula devido à luz da lanterna, e logo voltou ao normal depois que o objeto foi removido da direção dele. Não havia acontecido nada grave. Fiquei irritada na hora, e nem precisava de relatório para saber o que aconteceu, eu olhei para Soobin, cheia de fúria.

— Se machucar ele de novo estará suspenso! — Gritei e voltei para dar apoio a Tae. Era inadmissível uma situação perigosa dessas, e eu já sabia que acabariam saindo faíscas entre esses dois. Soobin ficou com os olhos arregalados. Não sei se ele estava acostumado com menininhas estúpidas e indefesas, mas eu não ia fazer esse tipo. Ai dele se encostasse em Tae de novo. 

Descobri que Tae tinha sido empurrado por Soobin durante a cesta e tinha batido a cabeça no mastro, e não deveria voltar a jogar. Foi o que Julieta me falou.

Fiquei ali perto até me certificar de que Tae estava bem, mas ele parecia inexpressivo enquanto a equipe cuidava dele.

— Tae precisa da namoradinha para o defender ou vai aprender a jogar? — Disse Soobin, debochado. Logo ouviu-se um "IH" coletivo, seguido de "Eu não deixava!" das pessoas em volta. As pessoas só querem ver o circo pegar fogo, e era para evitar isso que as monitoras estavam ali.

Tae se levantou do canto da quadra, zonzo, dispensando os cuidados do preparador físico depois de ouvir aquela provocação, mas, como o clima esquentou, as assistentes não permitiram que o jogo continuasse. Apitaram e dispersaram os jogadores.

As meninas colocaram o treinador para conversar com os garotos depois do jogo, e eu fui terminar de recolher os uniformes para a lavanderia. Baita criancice, não tenho tempo para isso. Um prejudicando a saúde do outro é demais para mim.

Quando fui fechar o ginásio, Tae estava sentado no vestiário, perdido em seus pensamentos. Eu fiquei preocupada, pois talvez os neurônios dele tivessem se bagunçado, mas ele estava bem tranquilo.

— Preciso fechar. — Falei.

— Ok. — Ele falou, se levantando, absorto. Ele não me parecia uma pessoa fria, cruel e amarga naquele momento, somente triste. — Eu não preciso que me defenda.

— Eu sempre vou defender quem eu amo. — Falei.

— Eu não quero que você me ame.

— Tarde demais.

Ai, ai. Para que fui me expor dessa forma? Com esses caras a gente tem que esconder o que sente até o fim da vida.

Ele suspirou. Saiu andando, com sua bolsa a tiracolo e as mãos nos bolsos.

— Não vai me dar carona? — Perguntei, acompanhando-o com o olhar.

— Desculpe. — Disse Tae. — Eu não quero te ver hoje.

— O que eu fiz, Tae? Se você não gostou de algo que eu fiz, me perdoe. — Perdi a noção de amor próprio agora (coisa que nunca aconteceu, ok?).

— O pior é que eu gostei. — Senti um vento gélido vindo do portão principal. — Estou confuso. Até amanhã.

Gostou? Gostou de quê? Bem, estava tarde, e eu precisava terminar logo as minhas tarefas se não quisesse ser assaltada ao voltar para casa. Tae se foi, eu ouvi seus passos se afastando. Ele estava um pouco chateado e eu entendi.

O problema é que ele é uma pessoa profunda demais e eu não consigo ficar pensando nas coisas. Depois que entrei para essa assessoria do basquete, eu me sinto como uma mãe de quadrigêmeos, que nem respirar consegue de tanta coisa a fazer.

Fui guardar meus relatórios, e quando subi a escada, vi uma luz se apagando na sala de reunião. Teoricamente, não era para ter ninguém ali ainda. Cheguei à porta do gabinete e vi que Hannah estava parada ali. Ela estava sentada, abraçada aos joelhos, vestindo sua roupa de líder de torcida. A morena se levantou, assim que me viu, largando seus pompons no chão.

— Diana! — Ela me abraçou dolorosamente, com seus dedos furando meus antebraços. Seus olhos estavam vermelhos. Aparentemente, ela chorou muito. Estava fora de si, humilhada.

— O que houve? O que está acontecendo? — Meus olhos analisavam cada fragmento da expressão dela, pensando mil coisas.

— Vocês estão namorando de verdade, não é?

— Tae e eu? — Perguntei. — Mas é claro.

— Eu... eu... você sabe que eu amei o seu irmão mais que tudo nessa vida. — Ela começou a falar. — Mas, o tempo passa e as coisas mudam... O Tae chegou às nossas vidas, e chamou a atenção de todo mundo. Eu não consigo mais esconder que eu estou apaixonada por ele.

Fiquei muda. Eu queria dar na cara dela, como ela fala que está apaixonada pelo meu namorado assim? O acordo entre mim e ele era somente do nosso conhecimento, para o público estávamos namorando e todos deveriam respeitar isso.

— Olhe, eu não posso fazer nada. — Afastei-a e abracei minha prancheta, com a cara mais lavada do mundo. — Nós nos amamos muito.

— Você o ama? Jura mesmo? — Hannah perguntou. Que idiota. Como se alguém pudesse não amá-lo.

— Sim. — Respondi, com sinceridade.

— Eu duvido. — Hannah segurou meus braços de novo, os dedos dela me furando já estavam tirando a minha paz. — Termine com ele. Termine com ele imediatamente!

— Eu não vou fazer isso! — Comecei a me irritar, sentindo os arranhões dela. Eram gestos nervosos de quem está fora de si.

— Não acha que ele merece coisa melhor? Sinceramente! — Hannah falou e eu fiquei mortificada. Quem ela pensa que é para falar assim comigo?

— Está me machucando, solte-me imediatamente! — Eu comecei a gritar, e retrocedi alguns passos, mas ela não me deixava.

— Algum problema aí? — Uma terceira voz falou. Ambas olhamos para o lado de modo a ver quem era: Soobin.

— Não. — Hannah falou, soltando meu braço. Ela recuperou a noção rapidamente, não estava tão fora de si assim. Ela passou por Soobin e foi embora bem rápido, depois de deixar várias marcas de arranhões em meus braços.

Suspirei. Por um segundo, achei que aquela mocreia ia me dar uma cabeçada.

— Tudo bem com você, assistente? — Soobin perguntou, preocupado.

— Estou ótima. — Menti, indo para o gabinete guardar a prancheta e os relatórios e pegar minha bolsa para ir embora.

— Quer uma carona? — Ele insistiu em conversar comigo.

— Está louco? E se você for um estuprador? — Perguntei, fechando minha sala e caminhando no corredor. Ele me acompanhou, já estava usando sua calça jeans e jaqueta para ir embora, o que significa que ele tinha tomado banho no vestiário. Será que ouviu minha conversa com Tae?

— O Tetê não deixa você aceitar caronas?

— Tetê? — Perguntei.

— Meu primo, Tae. Ele não é seu namorado? — Soobin coçou a cabeça.

— Sim, mas... Eu não o chamo de Tetê.

— Ele odeia esse apelido. — Soobin riu, provavelmente se lembrando de ter atormentado Tae com esse apelido outrora. — E cadê ele?

Boa pergunta. Tae havia me deixado sozinha ali naquela noite, por motivos que só Deus entende. Então, eu disse:

— Quer saber? Aceito a carona.

Eu tinha um canivete na bolsa. Aliás, eu precisava mesmo conversar com Soobin.

— Qual curso você faz? — Ele perguntou assim que o carro deu a partida.

— Produção. E você? — Falei.

— Medicina.

— Faz aula com o Shimin?

— Não na turma dele, mas sim.

Então, pode ser que Shimin já tenha tido contato com a pessoa que ele tanto temia, pensei. Enchi-me de coragem e perguntei:

— Por que agride o Tae, hein? O que você fez no treino hoje foi vergonhoso.

Soobin sorriu, como se fosse uma lembrança gostosa. As luzes dos postes piscavam em seus olhos conforme avançávamos na estrada.

— Eu não agrido o Tae. Ele é que não se defende. — Soobin sorriu novamente. Ele era muito lindo, também, por Deus.

Bufei.

— Vocês, jogadores, são difíceis de entender. — Falei — Por que tem ciúmes do Tetê?

— Quem não teria? Um garoto prodígio que levanta a plateia dá uma pontada de dor em qualquer um.

— Não é motivo para machucá-lo.

— Não, mesmo. Mas, foi a primeira vez que você veio falar comigo, então foi uma coisa boa.

Era um princípio de cantada ou muito me engano? Se ele pensa que vou aliviar o treino dele, está muito enganado. Coitado dele. Vai fazer 80 abdominais.

Quando chegamos ao meu prédio, ele disse:

— Eu te levo à sua porta.

— Não. Saia daqui imediatamente. E obrigada pela carona. — Quase gritei.

— Tenho quase certeza de que esse é o prédio em que Tae vive. — Soobin me deu um olhar fatal.

— Não sei de nada. — Revirei os olhos. Não sei o quanto se odeiam e nem o quanto sabem um do outro, então não vou falar nada.

— Que engraçado, pois ele está saindo do prédio agora. — Soobin disse e eu vi Tae saindo da portaria com Shimin.

Entrei no carro de novo e fechei a porta. Vi um flash em minha direção dentro do carro, Soobin havia acabado de tirar uma selfie nossa.

— Apague, imediatamente! — Exigi.

— Não posso, eu fiquei muito bem na foto.

— Então recorte o meu rosto! — Pedi, quase implorando.

— O que houve? Tem medo que meu primo nos veja juntos?

— Mas, é óbvio! — Nem tentei disfarçar. — Algo me diz que o Tae vai me matar se me vir com você. Então, prefiro não correr o risco.

— O Tetê não aprende. — Soobin suspirou.

— Como assim? — Indaguei. Fiquei nervosa, será que Tae já teve outra namorada com quem fez esses acordos?

— Bem, se não se importa, eu tenho que ir embora. Se quer saber segredos do Tetê, deveria me dar seu número.

Eu juro que eu queria saber até a cor da cueca preferida do Tae. Dei meu número sem pestanejar, e ainda pedi algumas fotos dele pequeno.

— Até mais, senhorita Kim. — Soobin disse.

Eu desci do carro e fui correndo para meu apartamento. Não queria correr o risco do Tae me desprezar ou romper o acordo comigo por ciúmes, não agora que eu era assistente graças a ele.

Mari estava no sofá roendo as unhas quando cheguei.

— Graças a Deus está viva! — Ela me abraçou.

— E por que não estaria? Houve um arrebatamento e eu não estou sabendo?

— Seu namorado disse que você sumiu!

— Que namorado? — Indaguei, e depois gritei. — Ah! Aquele namorado! Certo, eu namoro, é verdade, eu namoro muito. — Falei, e vi a expressão de confusão de Mari. Depois fui prestar atenção ao que ela disse. Tae tinha dito a Mari que eu sumi? Que sonso! — Eu sumi? Aquele degenerado se recusou a me dar carona.

— Ele disse que mudou de ideia e foi te procurar, mas não te achou. Independente disso, que bom que está bem!

Eu ia acabar com essa palhaçada naquele momento, perguntando quem ele queria enganar com aquela falsa preocupação. Peguei meu celular e tinha um monte de mensagens de Tae:

“Di

me desculpa, eu tava confuso

cadê você

Di

aonde você foi?

quero te levar para casa

responde

Diana

perdão

Dianaaaa

você está bem?

já chegou a sua casa?”

Que drama, meu Deus. Bem feito por não ter me dado carona.

Respondi que estava bem, e acho que a Mari também falou com ele também, pois ela digitava sem parar.

---

Eu tomei banho, e tinha preparado meus materiais para estudar, quando nossa campainha tocou. Era Plínio. Ele havia esquecido a chave, de novo, e ainda bem que tocou a campainha em vez de ficar gritando como da última vez. Parece que a última energia do corpo dele se esvaiu quando tocou a campainha, pois ele caiu no chão, desmaiado, imediatamente depois desse ato heroico. Enquanto arrastávamos nosso colega de apartamento até a sala, ouvi a voz de Shimin.

— Diana! Aí está você!

Deixei cair a perna de Plínio de minhas mãos, e vi os nossos vizinhos no corredor, se aproximando.

— É, desculpe preocupá-lo, é que alguém não me deu carona. — Falei, sem nem olhar no rosto de Tae, mas inclinando minha cabeça para indicar quem foi esse alguém.

— E está muito arrependido. — Disse Shimin, apontando para o irmão com o nariz, e sorrindo. Para Shimin, não havia tempo ruim, ele sempre sorria.

Tae estava cabisbaixo. Bem tristinho, mesmo. Ele se aproximou depois que Shimin se afastou de mim (Meu Deus, como ele é alto), puxou minha mão e me abraçou.

Um abraço puro.

Apertado.

Bem, se for reparar, estávamos na frente dos outros. E não era uma cena muito romântica com Plínio caído no chão e bêbado, mas ok.

Senti palpitações fortes em meu rosto, e não eram minhas. Tae podia esconder tudo o que sentia, todos os seus sorrisos, mas não conseguia esconder isso.

— Desculpe. — Tae sussurrou em meu ouvido. Sua mão segurava minha nuca.

Suspirei. Eu tinha que contar logo quem me trouxe, para evitar fofocas. Ou ia amanhecer o dia esfregando as manchas nas roupas dele com minha escova de dentes.

— Tae, eu... — Era difícil falar qualquer coisa que pudesse me afastar do perfume dele, então eu me calei.

Quando olhei em volta, não tinha ninguém mais lá. Acho que nossos colegas quiseram nos dar privacidade no corredor. Agora era eu quem estava quase sem ar de tão nervosa.

— Eu sou adulta, sempre voltei sozinha antes de te conhecer. — Falei, virando o rosto. Eu sempre me esquivava da respiração dele, do toque do seu nariz ou dos seus lábios, ou até mesmo do seu olhar penetrante, porque mexiam demais comigo. 

Ele tinha um olhar muito poderoso. Sempre parecia inebriado, e quando mordia os lábios eu simplesmente perdia a força naspernas.

— Disse bem. — Tae disse, quase suspirando em meu ouvido. — Isso foi antes de me conhecer. Agora eu fico preocupado e me sinto culpado.

Os lábios dele estavam tão perto. Seu rosto inclinado me fez sentir que ele me beijaria. Senti seu hálito em meu pescoço. Eu juro por Deus que ia desmaiar ali. Encostei na parede e senti minha pressão cair.

— Você está bem? — Ele perguntou, investigando meu rosto por todos os ângulos enquanto segurava meu tronco, já que minhas pernas tinham perdido a função.

— Estou. — Falei, capengando. Desfiz nosso contato e me afastei dele, era muito perigoso cair nas garras de Tae. — Está desculpado.

Corri para meu apartamento e fechei a porta, onde encostei meus quadris e tentei recuperar a consciência, desesperada por ar.

Pare. Pare imediatamente. Pare de começar a achar que ele sente algo, Diana. Estava tudo ótimo quando você tinha zero esperanças de ele gostar de você, Diana. Não ponha tudo a perder!

Ele não gosta de você, Diana. Não gosta.

Repeti essa frase mil vezes no banho. A água gelada me fez, logo, voltar à realidade. Não posso me deixar enganar pelo jeitinho fofo dele, ele não gosta de mim.

Não gosta.

E não se fala mais nisso.

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