Deixando a surpresa de lado, ela o ajudou a sair do carro. Levou o jovem até a porta e bateu duas vezes.
- Não há ninguém em casa. Chris enfiou as mãos no bolso e tirou um chaveiro, abril a porta e esperou ela entrar. - Eu já vou indo. Espero que se recupere logo. - Vai mesmo me deixar sozinho? Temos muito o que conversar. - Você rompeu nosso compromisso, Chris. Ainda que não se lembre agora, na época você estava lúcido. - Por favor, Lindsay. Pelo que um dia tivemos, me ajude dessa vez. Juro que vou te compensar por todo transtorno que causei. Sem palavras, ela olhou para ele quase em choque. De que forma ele achava que iria compensar toda humilhação que ela havia passado? Vê-lo agora humilde e implorando por sua ajuda chegava a ser ridículo. - O que precisa Chris? - Me faça companhia e me ajude a lembrar o que eu esqueci. Os dias tem sido longos e cansativos sem as memórias que perdi. Ela entrou na casa e olhou em volta, o bom gosto nos móveis e decoração eram visíveis. As paredes brancas com cortinas de seda e móveis modernos de madeira eram realmente um luxo. - Eu não entendo Chris, porque está sozinho? Uma casa como essa, não teria que ter funcionários e, principalmente no seu estado, deveria estar acompanhado por alguém de confiança. - Não suporto pessoas estranhas a minha volta, são muito barulhentos. A situação era risível, Tanto pela perda da memória ou pelo fim do compromisso, ela era uma estranha. Lindsay não queria se importar, queria esquecer a dor que sentiu a meses atrás, quando ele rompeu o noivado às vésperas do casamento. Mas uma força maior não a deixou virar as costas. - O que aconteceu com você? O que espera que eu faça? - Me fale sobre nós, como nos conhecemos e porque está brava comigo? Sentada no sofá de couro macio e confortável, ela o olhou sem saber o que dizer. Era surreal ver o rapaz perspicaz e orgulhoso em um estado tão deplorável. - Quando te conheci, eu tinha oito anos e você dez, nossos pais eram muito amigos, e quando seus pais mudaram para Toronto, nos víamos com frequência. Aos dezoito, começamos a namorar. Na medida em que ela ia falando, Chris se forçou a lembrar, mas a crise de dor de cabeça voltou mais forte que nunca . Assustada, Lindsay o levou ao hospital e pouco depois foi severamente repreendida pelo médico. - O paciente aparenta um quadro de aminésia retrógrada, não pode ser forçado, as lembranças devem fluir naturalmente. - Qual é a causa? - E comum após traumas, no caso dele foi um acidente seguido de um coma profundo. Ele tem muita sorte em estar vivo e sem maiores sequelas. - Eu não sabia do acidente. Só encontrei ele hoje, depois de três anos sem o ver. - Ele precisa de estímulos sutis, mas sem forçar a mente. - Não entendo sobre isso, de que forma posso ajudar? Sem se dar conta, Lindsay se comprometeu e agora não tinha volta. Estava novamente ligada a Chris. - Deixar que ele tenha contato com objetos conhecidos, visitar lugares que ele gostava ou mesmo livros e músicas pelos quais se interessava. De volta ao condomínio das águas termais, Nikole ajudou Chris a se sentar. - O que você faz quando precisa de ajuda? - Geralmente tomo o remédio e deito. Mas sempre posso chamar o Philip. - Ótimo. Me passa o contato dele, assim que ele chegar eu vou embora. Por algum motivo, Chris não queria que ela se fosse, mesmo não se lembrando de Lindsay, ele se sentia em paz junto dela. - Você é minha noiva, o certo não seria você me acompanhar. - Ex noiva. Você... Ia falar que ele praticamente a abandonou no altar. Mas, ao lembrar das palavras do médico, o restante não saiu. Estava diante de um homem doente, acertaria as contas com ele quando se recuperasse. - Não pode romper comigo agora. Eu preciso de você, não tenho mais ninguém! - É isso que não entendo, seus pais deveriam estar te cuidando e apoiando. Você é o único filho e o seu desaparecimento deveria deixar eles preocupados. - Não sei quem são ou onde posso encontrá-los. - Vou cuidar disso! Depois de tentar mais uma vez sem sucesso, Lindsay pensou e pediu a ele. - Pode me emprestar seu celular? Sem questionar, Chris desbloqueou e deu a ela o celular. Lindsay ligou para Roxane e foi atendida no segundo toque. - Sra Sullivan, aqui é Lindsay. - Desculpe Lindsay, não posso falar agora. - Mas e urgente, preciso falar sobre o estado de Chris e... - Não estou interessada, por favor não ligue mais. Com o telefone desligado ainda no ouvido, Lindsay se sentiu congelar por alguns segundos. Claramente ela estava bloqueada pela família. Mas se recusar a saber do filho era inquietante. O que Chris teria feito de tão grave para que os pais não quisessem ter notícias do único filho? Desnorteada, ela não sabia o que dizer a ele, talvez a briga com os pais fosse a causa de seu acidente. - Obrigada! - Conseguiu falar? - Não, devem ter trocado o número. Outra pessoa atendeu. Ele deu de ombros como se não se importasse e se sentou pegando o telefone. - Vem aqui! - Sim? - Vou colocar sua digital para desbloquear meu celular, assim se precisar usar e só pegar. Lindsay ficou sem ação, o telefone era algo pessoal e ela não acreditou que ele faria isso. - Não precisa, tenho meu próprio telefone. - E daí? Se houver uma emergência, e bom que você possa acessar. - Isso é muito pessoal, chega a ser perigoso dar acesso a outras pessoas. - Não é qualquer pessoa. Minha noiva é uma pessoa de confiança, certo? Pegou a mão dela e inseriu suas digitais sem piscar um olho. Lindsay estava chocada. - Eu tenho que ir para casa, está ficando tarde. Chris pegou seu braço e a impediu de sair. - Você tem que ficar aqui comigo. Agora ela teve certeza de que ele realmente não estava bem. Quando terminou o noivado ele mandou uma mensagem crua e fria. " Estamos terminando Lindsay, não posso me casar com você. Sinto muito!" Quando ela sem entender nada, quiser saber o que aconteceu, Chris chegou a ser cruel. " Não te amo, isso é motivo suficiente para cancelar o casamento!"