Capítulo 6: O velho se torna o novo, e nunca olhamos para trás. Parte 3

Uma neblina pairava entre aquelas arvores secas, de galhos finos que mais pareciam garras, quando eu me aproximei da clareira, onde o rito dos homens seria realizado. Era um momento solene e importante para a alcateia, pois marcaria a ascensão de Lucius como o novo alfa. Como eu tive de passar com meu tio, e nossos ancestrais. Eu sentia um misto de orgulho e tristeza ao testemunhar essa passagem de poder, ainda estava precoce demais que agora não era mais o líder. Entretanto, uma pequena leveza se retirava de meus ombros. Apenas vestindo uma tanga de pele de animais e o resto desnudo, podia sentir meus pés naquele chão de cascalhos e o barulho de galhos quebrando-se a cada passo que dava em direção.

O frio não atrapalhava, por ainda estar com meu sangue quente daquela tensão com meu irmão mais novo. Contudo, eu me sentia dilacerado por não conseguir ou impedido Tyler de ouvir aquelas palavras duras sobre seu pai.

Tentei relaxar minha expressão, mas era impossível. Avistei ao fundo o local.

Os membros da alcateia estavam reunidos em volta de uma fogueira, suas vozes em murmúrios enquanto esperavam a cerimônia começar. Enquanto, eu ao chegar mais perto avistei Lucius, meu irmão mais velho, de pé no centro da clareira. Seus olhos se encontraram por um breve momento, pintados com runas brancas feitas por um dos anciões com uma pequena vasilha na mão. Assim que me juntei naquela roda, todos me olharam. Podia sentir a tensão de alguns com reprovação e outros aceitando minha decisão da abdicação.

Nicolas se aproximou de mim e ficou ao meu lado, nada mais foi dito entre nós desde que teve a terrível notícia em primeira mão da minha saída. E o que iria de ser dito não? Nem judas foi tão pior que eu, ou estava enganado?

Observei meu pai do lado esquerdo a minha frente, alguns metros. Ele era um macho viril, e que todos tinham medo de dizer o contrário por seu jeito inquisidor até no olhar. O que Lucius herdou dele.

Mas Achilles não estava ali, e uma pontada de felicidade em meu interior dizia que estava cuidando da face quebrada.

Desviei para a fogueira, enquanto fagulhas estavam-se batendo ao chão de pedras ao a cerimônia começar com cânticos antigos entoados pelos lobos anciãos, invocando a presença dos espíritos da natureza. A energia na clareira era palpável, carregada com a expectativa do momento. Eu observei com reverência, sabendo que estava testemunhando um evento visto de longe agora.

Quando chegou a hora do batismo, um dos três anciões me pegou pelo braço e me guiou para se aproximar de Lucius, segurando uma tigela de sangue de ovelha que me entregou. Sabia bem que ali tinha mais que um sangue comum de animal. Mas, peguei de sua mão envelhecida a pedra de tom escuro que brilhava as chamas da fogueira em seu cristal que era do tamanho do palmo da minha mão.

Meus olhos se encontraram com o de Lucius, e em um gesto solene, eu derramei o líquido sobre a cabeça dele, simbolizando minha troca e o colocando como novo líder da alcateia.

O cristal jazia em minha mão esquerda, enquanto a mão direita depositei em seu antebraço esquerdo, assim que o ancião pegou a vasilha, e ele retribuiu o toque. Com nossas expressões sérias.

—O poder que um dia foi meu, agora passa de mim para o seu. O velho se torna o novo, e nunca olhamos para trás! —pronunciei convicto de minhas palavras.

Uma vez que o batismo foi concluído, todos se voltaram para a roda.

Um dos três anciões que andavam com seu cajado de madeira bateu sete vezes ao chão com a ponta, olhou para todos ao dizer: —O sangue que corre nas veias do alfa, corre nas veias da sua alcateia. Todos devem o respeito e a submissão ao seu alfa!

Um uivo ecoou dando voz a outros, que era a resposta da aceitação de seu líder. Enquanto, se transformavam na forma de Crinos, que consistia em lobos maiores que um humano com a forma de lobo em duas patas.

E outros em Hispo, a forma normal e pouco maior que um lobo comum.

E onde a cerimônia foi finalizada entre uivos e latidos dos membros.

Lucius sorriu para mim e me abraçou forte, ainda processando aquela leveza que as responsabilidades eram deixadas de mim.

Entretanto...

Olhei para minhas mãos manchadas com aquele sangue de ovelha, sabendo que algumas coisas ainda teriam que ser resolvidas por mim. Meu olhar celeste encarou alguns metros dali aquele homem. Pele parda, cabelos escurecidos com uma barba que tomava seu rosto e uma aparência séria. Principalmente...

Teria que começar pelo mais difícil.

—Ikarus... —cumprimentou ele ao se aproximar. —Sinto por não ser mais o alfa, teria gostado que minha filha se vinculasse a você.

—Obrigado... senhor Roosevelt! —falei ao apertar sua mão, num sorriso tão leve quanto meus pensamentos de vingança.

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