Meu eterno amor de verão
Meu eterno amor de verão
Por: Roseanaautora
Capítulo 1

Bruna olhava para o teto branco como se aquilo fosse a coisa mais importante de sua vida. Novamente aquele vazio se apossava dela de tal forma que nada fazia sentido. Parecia que sua alma saía de seu corpo e vagava no meio do nada, tentando encontrar algum lugar para ficar. Precisava fazer algo para mudar o que estava prestes a acontecer novamente. Não... Ela não queria entrar em depressão profunda, usar mais medicamentos do que já usava e só de pensar na possibilidade uma nova internação já sentia seu coração bater descompassadamente e uma gota de suor escorrer do nada pela sua testa. Ela pensou em Adrian... Sim, ele era a chave para a mudança. Estavam juntos há quase seis anos, haviam noivado e esperavam pelo casamento que ocorreria algum dia. Ela nunca tivera outro namorado, nunca amara alguém. Somente Adrian existia em sua vida. E ela sentia-se orgulhosa de tê-lo ao seu lado, do respeito que sentiam um pelo outro e pela relação que haviam construído. Era como se ele fosse o motivo que a deixava não cair na doença novamente. Mas ainda assim, naquele momento, parecia que aquilo não bastava. Ela queria mais da vida, queria mais de Adrian... Queria casar-se. Já era tempo de os dois morarem juntos e viverem suas vidas separadas de suas famílias, formando um novo lar, que logo se encheria de filhos, novas vidas que eles seriam responsáveis. Para ela não havia melhor motivo para viver do que crianças que alegrariam suas vidas. Então não teria mais momentos tristes e sem sentido. Eles seriam contagiados com diversão, alegria, amor materno e paterno e pequenas discussões de casais que levariam numa boa porque seriam um casal e uma família perfeita. E toda realização de seu sonho de casar e ter filhos ela queria ao lado de Adrian. Eles já planejavam há um tempo casar quando terminassem a faculdade. Mas naquele momento ela se perguntou por que tinham que esperar? Eles se amavam, tinham dinheiro para viver juntos e construírem uma casa que mais tarde chamariam de lar. Ela decidiu que falaria com ele a respeito.

- Bruna, posso entrar?

Ela ouviu a leve batida na porta e Cassiane abriu-a e colocou a cabeça no batente.

- Entre, Cassi. Queria mesmo falar com você. – disse Bruna levantando de seu transe e seus pensamentos com o teto.

- Então cheguei na hora. – disse Cassiane sorrindo.

- Pode sentar. Está tudo bagunçado, mas... Está sempre bagunçado. – ela riu.

Cassiane tirou algumas almofadas da cama e sentou-se confortavelmente com a irmã. Além de irmã, Bruna considerava Cassiane a pessoa mais confiável do mundo. E conselhos então... Ninguém dava melhor do que ela.

- Estou ouvindo. – disse Cassiane.

- Cassi... Eu estava aqui pensando há um tempo... Será que Adrian aceitaria casar comigo antes de acabar a faculdade, como era nosso plano?

- Como assim? Você quer casar antes de acabar seus estudos?

- Bem... Sim.

- Acho que Adrian vai ser pego de surpresa com isso.

- Nos amamos... Que diferença faz o tempo que vamos levar para morar juntos? Se ele me ama, tudo que irá querer é ficar comigo.

- Mas vocês combinaram isso há bastante tempo... Bruna, vocês ainda são tão jovens. Por que não esperar mais um tempo? Isso pode não dar certo... Você ainda tem tanta coisa para viver, garota.

- Cassi, eu o amo e ele me ama... O que pode dar errado pelo fato de nos casarmos? Eu sei que dará certo, que ele é o homem ideal para mim.

- Bruna, não é bem assim... O casamento é conviver diariamente, todas as horas possíveis. Vocês são um casal que se dá bem... Por que antecipar tudo? Você não viveu nada, minha irmã.

- Eu conheço Adrian há quase 6 anos... É muito tempo. Acho que ele é assim mesmo, do jeito que eu o conheço. Não creio que ele mudará porque moraremos juntos.

- Bruna, por acaso isso tudo é com relação à sua virgindade?

- Claro que não, Cassi. Quantas vezes preciso repetir que a decisão de casar virgem é minha e não tem nada a ver com ele. Se em algum momento eu quiser mudar isso, mudo e pronto. Eu sei que você acha isso muito louco e antiquado, mas Adrian respeita minha decisão e isso o torna ainda mais fofo do que ele já é. Você sabe do meu sonho de casar e tudo mais... Simplesmente parece que agora ele está mais aflorado do que nunca.

- Na minha opinião você é muito jovem ainda... Tem apenas 20 anos, Bruna...

- Não tenho só 20 anos, Cassi. Já tenho 20 anos. Você sabe o quanto a vida é curta e surpreendente. E seu eu morrer amanhã? Quero morrer conhecendo a vida de casada junto de Adrian.

Cassiane respirou fundo e disse:

- Sua louca e cabeça dura. Adrian ama você e certamente nem você nem ele morrerão amanhã. Vocês têm muito tempo pela frente. Acabaram de sair da adolescência. Adrian a ama e sempre será seu, casado, noivo ou namorado...

- São 6 anos de espera... Já chega. Chegou a hora.

- Acha que 6 anos é muito? Estou esperando muito mais do que você. E não tenho pressa alguma no casamento. Eu e Cristiano estamos tão felizes juntos... Nós também nos amamos muito. E não acredito que o casamento mudaria para melhor nossa relação.

- Cassi, nunca pensamos igual com relação a casamento, vestido de noiva, festa e tudo mais, não é mesmo? – falou Bruna rindo, lembrando que desde pequenas divergiam sobre isso.

Cassiane riu lembrando de alguns momentos da infância das duas:

- Sim... Você sempre acreditou no “felizes para sempre”. Eu nunca acreditei nesta frase fora de um filme de comédia romântica. Sou feliz à minha maneira... E você sabe que para mim o casamento é apenas um pedaço de papel que oficializa uma união, nada mais que isso. Eu acho que nem quero casar, na verdade. – falou ela.

- Cassi, o que você acha do que eu lhe disse?

- Bem, você mais do que ninguém sabe tudo que penso com relação ao casamento. No entanto, é a sua vida, os seus sonhos e desejos que estão aí. Se isso vai fazer você feliz, minha irmã, vá em frente que eu vou apoiar como sempre.  – disse Cassiane com um largo sorriso mostrando os lindos dentes brancos alinhados. – Você sabe que independente da decisão que você tomar, eu sempre estarei do seu lado, apoiando-a.

- Eu precisa muito ouvir isso de você. – confessou Bruna.

- Acho que você precisa falar com outra pessoa, não é mesmo? Não sei como ela reagirá quando souber...

- Sei que mamãe também me apoiará.

Cassiane riu e apertou o nariz de Brune:

- Sua espertinha... Sabe que mamãe nunca diz não para você, não é mesmo?

As duas se abraçaram. Bruna amava demais Cassiane. Sentir o cheiro dos cabelos dela era sempre como o frescor de um lindo dia de sol, gostoso, mas não quente. Ela tinha cheiro de verão. Ela era a pessoa mais otimista e alto astral de Bruna conhecia. Estava sempre feliz, disposta a ajudar e nunca se entristecia com nada. Ela era o esteio da casa delas.

- Cristiano não virá hoje? – perguntou Bruna.

- Não... Foram ao estádio. – disse ela. – Não lembra que hoje tem jogo de futebol?

- Confesso que esqueci. Adrian me convidou para ir junto, mas você sabe que eu detesto futebol e aquela gritaria que eles fazem. Além do mais precisava estudar porque tenho prova esta semana.

- Bom saber que Adrian a convidou. Cristiano nem pensou em me convidar eu acho. Vou tomar um banho e depois vou m****r uma mensagem bem desaforada para ele. Vamos brigar e depois fazer as pazes. – disse ela rindo.

- Acho que ele não convidou porque sabia que a resposta seria não também. – ela riu.

- Mas falando sério, Bruna... Adrian é um fofo. Ele sabe que você não gosta de futebol, ainda assim convidou você. Este homem não existe.

- Nem dá para comparar, Cassi... Ele e Cristiano são completamente diferentes.

- Eu que sei... Cristiano parece um ogro às vezes. Adrian é um querido... Por isso todo mundo gosta dele. Até a mamãe prefere ele que o Cris, não é mesmo? Mas para mim, acredite, ele é perfeito assim. Eu não mudaria nada nele.

- Cassi, são completamente diferentes os dois, mas Cristiano a ama muito e você sabe disto, não é mesmo? Eu nem imagino Cristiano traindo você. No entanto Adrian, com sua meiguice e delicadeza com todos, às vezes não é bem compreendido por mulheres carentes. – ela riu. – Você entende do que estou falando, não?

- Mas nestes 6 anos você nunca soube de alguma traição dele, não é mesmo?

- Bem, nunca soube, embora eu não seja ingênua e sei que ele não deve estar a 6 anos esperando pelo casamento para fazer amor. Ainda assim só me preocupo da relação dele com Catita.

- Se eu fosse você nunca me preocuparia com ela. Se Adrian gostasse dela não teria ficado com você. E já se passaram 6 anos. O que eles tiveram foi uma affair na adolescência, só isso. Eu acho ela uma mulher bonita, sexy, sedutora... Mas sei que Adrian a vê somente como uma amiga.

- Bonita, sexy, sedutora? Você quer acabar com minha autoestima? – perguntou Bruna rindo.

Cassiane riu alto:

- Desculpa, foi mal...

- Catita ainda gosta de Adrian. Acho que ela nunca vai se conformar em ter perdido ele para mim.

- Não acho que o que existe entre eles vai além de uma amizade sincera. E seu eu fosse você não tentava impedir isso. Eles se conhecem há muito tempo.

- Cassi, eu tenho certeza que ela ainda gosta dele.

- Eles nunca vão voltar a ter um relacionamento, Brune. Esqueça isso. Não ponha coisas nesta sua cabecinha.

- Eu me sinto muito insegura com relação à ela.

- Adrian não é o tipo de homem que faria isso... Além do mais, ele ama você e todos sabem disso.

- E se ele voltara gostar dela?

Cassiane levantou-se da cama e disse rindo:

- Não acredito que estou ouvindo isso, Bruna. Você é muito criativa nesta sua mente brilhante...

- Você já vai? – lamentou Bruna.

- Preciso tomar um banho e dormir... Amanhã é dia de trabalho novamente. E não adianta que não vai me convencer a dormir com você.

Disse Cassiane saindo dançando até a porta.

- Cassi? – chamou Bruna.

Cassiane voltou e pôs a cabeça no vão da porta:

- Fala, minha querida.

- Não converse com mamãe a respeito... Deixa que eu converso com ela... Do meu jeito.

- Você sabe que eu jamais faria isso, embora ainda ache que você é louca.

Ela riu e fechou a porta.

Bruna colocou o roupão felpudo que tanto amava por cima do pijama curto e foi até o quarto de Angela, como fazia todas as noites. Bateu de leve na porta.

- Entre, Bruna.

Bruna acendeu o interruptor de luz próximo da porta, olhando para mãe deitada no meio da cama, coberta por um edredom fico.

- Conheço vocês até pelo modo que batem na porta. – confessou Angela. – Veio dar meu boa noite?

- Bem... Isso e mais umas coisinhas.

- Estou toda ouvidos... Só falar.

Bruna sentou-se na cama da mãe e começou a falar sobre seus sentimentos e planos, de início um pouco tímida, mas quando se deu conta já sonhava alto contando cada detalhe para Angela. A opinião de Angela foi o que ela já imaginava:

- Sempre vou querer que você seja feliz, Bruna. Se casar com Adrian é o que vai lhe trazer esta felicidade, eu apoiarei sem pensar duas vezes.

- Eu sabia que diria isso, mamãe. Vou falar com ele hoje mesmo. – falou ela feliz.

- Hoje? Mas já está tão tarde? Irá sonha até lá?

- Claro que não... Vou ligar.

- Bruna, isso é tão sério para falar por telefone. Acho que deveria esperar e falar pessoalmente.

- Nós falamos tudo por telefone, mamãe. Adrian não se importará se for desta forma.

- Se você diz... Tudo bem.

Ângela abraçou Bruna e depois ficou um tempo olhando nos olhos de sua filha.

- Por que está me olhando assim, mamãe? – perguntou Bruna.

- Como você me lembra seu pai. – disse ela.

- Gosto tanto quanto me diz isso, mamãe.

- Não só fisicamente. Ele era como você... Quando decidia uma coisa, nada a o fazia mudar de ideia. Ele também acreditava muito na família, no amor para sempre... – falou Angela perdendo o olhar no nada.

- E vocês foram muito felizes enquanto viveram juntos, mamãe.

- Como eu gostaria de acreditar nisso... Mas a felicidade não é eterna, minha filha. Se assim fosse, eu estaria com ele hoje... – lamentou ela.

- Foram felizes até que a morte os separasse, como juraram em frente ao padre ao se casarem.

- Certamente ele morreu certo de que foi feliz... Mas e eu? Como fica quem sobrevive? Consegue explicar isso, Bruna?

- Mamãe, o que importa é que o tempo que passaram juntos foi bom para ambos. Vocês se amavam muito e foram felizes. Isso é o que importa. Você nunca o esqueceu e tenho certeza que de algum lugar ele olha por nós e a ajuda a vencer a cada dia. Ele nos abençoou para que vivêssemos sem ele, tentando ser felizes a cada dia. E nós nunca o esqueceremos... Mas soubemos refazer nossas vidas sem ele... Graças à você, minha mãe.

- Lembro que ele dizia que éramos as três mulheres da vida dele... E ele nem viu tudo que fizemos sem ele...

- E sempre seremos as mulheres da vida dele, mamãe.

- O incrível é que depois de tantos anos eu ainda o amo, como se fosse hoje. Nunca o esquecerei.

- Nem deve, mamãe. Mas não pense que não me questionei tantas vezes de porque ele foi tirado de nós...

- Poderia ter sido pior, Bruna. Nós poderíamos ter morrido com ele, minha filha. Mas Deus foi tão bom que deixou você viva para mim. Por isso eu sempre agradeço por você, minha filha, meu pequeno milagre.

- Eu gostaria muito de lembrar dele... Cassiane deve ter lembranças.

- Ela era tão pequena quando ele se foi... Não acho que ele lembre muito bem também.

- Ela nunca gosta muito de falar comigo sobre isso.

- Cassi sempre tenta proteger você, Bruna. E acho que ela fará isso para sempre. Ela só quer deixar você feliz e não mexer nas lembranças ruins.

- Eu gostaria muito de tê-lo conhecido.

- E ele seria imensamente feliz ao ver o quão linda e inteligentes se tornaram as filhas dele.

- Eu amo você, mamãe.

- Eu amo mais...

- Boa noite. – disse Bruna dando um beijo na mãe.

Ela apagou a luz, fechou a porta e voltou para seu quarto. Pegou o celular e ligou para o telefone fixo da casa de Adrian. Imaginou que naquele momento ele não estaria perto do celular.

- Boa noite, dona Juju. Adrian já chegou?

- Claro querida... Ele está jantando. Aguarde um minuto que vou chamá-lo.

Bruna aguardou até ouvir a voz de Adrian do outro lado da linha:

- Meu amor, quanta saudade estou sentindo. – disse ele.

- Desculpe interromper seu jantar. – disse ela.

- Eu iria ligar assim que fosse para meu quarto.

- Como estava o jogo?

- Você sabe que nada faz sentido sem sua presença.

- Não brinca. – ironizou ela.

- Você sabe que te amo. – disse ele rindo.

- Acho bom mesmo. – brincou ela. – Então vai realizar um desejo meu.

- Claro, meu amor... Qualquer coisa.

Bruna ficou feliz que a conversa tomava o rumo que ela queria. Numa brincadeira não tomaria o tom tão sério de um casamento.

- Case-se comigo. – disse ela.

Ele riu e disse:

- Eu vou me casar com você.

- Quando? – perguntou ela.

- Semana que vem está bom para você? – disse ele brincando.

- Para mim está ótimo.

Ele continuava rindo sem parar e ela percebeu que ele não estava levando a sério.

- Adrian, eu não estou brincando. – disse ela seriamente.

- Bruna...

- Adrian, acho que precisamos conversar sobre isso.

- Bruna, já conversamos diversas vezes sobre isso e já tomamos nossa decisão, juntos.

- Eu quero retomar este assunto e rever nossa decisão. – disse ela.

- Amanhã eu te busco para almoçarmos juntos na faculdade e conversamos melhor.

- Tudo bem, vou esperar.

- Bruna?

- Diga...

- Está falando sério? – perguntou ele.

- Amanhã nos falamos, Adrian.

- Até amanhã.

- Até amanhã.

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