_______________________________________________JILEAN
Quando entrei no camarim meu corpo estava explodindo de excitação. Não pela apresentação porque eu já estava acostumada, e em algumas noites a sensação não era boa. Mas naquela a sensação era surpreendente. Quando tirei a mascara e fechei os olhos, tudo que eu conseguia ver era aquele desconhecido tocando a minha tatuagem. Aquele toque suave sobre meu corpo me desencadeou uma corrente elétrica de emoções, ele foi capaz de me deixar excitada com um toque...
Coloquei meu sobretudo encarando o relógio na parede acima do espelho, já eram 2h00min da madrugada e eu tinha que chegar em casa o mais rápido possível. Peguei minha bolsa e saí do camarim subindo o gorro do sobretudo que escondia meu rosto e recolocando a máscara. Procurei pela Mariah no salão e a notei na parte de dentro do bar. Segui até lá e senti vontade de recuar quando percebi que os três rapazes da sala 12 estavam sendo atendidos por ela. Provavelmente bêbados e á gargalhadas. Entrei pela extremidade do balcão indo até ela.
— Preciso ir. — Sussurrei em seu ouvido por trás.
— Já? — Ela se virou.
— Sim, já são 2h00min e eu já terminei. — Respondi o mais baixo que pude embora o som encobrisse nossa voz.
— Tudo bem, fique aqui. Vou pegar seu pagamento. — Ela disse assentindo e saiu me deixando no bar com os homens que outrora haviam sido meus telespectadores.
O lugar estava meio vazio, tanto por ser meio de semana – o que não trazia clientes já que não havia apresentação – quanto por todos os nossos clientes da semana sempre estarem nos Vips com suas apresentações intimas. Respirei fundo e me virei para o palco, acabando por pegar o olhar do desconhecido sobre mim. Aquele olhar que me tirou o ar com seu toque, estreitei os olhos para ele que num ato de reconhecimento esboçou um quase imperceptível sorriso de canto. Mariah apareceu me fazendo desviar o olhar.
— Aqui está. — Ela falou ao meu ouvido enquanto colocava o envelope em meu bolso do sobretudo. — Te vejo amanhã? — Ela perguntou.
—Não. — Neguei com a cabeça.
— Então leve uma garrafa de Uísque. — Ela falou pegando a garrafa e colocando em minha mão.
— E para quê seria? — Falei me virando de frente para ela.
— Para você beber quando sentir minha falta. — Ela piscou. — Te vejo no sábado.
Eu gargalhei com aquela declaração, provavelmente eu sentiria. A Mariah era a dona da For You, eu amava a forma como ela se passava por funcionária apenas para estudar melhor seu público. Era uma chefa acessível, embora em parte, porque eu fosse uma das preferidas daquele lugar.
— Te vejo no sábado. — Eu sorri e passei por ela.
Ao me virar meu olhar passou novamente pelo do desconhecido, então eu saí do bar, não sem antes abrir a garrafa e beber um gole. Eu precisaria com toda certeza. Em minha vida real eu não podia beber Uísque.
Ao deixar a For You retirei a minha máscara e a guardei na bolsa, então segui até a estação de metrô com meus fones de ouvidos perdida em meu mundo. Quando cheguei à estação, entrei no banheiro público e coloquei a calça que eu havia saído de casa juntamente com a blusa e o casaco, guardando o sobretudo dentro da bolsa juntamente com a peruca, que deu lugar a cabelos volumosos ondulados e castanhos claros que iam até a minha cintura, os prendi num coque frouxo e saí rapidamente pronta para pegar o metrô das 2h40min.
∞
Bati no apartamento 402 de forma discreta.
— Oi. — Van falou em tom baixo.
— Desculpe a demora... — Falei no mesmo tom de voz que ela.
— Tudo bem. — A mulher me encarou abrindo espaço para eu entrar. — Ela está dormindo.
— Não tem problema. — Assenti.
Fui até o sofá de Van e encarei uma Agnes adormecida agarrada a Edith. A peguei no colo com um esforço imenso para não acordá-la.
— Muito obrigada mesmo. — Falei para Van que me encarava com as mãos na cintura.
— Tudo bem, sempre que precisar. — Ela sorriu. — Sabe disso, né?
— Sei Van, eu sei. — Falei retribuindo o sorriso.
Saí do apartamento com aquele peso em meu colo e subi degrau por degrau respirando fundo. Abri minha porta com dificuldade e joguei a bolsa no chão já ao lado de dentro. Fui até o quarto e coloquei, com todo cuidado do mundo, a Agnes num lado da cama. Ela tinha seu próprio quarto, mas eu adorava tê-la em minha cama. Respirei fundo pesadamente ao me livrar do peso do seu corpo. Tomei um banho, vesti meu conjunto moletom e depois de esquentar meu yaksoba do dia anterior, me joguei no sofá com o celular na mão aberto na aba do i*******m. Foi ali que apaguei.
_______________________________________________________________________RICK
— Se é permitido, eu gostaria de perguntar sobre a atração da sala 12. — Perguntei a bartender que estava nos servindo no bar.
— Temos muitas apresentações na sala 12. — Ela respondeu enquanto enchia meu copo.
— A de hoje... — Falei a encarando.
— Vai dizer que você se apaixonou pela stripper! — Dylan gargalhou.
— É pecado perguntar? — Revirei os olhos.
— Sendo você, é doença! — Jack caçoou. — Mas preciso confessar que ela foi perfeita.
— Tá vendo? Se até você admitiu isso, porque eu não posso perguntar? — Dei de ombros.
— Porque ser gay não retira meu senso comum, mas você ser canalha e não se lembrar nem mesmo dos rostos das mulheres que você dorme, é um fato. — Jack respondeu fazendo Dylan assentir.
Eu estava pronto para responder quando notei o sobretudo preto que se aproximava da bartender, o gorro tapava seus cabelos e deixava á mostra apenas a sombra do seu rosto. Mas uma curiosidade inata se estendeu sobre mim. Suas unhas pintadas de preto me deram certeza sobre o gorro que aquele rosto escondia. Sim, eu tinha notado até mesmo a cor de suas unhas. Dessa vez ela usava um sapato preto e não mais um salto, uma bolsa pendia sob seu ombro, estava indo embora. A encarei discretamente enquanto bebia, o que eu não esperava era que ela se virasse e me encarasse ao ficar sozinha na parte de dentro do bar. Nossos olhos se encontraram e minha certeza se intensificou ao ver a máscara preta sobre os olhos castanhos claros dentro do gorro. Ficamos nos encarando por alguns segundos até que a bartender chegou e elas reiniciaram a conversa. Quando ela saiu, seu olhar pairou sobre o meu novamente, e eu precisei me conter para não me levantar e seguir atrás dela.
— É ela. — Falei para a bartender. — É sobre ela que eu quero saber.
— A Nyx. — A bartender abriu um sorriso malicioso. — Você e todos os caras para quem ela se apresenta.
— Nyx é o nome dela? — Perguntei ignorando a ultima parte.
— Sim. — Ela assentiu se apoiando no balcão. —É como ela é chamada aqui dentro.
— E em quais outros dias ela dança? — Perguntei curioso.
— Somente por pedido vip. — A mulher respondeu dando de ombros.
— E como eu faço para contratá-la novamente? — Perguntei.
— Agende a sala e peça por Nyx. Se ela estiver disponível, você poderá contratá-la. — A mulher respondeu.
Eu assenti e voltei a encarar meus amigos que me encaravam espantados.
— O quê? — Dei de ombros fazendo uma careta.
— Você não está pensando em voltar aqui só para vê-la novamente, não é? — Jack me encarou estreitando os olhos.
— Claro que não. —Bufei virando o copo de Uísque de uma vez só.
— Você é um péssimo mentiroso. — Dylan falou negando com a cabeça.
— Qual o próximo passo dessa despedida? — Perguntei desviando do assunto. — Precisamos de mais algumas mulheres para tornar tudo mais divertido.
— Aí está ele! — Jack falou pegando o copo.
Eu abri um sorriso pervertido.