Capítulo 4: O Desastre

A luz da manhã filtrava suavemente pelas cortinas entreabertas do quarto de Kael, pintando o ambiente com tons dourados e preguiçosos. Tobias acordou sentindo um calor agradável, o peso confortável do corpo de Kael ao seu lado, a respiração suave na nuca. Era uma sensação de paz e contentamento que ele não experimentava há muito, muito tempo. Contrastava bruscamente com as manhãs solitárias e apressadas que se seguiram aos seus encontros casuais.

Com Kael, a noite anterior havia sido mais do que física; houve uma conexão, uma leveza e uma sinceridade que o tocaram profundamente. Ele se virou com cuidado para encarar Kael, que ainda dormia, o rosto relaxado e bonito. Um leve sorriso se formou nos lábios de Tobias. Talvez Niran estivesse certo. Talvez ele estivesse pronto para receber algo novamente.

Kael despertou lentamente, seus olhos encontrando os de Tobias. Um sorriso genuíno e caloroso iluminou seu rosto. "Bom dia", ele sussurrou, a voz um pouco rouca pelo sono.

"Bom dia", Tobias respondeu, sentindo o sorriso se alargar. O silêncio confortável se instalou por um momento, apenas o som de suas respirações e o barulho distante da cidade que começava a despertar.

Kael se espreguiçou e se aninhou mais perto de Tobias. "Eu... eu adorei a noite de ontem", ele disse, a voz um pouco mais firme agora, mas com um toque de vulnerabilidade. "Gostaria de... de repetir?

O coração de Tobias deu um salto. Não de pânico ou necessidade de fuga, mas de uma esperança genuína. Ele gostou da sinceridade de Kael, da forma direta como ele expressava seus desejos.

"Eu também", Tobias admitiu, sentindo-se estranhamente à vontade para ser honesto.

"Que bom", Kael sorriu, parecendo aliviado e feliz.

"Então... podemos trocar contatos? Pra gente combinar de se ver de novo?" Kael se afastou um pouco para pegar o celular que estava na mesinha de cabeceira.

"Claro", Tobias concordou, animado. Ele também se moveu para pegar seu próprio celular, que havia guardado no bolso da calça na noite anterior. Sentou-se na cama, buscando o aparelho no bolso lateral.

Foi naquele instante que aconteceu. Ao puxar o celular, algo escorregou do mesmo bolso onde ele havia guardado a aliança na noite anterior, lá no bar. Um pequeno círculo de metal polido caiu na cama com um leve tilintar antes de rolar suavemente e parar bem à vista, entre eles.

Tobias olhou para o objeto, seu sangue gelando instantaneamente. A aliança. Ele a havia esquecido completamente, tanto no bolso quanto em sua mente, envolvido pela atmosfera com Kael. Seu coração começou a acelerar, não mais de esperança, mas de um medo súbito e paralisante.

Kael também olhou. Seu sorriso desapareceu em uma fração de segundo. Os olhos, antes calorosos e cheios de afeição, se arregalaram em choque, depois se estreitaram em descrença e, finalmente, se inflamaram com uma fúria gelada. Sua mão tremeu ao apontar para o anel.

"O que... o que é isso?", a voz de Kael era um sussurro perigoso, mal reconhecível.

tobias sentiu a garganta secar. As palavras ficaram presas. "Kael, eu posso..."

"Não!", Kael gritou, pulando para fora da cama, o lençol caindo ao redor de seus quadris. Sua postura relaxada deu lugar a uma rigidez tensa e acusadora. Ele não parecia mais o jovem doce da noite anterior; parecia ferido e perigoso. "Você está... Você é casado!"

A acusação atingiu Tobias como um golpe físico. "Não, Kael, não é o que você está pensando! É complicado, eu posso explicar!" Ele tentou se aproximar, estendendo a mão, mas Kael recuou como se Tobias fosse uma ameaça.

"Explicar o quê?!", a voz de Kael estava embargada pela dor e raiva. Lágrimas começaram a se formar em seus olhos, tornando sua fúria ainda mais intensa. "Que você me enganou a noite toda?! Que você usa essa aliança enquanto dorme com outros homens?!"

"Não durmo com outros homens! E a aliança... ela não significa que eu sou casado agora! É uma história longa, uma fase..." Tobias estava tropeçando nas palavras, desesperado para desfazer o mal-entendido, mas a surpresa e o pânico o impediam de ser coerente.

Kael negou com a cabeça, a dor em seu rosto se solidificando em uma resolução fria. "Eu sei o que uma aliança significa, Tobias! Significa que você tem um compromisso com outra pessoa! E você... você estava aqui comigo... Me usando!"

Ele deu um passo para trás, a voz caindo para um tom baixo e cortante, carregado de uma dor antiga. "Eu não quero ser a amante. Nunca. Meu pai... meu pai tinha uma amante. E eu vi o que isso fez com a minha mãe, com a minha família. Eu não aceito isso na minha vida! Não vou ser 'a outra' de ninguém!"

A revelação sobre o pai de Kael deu a Tobias um vislumbre do motivo de sua reação ser tão extrema, tão imediata. Não era apenas a aliança; era uma ferida antiga, reaberta pela sua aparente traição. Mas a compreensão não o ajudou a encontrar as palavras certas.

"Kael, por favor, me escuta! Não há ninguém! Eu não sou casado! Essa aliança é... é um símbolo de uma mentira passada, de uma dor que eu usei de forma errada... mas não é um casamento ativo!"

"Uma mentira passada?! Você a carrega no bolso, Tobias! Ela caiu de você!", Kael não o deixou terminar. Seu rosto estava contorcido pela dor e pela repulsa. "Saia daqui."

"Kael..."

"SAIA!", Kael gritou, apontando furiosamente para a porta. "Pegue suas coisas e vá embora! Agora! Eu não quero te ver mais!"

O choque e a dor no rosto de Kael eram inegáveis. Sua resolução era absoluta. Não havia espaço para explicação, não havia vontade de ouvir.

A confiança construída na noite anterior foi pulverizada pela visão daquele pequeno anel.

Tobias se sentiu impotente. Qualquer tentativa de argumentar só piorava a situação. Ele viu nos olhos de Kael a mesma dor que ele sentiu dois anos atrás, e percebeu que, com sua fachada e seu jogo, ele havia causado uma dor semelhante, mesmo que o contexto fosse completamente diferente.

Com as mãos tremendo, ele rapidamente pegou suas roupas espalhadas pelo chão, vestindo-as às pressas sob o olhar acusador e magoado de Kael. Cada peça de roupa vestida era um passo de volta para o cinismo e a solidão que ele pensou ter deixado para trás na noite anterior.

Pegou a aliança que ainda estava na cama, fria e pesada, e a apertou na palma da mão. Aquele objeto, que ele usava para controlar a distância, havia causado a mais dolorosa das distâncias.

Sem mais uma palavra, porque Kael claramente não suportava mais a sua presença, Tobias se dirigiu à porta. O silêncio no apartamento era agora opressivo, quebrado apenas pela respiração ofegante de Kael e o batimento acelerado do coração de Tobias.

Ele abriu a porta e saiu para o corredor, o ar frio do exterior parecendo um choque. A porta se fechou atrás dele com um clique final, selando o fim abrupto de algo que mal havia começado. Tobias ficou parado no corredor por um momento, sentindo o peso da aliança em sua mão fechada. Ele havia tentado escapar da dor e da traição, usando um símbolo da mentira como escudo, e ironicamente, essa mesma mentira, ou a percepção dela, acabou por causar uma nova e profunda dor, tanto para Kael quanto para si mesmo.

Ele foi expulso do paraíso inesperado que encontrou na noite anterior, deixado sozinho com a verdade dolorosa de que suas defesas estavam desmoronando, e que seu jogo o havia levado a ferir alguém que parecia realmente especial. A manhã, que começou com esperança, terminou em desastre.

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