Capítulo 3

[ New York, Manhattan, Upper East Side — Visão de Aya Millenis]

— O que acha de sairmos para beber? — Leandro sugere — Não fazemos isso a mais de um ano — comenta enquanto arruma os papéis em sua mesa.

Já faz mais de um ano que não saímos todos juntos em um programa, Leandro vive chamando, mas tanto eu, quanto minha irmã vivemos ocupadas, ela por causa do trabalho, já eu...

— Irei no orfanato — respondo sorrindo.

— Entendo, não consegue ficar muito tempo longe dela.

— Eu gosto tanto dela... Hoje irei com minha irmã.

— Bem, então aproveitarei para levar minha gata em um passeio. Ah não... Ela também vai está no orfanato, parece que agora vocês me excluem dos programas. Me sinto sozinho! — oh drama, seguro a vontade de rir.

— Não seja tão melodramático, isso não é o seu forte.

— Está certa, irei esperar ela voltar, acho que um cinema às oito não é má ideia.

— É uma boa ideia, e faz muito bem, manter o romance no casamento é muito saudável.

— Sim, é verdade. Então, até amanhã Aya.

— Até — aceno e volto a organizar os papéis.

Depois de guardar tudo em seu devido lugar pego minha bolsa e saio da sala, caminho para o estacionamento da empresa, o tempo realmente passou voando, estou trabalhando aqui há três anos. Leandro tem um ano e meio, mas já ocupa o cargo de diretor do setor de desenvolvimento de economia, agora sou a secretária dele.

A dois anos venho visitando o orfanato Zion, Luana é a diretora de lá, mas para a infelicidade de todos, quando ela entrou o orfanato começou a passar por muitos apertos, o governo virou as costas e as sociais para doação não estavam mais dando certo, ninguém queria ajudar um orfanato que não tem nenhum prestígio positivo, a antiga diretora desviava dinheiro e maltratava as crianças. Há dois anos, uma bebê foi abandonada no orfanato, ela hoje vai completar dois aninhos de idade, queria muito poder adotá-la, mas não posso por está solteira.

Saio de dentro da caixa de metal e sigo para o estacionamento da empresa, entro no meu Audi A4 prata e sigo para a casa da minha irmã, o percurso leva cerca de dez minutos.

— Pensei que não ia mais sair da empresa — fala enquanto entra no carro e j**a uma enorme sacola no banco de trás.

— E perder o aniversário da minha pequena? Nunca! — assim que ela fecha a porta dou partida no carro.

Não levarei nada como bolo ou coisas para festa, tem muitas crianças lá e não seria justo fazer apenas para uma, então irei levar apenas uma lembrancinha. Minha irmã ontem levou lembrancinha para todos, só para me dar a desculpa de hoje dá lembrancinha apenas para ela.

— Amanhã iremos na balada, você precisa arrumar logo um marido, Luana falou que tinha alguns casais de olho na pequena — ela dá uma pausa e nós duas suspiramos — Um pena os amigos do Leandro terem desistido de última hora.

Nesse momento eu me encolho, eles desistiram porque depois de um mês eu não quis passar para a próxima fase. A um ano e meio venho tentando conseguir um marido para poder adotar Heloysie, mas a cada homem que encontro, o fracasso sempre vem dentro de um mês. Eu não contei a ninguém o porquê deles desistirem, e fico grata por eles também não terem contado, eu não suportava nem quando eles tocavam em meus braços. Sentia que o lugar daquelas mãos não eram em mim, não sei explicar, não tenho trauma, mas não entendo o porquê de não conseguir, não tenho o ideal de me casar virgem como meus pais sempre quiseram, mas acho que no fundo sinto que não encontrei a pessoa certa e deve ser isso que me trava.

Lembro de como foi a conversa com o primeiro pretendente:

“— Quer ir pra minha casa ou para a sua? — Luan me pergunta já dentro do carro, estávamos no restaurante conversando sobre a visita dele à criança na segunda-feira.

— Para minha casa — respondo cansada, tudo o que eu quero nesse momento é colocar os pés para cima e dormir de forma bem confortável.

Sinto a mão dele pegar minha coxa, meu corpo todo fica tenso na mesma hora.

— Relaxa amor, quando chegarmos em sua casa irei te fazer ver estrelas!

— O que quer dizer? — pergunto me segurando para não gritar.

— Você irá gozar muito no meu p.a.u — fala sorrindo e sinto meu estômago revirando.

— Nã-Não... Não iremos transar!

— Por que não? — retira a mão da minha coxa, respiro aliviada.

— Porque eu não quero — respondo firme.

— Então eu tenho que aceitar uma criança que nem é minha, me casar com você em duas semanas e nem a piriquitá quer me dar? Ou melhor, já temos um mês saindo e nem um beijo de língua você me deu, acha que sou gay pra ficar de selinho? — me olha incrédulo.

— O seu sonho não é ter uma família?

— Eu quero é te comer!

Agora quem tem o olhar incrédulo sou eu, as palavras de minha mãe retornam em minha mente, “você é só uma vadia que vão comer e jogar fora!”— a raiva me sobre a mente.

— Pare o carro — ordeno.

— Como é?

— Mandei você parar a droga do carro, pare agora! — falo alto e ele freia bruscamente.

Abro a porta e saio, mas antes de fechar:

— Você é um homem nojento, nem deveria se considerar um homem! — bato a porta com força.”

Sacudo minha cabeça para afastar da mente essas lembranças, estou me sentindo sem esperança.

— Não se preocupe mana, vamos encontrar — fala confiante.

Apenas aceno com a cabeça, é como dizem, a esperança é a última que morre. Depois de quinze minutos estaciono na frente do orfanato e respiro fundo, vou matar a saudade do fim de semana longe dela.

[ Visão de Leandro Silva]

— Leandro — ouço a voz do senhor Gustam e paro de andar, me viro para ele, não é comum encontrá-lo aqui.

— Algum problema, senhor? — pergunto preocupado, será que houve algum erro nos relatórios do meu setor? Impossível, Aya sempre revisa tudo.

— Não, não, você e Aya sempre fazem um ótimo trabalho  — me sinto aliviado, então ele continua: — É outra coisa.

— O que?

— Meu filho está chegando de viagem, ele finalmente terminou os estudos e agora irá assumir o meu lugar como o presitende desta empressa.

Suas palavras pesam em minha mente, sinto a culpa pesar em minha consciência, nunca me desculpei com Iuri pelas coisas que dizia e fazia a ele, mas quem imaginaria que eu acabaria trabalhando para o pai dele e, consequentemente, para ele. Não sei com que cara irei encará-lo, mas espero que ele não me demita, em apenas um único ano consegui um cargo bem alto, agora vivo bem e tenho minha própria casa e família. Luana está grávida de quatro meses. 

A maioria das lembranças que eu tenho não são boas, eu lembro que a mais de vinte e cinco anos minha mãe se casou com Carlos quando eu tinha cinco anos de idade, meu pai havia falecido em um acidente de carro, ele estava bêbado e bateu em um poste, o carro explodiu e ele morreu na hora, se quer lembro de seu rosto, tudo o que lembro é das surras que ele dava em mim e em minha mãe. Ele não deixou nada, e em apenas seis meses, minha mãe conheceu seu "marido", no início ele era gente boa, ele era uns quarenta anos mais velho que minha mãe, ele a tratava bem, mas depois que fiz doze anos de idade, ele se aposentou e se tornou um velho nojento, eu não suportava nem ficar na mesma presença que ele.

Depois da morte de meu pai, eu me tornei uma criança complicada que só se metia em problemas e fazia chacota com a cara dos outros, a pessoa que eu mais peguei no pé foi justamente com Iuri Stevens, o filho do meu patão. Com o passar do tempo, práticar issas coisas foram me cansando, não vou mentir dizendo que me tornei um exemplo de pessoa, eu fiz uma coisa com Aya que eu sei que jamais terá perdão, mesmo ela me dizendo para deixar o passado onde ele está, no passado. 

— Fi-fico feliz senhor Stevens — acabo gaguejando, que droga!

— Bem, quero que chegue bem cedo amanhã e junto dos os outros diretores, irei anunciar a chegada do meu filho — fala com um sorriso gigante, apesar de tudo eu fico realmente feliz, sei o quanto o senhor Gustam aguardou ansioso pelo retorno do filho.

— Pode deixar — sorriu amarelo, estou com medo. Mas se ele me demitir, será bem feito pra mim, ninguém mandou eu ser idiota daquele jeito.

Ah aquele maldito baile, ainda lembro de ver pela primeira vez o ódio nos olhos do Iuri:

"Sem dizer uma palavra sequer, Iuri vem em minha direção, ergue a mão fechada em punho e acerta um soco de direita na minha boca. Ele é muito mais baixo que eu, mas eu mereço então não desconto e nem me defendo, apenas aceito o soco.

— Você é um lixo, um canalha, o que você fez na vida daquela menina não tem perdão, você é pior que merda! — a verdade dói, o que diz não tem perdão.

— Eu sei. 

 É tudo o que consigo dizer" — a voz do senhor Gustam me tira de meus pensamentos.

— Bem, agora pode ir — ele vira de costas e caminha retornando o caminho que andou.

Sigo para meu carro,  respiro fundo, não irei conseguir levar minha esposa para passear, ficarei me corroendo de ansiedade e medo até a hora de encontrar com Iuri.

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