7: Risotto e Revelações
POV SEBASTIAN
Por que eu concordei com isso?
A pergunta martelava na minha cabeça como um martelo implacável enquanto revisava os mesmos contratos pela terceira vez na última hora. As palavras começavam a se embaralhar na página, perdendo o sentido.
Era uma questão que me assombrava há semanas — desde aquele maldito dia em que tudo começou — mas que se tornou ainda mais insistente depois da conversa tensa com Harrison.
Por que diabos Sebastian Blackwood, CEO de uma das empresas mais respeitadas de Manhattan, havia concordado em fingir ser casado com seu próprio secretário?
Por impulso? Por compaixão? Por algum senso distorcido e equivocado de responsabilidade?
Nada disso fazia o menor sentido.
Eu não sou impulsivo. Nunca fui.
Cada decisão na minha vida sempre foi calculada, medida, planejada com três passos de antecedência.
Mas quando Oliver me olhou naquele dia — com aqueles olhos âmbares cheios de pânico puro e desespero cru — algo dentro de mim simplesmente... cedeu.
Como uma barragem que se rompe.
E agora estava preso numa situação impossível que se tornava mais complicada, mais sufocante, a cada dia que passava.
Olhei para o relógio de pulso. Seis e quarenta. Oliver provavelmente já estava em casa me esperando.
Casa.
Quando foi que comecei a pensar no apartamento como "casa" e não apenas "meu apartamento"?
Talvez fosse hora de tentar entender melhor o homem com quem estava dividindo minha vida. Meu espaço. Minha realidade distorcida.
Quando abri a porta do apartamento, encontrei Oliver saindo do banheiro.
Ele estava no corredor, com o cabelo loiro ainda úmido pingando levemente nos ombros da camiseta simples, vestindo calças de moletom cinza que pareciam dois tamanhos maiores que o necessário.
Havia algo perigosamente doméstico sobre aquela cena — algo íntimo demais — que me fez hesitar na entrada como um idiota.
— Oi — disse ele, parecendo genuinamente surpreso por me ver parado ali feito uma estátua. — Cheguei há pouco. Estava pensando em pedir comida chinesa...
— Na verdade — interrompi, tirando as chaves do bolso —, pensei em cozinhar hoje.
Ele piscou, os olhos arregalados de surpresa.
— Você cozinha?
— Cozinho. — Tirei o paletó, pendurando-o no cabideiro, e afrouxei a gravata que parecia estar me estrangulando o dia inteiro. — Vou tomar um banho primeiro.
Depois podemos... jantar juntos.
Juntos.
A palavra saiu muito mais natural do que eu esperava, fluindo da minha boca como se sempre tivesse pertencido ali.
Quarenta minutos depois, estava na cozinha preparando risotto de cogumelos.
Era uma receita que eu conhecia de cor — podia fazer de olhos fechados se necessário — algo que podia executar sem muito esforço mental, deixando minha mente livre para processar os eventos caóticos do dia.
O som repetitivo da faca contra a tábua de corte era quase meditativo.
Oliver apareceu na entrada da cozinha, hesitante, como se não tivesse certeza se era bem-vindo.
— Posso... assistir? — perguntou ele baixinho.
— Pode sim.
Ele se encostou na ilha da cozinha, me observando cortar os cogumelos em fatias uniformes.
Havia algo estranhamente relaxante no ritual da culinária — a precisão cirúrgica dos cortes, o timing perfeito para adicionar o caldo, a atenção constante que não deixava espaço para pensamentos complicados sobre casamentos falsos e sentimentos confusos.
— Como foi seu dia? — perguntei, tentando soar casual e provavelmente falhando miseravelmente.
Oliver pareceu genuinamente surpreso com a pergunta, como se fosse a coisa mais improvável do mundo eu demonstrar interesse.
— Normal, eu acho. Muitos telefonemas irritantes, alguns relatórios entediantes. E você?
— Harrison voltou hoje.
Senti-o tensionar instantaneamente ao mencionar o nome, seu corpo inteiro ficando rígido.
— E como foi?
— Complicado. — Adicionei mais caldo ao risotto, mexendo lentamente no movimento circular que minha mãe me ensinou. — Ele está... questionando nossa situação.
— Isso vai ser um problema?
— Quem sabe... — Suspirei, sentindo o peso das complicações futuras pressionando meus ombros.
Ficamos em silêncio por alguns minutos eternos. Oliver me observava cozinhar com uma intensidade que eu podia sentir queimando nas minhas costas, e tinha certeza de que ele queria dizer algo mais.
— Sebastian? — disse ele finalmente, a voz carregada de hesitação.
— Hm?
— Seus pais... como eles estão? Não os vejo há algumas semanas.
A pergunta me pegou completamente desprevenido, fazendo minha mão hesitar sobre a panela.
— Estão bem. Ocupados, como sempre.