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Lívia

Durante o caminho conversamos sobre muitas coisas, inclusive mais uma vez tocamos no assunto do tempo em que ficamos separados por culpa de Mariana que escondeu de ambos nossa existência.

Foi o dia de mais euforia da minha vida quando eu estava limpando em cima do guarda roupas da minha mãe que havia ordenado que eu faxinasse toda a casa naquele dia, e encontrei uma caixa velha e empoeirada, não resistindo a curiosidade, olhei dentro. Acabei encontrando fotos dela com um homem que imediatamente lembrou-me de mim mesma, por tamanha semelhança.

Eles pareciam jovens, acho que tinham minha idade, dezessete anos. Também havia um número de telefone rabiscado atrás da foto. Imediatamente soube que era meu pai, algo dentro de mim me disse.

Mais tarde, a noite, confrontei Mariana, acabei levando uma surra pelo meu tom de voz, no entanto, acabou falando em meio as sintadas que me dava, que ela odiava aquele homem e que eu nunca iria encontrá-lo, porque eu não deveria

sentir o que é o amor de um pai, porque ela desistiu dos sonhos por minha causa e que só decidiu ficar comigo porque eu era uma menina e poderia me fazer casar com um homem rico quando tivesse idade suficiente.

Eu chorei até não conseguir respirar naquele dia, meu coração doeu tanto, foi as piores palavras que ela já falou para mim, que não foram poucas durante toda minha vida.

Balancei a cabeça tentando afastar aquelas lembranças ruins. Eu estava feliz agora, teria uma nova vida e ninguém iria me maltratar, nunca mais.

— Obrigado por ter ligado. Eu mantive aquele número durante anos, só para o acaso de Mariana decidir me ligar dizendo que não tinha abortado.

— Ela me disse várias vezes que deveria ter feito, que só de olhar para mim, sentia nojo por eu me parecer tanto com você. — minha voz saiu amarga, cheia de mágoa.

— Nós éramos muito jovens, mas eu jamais te rejeitaria. Quando ela me disse que estava grávida, nós já não estávamos namorando mais, ela estava com outro cara, com quem me traiu, mas eu disse que queria o bebê, porém ela disse que abortaria. Eu implorei para que não fizesse isso, que ao menos gerasse e desse para mim a criança.

— Sim, ela contou no dia em que descobri sobre você, que ela tentou dizer ao atual namorado dela na época, que estava grávida dele, mas ele a rejeitou e a humilhou.

— Eu soube disso, até tive minhas dúvidas se eu era realmente o pai do bebê. Pedi novamente a ela que não abortasse, anotei meu número em uma foto nossa e entreguei a ela, falei que ela tinha escolha, com a intenção de amolecer seu coração.

— Mas ela não tem um. — comentei, com tristeza.

— Ela não tem. — afirmou — Então eu precisei sair da cidade, fui trabalhar com meu pai em sua fazenda, mas sempre na esperança de que ela ligasse. Ela nunca fez.

— Você disse que tentou entrar em contato com ela.

— Sim. Por várias vezes. Mas ela passou a fugir de mim, como o diabo foge da cruz.

— Ela disse que a mãe dela, minha avó, a prendeu em um quarto para que ela não interrompesse a gravidez. E é só por isso que eu estou aqui hoje. Mas a vovó morreu um dia antes que eu nascesse, porém Mariana disse também, que não teve coragem de me abandonar no hospital ou me deixar na porta de alguém e que por eu ser uma menina, poderia dar um bom futuro para ela quando crescesse e me casasse com um homem rico.

— Mas está tudo bem agora, minha princesa. Você está comigo, com seu pai. Farei tudo por você.

— Obrigada. — dei um sorriso reconfortante.

Algum tempo depois, chegamos a fazenda. Desci do carro com curiosidade, buscando olhar tudo ao meu redor. Fiquei encantada. Só o cheiro do lugar trazia uma paz interior, o verde da natureza resplandecia por toda parte, havia animais sendo cuidados por pessoas, o céu parecia muito mais azul e a minha frente estava a casa que eu iria morar, era enorme e rústica, dois andares e cercada por uma longa varanda. Simplesmente perfeita.

— Uau! — exclamei — Posso caminhar um pouquinho? — perguntei olhando para meu pai, ele assentiu dando um sorriso alegre.

Comecei a andar pela fazenda, cumprimentei algumas pessoas trabalhando e continuei seguindo, conhecendo o espaço incrivelmente bonito, avistei um celeiro que com certeza iria querer conhecer melhor em outra ocasião, eu amava cavalos e meu sonho era ser veterinária um dia.

Depois de alguns minutos decidi voltar para conhecer minha nova casa, no caminho um barulho de choro de animal chamou minha atenção, imediatamente corri em direção ao barulho, afastei alguns arbustos e encontrei um cachorrinho preto aparentemente três meses, deitadinho chorando. Meu coração partiu. Tentei me aproximar mas ele estava assutado.

— Calma... Eu não vou te machucar...

Comecei a acariciar sua cabeça até que senti que ele me deixaria pegá-lo, quando soube o fiz. Ele estava com uma patinha machucada e pingava sangue, abracei o animalzinho e marchei rápido em direção a minha casa.

— O que está fazendo? Quem é você? — parei quando ouvi uma voz grave ressoar. 

Quando olhei para trás, avistei um homem alto e de ombros largos, uma muralha de músculos. Era muito bonito e forte. Sua camisa de botões entreaberta não conseguia esconder seu peito musculoso. Seus cabelos caíam sobre os ombros, os fios tinham cor marrom e usava um chapéu estilo cowboy.

Meu coração deu um salto quando fixei os olhos no rosto dele. Tinha sobrancelhas escuras e lábios carnudos. Um calafrio percorreu meu corpo quando me surpreendeu o pensamento que me ocorreu sobre como seria beijar aqueles lábios. Do nada.

— Estou falando com você. — ele disse, um pouco mais perto de mim.

Limpei a garganta.

— Eu me chamo Lívia, sou a filha do Heitor, irei morar aqui a partir de hoje. — percebi seu olhar se abrir parecendo surpreso — Eu estava dando uma volta quando vi esse cachorrinho machucado. Eu estava levando-o para dentro, para cuidar dele.

— É meu, eu estava procurando por ele, me entregue. — pediu autoritário e eu sem hesitar entreguei o bichinho, dando uma última acariciada em sua cabeça.

— Espero que ele melhore. — dei um sorriso simpático, sentindo minhas bochechas mais quentes que o normal.

O homem apenas virou as costas e se foi, levando o cachorrinho, fiquei estagnada, boquiaberta.

— Mas que... Grosseiro, ingrato! — murmurei — De nada tá? — gritei para que ouvisse

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