Helena Dcastelli
Ele estava inconsciente, machucado, como isso poderia ser bom pra ele? O meu mundo é perigoso e cruel.
— O que ele significa pra você, Helena? — Heitor andava de um lado para o outro da sala. Lucas estava no sofá, ele havia machucado o braço na queda, mas já cuidei do ferimento.
— Nada!
— Você sabe que não pode mentir para mim! — Gritou — Sou seu gêmeo, sei quando mente, e esqueceu que podemos ler o pensamento um do outro!
— Não! E sei que não vê nada!
— Você está mantendo sua mente quieta, isso já é sinal suficiente de que esconde algo, você nunca fica calada, chega a me deixar com dor de cabeça de tanto que pensa.
— Bom...Carjás não...
— Não pode saber? Sabe que pode confiar em mim, acha que vou deixar ele te torturar? — Heitor passou as mãos no cabelo demonstrando um pouco de emoção em suas palavras seguintes — Somos ligados, se ele te torturar eu vou sentir também, e não quero esse fim pra você — Disse olhando diretamente nos meus olhos.
— Lucas é o meu destinado — Revelei.
— Pensei que isso fosse lenda — Disse Heitor cuidadosamente.
— Não é.
— Carjás não pode saber! Você vai ficar ainda mais forte ao se unir a ele. Somos gêmeos, gêmeos já são fortes…
— E somos os únicos gêmeos de todo o clã bruxo — completei.
— E apenas por isso Carjás nos tolera. Mas ele tem medo de tomarmos o seu poder. Se ele souber do garoto, vai matá-lo. E a morte dele, será dolorosa para você.
— Eu sei! Sei disso tudo! Disse pra Lucas ficar longe, disse! — Eu estava revelando demais sobre mim, mas nesse momento e nessa situação eu não conseguia desligar minhas emoções.
— Helena, precisamos resolver o caso Sofia Lorson e depois vamos embora. Carjás não vai querer ficar mais tempo aqui.
— Helena não irá para lugar nenhum sem mim! — Olhamos para o lado assustados.
Lucas estava sentado no sofá nos observando.
— Escutou tudo? — perguntou Heitor.
— Sim, e posso entender muita coisa agora, mas como disse Helena não vai se afastar de mim, nunca. Eu não vou permitir.
— O que você pode fazer? Você é um humano idiota — Debochou Heitor.
Lucas sorriu de lado.
— Tem muitas coisas que vocês não sabem sobre mim e sobre essa cidade.
Lucas tirou o curativo do braço. Arregalei os olhos ao ver o local onde deveria estar um enorme arranhão bem feio e profundo, porém não tinha nada ali, a ferida havia sumido, mas como?
Heitor também percebeu e me puxou para longe de Lucas.
— Não toque nela. Não adianta nada, ainda mais agora que sei a verdade, nunca permitirei que afastem Helena de mim.
— Quem é você? — Perguntei alarmada.
— A pergunta correta é: O que eu sou.
Lucas andou para perto de nós.
— Acho que você já sabe, Helena.
Arrepiei-me da cabeça aos pés. Não! Não podia ser isso. Dei um passo para trás em desespero e choque.
“Me diz que não é o que estou pensando” — Heitor sussurrou em minha mente.
Assenti levemente.
“Sim, Heitor, ele é um lobisomem”.
“Corre agora!” — gritou ele, e foi o que fizemos. Atravessamos a rua e fomos para o bosque que existia do outro lado.
— Helena! — Gritou Heitor. Olhei para trás por um segundo e vi Lucas saindo da casa. Parei e o encarei. Ele paralisou também.
— Helena? — apontei a mão pra ele, mas antes que pudesse afastá—-o de nós, ele se transformou, fiquei tão chocada que caí pra trás sentada, o imenso lobo preto se aproximou de mim.
“Você não quer fugir de mim, Helena. Você já me ama. Não tente negar.”
“Helena!” — Virei—me para o lado e percebi que Heitor voltou e em seguida convocou uma ventania em cima de Lucas, a ventania foi intensa, mas Lucas mal saiu do lugar, e nós sabíamos exatamente o motivo, quando os lobos estão transformados são imunes ao poder de um bruxo. Eles estão praticamente extintos. Lucas é o primeiro que ouço falar. Na verdade...vejo.
Raven realmente parece ser um lugar com muitos segredos.
— Fique longe dela! — Gritou Heitor, afastei-me lentamente, fazendo Lucas rosnar, assustando-me o suficiente para não me mover mais um centímetro sequer.
Ele levantou a cabeça e uivou. Segundos depois vários lobisomens começaram a sair da escuridão do bosque e pude escutar mais uivos ao longe. Lucas se destransformou, ficando completamente nu, desviei o olhar, então alguém jogou uma roupa pra ele, e quando levantei a cabeça ele já estava vestido.
“Levante-se” — disse Heitor na minha mente.
Um dos lobos estava vigiando-o.
Olhei para ele. “Precisamos sair daqui, Heitor.”
“Eu sei, mas como? Há muitos deles! E não podemos chamar Carjás.”
“Heitor, você sabe que se nós não voltarmos, ele vai nos encontrar e vai descobrir sobre Lucas.”
“Deveríamos ir embora, desaparecer! Encontramos a vampirinha e sumimos.”
— O que eles estão fazendo? — perguntou o cara ruivo.
— James, você sabia que um dos dons dos gêmeos bruxos é conversar pelos pensamentos? — informou Lucas sorridente.
— Como os lobos?
— Sim — disse Lucas, me levantei, o que chamou a atenção do Lucas.
— Lobos! — Gritou — Quero que conheçam minha destinada, Helena! Sim, sei que isso é extremamente raro, mas é verdade, seu líder encontrou sua outra metade — Mais uivos — Vamos pra alcatéia.
— Não! — Gritei, Lucas segurou- pelo cotovelo e saiu puxando-me, mas resisti o quanto pude, mas ele era incrivelmente forte, eu poderia usar meus poderes nele, é verdade, pois ele está em sua forma humana, mas quanto eu estava disposta a arriscar a vida dele?
Não poderia.
— James! — Um cara ruivo segurou o meu outro braço, eles praticamente me carregaram, enquanto eu sacudia os pés.
— Por favor, não! — Se eles nos levassem, Carjás iria saber dos lobos, iria saber de Lucas — Ele vai chegar até vocês.
— Seu pai? Carjás? Quero vê ele tentar tirar você de mim — Lucas disse com ódio contido.
— Parem! — Gritou Heitor correndo atrás de nós — Não podem fazer isso — Heitor foi silenciado por um soco no rosto, me fazendo gemer de dor, pois fomos pegos de surpresa.
— Não batam nele! — disse Lucas — Ele colocou meu rosto entre as suas mãos — O que é isso? — Perguntou.
— Somos gêmeos bruxos, somos conectados, lemos o pensamento um do outro, sentimos a dor um do outro — Era assim, mas a forma que eu dizia isso parecia algo bem pior, e fiz o meu melhor para que Lucas sentisse pena disso.
— Se ele morrer, você morre?
— Não, mas sinto todo o sofrimento, vocês não entendem, Carjás é o nosso pai. Temos laço de sangue, com isso ele pode nos encontrar onde estivermos.
— Não na alcatéia — disse James — Lá ninguém pode ser encontrado.
Fomos arrastados para a alcatéia. Mesmo que Carjás não pudesse nos encontrar como iríamos sair? Deixaremos de ser prisioneiros de um para ser de outro?
Quando chegamos na alcatéia havia mais lobos, e isso era completamente assustador. Estávamos em um lugar em que não podíamos nos defender, não podíamos lutar e muito menos fugir.
“Irmã, isso não é bom!” — Lucas deixou que Heitor e eu caminhássemos sem estar sendo segurados por dos seus lobos.
“Eu sei. Tem muitos deles.”
“Estou perplexo, você se lembra das histórias de Carjás sobre a morte da nossa mãe.”
“Sim. Ele vai querer destruir Lucas e todos os outros por simplesmente existirem.”
“Sim, e nos destruirá também, sei que não permitirá que ele faça algo com Lucas, e eu não permitirei que ele faça algo com você. Precisamos ir embora antes que ele encontre esse lugar e Lucas.”
“Sim!” — Disse eu
— Deixe-os na minha cabana— Ordenou Lucas.
— Temos escolha? — Alfinetei, ele estreitou os olhos e estendeu as mãos para mim, encarei sua mão estendida e passei direto por ele, que soltou uma risada, colocou-se ao meu lado em seguida, acompanhando-me na caminhada, ele passou os braços ao redor dos meus ombros e me guiou até sua cabana.
— Solte-me — Resmunguei, tentando me livrar dos braços dele.
— Não, Helena, não vou te largar nunca mais — Ele pressionou a mão no meu ombro — o destino nos escolheu, e sei que se importa comigo, e quer me proteger me mantendo longe, mas eu também quero te proteger e vou, mesmo que você lute contra.
Chegamos a uma cabana, ele abriu a porta e me deixou entrar, quando ele estava se virando segurei seu braço.
— Vou ter que ir, promete que vai ficar longe? — Disse eu, ele balançou a cabeça negativamente.
— Não para as duas coisas.
— Eu vou. Você não poderá fazer nada.
— Já disse que não, Nunca! — Dei alguns passos para trás, ele se afastou e me deixou ali.
Heitor apareceu na porta da cabana.
— Ele é tão iludido — Sussurrei para que Heitor escutasse.
— Eu sei maninha.
— Heitor, tenho um plano!
— Eu sei — Ele sorriu, e entrou na cabana — E vai dar certo.
Lucas é meu destinado, minha outra metade, mas eu não posso ficar com ele. Foi a espécie dele que matou nossa mãe, e se não quero virar inimiga do meu próprio pai, primeiro por ter um destinado, segundo por ele ser um lobisomem, a melhor saída é eu me afastar. Lucas não pode voltar a me ver nunca mais.