Capítulo 3

Maciel subiu, tirou as roupas e foi para o banho, ficou pensando em Elizabeth enquanto a água percorria todo o seu corpo cansado daquele dia esgotante e cheio de contratempos, vestiu seu pijama e foi para cama nem sequer quis jantar por que estava sem fome apesar de tudo.

Recebeu uma chamada de vídeo e era sua filha Ângela, que estava viajando

– Como estão as coisas? Eu estou morrendo de saudades papai!

– Me diga você Ângela, como está a viagem? O caribe é tão belo quanto nas fotos e vídeos?

Ele sorriu e ela também...

– Sim e o senhor nem pode imaginar, devia ter vindo também… quem sabe com a Anastácia? Sei que estão saindo e já está na hora do senhor encontrar uma boa companheira de viagens e de vida. Fico pensando em quanto tempo o senhor tem perdido apenas se dedicando aos negócios, você tem que curtir!

Ele abaixou o olhar e respirou fundo como se quisesse fugir do assunto, era sempre doloroso para ele tratar da vida amorosa e sempre explicar por que seguia sozinho.

– Todos nós sabemos que o senhor amava demais minha mãe, Kayo e eu sabemos disso e nunca nessa vida chegamos a questionar. Mas já se passou tanto tempo e o senhor precisa seguir em frente! Não se cansa de viver só para o trabalho, debruçado naquela mesa e revisando contratos?

– Já chega de falar de mim e seu marido tem se comportado? Ele me disse que assim que voltassem dessa viagem começaria a trabalhar comigo na empresa, ele precisa deixar de ser tão encostado e viver as suas custas. Quando se casaram eu realmente pensei que ele pudesse tomar um rumo na vida, mas tomou gosto pela vida que você dá a ele!

– Papai, por favor eu já disse para deixar esse assunto comigo, estamos aqui para que eu consiga engravidar. Não vou encher a cabeça dele com isso, pelo menos não aqui e o senhor precisa ter um pouquinho mais de paciência!

– Certo e faço isso apenas por você, mas assim que voltarem eu o quero às sete da manhã e de terno na empresa. A vida de mansa dele está com os dias contados.

– Fique sabendo que eu te amo, mesmo o senhor sendo um velho tão resmungão.

– Eu também, te amo muito princesa.

Os dois desligam os celulares...

Maciel

Algumas jovens nascem com tanto e outras com tão pouco, se Elizabeth tivesse a mesma sorte que Ângela tem, talvez não desejasse morrer. Eu preciso descobrir o que posso fazer para ajudá-la!

E lembrou-se do que Elizabeth havia lhe dito, por quais dificuldades ela poderia ter enfrentado para tentar tirar a própria vida? Esse é o limite do sofrimento que uma pessoa pode estar carregando...

Notificação de mensagem no W******p e era de Anastácia:

Como o nosso jantar foi adiado, será que podemos nos ver amanhã? Às vezes, acho que eu te sufoco, mas é que você quase nunca tem tempo para você e isso me preocupa.

Ele respondeu:

Sim, claro que você está certa e eu passarei para te buscar amanhã às vinte horas.

Elizabeth

Sim, Maciel, eu preciso te conquistar por inteiro e entrar em sua mente, roubar seus pensamentos de uma vez por todas. Não importam os meios...eu vou ter a minha vingança ainda que eu tenha que pisar em cima de muitos, nada vai me parar!

Infelizmente, eu passei a noite inteira acordada naquele leito de hospital e o cheiro de álcool e dos medicamentos me deprimia, aquele lugar era sufocante e tudo o que eu quero é sair. Amanheceu...

E só me restava clamar por dentro, para que Maciel me tire logo daqui e me dê tudo o que eu mereço, pedi a uma das enfermeiras um batom delicado, pois eu queria que ele me visse sempre bela. Mal terminei de me arrumar um pouco e ele surpreendentemente chegou cedo para me visitar e isso me faz imaginar que pensou em mim durante aquela noite, assim como eu.

– Bom dia Elizabeth, como se sente hoje? Espero que bem melhor.

Seus olhares eram perceptíveis para os meus lábios, desde o primeiro instante eu sei que ele imaginou muitas coisas comigo. Esse é mal dos homens, serem fracos!

– Ainda me sinto um pouco dolorida… e essas flores assim tão bonitas?

– Eu as trouxe para você e também para deixar esse quarto mais alegre, melhorar seu astral. – Sentei-me na cama, ele colocou as flores na mesinha ao lado e se sentou na cadeira bem de frente para mim. Estava como sempre bem perfumado e elegante eu sabia que aquele olhar insidioso, não era só uma simples e inofensiva compaixão fraternal.

– E por que você está me olhando assim? – Perguntei timidamente.

– Peço perdão, é que tenho que admitir que você mexeu comigo e além do mais, por toda essa situação...

– Por Deus, chega! Eu agradeço por tudo o que fez por mim, sei que esse hospital é caro estou sendo bem tratada aqui como nunca fui antes, mas ainda me resta um pouco de orgulho apesar de tudo. Prefiro que o senhor vá embora agora mesmo, já devem me dar alta em poucos dias e não quero que venha me olhar assim, como se eu fosse digna de piedade!

Maciel levantou-se e colocou as mãos na cintura, depois passando-as no queixo visivelmente irritado com a minha fala.

– Quanta amargura há em seu coração jovem, eu vim lhe trazer flores e assim como ontem me expulsa! Seu plano de acabar com a própria vida falhou e para sua tristeza se jogou na frente do carro errado. Isso significa, que ainda que me expulse mil vezes daqui você não vai me convencer a te largar a própria sorte.

– E... – Ele não queria me deixar dizer mais nada.

– Eu quero te ajudar, mas antes tem que me dizer a verdade e por que está assim tão deprimida e revoltada, com tudo e todos?

– Eu não posso te dizer nada!

– É claro que você pode e vai me contar tudo. Vai dizer ou prefere que eu converse com um profissional? Alguém que atenta contra a própria vida precisa no mínimo ser acompanhada por um bom psiquiatra

Maciel sentou-se mais uma vez naquela cadeira e me olhou nos olhos, não poderia adiar mais, iria ter que contar a ele tudo de uma vez.

– Não faça isso comigo por favor, não me interne. Além de tudo o que tenho passado, estou cansada Maciel, eu me sinto sozinha e fraca.

– Eu soube na recepção que você não pediu que entrassem em contato com ninguém. Por acaso não tem família ou amigos que possam cuidar de você? – Maciel perguntou e eu aproveitei o ensejo.

– Eu tinha, mas...

– Vamos Elizabeth, confie em mim e fale o que te aflige tanto a ponto de cometer uma loucura.

Suspirei fundo e olhei para ele...

– Nós éramos uma família comum e meu pai me amava demais, eu era a princesa dele. Até que minha mãe morreu e ele se casou novamente, felizmente, minha madrasta era uma boa pessoa e tinha um filho que era mais velho que eu, ele tinha 19 anos quando foram morar com a gente. Mas, meu pai foi assassinado e uns anos mais tarde, minha madrasta faleceu com câncer, ela ficou doente de tanta tristeza. Eu só tinha doze anos e não havia ninguém mais que pudesse se responsabilizar por mim...

Naquele momento, eu chorei de verdade e doía muito ter que revisitar tantas coisas horríveis do passado. Mas era preciso, Maciel tirou um lenço do bolso e me deu.

– Por favor não chore mais, se acalme e continue me contando.

– Eles me levaram então para um abrigo de menores e eu fiquei lá por alguns meses, até que meu irmão foi me buscar. Ele havia conseguido um trabalho e a casa ficou de herança toda para ele, até que eu fosse maior e pudesse reivindicar minha parte, me lembro como se fosse hoje… respirei aliviada por que finalmente eu iria para casa. Ainda que não encontrasse minha madrasta ou meu pai, aquilo ainda era meu lar.

– E depois... – Maciel estava muito interessado em saber de tudo.

– Eu cozinhava e ele pagava as contas, porque obviamente, eu não podia trabalhar ainda. Os dias passaram e ele começou a se aproximar de mim de maneira estranha, com carinhos demasiados e muito além do que devia. Eu era pequena, mas sabia que isso não deveria acontecer.

– Por Deus, você era apenas uma criança tão indefesa.

– Sim, ele me tocava e como eu sempre fui bem bonitinha, as coisas foram piorando conforme os anos iam passando. E eu como ainda era inocente, não entendia onde ele queria chegar, assim passamos alguns anos, até que quando eu completei quinze anos, ele e eu... – Engasguei com as lágrimas e não pude terminar de dizer.

– Apenas uma menina e você ainda é uma!

– O que me dói é que eu sabia sim Maciel, o que estávamos fazendo era errado e sujo e deixei acontecer, até não aguentar mais. Eu o denunciei e até hoje ele está preso, eu fugi daquela casa para não me mandarem de volta para o abrigo, passei fome nas ruas até encontrar um anjo da guarda, o Kyara!

– Kyara, e quem é ela? – Maciel questionou.

– Na verdade, é ele, ou melhor... você me entende, não é?

– Acho que entendi.

– E ele me encontrou em uma noite quando eu tinha acabado de levar uma surra das outras meninas de rua, brigávamos por tudo, seja por um pedaço de papelão para deitar em cima, um lençol velho e rasgado. Eu estava toda roxa em um canto de rua e ele me viu, me olhou assim como você aqui nessa cama de hospital e me levou para casa dele. Recebi cuidados, carinho e o pouco que tinha ele dividia comigo, até pagou para que eu estudasse pelo menos até o ensino médio e tudo o que sou eu devo a ele.

– Eu notei que você fala muito bem, parece bem instruída e inteligente... graças ao Kyara que foi o seu anjo da guarda.

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