Eliz
Um arrepio subiu pela minha nuca. Quando virei, ele já estava ali — uma sombra enorme encostada no canto, observando-me: Adam, silencioso, contido, suprimindo o cheiro que costumava me desarmar.
— O que quer? — perguntei, sem desviar os olhos do amplo jardim real. O vento noturno passava pelo rosto e por um segundo me senti livre — nem que fosse por um suspiro.
— Você. — A resposta veio pelo elo; sua voz dentro da minha cabeça me atravessou. Pela primeira vez senti o estremecer de algo mais que o corpo: era íntimo demais para não exigir sentimento.
— Já tem, não é? — devolvi pelo elo. Vi-o abrir os olhos com satisfação. Atrás dele, o rosto sério, a mandíbula firme — por incrível que pareça, isso o tornava ainda mais bonito.
— Você voltará comigo para o Norte. Pese bem sua resposta. Envolve mais do que nós dois.
Fiquei olhando a noite. Não houve pedido de desculpas. Nenhum “gosto de você”. Nenhuma conversa comum. Nada. Eu era mais uma obrigação na lista dele.
— Como quiser.