Harper Ward

Acordei assustada, olhando ao redor, e sentindo as minhas pernas como geleias. Meu celular estava tocando tão alto, causando uma dor de cabeça infernal, e eu só queria que tudo parasse. Então me lembrei, em ondas de arrepios, do homem que me possuiu como um animal ontem à noite. Sentindo o cheiro dele ainda no meu corpo, tive que fazer um esforço imenso para conseguir ficar em pé.

Minha intimidade estava doendo, mas eu tentei ignorar isso. Peguei o celular caído em algum lugar no chão e encarei a tela.

Chamadas do idiota do Calvin cocô.

Chamadas da Aprill.

Chamadas da senhora Agnes Finch, a sogra megera.

Ótimo.

Enviei uma mensagem para a Aprill e comecei a andar pelo quarto. Eu tinha o sorriso mais bobo do mundo no rosto toda vez que lembrava da noite passada, mas quando me vi em frente ao espelho. As marcas... Eu era dele. Queria ser para sempre.

Mas que droga! Eu tinha que perder a virgindade, e não me apaixonar.

Não posso ir por esse caminho.

— Chase? — O chamei, mas só havia silêncio.

Coloquei o vestido de qualquer jeito, mas não encontrei minha calcinha. Então, ainda segurando os sapatos, sai do quarto, procurando por ele.

— Procurando pelo senhor Harrison?

Quase cai de susto. Eu esperava encontra-lo, e não um desconhecido. Coloquei as mãos no peito, deixando os sapatos caírem no chão, mas ele os pegou e devolveu para mim.

— Prazer, eu sou o Tom Lovell, assistente do senhor Harrison.

— Olá, Tom. Você viu o Chas... O Senhor Harrison?

— Saiu ontem à noite. Infelizmente ele é um homem bastante ocupado e teve uma emergência. Quer que a levemos para casa? Eu posso providenciar para a senhora.

— Tudo bem. Eu já mandei uma mensagem para uma amiga, e ela está vindo.

— Como queira, senhora. — Ele apenas assentiu, com aquela maneira formal e estranha. — Antes que fosse embora, gostaria que assinasse alguns papéis.

— Papéis?

Ele arranhou a garganta, como se estivesse prestes a dizer algo delicado. Eu soube instantaneamente que não iria gostar daquilo.

— Uma formalidade. Quero que entenda que o senhor Harrison é um homem muito conhecido, e que não pode se envolver em polêmicas. Estar em um envolvimento sexual com alguém como a senhora não é uma opção. Poderia, por gentileza?

Eu parecia estar ouvindo a minha sogra.

Ele segurou no meu braço, me conduzindo para sentar em frente a uma pequena mesa no meio de vários sofás brancos que a rodeavam. — Alguém como eu... — Resmunguei.

— Não leve para o pessoal. É só um protocolo. — Ele retirou alguns papeis de uma pasta cinza que eu nem havia notado, e o colocou na minha frente, junto com uma caneta. — Se precisar de tempo para ler, posso dar privacidade, mas trata-se apenas de uma confidencialidade. A senhora não deve comentar sobre essa noite ou vender a informação para a imprensa ou qualquer outro meio de comunicação.

Ofendida, senti quando algo se partiu dentro de mim. A noite foi tão maravilhosa, mas agora eu me sentia exatamente como as mulheres que conheci relatavam: eu sou um objeto.

Peguei a caneta e assinei tão forte, que por pouco não rasguei o papel. — Diga a seu chefe que ele não é tão especial quanto pensa, e que ele pode enfiar esse documento no rabo se o faz feliz.

Como se aquilo fosse algo comum, ele retirou uma caixa do terno, o colocando sobre a mesa. — Um presente pela noite. O senhor Harrison não pôde estar aqui, mas gostaria que ficasse com isso.

— Amiga, esses seguranças quase não me deixaram entrar. Você transou com o presidente, por acaso? — Ela me olhou meio confusa. — Vamos, eu achei um trabalho perfeito para você, mas tem que se apresentar já. Tipo, agora.

Ainda tremendo, não consegui segurar a vontade de chorar quando ele abriu a caixa com o bracelete. Parecia o tipo de coisa cara o bastante para eu não ter que trabalhar mais.

— Puta que pariu, Harper. Ele era o presidente? — Minha amiga se exaltou, olhando a joia.

A tomei da mão dela, fazendo cair no chão. — Deixe essa droga aí!

Confusa, ela me encarou, segurando nos meus ombros e me sacudindo. — Você ficou doida? É um Gallagher & Co. Isso resolveria nossa vida.

— Não a minha. — Puxei minha amiga e quando estávamos quase saindo, eu me virei uma última vez. — Diga a seu chefe que eu não sou uma prostituta.

— Quê? – Aprill rosnou. — Meu deus, ele poderia me chamar de Agnes Finch por um desses...

***

— Mas que droga, Harper. Não era para você se sentir assim. Se eu soubesse que ficaria desse jeito, nunca teria deixado que fizesse aquilo.

Abracei meu próprio corpo, buscando algum conforto. — Apesar de tudo, não me arrependo da noite. É só a forma como tudo aconteceu depois. Parecia bem, e eu achei que ele fosse voltar, mas...

— Mas aí ele te tratou como uma qualquer e te deu presentes, que, aliás, deveria ter aceitado. — Dei meu melhor olhar enviesado de raiva, e ela deu de ombros. — Gallagher & Co, amiga. Não é todo dia... Enfim. — Aprill revirou os olhos. — Um contato meu, que é um gostoso, inclusive, disse que o governador precisa de uma babá com urgência. Aparentemente a filha dele é o satanás.

— Eu não tenho qualificação nenhuma para ser babá do satanás!

— Tem para foder um presidente, ne?

— Ele não é presidente!

— Que você saiba. — Ela riu. — Vai que ele é de alguma grande empresa? Ou pode ser mafioso. — Aquilo a deixou ainda mais entusiasmada.  

— Ele não é mafioso! Eu perguntei. — Aprill riu, e eu encolhi os ombros. — Vamos embora. Eu não tenho qualificação nenhuma!

Aprill me segurou pelos braços. Estávamos paradas em frente a mansão como duas loucas, e o carro dela definitivamente destoava totalmente do ambiente.

— Você é linda.

— Irrelevante.

— É inteligente. Sabe falar línguas, e...

— E não me formei em nada. Vamos embora!

— Você tem dinheiro?

— Não!

— Ainda dá tempo de voltar e pegar aquele bracelet...

— Não! Eu vou nessa droga de entrevista, mas não vai dar em nada.

Desci do carro, com um “boa sorte” e vinte dólares para voltar para casa. Algo em mim gritava que isso não daria certo, mas eu precisava tentar. Então andei a passos de tartaruga e fui levada até uma sala. A casa era bem movimentada, e parecia ser apenas para trabalho.

Um homem de óculos escuros e terno me segurou pelo braço, levando-me até uma porta branca.

Eu parei de respirar.

O cheiro soava tão familiar...

— O Governador está esperando pela senhora. — Ele abriu a porta para eu entrasse. — Governador Harrison, a candidata chegou!

GOVERNADOR O QUÊ?