HOMEM DE AÇO - Parte 2
HOMEM DE AÇO - Parte 2
Por: Liliene Mira
Prólogo

“Quem não vale nada, nunca acreditará que você vale algo, que seja importante para alguém, ou que tenha um propósito a cumprir em sua vida.” Isso nunca esteve tão claro para mim como agora.

Aquele maldito, eu o odeio com todas as minhas forças! Penso com raiva pressionando a minha têmpora, e na mesma da hora é como se eu escutasse a voz de minha mãe em minha mente falando. 

Busque sempre o amor ao invés do ódio, Syn, a paz não se consegue sem ele, o amor é a coluna e o respeito é a base.

— Mãe, será que você ainda pensaria dessa forma se estivesse na mesma situação que a minha? — Questionei-me em voz alta, desejando imensamente que ela e tia Jamila estivessem ao meu lado, me aconselhando a fazer o certo.

O ser humano é “triste”, sempre está insatisfeito com algo. Na maior parte do tempo, sua insatisfação é com ele mesmo, mas culpa o outro, porque é mais fácil. Com esse desgraçado que machucou a minha Elisa não é diferente.

Volto a pressionar a minha têmpora, que não parava de latejar desde a conversa com aquele homem. Eu já havia tomado dois comprimidos e nada. Mentalmente eu me sentia exausto, mas o meu corpo parecia pedir por liberação de energia. Eu necessitava socar a cara de alguém, mas não podia, o calmante que deram em Elisa é muito forte, ela ainda não acordou e eu preciso vê se ela realmente estava bem.

E se eu não puder proteger a Elisa? Se aquele homem estiver certo em dizer que não consigo proteger quem eu amo? Odeio essa minha insegurança!

— Que porra! __ Exclamei baixo batendo com o punho fechado no braço da poltrona preta que coloquei enfrente a cama. Estou a mais de duas horas a observando dormir. Necessito saber se ela está bem!

E se ela enfim chegou à conclusão de que sou ruim para ela? Suspiro ao levantar da poltrona.

Esses questionamentos não me ajudam em nada, a não ser, me desestabilizar mais ainda.

Caminho em direção ao aparador e adega em formato retangular. Fico olhando as bebidas em evidências, tentando escolher qual seria a mais forte para me fazer esquecer. Eu tinha cinco opções de vinho, umas três garrafas de conhaques e umas quinze garrafas de uísque.

Sorri ao me lembrar da cara que Elisa fez ao ver meu aparador de bebidas. Ela não gostou, mas ainda assim me surpreendeu, ao dizer que não me pediria para tirar se é algo que eu gosto.

Diferente de minha ex e falecida mulher, Lara. Tudo em mim a irritava, principalmente minhas bebidas.

Lara?

Faz muito tempo que não pensava nela. Esse nome nem combinava com ela, de muda ela não tinha era nada, tudo Lara reclamava. Suspiro a contra gosto, não querendo falar ou pensar mal de alguém que já morreu.

Por um tempo, cheguei a odiar Lara, mas sabia que esse sentimento era inadequado senti pela mãe de minha filha.

Minha pequena Vânia.

Pressiono minhas duas mãos no aparador até ficarem brancos. Eu queria bloquear essas lembranças dolorosas, as reprimir por tanto tempo que parecia que esqueci.

Quero esquecer, pois, lembrar traz dor ao meu peito e sinto ódio de mim por não estar presente quando a minha menininha precisou de minha ajuda… Assim com Elisa.

Preciso bater em algo, estou com tanta raiva que nem me reconheço. Meu corpo tremeu devido à frustração que eu estava sentido, mas controlando.

— Aquele desgraçado, fez questão de esfregar meus fracassos em minha cara. MALDITO! — Bradei, pressionando meus dentes a ponto de rangerem.

Opto em escolher um uísque Johnnie Walker Double Black, o meu preferido, ele tem alguns aromas especiais, trufados, um sabor defumado e envelhecido, é bem mais encorpado e intenso que o Red Label, Green Label e até mesmo o Black Label.

Gosto da sensação que a bebida me proporciona, é como um anestésico temporário.

Pego um dos copos On the “rocks” disponível no aparador e sirvo uma generosa dose da bebida destilada. Volto a caminhar, mas dessa vez em direção a grande janela que ficava próximo ao aparador.

Abro as janelas, deixando o vento seco e quente entrar, respiro fundo sentido o ar do outono invadir as minhas narinas, lembrando-me que logo o inverno chegará.

Agito a bebida de modo a molhar todo o interior do copo com o líquido, em seguida, o deixei repousar por alguns segundos, antes de levar o copo até a boca e beber todo o líquido de uma só vez. O líquido desceu queimando em minha garganta, sem nem mesmo dá tempo de apreciá-lo do jeito que eu gosto.

O efeito que a bebida me deu não foi nada positivo, a melancolia e a raiva só fez aumentar, me induzindo a beber mais até sentir o efeito desejado, mas ignoro essa minha vontade e repouso o copo no batente da janela.

— Ministro?

Como sentir falta de sua voz minha deusa. Penso ao me virar em direção a Elisa, que ainda estava deitada com o olhar desorientado.

— Como você está se sentindo? — Perguntei aproximando-me da cama em passos rápidos, mas não conseguindo tocá-la.

Não ainda!

— Uma ardência no braço e muito sono.

— Ainda com sono? O sedativo que te deram é forte, acredito que o sono seja por isso. — Digo não escondendo meu descontentamento.

— Estou bem! — Ela afirmou com um fraco sorriso.

Eu queria me aproximar dela, abraçá-la, beijar a sua boca, mas eu não conseguia, de alguma forma, as minhas pernas não obedeciam a minha vontade.

— E como está o Alek? — Ela perguntou com preocupação, me olhando temorosa.

Certamente pensando o pior.

— Ele está bem, os tiros pararam no colete que ele usava. — Expliquei.

— Mas, e aquele sangue todo? — Ela faz menção de levantar, contudo, eu não deixo.

__ Não levante, por favor. __ Peço nervoso.

A última coisa que quero é ficar excitado em sua frente ao vê-la usando apenas uma camisola preta de cetim que a deixava “sexy” e gostosa ao mesmo tempo.

Ela tornou a deitar e me olhou com entristecida.

— O sangue era seu, o tiro foi de raspão, mas o corte foi profundo o suficiente para ter uma quantidade significativa de sangue.

— Hum! Entendi! — Ela respondeu séria.

— Você está realmente bem? — Volto a perguntar. — Posso chamar o médico outra vez. — Completei sentando na ponta da cama. Estendo a minha mão para tocar na sua, mas ela recua.

— Eu já disse que estou bem, ministro, mas o que me parece é que você não está…

— Como assim? Estou bem!

— Ministro, não venha com a síndrome da jumentice para o meu lado.

__ Síndrome de quê? Eu só acho…

— Não quero saber o que você acha. — Diz zangada. — Algumas pessoas quando empaca em algo, em alguma ideia é muito difícil removê-las delas.

O que ela está falando? Pergunto-me confuso.

— Posso ser inexperiente, quando se trata de namoro, mas sou capaz perceber, ministro.

— Perceber o quê, minha deusa?

— Você está com aquela cara de que quer me dá um “chute na bunda.” — Faz aspa com os dedos. — Então, se você estiver com essa ideia de terminar comigo, tire isso dá sua cabeça, a menos que você não me queira mais… — Finalizou deixando as suas palavras suspensa no ar.

Ouvir as suas palavras ditas de forma tão frias, foi como receber uma facada certeira em meu coração.

— Eu não quero te dá um chute coisa nenhuma. — Falei cauteloso. — Mas…

— Mas? Sempre tem um “Mas”. — Diz voltando a fazer aspa novamente. Nunca a vi assim tão revoltada.

Chega a ser encantadora.

— Mas, acredito que talvez seja melhor nós dois darmos um tempo… Para a sua proteção. — Emendei. As palavras pareciam queimar a minha garganta, até mais que a bebida de agora a pouco.

— Hum… Talvez tenha razão, ministro. — Elisa respondeu com o olhar distante.

— Então? Se estamos em concordância, minha deusa, irei me afastar…

— É melhor você nem completar essa frase, ministro. Não sei o que está acontecendo com você, mas sugiro que o senhor desça, vá a algum lugar descarregar essa energia negativa que sinto vindo de você e só então conversaremos.

— Minha deusa, você acabou de dizer que eu tinha razão.

Essa mulher me confunde.

— Não quero saber, falei isso para você dizer que estou errada, mas você é um idiota. Saia da minha frente!

— Não sairei coisa nenhuma, temos que conversar! — Declarei ignorando o seu insulto.

— Se você não sair, quem sairá sou eu. — Avisou decidida, fazendo menção de levantar. — AI. — Gritou tocando em seu braço ferido.

Mais que porra! Isso não é hora de me aborrecer Elisa, mulher teimosa. Penso contrariado.

— Tudo bem! — Declarei após travar uma pequena batalha de olhares com ela. — Saio, mas voltarei em uma hora.

— Volte quando você raciocinar direito. — Determinou. — Se realmente acredita que vou está mais segura longe de você, farei o que me pede, vou me afastar. No entanto, se quando voltar continuar com essa decisão, mesmo sabendo que não adiantaria nada, eu vou embora e não voltarei mais. — Não deixo transparecer o quanto as suas palavras me afetaram. Faço menção de levantar, mas, ela segurou em uma de minhas mãos me impedindo. — Agora vem aqui e me dá um beijo. — Ordenou me deixando perplexo e mais confuso ainda.

— Ninguém nunca me confunde tanto como você, Elisa. — Admitir exasperado.

— Ainda espero o beijo, ministro Volko… — Engatinho por cima dela, ela fitou-me surpresa, por meu ato inesperado.

Emoldurei seu rosto com minhas duas mãos e acariciei seus lábios entre aberto. Inclinei a cabeça roçando meus lábios nos dela, em seguida o mordisquei com deliberada ousadia. Enquanto ela estava com os olhos fechados, deixei os meus abertos, guardando em minha memória todas as emoções em sua face.

O beijo aconteceu lentamente e prazeroso, nossas línguas se entrelaçaram em uma dança urgente e saudosa, parecia estarmos separados há dias e não apenas por algumas horas. Não durou muito, mas me fez recordar de nosso primeiro beijo no vestiário feminino, foi quando percebi que não a deixaria escapar de mim.

— Andou bebendo, ministro? — Ela perguntou ao final do beijo, passou as suas mãos em meus cabelos e as depositou em minha barba acariciando-a.

— Foi apenas um copo, nada de mais. — Respondi fechando os olhos para apreciar melhor o seu toque. — Senti saudades desse seu jeito mandão. — Confessei com um sorriso fraco.

— E eu sinto saudades de meu ministro, o homem focado, determinado, que não desisti tão fácil… — Ela diz quebrando o clima.

— Fácil? Nada é fácil em minha vida, Elisa. — Retruquei, me levantando.

— E pensa que na minha vida é? Minha mãe sempre me dizia: Elisa o que faz a diferença não é você ser ou ter, o que faz a diferença é as suas reações diante às pressões. Acredite quando digo: pressão foi o que não faltou na vida de minha mãe, mas ela sempre lidou bem com cada uma delas.

— E você julga que eu não estou lidando bem diante das pressões em minha vida? — A questionei com incredulidade.

— Só acredito que você esqueceu que as estacas são necessárias, mas elas são passageiras, ministro. Tudo passa algum dia. Eu bem sei disso! — Sussurrou as últimas palavras.

— Essas estacas são passageiras, mas sempre deixam suas marcas. — Rebati voltando a pensar em minha filha

— Imaginei que você fosse um homem que não se abalasse por qualquer cicatriz.

— JÁ CHEGA! VOCÊ NÃO ME CONHECE! — Gritei, perdendo a calma.

Minha filha não é qualquer cicatriz. Penso me afastando da cama.

— Eu não tolerarei que fale assim comigo outra vez. — Adverti. — Você esqueceu quem sou Elisa?

— Não! Eu não esqueci! — Respondeu com o tom magoado.

Que porra! Eu não queria perder a calma, não com ela.

— Parece que você esqueceu quem é! — Continuou a falar. — Agora me dê licença, ainda estou com sono. — Completou dando as costas para mim.

Caramba! Eu não esperava por isso. Eu nunca quis magoá-la, nunca quis isso.

E se ela tiver razão e eu realmente esqueci quem é? Será que deixei aquele homem me afetar a ponto de tirar toda a minha estabilidade?

Sair do quarto disposto a fazer o que ela me pediu. Vou à academia que fica próximo à área da piscina.

Estou mesmo precisando descarregar essa frustração. Essa energia negativa em mim. Penso entortando a boca ao lembrar as palavras de Elisa, agora a pouco.

Socarei aquele saco imaginando o estrago que farei na cara daquele maldito. Ele que se cuide, quando eu o encontrar, acabarei com ele.

O seu destino já está selado, ele só não sabe disso ainda.

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