Capítulo 08

A porta não ficava trancada, eu fui verificar quando Ravi me deixou sozinha, olhei para o corredor e vi muitas portas, fiquei um tempo observando pessoas entrando e saindo dos seus quartos, parecia mesmo uma pousada.

Mas não tentei fugir, estava muito confusa e sem saber o que fariam comigo caso eu fugisse.

Voltei para o quarto e liguei a TV, na boate não tínhamos TV nos quartos, nada que nos informasse sobre o mundo fora daquele lugar, a última TV que tinha visto era na casa dos meus pais, minha mãe estava assistindo a um filme, lembro-me que ela me chamou para ver com ela, mas eu não quis, estava ocupada com coisas de criança brincando com minhas bonecas...

Porque o gosto do sangue Não me causou enjoos? Porque não me pareceu repulsivo?

Até mesmo agora que eu sabia exatamente o que havia tomado não sentia repulsa.

O que estava acontecendo comigo afinal?

Uma batida na porta interrompeu meus pensamentos.

- Entre.

O garotinho de antes estava na porta, e sua semelhança com Ravi era impressionante, os olhos eram os mesmos, mas não só eles, o cabelo preto, a simetria do rosto, o nariz tudo.

Eu me lembrava de seu nome, era Odara.

- Olívia perguntou se quer sair um pouco, dar uma volta pela pousada, ver um pouco de luz do sol.- informou ele.

- Pensei que vampiros queimassem na luz do sol.- provoquei para ver sua reação.

Ele sorriu achando engraçado.

- Não queimamos na luz do sol como nos seus filmes. - respondeu ele.

Me levantei e fui o acompanhando para o corredor.

- Você também é um vampiro? - indaguei enquanto andávamos pelo corredor, mais um acometido pelas drogas e loucura de achar que era um vampiro.

- Triste não? Estou para toda a eternidade preso no corpo de um pré-adolescente, sem esperanças de crescer, nem mesmo meu p...

- Odara! Onde está sua educação? - Olívia apareceu no final do corredor e repreendeu Odara.

- Olívia.- pronunciei.

- Se sente melhor Nina?- perguntou, Odara seguiu pelo corredor descendo as escadas sobre o olhar reprovador de Olívia antes de sumir piscou para mim.

- Estranhamente sim, mas eu ainda não entendo porque estão me mantendo aqui Olívia não pretendo contar nada do que vi na floresta para ninguém.- tentei explicar e ela se aproximou de mim entrelaçando seu braço no meu, em seguida fui guiada pelo corredor e descemos as escadas, lá embaixo havia um salão com diversas cadeiras estofadas, três sofás,  uma mesa de vidro no centro, uma estante de livros e uma enorme TV na parede que transmitia uma novela.

Na sala algumas pessoas estavam sentadas conversando, mexendo no celular e lendo.

- Aqui é um dos espaços de lazer dos hóspedes.- informou Olívia e foi me levando para fora da sala, chegamos a outra área com mais pessoas que jogavam em uma mesa de sinuca, viramos o corredor e chegamos em um cômodo mais reservado, onde só havia três poltronas, uma tv na parede e alguns livros em uma estante.

- Pode se sentar.- ela ofereceu uma das poltronas.

Me sentei e olhei para a janela, a cortina era de uma cor bonita, verde como das árvores com detalhes em vermelho.

Olívia caminhou até um pequeno armário e retirou duas lindas taças de vidro e uma garrafa de vinho, as mostrou para mim sorrindo.

- Gosta de vinho certo?- perguntou.

- Aprendi com os anos a gostar.- respondi com sinceridade, na maioria das noites eu ingeria tanta bebida alcoólica que na manhã seguinte eu havia conseguido esquecer boa parte das coisas que tive de fazer, era um dos poucos alívio que eu conseguia ter, o álcool era como meu anestésico.

- Sei que por trás desses olhos azuis tem muita história, mas não vai contar hoje suponho.- ela caminhou até mim me entregando uma taça de vinho até a metade, tomei um pouco e só depois me dei conta de que o vinho podia estar com drogas.

Minha expressão deve ter mudado porque logo ela perguntou.

- O que foi? Não gostou do vinho?  Esse vinho é muito bom e está aqui há muito tempo, estava esperando um bom momento para abrir.

- O vinho está ótimo.- respondi.

-Então é outra coisa.

- Ela acha que de alguma forma está sendo drogada Olívia.- Ravi apareceu na porta do cômodo fechando a porta atrás de si.

Droga, será que Olívia ficaria ofendida? Eu tinha que me manter calma e pensar em uma maneira de fugir daqui, mas isso não aconteceria se eles acreditassem que eu achava que estava sendo drogada.

Eu tinha que virar o jogo.

- Não penso isso, embora não tenha nada de errado se vocês usarem essas coisas.- respondi e Ravi me encarou desconfiado.

- Então vamos beber um pouco e talvez queira ouvir um pouco sobre nós.- respondeu Olívia e pegou mais uma taça de vinho que entregou para Ravi.

- Eu gostaria.

- Não quer mais ir embora? - perguntou Ravi seus olhos fixos em mim, era estranho vê-lo agora tão desconfiado, como se eu fosse algum tipo de ameaça para eles.

- Não é sensato ficar andando com ela por toda a pousada Olívia, logo aqueles convidados vão chegar.- lembrou ele e vi suas expressões antes relaxadas e amigáveis mudarem.

- Quem vai chegar?- perguntei.

- De onde você veio Nina? Você me parece uma mestiça de indígena, se passaria facilmente por uma se não fosse esses olhos, de quem você puxou eles?- Olívia tentava desviar minha pergunta na cara dura.

- Minha mãe.- respondi.- quem vai chegar? Posso conhece-los?

- Não é uma boa ideia Olívia.- Ravi parecia preocupado.

- Eles só chegam na sexta-feira Ravi, teremos a semana toda para deixa-la familiarizada com nossos costumes.- respondeu ela e tomou todo o vinho de sua taça.

O telefone tocou e Olívia atendeu, trocou algumas palavras rápidas.

- Tenho que sair, Lucas está com problemas na recepção, alguns clientes estão causando discórdia.

- Eu vou!- Ravi se ofereceu.

- Não, fique aqui com ela.- Olívia respondeu e saiu apressada pela porta.

Tentei não encarar Ravi, mas uma coisa não saía da minha cabeça, como ele havia visto o que eu estava vendo no banheiro? O dia que nunca aconteceu? O aniversário que nunca pude comemorar?

Que droga era essa que causava as mesmas alucinações em nós dois?

Tantas coisas que eu não conseguia entender.

Mas ainda assim não aceitava a resposta que eles insistiam em me dar, vampiros são uma criação dos humanos para representar seus próprios atos hediondos.

Eu conhecia bem demais a maldade dos homens.

- Ainda acredita que estou drogando você não é Nina?- perguntou ele.

Eu deveria responder?

- Achei que você só era um cara bom que queria me ajudar na floresta.- respondi e fui sincera, mesmo sempre desconfiando dele eu acreditava nisso.

Ele se aproximou de mim, tomou o vinho das minhas mãos e o colocou na mesa, voltou e se sentou a minha frente.

Puxou minhas mãos para si e eu senti como se meu corpo de repente esquentasse.

- De quem você está fugindo olhos azuis?- sussurrou a pergunta e fiquei paralisada ao ouvi-lo me chamar assim, era como se trouxesse meu passado de volta, como se Avati estivesse em algum lugar próximo.

Puxei minhas mãos das dele.

- Não me chame assim.- exclamei para ele.

- Não chamarei mais, mas você sabe que eu vi o que você viu, seus desejos, pode ficar procurando uma resposta logica para isso o quanto quiser, não vai conseguir.- respondeu.

- Então a única resposta é que sou uma vampira agora, e supostamente estou morta?- perguntei irritada.

Ravi me encarou e retirou um canivete do bolso da calça jeans que vestia.

- Desculpe se irritei você, mas não precisa me castigar.- tentei acalma-lo mas ele só me olhou confuso.

- Acha que vou ferir você? - perguntou.

Não respondi, com toda a certeza minha expressão dizia tudo.

- Não faria isso nunca.- respondeu e fez um corte enorme em seu braço.

Eu gritei ao vê-lo se mutilar daquele jeito e ele se aproximou de mim cobrindo minha boca com sua mão onde exibia o corte no braço.

Olhei para o corte no braço dele e fiquei paralisada ao notar algo muito importante.

- Sem sangue.- sussurrou ele para mim e aos poucos tirou a mão da minha boca.

Segurei seu braço e analisei cada detalhe do corte, era um corte enorme e impossível de ser um truque, mas não tinha nenhum sangue.

- Como é possível? - arfei.

- Continue olhando.

De repente o corte começou a se fechar diante dos meus olhos, estava se curando.

Soltei seu braço dando alguns passos para trás em choque, aquilo não era possível....

Mas ainda assim estava acontecendo, era inegável que aquilo não podia ser uma alucinação, não podia ser o vinho, eu já tinha usado muitas drogas antes mas nenhuma dava um efeito como esse.

Era real, tudo aquilo era terrivelmente real! Continuei caminhando para trás até tropeçar em algo e cair ao chão sentada, Ravi se aproximou de mim ficando de joelhos a minha frente.

- O que aconteceu com os reflexos de vampiros?- murmurei para ele.

- Isso é coisa do homem aranha, não sou o homem aranha Nina.

Encarei aquele homem que era o dobro do meu tamanho ali ajoelhado me olhando, seu braço completamente curado.

- Você podia ter mostrado seus dentes de vampiro.- o lembrei.

- Achei que iria assustar você, mesmo você os tendo agora.

- Eu me curo como você? - perguntei.

Ele assentiu.

Peguei seu canivete de suas mãos e o levei até a palma da minha.

Cortei e esperei doer, mas não doeu nada.

Como no corte de Ravi o meu também não apareceu nenhuma gota de sangue e após alguns momentos o corte foi se fechando.

- Os demônios na floresta...

- Vampiros.- respondeu ele.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo