Capítulo 170Marcelus MoreauInglaterra | 20 de JunhoEstava na sala, ainda processando a conversa com Vincenzo. Ele iria se casar, e o peso daquela decisão me esmagava de uma forma que eu não sabia lidar. Vincenzo estava se sacrificando por algo que ele mal acreditava, e eu estava aqui, lutando para manter Clare segura enquanto tudo ao nosso redor parecia desmoronar.Ela estava na cozinha, mexendo em alguma coisa, como sempre fazia quando queria evitar falar comigo. Nos últimos dias, nosso relacionamento parecia suspenso no ar, como se ambos estivéssemos à beira de dizer algo importante, mas nunca dizendo. Clare estava com raiva, e eu sabia que grande parte disso era por minha culpa. Eu impedi ela de ir ao velório de Mia, de estar lá para se despedir da amiga. Achei que estava protegendo ela, mas agora, parecia mais que estava afastando ela de mim.Suspirei, sabendo que precisava falar com ela, de verdade, pela primeira vez em dias. Me levantei e caminhei até a cozinha. Clare estava
Capítulo 171Clare VallenceInglaterra | 30 de JunhoEu ainda não entendia muito bem como Vincenzo podia estar se casando agora, logo depois do enterro de Mia, enquanto a lembrança ainda estava praticamente fresca na mente de todos.A imagem de Mia… o sorriso dela que agora só restava em lembranças. Era como se a dor ainda estivesse pulsando, crua e exposta. Marcelus tentou me explicar o motivo do casamento, aquele “necessário para o bem da família Marini”. Mas nada sobre aquilo parecia certo. E talvez fosse só meu coração se recusando a aceitar o que ele dizia, insistindo que o significado era mais profundo, mais sombrio do que ele conseguia admitir.Na manhã seguinte, não consegui lidar com a presença dele em casa. Precisava sair, pensar longe da energia pesada que ele carregava. Decidi visitar Ágape. Ela sempre sabia como me ajudar a ver as coisas sob outra perspectiva — e talvez ela pudesse me dar alguma resposta, algum conforto que eu ainda não havia encontrado.A encontrei no j
Capítulo 172Ágape BeaufortInglaterra | 30 de JunhoEstar ao lado de Clare nesses últimos dias foi um desafio constante, mas um desafio que eu não largaria por nada. Marcelus e o mundo dele carregavam sombras que Clare nunca havia imaginado ter de enfrentar. Mas ela escolheu estar ali, ao lado dele, e mesmo com todas as dúvidas que às vezes vinham à tona, eu sentia que ela não se arrependia de ter feito essa escolha.Hoje, pela manhã, Clare veio me ver. Seu olhar estava exausto, como o de alguém que tenta resolver um quebra-cabeça sem nunca encontrar a peça certa. O casamento de Vincenzo estava para acontecer, e para Clare, isso soava como um golpe, um peso a mais sobre algo que já estava difícil de lidar. O luto por Mia ainda era forte, a dor de ver Vincenzo seguir adiante era pesada, e o distanciamento de Marcelus, quando ele tentava protegê-la, era mais um fardo em sua já sobrecarregada rotina.Nos sentamos no jardim, onde o som das risadas de Charlie brincando entre as flores no
Capítulo 173Nathaniel BeaufortInglaterra | 03 de AgostoA carta chegou pela manhã, um envelope elegante com os detalhes precisos do que só poderia ser um evento planejado com semanas de antecedência. Reconheci o brasão dos Marini na ponta do papel antes mesmo de abrir. Quando comecei a ler as palavras formais que confirmavam o casamento de Vincenzo, o impulso imediato foi procurar Marcelus. Imaginei como seria para ele — e, claro, para Clare — enfrentar tudo isso, especialmente depois do que aconteceu com Mia. Isso não era apenas mais um casamento; era um evento que carregava a sombra de uma perda muito recente.Com o convite ainda nas mãos, fui até Ágape, que o leu com a mesma expressão de incredulidade que eu devia estar usando. Logo ficou claro: não deixaríamos Clare enfrentar tudo isso sozinha na Itália. Ágape, especialmente, não aceitaria outra opção. Clare era como uma irmã para ela, e sabia que Marcelus precisava de alguém ao lado dele, alguém que não estivesse envolvido nas
Capítulo 174Clare VallenceItália | 07 de AgostoO ar da Itália parecia mais denso, quase sufocante, como se tudo ao redor me lembrasse dos dias difíceis que enfrentamos. Depois da longa viagem, cada um de nós foi recebido pelos olhares desconfiados dos funcionários da mansão dos Marini, e pelo silêncio pesado que se instalava em cada corredor. A chegada não foi marcada por palavras calorosas ou gestos de acolhimento — na verdade, parecia que todos ali evitavam nos encarar diretamente, como se a nossa presença fosse um lembrete de algo que ninguém queria enfrentar.A casa era imensa, com seus corredores longos, e cada canto parecia carregar a história antiga da família Marini, mas agora o ambiente estava sombrio, cheio de um luto que ninguém parecia querer discutir. Quando Marcelus e eu chegamos, percebi que ele também se sentia desconfortável. O olhar dele estava fixo na frente, e ele parecia quase absorto em pensamentos, mas, ao mesmo tempo, atento a tudo ao redor.Ao lado, Ágape e
Capítulo 175Ágape BeaufortItália | 08 de AgostoA manhã estava nublada, um espelho perfeito do humor de Clare desde que chegamos à Itália. Os dias na mansão Marini foram sufocantes, carregados de um silêncio que parecia mais denso do que o ar. Clare não admitia, mas era evidente que o peso de todo o luto ainda a consumia. Desde que Mia se foi, Clare carregava uma tristeza silenciosa que a afastava até de Marcelus em dados momentos.Hoje, quando ela decidiu visitar o túmulo de Mia, fiz questão de acompanhá-la mesmo que de longe. Sabia que ela precisava desse momento, mas também sabia que minha presença poderia oferecer algum apoio, ainda que discreto.Seguimos em silêncio pelo caminho até o cemitério. Clare estava cabisbaixa, os passos lentos e hesitantes, como se cada movimento fosse mais difícil que o último. A lembrança de Mia estava tão viva para Clare que eu quase podia sentir a dor dela como se fosse minha. Quando chegamos ao túmulo, dei espaço para que ela tivesse seu tempo. M
Capítulo 176Marcelus MoreauItália | 15 de AgostoA casa estava um pouco mais movimentada hoje, já que o casamento de Vincenzo se aproximava. Era como se todos os funcionários e parentes já esperassem o peso daquele momento, executando suas tarefas em silêncio, como se tentassem evitar qualquer reflexão sobre a ocasião. Enquanto eu caminhava pelos corredores, passava por algumas dessas pessoas, que desviavam o olhar ou me lançavam acenos formais, mas pouco amigáveis.Era um cenário desconfortável, e... irritante de certo modo.Eu precisava falar com Vincenzo. Sabia que ele estava se preparando para esse casamento, e por mais que eu soubesse que isso tinha sido algo que ele havia aceitado de bom grado, eu ainda não conseguia acreditar que ele realmente estava fazendo isso — não quando eu sabia o tanto que ele realmente... amava Mia.Finalmente, o encontrei na biblioteca, sozinho, olhando fixamente para uma das estantes, sem realmente focar nos livros. Ele ouviu meus passos e se virou
Capítulo 177Clare VallenceItália | 22 de AgostoO salão estava cheio de convidados, todos em silêncio, com a atenção voltada para a entrada principal. Ao lado de Marcelus, cada segundo que eu passava ali parecia tornar o ar mais denso, quase insuportável. Eu sabia que ele também se sentia assim; pude ver pela expressão tensa no rosto dele, no olhar impassível, como se ele estivesse se obrigando a não pensar. Mas ali estávamos, lado a lado, no casamento de Vincenzo, e cada detalhe daquela cerimônia parecia um insulto à memória de Mia.Não queria estar ali, e sabia que Marcelus também não. Mas, por Vincenzo, precisávamos. Era uma forma de mostrar que ainda estávamos ao lado dele, que mesmo quando ele escolhia se prender a essa obrigação, nós permaneceríamos ali, como uma forma silenciosa de apoio. Na verdade, eu temia pelo próprio Vincenzo, pela forma como ele parecia aceitar esse destino, como se seu futuro não fosse nada além de um peso que ele precisava carregar.Quando a música co