Mariana
Eu estava sentada no sofá, tentando alimentar Isabela enquanto a cabeça fervilhava de pensamentos sobre o próximo passo no tratamento. Não era fácil. Cada nova preocupação parecia puxar outra ainda maior, como uma corrente sem fim. O barulho da chave girando na porta me tirou dos devaneios, e Karina entrou. Ela parecia apreensiva, com a bolsa pendurada no ombro e o rosto sério. — Voltei, Mari. — Ela tentou sorrir, mas dava para ver que algo estava errado. — Como foi a viagem? — perguntei, sem muita energia, enquanto ajustava Isabela no colo. — Foi boa, mas... eu preciso falar com você. Aquela frase acendeu uma bandeira vermelha na minha cabeça. Eu conhecia Karina bem o suficiente para saber que, quando ela começava assim, vinha algo que eu provavelmente não ia gostar. — O que foi? — perguntei, endireitando a postura. Karina sentou-se na poltrona à minha frente e respirou fundo, como se estivesse se preparando para um mergulho profundo. — Eu encontrei alguém durante a viagem. — Alguém quem? — Minha voz já saiu mais afiada. — O Leonardo. O nome dele foi como uma facada no meu peito. Meu corpo inteiro se enrijeceu, e senti Isabela se mexer no meu colo, talvez captando minha tensão. — O Leonardo? — repeti, com incredulidade. — O pai da Isabela? Ela assentiu, hesitante. — Sim. Ele me reconheceu e puxou conversa. Fechei os olhos, tentando manter a calma. O simples fato de ele ter aparecido na vida dela novamente já era o suficiente para me desestabilizar. — E o que ele queria? Karina hesitou antes de continuar, o que só aumentou minha irritação. — Ele perguntou de você... e da Isabela. — Ah, que ótimo! Agora ele resolveu se lembrar que tem uma filha? — retruquei, sarcástica. — Mari, calma. Ele parecia sincero. Disse que quer ajudar. Soltei uma risada seca. — Ajudar? Ele teve a chance de ajudar quando eu disse que estava grávida, e sabe o que ele fez? Disse que era casado e que não podia se envolver. Agora, de repente, ele quer ser o pai do ano? — Eu sei que ele errou, mas... ele insistiu muito, Mari. Disse que quer fazer parte da vida da Isabela e te ajudar com as despesas. Senti meu coração acelerar. Não era só raiva; era um misto de frustração, medo e exaustão. — Karina, por favor, me diz que você não deu meu endereço para ele. O silêncio dela foi como um balde de água fria. — Você deu meu endereço pra ele? — Minha voz subiu, e Isabela começou a chorar. — Mari, escuta... — Karina! Você deu meu endereço para o Leonardo? Ela levantou as mãos, tentando me acalmar. — Eu só pensei que ele poderia ajudar, Mari! Você está passando por um momento difícil, e ele parecia realmente preocupado. — Preocupado? — Minha voz tremia. — Ele está preocupado agora? Depois de tudo? Karina, ele me deixou sozinha, grávida, sem nada! E agora você coloca ele de volta na minha vida sem me consultar? Karina abaixou a cabeça, parecendo arrependida. — Eu só queria ajudar. Eu vi o jeito como ele falou de você e da Isabela, e achei que, talvez... — Talvez nada, Karina! — interrompi, sentindo as lágrimas subirem. — Eu não quero ele na minha vida! Não quero ele perto da minha filha! Ela suspirou, mas não recuou. — Mari, eu entendo a sua raiva, mas você precisa de ajuda. O tratamento é caro, e você não pode carregar esse peso sozinha. Passei a mão pelos cabelos, tentando me acalmar, mas era impossível. Tudo estava desmoronando, e agora, com a entrada do Leonardo na equação, parecia ainda pior. — Você não entende, Karina. Eu não quero depender dele. Eu passei os últimos meses lutando para criar a Isabela sozinha, e agora ele aparece querendo ser o herói? Isso não é justo. — Eu sei que não é justo, mas ele é o pai da Isabela. E, por mais que você o odeie, talvez ele possa realmente fazer algo por ela... por vocês. O choro de Isabela aumentou, e eu a embalei no colo, tentando acalmá-la. Meu coração doía, mas não podia deixar de pensar no que Karina disse. Por mais que eu detestasse admitir, ela tinha um ponto. — Mari, só... dá uma chance para ele. Se ele realmente quiser ajudar, isso pode fazer a diferença. Fiquei em silêncio por alguns minutos, focada em Isabela. O peso de tudo parecia esmagador, mas, no fundo, sabia que Karina não tinha feito isso para me prejudicar. — Ele vai aparecer aqui? — Ele disse que queria te procurar, mas só se você concordar. Respirei fundo, tentando processar tudo. — Eu não sei se consigo encarar ele, Karina. É muita coisa. — Eu vou estar aqui com você, tá? Não vou te deixar sozinha. Olhei para ela, ainda irritada, mas sabia que Karina só queria o melhor para mim. — Só... avisa ele que, se vier aqui, é para falar de Isabela. Não quero saber de desculpas ou justificativas. Karina assentiu, parecendo aliviada. — Combinado. Abracei Isabela, sentindo uma mistura de medo e esperança. Minha vida já era complicada o suficiente, e agora, com Leonardo de volta, parecia que tudo poderia ficar ainda mais confuso. Mas, por Isabela, talvez valesse a pena tentar.