6º Capítulo

          Elas discutiram. Mas não havia nada que fizesse Ametista deixar de ir embora. Fazia cerca de um ano que Ametista trabalhava em uma loja de eletrodomésticos. Depois de juntar dinheiro percebeu que possuía o suficiente para ir morar em Manaus, assim, como a sua mãe o fez certa vez quando era mais jovem, então, ela não entendia porque Orquídea estava implicando tanto com a sua decisão. 

          ─ Como vai morar sozinha? 

          ─ Vou morar com mais duas amigas. 

          ─ E por que tão longe? Você poderia ir para Campo Grande?

          ─ Porque eu conheço pessoas lá.

          ─ Meu Deus, presta atenção no que está dizendo... Teu pai não vai deixar. 

          ─ Ele que me impeça pra vê! 

          ─ Vai te dar uma surra. 

          ─ A senhora não vai falar para ele, antes de eu ir embora, né? 

          Ametista olhou espantada para os olhos de Orquídea. 

          ─ O que?

          ─ Mãe?

          Ametista em uma das longas viagens do pai para fazenda, pegou a sua única mala, com os poucos pertences que possuía e, foi embora rumo a balsa que a conduziria rumo a sua vitória, que como dizia a sua mãe “não iria ser fácil”, mas ela iria conseguir, ela tinha certeza sobre isso. Há muito tempo ela sentia vontade de voltar para Manaus. 

         Não foi tão fácil como ela imaginou. Por momentos ininterruptos sentiu saudades de Corumbá e um vazio a abateu e, ela escondeu de si, porque não se permitia ser fraca. Além da viagem cansativa... viajar de balsa, de ônibus, durantes longos dias, em estradas ruins. Ametista se hospedou na casa de algumas amigas e, o emprego que conseguiu não assinava a carteira, pois nessa época era comum esse tipo de coisa. Era babá de um garotinho de cinco anos de idade, o menino era mau educado, se comparado ao modo com que fora criada. Além de que o seu padrão, longe dos olhos da esposa, lhe falava próximo ao ouvido: “quando tu vai para minha cama, hein, gostosinha... se tu não for, vou te despedir... não fala nada do que eu te disse, se não vai logo para rua. ” Ametista sentia-se suja quando voltava para casa, e tinha vontade de chorar, contudo, ela colocava a cabeça na rede... ah, sim, pois logo quando Ametista chegou a Manaus ela não tinha dinheiro para comprar uma cama, então, pendurou a rede na sala da casa das amigas, que era uma quitinete com três cômodos, um quarto, uma pequena sala, uma pequena cozinha e um banheiro. A casa se localizava dentro de um beco, no centro da cidade.  Em Manaus eram típicas as casas que eram construídas como se fosse dentro de uma cratera, por vezes que as enchentes fortes faziam com que as casas ficassem inundadas de água. Manaus era uma cidade dos temporais fortes, que davam a sensação de que as casas seriam soterradas por causa da força da água. Mas as chuvas fortes a população nortista do Brasil está tão acostumada, que possuem os meios para enfrentar com tais situações, andar de canoa pelas ruas alagadas, como ocorre nos munícipios do interior. 

         Ametista compartilhava com as amigas sobre as investidas do padrão, umas diziam que deveria contar para a patroa, outros simplesmente que deveria ceder. Ela se sentia confusa com o excesso de novidades que estava ocorrendo na sua vida, mas de uma coisa tinha certeza: Não transaria com aquele homem, nem que lhe matasse. Não tardou muito Ametista foi demitida do emprego. Todavia, esforçada que era, conseguiu um novo emprego, com a indicação de uma vizinha, numa loja de um shopping. Foi escalada para ficar na sessão de perfumes e maquiagem, tão logo que seus costumes tiveram que ser modificados. Ela que sempre foi uma menina arteira, teve que aprender a se maquiar e, tinha que está arrumada pontualmente todos os dias. Fazia toda maquiagem logo que chegava no trabalho, os produtos a venda na loja.

         Chegar em casa não era fácil, geralmente ia direto para o tanque para lavar as suas roupas na mão, além de limpar a sujeira das colegas, que não limpavam a casa, aliás que emporcalhavam tudo. Começou a sentir vontade de ir morar sozinha. Enquanto isso, ela aproveitava a vida, saia a noite para festas, para voltar a sentir a liberdade que sentia nos tempos de criança, como é típico daqueles que muitos olham para o passado não tão somente por suas dores, mas para o coração que um dia adentrou tão fortemente nos sonhos quando olhava as estrelas. Aprendeu a gostar de Boi-Bumbá, originário do Bumba Meu Boi, do Maranhão. Dança típica da região do Amazonas, com animais fantásticos, narra a história da morte e ressureição de um boi. Os dançarinos se vestem com penas coloridas, de certo modo, imitando roupas indígenas; o mais curioso, são as mulheres que usam cuias nos seios como sutiãs. 

         Certo dia, numa das festas, conheceu um homem que... mudaria a sua vida... os seus valores... e história. 

         Bruno passou quase todos os dias a levar Ametista de moto para o trabalho. Ametista o que achava dele? Um rapaz interessante, e ao seu ver, bonito. Ele estava lhe ensinando a jogar sinuca e a beber cerveja. As suas amigas diziam: “ele só quer te levar para cama, não se ilude não, Ametista”. 

         Mas Ametista mais uma vez queria acreditar que tudo poderia ser diferente, porque alguma coisa dentro apontava-lhe um vazio que precisava ser preenchido.

         ― Você é tão bonita... A namorada mais bonita que eu já tive. Tu sabe que chama atenção dos homens, né? Principalmente quando usa esse shortinho. 

         Bruno olhou para as pernas de Ametista, enquanto estavam sentados em um bar próximo à praça Heliodoro Balbi. 

         ― Eu só tive um namorado, sabia? ─ Ela sorriu para ele, como se quisesse seduzi-lo. 

         ― Por que uma princesa como tu não mora num palácio? 

         A lábia dos cafajestes. 

         ― Talvez porque um príncipe precise vir me resgatar. Entre tocar em algumas mechas de seus cabelos quando falava olhando para os olhos verdes do rapaz, e um sorriso dela de quem havia encontrado o rapaz certo, no momento certo, diante da vida difícil que levava todos os dias. Ametista estava feliz. 

         ― Teu nome é lindo, minha princesa. 

         Ao ouvir isso, veio-lhe resquícios de lembranças vagas da infância. 

         ― Quando era criança meus colegas de escola caçoavam do meu nome, mas eu nunca me importei. 

         E como sabemos, não era bem assim, Ametista odiava o seu nome porque sofria bullying, no entanto, agora ouvir o seu nome dito tão docemente fazia amar ser chamada assim. 

         ― E não deve, porque Ametista é uma pedra tão bela quanto tu, minha princesa. 

         Ela nunca se viu e sentiu-se como princesa, principalmente quando menina que acordava de madrugada para cuidar dos irmãos mais novos, porém... agora talvez... ela fosse A Cinderela. Não que estivesse diante de um príncipe, mas diante de um homem que conseguia enxergar como ela era.  

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