3º Capítulo

          Naquela época, em algumas cidades do Brasil, uma jovem que se casasse grávida era discriminada. Mas a verdade é que Orquídea mais do que tudo era inocente, e a dor de casar-se grávida foi a mais dilacerante. E principalmente ela que foi vítima de sedução. Só se deu conta disso quando Afonso a fitava com desprezo no dia do casamento quando disseram sim um para o outro. Não pode mais continuar como professora, porque nessa época ou uma mulher trabalhava ou era mãe de família. Só em último caso, se fazia os dois.

          A família de Afonso era também descendente de holandeses, como dona Ana e, seu Damásio, que era padrasto desse, posto sua mãe era viúva. O pai de Afonso era um caboclo filho de índio com branco português. Afonso possuía cinco irmãos. Todos casados, com exceção da caçula, Lúcia, com a qual viria a ter como aliada, diante as traições do marido. Lúcia sempre lhe contava quando o flagrava com outras mulheres, o que doía no coração de Orquídea que chorava escondida. 

          Passaram um período em Manaus, até irem morar numa pequena cidade do recém-criado Estado do Mato Grosso do Sul[1], Corumbá, às margens do rio Paraguai, a convite do marido de Dora, essa havia se casado há pouco tempo com um dinamarquês, que possuía algumas propriedades de terras no Brasil. Orquídea além do Norte do Brasil, só conhecia somente o Nordeste, por isso, achou primeiramente que não conseguiria acostumar-se a viver numa pequena cidade no meio do Pantanal, onde somente saía da cidade através de uma balsa. Aliás para quem havia morado no Norte em que as estradas eram os rios, esse não era o problema, contudo, sentiu muito a mudança do clima quente úmido da Amazônia para o clima seco do Pantanal, além de certos costumes locais que lhe pareciam tão diferentes.

          O tempo passou e, ela acostumou-se ao pequeno município. Todavia, antes de tudo isso, nasceu no Amazonas, a sua primeira filha, Ametista. Tal nome porque Orquídea queria que assim como ela, sua primeira filha tivesse um nome diferente, de destaque como o dela. Orquídea vira certa vez, nas mãos de uma senhora, essa linda pedra preciosa adornando um anel. De cor lilás, possuía a beleza do céu no final da tarde. O significado do nome era o primordial para um filho, pensava Orquídea. Dona Ana sugeriu que Orquídea batizasse a filha com um nome de algum santo, mas esta se recusou.

          Logo depois de Ametista veio Francisca, depois Luiz, Carlos, Rui... No total, durante todo o casamento de Orquídea, ela viria a ter dez filhos, pois acreditava que essa era a vontade de Deus. Os seus filhos foram assumindo diferentes aparências, devido as inúmeras descendências vindas do seu pai e da sua mãe. Brancos e mulatos.  

          A primeira casa que Afonso comprou em Manaus era de madeira. Tinha um balcão na feira, onde vendia frutas e verduras, pois que possuía uma fazenda no interior, herança do pai, que ele soube ampliar como ninguém, pois apesar de tudo era trabalhador. Deixava os filhos na cidade e, ia para fazenda.  

          Mas Afonso, como já dito, não se continha em ter apenas Orquídea na cama, era farrista, saia para beber cachaça com os amigos. Além de dormir com outras mulheres. Voltava para casa violento que queria esmurrar os filhos, que imediatamente se escondiam junto com mãe, para não apanharem. 

          Orquídea fazia de tudo para impressionar Afonso, com roupas bonitas e, sempre maquiada, mas nada dava certo, até que certo dia seu coração ficou mais dilacerado, quando soube que seu marido tinha uma amante, loira dos olhos azuis. Ela se olhou no espelho, e sentiu-se feia, e das lágrimas que caíram de sua face, lembrou-se da época que morava com as Irmãs, e, mesmo que trabalhasse muito, era mais feliz. 

          Começou a faltar comida para seus filhos, pois agora haviam os filhos de Afonso com a outra. A situação tornava-se mais difícil, com o nascimento de cada novo filho, onde os mais novos desde pequenos tiveram que começar a trabalhar nas feiras, nas casas de outras pessoas... Além do próprio serviço que havia em casa. 

          Orquídea olhava para os filhos crescendo tendo de trabalhar desde cedo, devido as imensas dificuldades. Então, olhava a foto da sua bisavó, Tomasia, ao lado da pequena Maria Carolina e, pensava, como a vida era injusta. Pegava o seu terço, rezava e, sentia uma repulsa pela menina, mesmo que há muito tempo tivesse morrido e que nunca a tenha conhecido. 

          Certa vez, Lúcia, irmã de Afonso, foi passar férias prolongadas com a família, sendo a companheira de Orquídea, entre inúmeras conversas. Entretanto, as férias que estavam programadas para ser de dois meses, só durou vinte dias, porque Lúcia não aguentava ver as extravagâncias do irmão e, consequentemente do sofrimento de Orquídea e dos filhos.

          ─ Ah, mana, não sei como tu aguenta, meu irmão. Se eu fosse tu, voltava para o norte com teus filhos.

          ─ Não posso largar o meu marido. ─ Disse Orquídea espantada, ao mesmo tempo envergonhada.

          ─ Eu entendo... mas só digo que eu não aguentaria se fosse comigo. Não mesmo.

          Quando Lúcia voltou, contou os pormenores para Ana, que enviou uma carta para Orquídea entristecida, dizendo que estava rezando pela mudança do filho, e pedindo desculpas por não ter conseguindo educa-lo de modo que pudesse a vir a se tornar um pai de família zeloso. Em nenhum momento Orquídea culpou os sogros sobre isso. O único era Afonso. Mas havia algo dentro dela que fazia com que ela se sentisse culpada. Seria ela não suficiente bonita para Afonso?

           E Ana enviou uma coutr carta para Afonso, que leu, tornou-se sisudo e, foi dormir. Orquídea alegrou-se, porque, quem sabe, Afonso ouvisse os conselhos da mãe. Logo no outro, depois do trabalho, ele saiu para a farra e, depois foi para a casa da amante.

           Orquídea apenas chorou em silêncio.

           Um irmão cuidava de outro irmão. E foi assim que foi criada Ametista, tendo que acordar de madrugada para cuidar dos irmãos, fazer pequenos reparos em roupas, na máquina de costuma da mãe ou cuidar dos filhos de outras vizinhas, para ganhar dinheiro para comprar o seu uniforme e o material escolar. Enquanto os irmãos meninos cuidavam do balcão do pai na feira ou iam engraxar sapatos nas ruas.

[1] Até 1976, essa cidade fazia parte do Mato Grosso. Em 1977, com a divisão do Estado, Campo Grande passou a ser a capital. 

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