4º Capítulo: A História de Ametista

A História de Ametista

         

         Ametista desde muito pequena começou a odiar o seu nome. Sofria bulling na escola, na rua, com os irmãos e, com os primos. Jurou para si mesma que não iria dar um nome esquisito para nenhum dos filhos que viesse a ter. 

         Quando foi morar em Corumbá, talvez a adaptação tenha sido mais fácil para ela e para os irmãos, do que para Orquídea. Foi uma nova vida, de uma cidade que ela gostava, mas que sentiu que tão longe poderia realizar os seus sonhos.

         Tão cedo começou a cuidar dos irmãos, com apenas nove anos de idade, acordava quatro e meia da manhã para cuidar de algum irmão mais novo, além de depois ir fazer o café no fogão a lenha, o que dava muito trabalho acender o fogo. Já existia fogão a gás há muito tempo, mas como eram pobres, não possuíam. Sentia às vezes, na sala de aula, seus olhos pesarem, queria dormir só mais um pouquinho.

         ─ Isso vai vir a sustentar tu e a tua família, Ametista. ─ Disse a avó Ana quando foi a Croumbá.

         Ametista pensava que não queria passar o resto da vida costurando para outras pessoas, como muitas de suas tias faziam, sonhava mais além... Queria ser médica cirurgiã, casar com um príncipe, e, quem sabe morar numa casa bem bonita. 

         Olhava para sua casa, de madeira tão mau acabada, a água ficava em um pote de barro, não havia geladeira como na casa dos seus colegas de sala de aula; ela dividia a cama com outra irmã e, todos os meninos dormiam em redes. Até mesmo depois que foram para Corumbá, continuaram a dormir assim. Tudo isso porque seu pai, que aliás, diga-se de passagem, era um homem que bebia muito e era carrasco, dificilmente comprava móveis para casa, já que tudo o que era bom ia para a sua amante, Dolores, mulher que se mudou também para Corumbá, para continuar ‘sendo a sua prostituta’, como dizia Ametista e os irmãos. O odiava mais ainda quando via a sua mãe chorar sozinha no quarto, segurando o terço na mão, depois que ele ia para a casa de Dolores. E o seu ódio aumentava mais ainda quando Afonso levava os irmãos e, ela para a fazenda para trabalhar no roçado de milho. 

         Nunca se esqueceu do dia, que de madrugada, o pai chegou bêbado, cheirando a cachaça e, pegou o pote de barro e, jogou no chão, gritando:

         ─ Orquídea, onde tu tá? Vem aqui servir a minha janta. 

         Orquídea foi amedrontada pelos gritos do marido e pelo estrondo no pote que caiu no chão e, o serviu.

         Ele continuou gritando como se fosse uma cabra. E começou a xingar dizendo: 

         ─ Cadê aquelas pestes dos teus filhos? 

         “Dos teus filhos”, “pestes”.

         Todos estavam escondidos. 

          ─ Estão dormindo, Afonso! Deixa eles dormirem. 

          Na verdade, estavam todos amedrontados, assim, como ela, que disfarçava. 

          ─ Dormindo uma merda. Cadê o respeito nessa casa, que ninguém vem cumprimentar o pai? O primeiro que vir aqui, eu sento a mão.

          Maria, que só tinha cinco anos de idade, começou a chorar com medo do pai. Orquídea, então, a abraçou para consolar e, para que chorasse baixo, pois se ouvisse...  

          Orquídea, serviu o jantar do marido. Logo ouviu-se:

          ─ Que droga é essa, Orquídea, tu tem o que nessa mão para cozinhar tão mal. Tu é uma mulher imprestável mesmo, não sabe fazer comida, assim como não sabe fazer sexo. 

          Na verdade, quanto a ‘fazer sexo’, Afonso usou de uma gíria grosseira para falar disso.  

          Um ódio foi tomando conta de Orquídea, teve vontade de matar o seu pai. Sem que ao menos se desse conta do que estava fazendo, levantou-se com toda fúria e, foi até o pai que estava na cozinha:

           ─ Não fale assim com mamãe. 

           ─ Ametista, vá para cama. ─ Repreendeu a mãe que temia pelo o que viria acontecer. 

           ─ Não calo, ele está te maltratando. 

           Afonso apenas levantou-se muito sério, tirou o cinto de couro das calças, e bateu tanto em Ametista, que as marcas puderam ser vistas durante meses. Ametista tinha apenas onze anos de idade e, gritava enquanto o seu pai lhe espancava, com a dor que se calou porque senão apanharia mais.

          Um dia, a jovem Ametista, quando tinha doze anos foi ao cinema assistir um filme romântico com os irmãos. O galã, tinha os olhos azuis, cabelos castanhos escuros, e a tez de uma beleza que muito fazia a cabeça das mulheres. Contava a história de um amor, de uma jovem professora, bela e recatada que se apaixona por um jovem milionário, o seu amor é impossível, pois os pais não permitem que ele se case com uma pobretona. Depois de muitas reviravoltas, ele larga todo o dinheiro que possui para casar-se com a professora. São felizes mesmo na pobreza, até que enfim, seus pais decidem pedir perdão ao filho. E terminam felizes fazendo uma viagem num transatlântico. Albert era o nome do personagem galã. 

          Depois do filme, Ametista levantou-se no meio da noite, foi para o pequeno quintal que havia nos fundos da sua casa e, ficou por alguns minutos suspirando, enquanto olhava para a lua que estava cheia, sonhando em um dia encontrar o seu Albert como aquele do filme, e, que seria capaz de fazer tudo por ela e, ela se livraria da situação de terror em que vivia. Ah, mas este sonho lhe parecia tão distante da realidade simples em que vivia.

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