Em Meados de 1990 uma família decidiu adotar um filho, e a chegada desse filho mudou a vida de todos daquela família, a vida deles seguiu em paz até a noite do crime, depois daquela noite tudo entre eles foi afetado.
Ler maisEu ainda conseguia recordar com tanta clareza o exato dia em que fomos buscá-lo, assim como na enorme animação que os meus pais se encontravam. Nunca fomos de fazer qualquer comemoração durante os dias da semana. Contudo, aquela quarta-feira seria uma exceção à regra, pois faríamos uma modesta e pequena festa para o que em breve aconteceria na nossa família.
Os primeiros raios solares mal tinham despontados no horizonte, mas os meus pais acordaram mais cedo naquela manhã e, logo, a nossa residência se encontrava com inúmeros balões coloridos em diversos tamanhos e formas, refrigerantes que eu mesmo tinha escolhido no dia anterior, um bolo decorado e uma boa quantidade de tanto de salgadinhos quanto de docinhos. Era uma pequena e simplória comemoração, contudo fora feito com muito amor e empolgação. E bastava apenas um único olhar direcionado para a sala de estar, que a impressão de ser encontrar dentro em uma festa de aniversário infantil era instantânea.
A felicidade tão explicita e verdadeira nas expressões dos meus pais, durante todo o tempo em que conversavam entre si e aprontavam aquela pequena festa, também tinha se tornado minha. Todavia, anos depois, as lembranças me faziam sofrer.
Ainda doía tanto na minha alma de uma forma que quase chegava a ser física.
Me virei para o outro lado da cama e tentei ignorar essas malditas lembranças. Contudo, em todas as vezes em que fechava os olhos, eu falhava miseravelmente e as imagens pipocavam na minha mente de uma forma agonizante demais, dolorosa demais. Inferno. Nos flashs, me via dentro do carro com meus pais, a estrada abarrotada com outros inúmeros veículos, as buzinas sendo tocadas de maneira incessantes, as pessoas nervosas e apressadas enquanto o trânsito parecia que não iria fluir em momento algum.
Quando adentramos pelas portas principais do orfanato, já esperavam pelos meus pais na sala de reuniões. Havia outra pessoa que tinha capturado a minha atenção, fazendo-me deixar os adultos de lado. Um garotinho magricela estava lá com uma expressão indecifrável a minha percepção infantil daquela época. Ele possuía cabelos claros, olhos castanhos, feições delicadas. Ainda me recordava de como o achei muito fofo. Enquanto os mais velhos dialogavam entre si, me sentei ao seu lado e tentei puxar assunto, porém foi um fiasco total.
— Me chamo Evan Foster. — Falei, animado, esticando na sua direção. O garoto pareceu tremer ao me ver, enquanto me olhava como se eu fosse brigar com ele ou algo pior. — E você? — Incentivei-o a se apresentar também.
Com medo nos olhos, ele me estendeu a minúscula mão e apertou a minha. O menino deveria ter sete anos no máximo.
— Me chamo...— A sua voz era tão doce e infantil. Não poderia deixar de estar empolgado, pois ele seria meu irmão, eu queria poder fazer tudo o que os irmãos fazem. — Daniel Diaz.
Minha habilidade de interação social estava em falta. Precisava melhorar a comunicação, ou não poderíamos montar uma casa na árvore juntos, andar de patins pelo quarteirão, jogar bola no nosso quintal. Ah, eram tantas possibilidades. A minha mente infantil, naquela época, imaginava que ter um irmão mais novo era como ter um parceiro para tudo, até mesmo para roubar os biscoitos amanteigados do pote antes do almoço.
Só que eu não sabia, que junto com uma criança adotada, vinha também os seus traumas do passado.
Me lembrava da sua felicidade ao chegar na nossa, sua agora também, casa. Daniel nunca fora em uma festa infantil na vida e muito menos teve a sua. A maneira em que ele olhou cada brinquedo e em como os deixou dentro das embalagens para não estragarem, tive a certeza que o garoto magricela precisava se soltar mais. Então, fora naquela quarta-feira ensolarada, que decidi que sempre estaria ali para tudo o que ele precisasse.
Afinal, era exatamente o que um irmão faria pelo outro, certo? Só que eu nunca poderia ter me enganado tanto na minha vida.
Agora, me encontrava preso na enfermaria da cadeia, após levar uma surra dos outros detentos, e o meu julgamento seria na próxima semana. Em contrapartida, havia uma parte de mim que tinha a certeza que eu não iria sobreviver a mais nenhum dia nesse inferno na terra.
Eu só queria tocá-lo mais uma vez, antes de morrer atrás das grades
.
Quem acreditaria que eu era inocente enquanto as evidências diziam exatamente o oposto?
Amar o meu irmão havia sido o meu maior pecado, pior erro.
Cinco anos se passaram, Evan confiava plenamente em Jefferson, seu melhor amigo ali dentro, e agora ele tinha suas memórias de volta, conseguia separar os acontecimentos, entendia seu sentimento e até tinha conseguido falar com seus pais como fazia no passado antes de todas aquelas coisas acontecerem .Era natal outra vez, a neve se prendendo ao solo, e agora do carro da família vinha um rapaz com uma beca azul e um chapéu de formatura carregando um diploma nas mãos, aquele rapaz animado cortava o jardim da clínica psiquiatra, sua corrida afoita na direção de Evan, mostrava o quão ele estava desesperado para lhe mostrar o documento.— Me formei, eu sou um advogado agora. — Falou Daniel risonho e com a voz um pouco elevada.— Parabéns amor, que grande dia para você, fico feliz que tenha conseguido. — Evan tinha um sorriso doce, e também tinha novidades. — Bom, acho que sua festa de formatura é hoje a noite, quem você vai levar ao baile?Daniel fico
O tempo foi passando, Evan, ainda seguia cheio de mágoas, tanto ele como Daniel já tinham se recuperando fisicamente, Evan trancou a faculdade, se fosse continuar, talvez fosse para outro estado, todos na faculdade sabiam do que tinha acontecido, e a maioria não acreditava nele, como também sofria muito preconceito por ser gay.Talvez em um lugar diferente ele pudesse recomeçar sua vida, sem aquela mancha em seu passado, entretanto por hora ele queria se recuperar de todos os traumas que passou dentro da prisão.E nem era falta de perdão que angustiava seu coração, ele sentia que só podia confiar em Daniel, colocando todas as suas escolhas nas costas do mais novo.No final daquele ano, a família se reuniria na fazenda, lá passariam o natal, a época mais cintilante do ano, as crianças sempre muito agitadas, correndo pela casa de Agnes, e os dois mais velhos Juntos na sala de estar, apenas Daniel interagia, Evan tinha o olhar parado e vago, não conseguia se com
Alice, estava ao lado da cama falando com uma enfermeira, o assunto parecia estranho a quem ouvia, algo como pós traumático, Richard preocupado na porta, e pela janela, podia ver os outros membros da família, estavam preocupados, mas com quem exatamente, esse questionamento partia de Evan, a única pessoa que lhe importava estava ao seu lado segurando suas mãos, os cabelos claros, compridos abaixo dos ombros, a face calma.— Que bom que acordou, estávamos preocupados com você. — A voz de Daniel lhe tirava do devaneio.— Estou livre? — Pergunta parecia ser tão tola quanto o julgamento.— Está sim, logo vamos para casa, o pesadelo acabou Evan. — Daniel falou calmo segurando as mãos de Evan.— Pesadelos... — murmurou pensativo. — revivi todos que tive desde a infantil naquele lugar.Alice escutava a conversa dos rapazes de maneira disfarçada, a movimentação no corredor também parecia que não ajudaria em nada.Era hora de se sentir grato e
Foi em uma manhã fria, um temporal se aproximava, o vento cortante e afoito vinha abrindo caminho para a chuva, essa chegaria em breve, sem dar espaço para nada.Sair com escolta da ala da enfermaria parecia ser o começo do fim, os insultos, as ameaças, Evan sentiu medo, e qualidade um na situação dele sentiria, que animal tentaria contra o próprio irmão afinal?Foi mantido segredo de Evan que cinco minutos antes do julgamento ele conversaria com Daniel, então ele não sabia o motivo de estar indo para uma sala privada.Tratado como um criminoso qualquer, suas mãos algemadas a mesa, um guarda o olhava com desprezo, o que ele poderia esperar a seguir, seria no mínimo mais acusações.Sua vida toda passava como um filme em sua cabeça, todas as vezes que brigou com Daniel por coisas bobas, todas as vezes que assumiu a culpa no lugar de Daniel, e princ
Como são os dramas familiares, e é complicado de fato, a família Foster, tinha acabado de cair em uma armadilha, aquilo afetou a todos de forma tão dolorosa que independente do resultado do julgamento, eles teriam para sempre aquele espaço entre eles.Daniel, a principal vítima de tudo aquilo agora se via sozinho dentro daquele quarto, a porta trancada, sons abafados, ele tinha como companhia apenas sua mente barulhenta.Com muita dificuldade o jovem se levantou da cama e foi até a mochila de Evan, assim que pegou uma de suas alças a levou para cama, a luz fraca do abajur estava acesa.Ele procurou em todas as folhas rabiscadas do seu fichário, nas notas espalhadas pelos livros grossos, até que em um bloco com folhas brancas, no meio delas estava um rabisco, com a data daquela semana.Cada linha que ele leu foi o motivo de suas lágrimas rolarem por toda sua face." Querido Daniel"Não faz muito tempo que estamos juntos, uma
Enquanto Evan tinha sua primeira noite de sono bem dormida, Daniel recebia a notícia de que pela manhã já poderia ir pra casa.Ele se sentiu aliviado por isso, estava detestando estar ali isolado do mundo.Ele tinha uma lembrança forte de ver Evan com o taco de baseball nas mãos e isso perturbava sua mente, ele ainda amava muito Evan, ele ainda sentia seu coração acelerado ao se lembrar do mais velho, contudo, tinha também a lembrança e as palavras ácidas de seus pais. — “papai e mamãe estão contra ele, acho que nunca os vi dessa forma
Último capítulo