Capítulo 0002
Logo depois, na porta, a voz de Carla soou:

— Ela está dormindo?

Bruno não disse nada e, a levantou nos braços.

Carla bateu timidamente nele:

— Se ela ainda não tiver dormido? Por que tanta pressa?

— O que tem de medo? A dose da medicação foi forte. Mesmo se não estiver dormindo, ela vai achar que está sonhando.

Acontece que aquele leite que eu pensava ser sinal de felicidade e carinho era apenas uma cobertura para o escândalo desses dois desonestos.

Carla começou a gemer suavemente.

— Ouvi dizer que o herdeiro de Família Blanco, aquele que está em coma, vai se noivar. Me convidaram para sua festa de noivado. É engraçado. Quem é que vai se casar com um homem assim, pra ficar viúva em vida?

Bruno aumentou a força.

— Você é muito míope. Só esse título de esposa do herdeiro Blanco já vale uma fortuna. Não sei quem teve tanta sorte.

— Você me leva para a festa de noivado?

— Sonhe! As pessoas nesse tipo de evento são ricas ou importantes. O que seria de você lá? Eu só posso levar sua prima.

Carla se virou e não deixou mais que ele a beijasse.

— Você vai levar uma cega e não se importa que ela fique humilhada? É um ótimo momento para fazer contatos importantes, e levar aquela cega só vai atrapalhar você!

— Além disso, essa mulher que Família Blanco escolheu é de Vila F. Eu também cresci enaquela vila. Talvez eu tenha coisas em comum com ela. Posso ajudar você a se aproximar dela.

Bruno piscou os olhos e achou que o que ela disse fazia sentido. Acenou rapidamente de acordo.

— Tudo bem, vou te levar.

Quando Bruno soltou um último gemido baixo, ele ergueu a cabeça e acabou se deparando comigo, que estava no quarto.

Mas no segundo seguinte, eu fechei os olhos.

Bruno ficou assustado:

— Eu sei que fechei a porta antes de sair. Como ela ficou aberta de novo?

— O que importa se está fechada ou não? Ela está dormindo igual a um porco morto.

— Não se preocupe com ela. Fique mais um pouco comigo.

Logo, o som dos corpos deles se chocando voltou a ecoar na sala.

Só ficou completamente silencioso quando o dia começou a clarear.

Eu não dormi nada naquela noite. A almofada estava molhada de lágrimas.

Bruno, você sempre me humilhou com esses truques mesquinhos. Tudo bem, não vou mais ter piedade de você.

Apenas quando ouvi os dois acordando fora é que eu me levantei da cama.

Quando eu cheguei à porta, tropecei em algo. Enquanto fingia de tentar descobrir o que era, Bruno pulou do sofá e correu até mim:

— Nair, como você está? Por que não me chamou quando se levantou?

A voz de Carla, cheia de ciúme, soou:

— Foi só uma queda, e...

— Cale! Foi você que deixou as coisas jogadas por aí.

— Eu...

Bruno lançou um olhar ameaçador para ela e Carla fechou a boca, relutante.

O que me fez tropeçar não era outra coisa, mas a lingerie de Carla que Bruno havia tirado pessoalmente na noite anterior.

Bruno, preocupado que eu descobrisse, me pegou no colo de lado e me colocou na cadeira de jantar, e me alimentou com pequenos pedaços de café da manhã.

Mas ao ser tocado por ele, eu só sentia um nojo indescritível e vontade de vomitar, mas tinha que suportar.

— Bruno, o convite para festa de noivado de Família Blanco já chegou?

— Você, vai?

Bruno ficou um pouco surpreso.

— Nair, daqui a cinco dias é o nosso casamento. Você poderia se comportar e não sair mais? Se se machucar de novo, como vou ter a minha linda esposa no altar?

Ele estava dizendo as palavras mais carinhosas, mas no rosto tinha uma expressão de ódio e irritação, sem disfarce algum.

Essa dissonância me faz arrepiar.

Mas ele costumava me cuidar muito bem, era tão gentil e atencioso no começo.

Eu baixei a cabeça e comecei a comer a massa, fingindo curiosidade e perguntei:

— Não sei quem Família Blanco vai escolher para se casar.

— Não importa quem seja, basta ter o título de esposa do herdeiro de Família Blanco e já pode alcançar tudo. Que sorte, né?

— Você acha que, se eu estivesse disposta a me casar com Família Blanco, eles conseguiriam curar meus olhos?

— Ahahaha, embora Afonso Blanco tenha ficado em coma, ele não chegaria ao ponto de se casar com uma cega, né?

Bruno percebeu que havia dito algo errado logo depois.

— Desculpe, Nair. Vou continuar procurando médicos para você.

Acontece que era isso que ele pensava.

Quando ele saiu apressadamente, Carla chegou ao meu lado.

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