POV da Scarlett
Aurora ainda me levou ao aeroporto. Mas não me deu minha passagem.
Colocou uma xícara de chocolate quente nas minhas mãos e me encara do outro lado da mesinha do McDonald's, como uma mãe feroz julgando sua filha que fugiu da escola.
— Eu ACABEI de descobrir isso hoje... — Começo timidamente e, instantaneamente, ela retruca:
— Sim, você já disse isso!
Não é como se eu tivesse planejado tudo isso. Baixo os olhos para o meu chocolate quente, não consigo olhar para ela. Ela está brava, e eu sei o motivo.
Ela vem de uma família rica. Bonita, popular, com pernas perfeitas, etc. Mas não nasceu rica. Viu sua mãe solteira se matar de trabalhar para criá-la, odiando seu pai irresponsável a vida inteira, apenas para descobrir que ele não as abandonou, como sua mãe sempre lhe contou. Foi sua mãe quem pediu o divórcio.
Ela está me vendo fazer exatamente a mesma coisa.
— Não vou ensinar o bebê a odiá-lo... — Murmuro, sem coragem de olhar para a raiva no rosto dela. Eu sei o quanto ela já passou por isso.
— Isso não é tudo!
Aurora me lança um olhar mortal, disparando como uma metralhadora:
— Minha mãe mentiu para mim, sim, mas isso foi porque meu pai a traiu. Mas ele também me amava, e dói saber que ele sofreu por mais de uma década achando que eu o odiava, enquanto eu pensava o mesmo, e dói quando tudo explodiu e eu gritei com a minha mãe, e dói saber que ela me deu tudo o que tinha e mais... é tudo muito, muito complicado. Você não faz ideia de como foi difícil para ela abrir sua própria empresa, e eu assisti, a cada pedaço de sua dor!
Deixo que ela termine o desabafo, já vi as palavras dela se concretizando e sei que ainda dói.
Aurora solta um longo suspiro: — Scar, não é fácil, criar um bebê sozinha.
— Você é a sortuda, Aurora.
Eu queria poder ouvir ela, mas o meu caso é diferente:
— Mas e se seu pai te odiasse? VOCÊ foi até ele, lembra como estava nervosa?
Ela fica em silêncio.
Era o último semestre da nossa 8ª série. Tomar essa decisão levou semanas. A professora suspeitava que sua melhor aluna estava se metendo em um relacionamento tóxico, vendo como ela estava desligada.
— Realmente não há nenhuma chance para vocês dois? Eu ainda não consigo acreditar que vocês fizeram isso...
Aurora resmunga, relutante em aceitar a realidade:
— O que aconteceu dessa vez? Não é como se ele já não fosse um idiota antes...?
O que aconteceu? Nada de mais. Eu simplesmente vi meu marido beijando minha irmã. Eles podem ter feito isso o tempo todo, mas ver isso ainda é diferente.
— Não importa agora.
Fecho os olhos, balançando a cabeça para tirá-lo da minha mente:
— Ele não me ama, e agora o amor da vida dele está completamente curado. Eles vão ficar juntos, e eu vou me livrar deles. Esse é o plano.
— Humm, bom plano.
Aurora me lança um olhar mortal:
— Não se importa que eu pergunte, mas, onde entra o bebê no seu plano perfeito?
Devolvo a ela um olhar inexpressivo. O bebê não estava lá quando eu pensei nesse plano. Mas, por outro lado, Sebastian já deixou claro que isso não mudaria nada.
— Você não precisa ficar em um casamento por causa de um bebê, mas ainda assim deveria contar para ele.
Aurora diz, bufando de raiva enquanto reclama:
— Hummm, por que eu tenho que defender esse idiota?! Olha o que você me fez fazer!
Só ela seria capaz de falar mal de um bilionário poderoso da cidade por causa de uma famosa como eu.
Aurora empurra a passagem de avião para mim, pressionando-a com um dedo, e em sua outra mão está o meu celular:
— Diga a ele, e não importa a atitude dele, você pode ir embora sabendo que fez tudo o que podia.
Dizer a ele que estou indo embora com um bebê que ele não quer, um bebê com o sangue dele que arruinaria a chance dele com a Ava? No dia em que ele vê o primeiro brilho de esperança de ficar com sua amada?
Mesmo para mim, isso é cruel demais.
— Ele merece saber. — Aurora apenas diz.
Hesitando, pego o celular.
— O quê?
Aurora arregala os olhos quando eu o coloco de volta.
— Eu mandei uma mensagem para ele.
— Mandou uma mensagem?!
Aurora revirou os olhos:
— Ele é seu marido, e VOCÊ MANDOU UMA MENSAGEM? Para uma notícia como essa?!
Ela pega meu celular com furor e eu a deixo fazer.
Estou cansada. Cansada de ver ódio nos olhos de quem amo. Cansada de ouvir a frieza na voz que antes me trazia calor.
— Sério?! Isso é tudo o que você consegue fazer?
Aurora pressiona o celular contra o meu rosto.
"Estou no aeroporto. Diga a palavra e eu não vou embora."
— Se houver um mínimo de sentimento por mim no coração dele.
Olho para Aurora:
— Apenas uma palavra para me dizer que ele não se importa que eu fique PERTO da vida dele, mesmo divorciada, eu vou lutar por ele, pelo bebê, por tudo e qualquer coisa. Mas se não, então...
Então qual é o sentido de torturar todo mundo com um bebê inocente?
"Atenção, todos os passageiros, este é a última chamada para embarque..."
Por uma hora inteira, esperamos, só para ouvir a chamada para embarque repetida até o último. O olhar de Aurora fica cada vez mais triste. Estranhamente, o meu permanece calmo. Já estou acostumada à decepção.
Ou. Eu não coloquei esperanças dessa vez.
Meu celular toca, interrompendo Aurora. Ela me cutuca animada, mas não é uma ligação dele.
"Sr. Fuller ligando..."
Duas palavras brilhando friamente na minha tela. Meu coração congela. Eu não quero atender.
— Alô.
Ouço minha própria voz fria.
— Sua mãe está machucada. Volte para casa.
Com uma voz mais fria, ele desliga antes que eu possa.