Depois de se despedir de Yelena, Vlad regressou ao castelo. Ao entrar, Roberto já tinha trazido três líderes, faltavam dois e, enquanto esperava pelos demais, foi em busca da chave para o portal do submundo, a qual estava escondida em sua biblioteca pessoal, mas antes pegou uma espécie de punhal medieval, o qual serviria para abrir a porta. Para chegar ali, percorreu um estreito corredor, dirigindo-se a uma porta imensa de madeira rústica, que continha o brasão da ordem do dragão, somente ele conhecia o segredo do salão da sabedoria e, para ter acesso, tinha de girar com uma adaga sagrada que possuía desde épocas passadas. Assim que o brasão reconheceu o punhal prateado, adornado com dois dragões, com um comprimento de mais ou menos 16 cm, a porta se abriu
O interior do local continha uma beleza impressionante. Havia vários arcos ogivais e triângulos obtusos com maravilhosos relevos. No interior deles havia uma pintura artística, que mostrava o esplendor das cores, realçando os desenhos das paredes, os quais estavam inspirados nas etapas do conhecimento humano até a Revelação Divina, mostrando uma densidade e vitalidade da arquitetura, dando uma impressão de espaço com três dimensões. Entre um arco e outro, estavam as estantes de madeira feitas à mão, as quais estavam repletas de livros, pergaminhos, entre outros manuscritos de diversas épocas. No centro do teto, havia uma cúpula de vidro chumbada com o formato de uma estrela de cinco pontas. O vitral demonstrava a decadência de Lúcifer, em cada ponta da estrela continha um pilar e neles havia estátuas de gárgulas que seguravam uma tocha para, assim, iluminar o ambiente. O brilho delas era de tamanha magnitude que refletia no vitral, alumbrando todo recinto.
Ao entrarem, Drácula foi em direção a um barril similar aos demais com apenas uma diferença de tonalidade. Ao tocá-lo, ele deslizou para o lado, abrindo assim uma passagem secreta. Quando todos entraram, ele fechou a porta e, uma vez selada a passagem, surgiram várias portas, as quais representavam os cinco continentes. No centro do local, havia um círculo onde continha um buraco com o símbolo da cruz satânica. Ao colocar a chave no vão, as portas se abriram repercutindo uma luz no objeto, surgindo assim uma brecha no chão, transportando-os para o submundo. No reino das trevas, eles foram recebidos por um dos anjos caídos “Ananel” – o qual, aparentemente parecido como um humano, já que perdera suas asas Como castigo, estava envolvido em uma áurea negra, possuía o dom da híper indução, dizem que ele tinha a capacidade mental de induzir aos humanos a pecarem”. Ele os acompanhou pelos caminhos das profundezas do inferno, o qual estava iluminado por um rio de lavas que os acompanhava por todo percurso; diziam que os espíritos atormentados eram jogados ali para pagarem os seus pecados.
Quando o soberano do mal, estava bem próximo de Vlad e os demais, ordenou para que os demônios se retirassem e os demais anjos também. O objetivo de todos era traçar novas metas e estratégias para poder destruir a humanidade e voltar a ver a luz do sol, que um dia lhe tiraram como penitência por sua ambição de poder. Para ele, o tempo não era problema e, enquanto não concluísse o novo plano, ninguém sairia dali.
Enquanto isso, na terra, o tempo corria de maneira distinta, e já fazia mais de um mês que Yelena não via seu amado. Vários boatos surgiram pelo povoado, ao quais ela não deu muita importância, pois Vlad lhe tinha confiado um segredo, o que demonstrava seu verdadeiro amor e, por isso, o que os demais comentassem, não faria estragar sua felicidade, inclusive estava disposta a esperar o tempo que fosse necessário.
Um belo dia, assim que Yelena entrou para trabalhar, escutou o senhor Popescu discutir com sua esposa. A briga foi horrível e durou horas. A única coisa que presenciou foi quando a esposa de seu chefe saiu correndo pela porta de entrada, deixando ali seu filho, o qual não parava de chorar. Yelena, ao ver que o garoto estava em pânico, devido à briga de seus pais, resolveu levá-lo à cozinha para tentar tranquilizá-lo.
Entretanto, no escritório, o senhor Popescu não parava de beber, tentando, assim, apagar aquele terrível momento de sua cabeça. Praticamente passou o dia inteiro trancado, refletindo sobre o que aconteceu e, quanto mais pensava, mais bebia, tentando afogar todo o rancor que sentia em seu coração. No final da tarde, quase na hora de ir embora, Yelena levou o garoto para o quarto de dormir, já que sua mãe ainda não regressara e, quando estava prestes a sair do dormitório, foi abordada pelo pai do menino. Estava totalmente embriagado. Mesmo naquele estado lastimável, ela lhe informou que seu filho já se encontrava dormindo. De repente, ele a agarrou de forma brusca e atrevida.
– Solte-me, solte-me! – suplicou várias vezes, aos gritos.
Foram, dias difíceis. Aquele trauma na vida a deixou totalmente perturbada. Toda noite era um suplício; seus pesadelos eram tão reais que só o fato de relembrá-los ampliava ainda mais seu sofrimento e, ao pensar que, no dia em que Vlad regressasse e soubesse o que lhe acontecera, podia significar o fim de sua relação. Viver nessa angústia era insuportável e, muitas vezes, pensou em se matar, mas faltava coragem.
Enquanto isso, no submundo, Lúcifer terminou com a reunião, pois já tinham elaborado um sistema melhor para espalhar o mal, e isso significava que podiam regressar a terra. Depois de percorrerem o mesmo caminho na volta, reencontraram com Roberto no salão do castelo.
– Quanto tempo estivemos ausente?
– Um pouco mais de dois meses – explicou seu fiel amigo.
– Leve os líderes de volta ao seus continentes, depois você me informa detalhadamente o que aconteceu durante a minha ausência.
Assim que chegou, Vlad desceu diante da porta de sua amada. Ao mesmo tempo, viu vários vizinhos saírem de suas casas para observar, e isso o deixou ainda mais curioso. Quando ele se aproximou daquela porta rústica que o impedia de entrar, bateu várias vezes palmas, esperando que ela abrisse para recebê-lo, mas por mais barulho que fizesse, ninguém atendia e então ele resolveu gritar.
– Yelena abra a porta, sou eu Vlad.
De repente, escutou um ruído; era a porta que se abria, mas ela não saiu, e isso o fez pensar que algo muito grave havia ocorrido. Quando entrou na casa e a viu, ficou impressionado, pois ela estava pálida e tinha um aspecto horrível; parecia estar doente.
– O que aconteceu durante o tempo que estive ausente? – insistiu Vlad.
– Por que você não trabalha mais com o senhor Popescu?
– Ao ouvir essa pergunta, Yelena desabou e começou a chorar, sem parar, em seus braços.
– Não chore, sente nessa cadeira e vamos conversar.
Infelizmente, suas doces palavras foram inúteis, e acalmá-la foi impossível.
Vlad não queria utilizar seus poderes com ela, mas não havia outra opção. Através de seu olhar e de frases ditas em um tom hipnotizante, influenciou-a fazendo com que mudasse de opinião. A princípio foi difícil, porque seu subconsciente estava bloqueado, mas, depois de um tempo, através de sua persistência, Yelena revelou o que acontecera. Estava indignado, o olhar dela expressava o medo que sentiu naquele momento em que fora agredida, seu desespero e a impotência de não poder se livrar daquele terrível momento, o que a deixou totalmente traumatizada. Confesso que tinha medo que ele a rejeitasse, não só pelo fato de ter sido agredida sexualmente pelo senhor Popescu, mas por estar esperando um bebê dele.
Depois de revelar o que lhe acontecera, Yelena saiu da hipnose, e Vlad tentou tranquilizá-la e consolá-la em seus braços, dizendo que ele não se importava com o que havia sucedido, que jamais a deixaria de amá-la, inclusive afirmou que assumiria o bebê como se fosse dele e que, de agora em diante, não precisaria viver sozinha. Após dizer essas doces palavras, Yelena sentia que superara uma tormenta que agora não passava de uma leve brisa. A partir desse instante, sentia-se mais segura. Era como se tivesse tirado um peso de sua consciência, parecia ter recuperado a vontade de viver e enfrentar todos os obstáculos e desafios que estariam por vir. Vlad a ajudou a fazer suas bagagem e, depois de colocá-las na parte traseira de sua carruagem, ambos caminharam com destino ao seu castelo.
Uma vez ali, Vlad ordenou a um dos seus servos para que preparasse um quarto para sua amada e informou a todos os discípulos que quem ousasse em tocá-la seria um vampiro morto. Quando Roberto regressou, ambos se reuniram, e Drácula contou sobre a raiva que sentia em relação ao senhor Popescu, por tê-la atacado e abusado, independente se estava consciente. Roberto conhecia bem o mestre e sabia que, para amenizar o que estava sentindo, o melhor seria exterminá-lo. Assim que terminou de desabafar, mandou a seu amigo vigiar a mansão do senhor Popescu e averiguar qual seria o melhor momento para matá-lo, pois não ia deixá-lo desfrutar da vida, para depois pagar seus pecados.
Foram semanas de vigilância, até que surgiu uma ótima oportunidade: a esposa do senhor Popescu ia passar o dia fora da aldeia e essa seria a ocasião perfeita. Enquanto isso, no castelo, Yelena já se encontrava muito melhor e tudo indicava que sua gestação ia perfeitamente. Vlad, por sua vez, não queria que sua amada soubesse de sua vingança, pois temia que ela voltasse a recair emocionalmente. O melhor seria matá-lo e que tudo parecesse um mero acidente.
Nessa mesma noite, Drácula comentou com sua amada que teria de sair para se alimentar e que não precisava se preocupar, pois não tardaria em voltar. Seu fiel amigo o acompanhou e, para economizarem tempo, Roberto os teletransportou até a casa de sua futura vítima. Ambos se ocultaram atrás de uma grande árvore e ali puderam apreciar a partida da senhora Popescu. Tudo parecia correr perfeitamente, mas para não terem nenhuma dúvida e nenhum inconveniente, esperaram um pouco para ver se, por algum motivo, ela regressaria. Depois de alguns minutos, já podiam agir. Roberto, através de um gesto teletransportou somente a Vlad para dentro da mansão, enquanto isso, ele permaneceria fora, vigiando para impedir algum imprevisto. Uma vez dentro, Vlad encontrou o senhor Popescu no escritório e, ao vê-lo, este ficou abismado com a entrada dele dentro da mansão, pois todas as portas estavam trancadas.
– Como entrou?
– Não importa como entrei, vim aqui para acertar as contas.
– Contas! Ah! sim, como podia esquecer! Veio tomar satisfações sobre a traição daquela vadia e interesseira que pensa em dar golpes de baú.
De uma maneira debochada ele começou a rir.
– Maldito, como ousa blasfemar dela dessa maneira! Vou matá-lo!
Ao escutar esse comentário, ele parou de rir e foi se esconder atrás de uma mesa, onde se encontravam vários objetos de trabalho. Para ganhar tempo, tentou distraí-lo, comentando que não acreditava que ele ia manchar a reputação por uma qualquer. Enquanto fazia esse comentário, teve tempo de abrir a gaveta e pegar uma arma de fogo, que sempre estava carregada de balas. Uma vez em suas mãos, disparou-a e o barulho repercutiu por toda casa. A bala atingiu Vlad diretamente no peito, mas um tiro apenas seria insuficiente para matá-lo. Depois do disparo, Drácula ficou furioso e se transformou em sua forma mais temível.
Enquanto isso, seu Popescu tentava recarregar a arma, mas devido ao seu estado nervoso, não reparou no monstro em que seu inimigo havia se transformado, tampouco se deu conta que a bala que o atingiu não lhe causou nada, pois a ferida voltou a fechar, desaparecendo, assim, a cicatriz. Quando o senhor Popescu levantou a cabeça para disparar novamente, ele se deparou com um monstro diante de si. Mesmo nervoso, voltou a disparar, só que dessa vez, Vlad fez questão de demonstrar que era imortal, colocou sua mão diante do alvo e quando a bala o atingiu, Popescu observou que a ferida se auto curava. Quando tentou fugir, era tarde, ele estava encurralado. Como havia planejado com seu amigo, o objetivo de Vlad era matá-lo sem deixar rastro, então, através da hipnose, ele incentivou o senhor Popescu a se matar com uma bala diretamente na cabeça.
O plano parecia ter sido perfeito, porém o que eles não sabiam é que o filho do casal se encontrava na casa e, quando escutou o primeiro disparo, presenciou tudo, inclusive aquela terrível execução. Quando a Senhora Popescu voltou, seu filho estava nervoso, chorando e contou que um monstro matara seu pai. No princípio ela pensou que ele sonhara, mas quando foi até o escritório e o viu morto , começou a gritar e chorar. Naquela hora, ninguém podia ajudá-la, pois o último empregado tinha ido embora. No dia seguinte, conseguiu chamar a autoridade local que, depois de analisar a cena do suposto crime, chegou à conclusão de que ele se suicidara. Sobre a declaração de seu filho disseram que foi fruto de sua imaginação, para justificar a morte de seu pai.
Durante o enterro, estavam todos os nobres presentes, inclusive Vlad acompanhado por Yelena. Foi uma cerimônia glamorosa, típica da alta sociedade da época.